Granuloma periapical

O granuloma periapical é um tecido de granulação (inflamatório) na região periapical (ou, menos frequentemente, lateralmente à raiz) de um dente necrosado.[1]

Sinais e sintomas

O granuloma periapical normalmente é assintomático, mas em alguns casos pode haver dor, edema e mobilidade dentária.[1] O dente afetado pode ter alguma lesão de cárie ou restauração profunda, evidências de traumatismo dentário, ou anomalia de forma (como dens in dente) ou comprometimento periodontal.[1]

Em casos onde há envolvimento de Actinomyces, a presença de pus com grânulos de enxofre é comum.[1][2]

Aspectos radiográficos e histológicos

Radiograficamente, o granuloma periapical se apresenta como uma lesão radiolúcida unilocular, podendo ser bem delimitada ou de aspecto difuso (rarefação óssea) associada ao periápice de um dente; raramente ela pode estar associada à lateral de uma raiz, quando há um canal acessório envolvido na lesão.[1] O seu tamanho é variável, podendo atingir tamanho superior a 2 cm.[1] O dente afetado apresenta perda da lâmina dura, e em alguns casos pode haver reabsorção radicular, o que não é incomum.[1]

Na radiografia tradicional, diferenciar o granuloma periapical de um cisto radicular não é possível: entretanto, na tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) pode-se obter mais acurácia no diagnóstico diferencial.[3] Estima-se que a TCFC possa diagnosticar entre 20 e 39% mais lesões do que a radiografia convencional.[3]

Histologicamente, o aspecto microscópico depende da duração da lesão, e se havia ou não infecção por um abscesso.[1] Em geral, observa-se um tecido conjuntivo fibroso inflamado (tecido de granulação), mas pode haver presença de cristais de colesterol cercados por células gigantes multinucleadas, assim como corpúsculos de Russel e calcificações distróficas.[1][4] Em alguns granulomas, há a presença de corpos hialinos e angiopatia hialina de células gigantes em reação a material exógeno, chamados de granulomas de halo hialino ou granulomas de pulso.[1][5]

Causas

O granuloma periapical surge em resposta a uma agressão (como lesão de cárie ou traumatismo dentário) que causou necrose pulpar, permitindo a colonização do periápice por bactérias.[1] O granuloma surge como uma reação inflamatória para impedir que as bactérias se espalhem, contendo-as em tecido fibroso.[1] Porém, ao contrário do cisto radicular, não há estímulo aos restos epiteliais aprisionados no ligamento periodontal (restos epiteliais de Malassez) para que proliferem o epitélio, mantendo uma massa sólida apenas de tecido conjuntivo.[1]

Epidemiologia

É bastante comum, e afeta homens e mulheres na mesma proporção, tendo predileção por dentes anteriores superiores.[1][6]

Diagnóstico

Ao exame clínico, o dente associado ao granuloma não é vital, e pode ter sintomatologia (especialmente se houve reagudização).[1] Radiograficamente, observa-se uma rarefação óssea que pode se assemelhar a outras patologias, como:[7]

O diagnóstico do granuloma periapical se dá através do exame anatomopatológico.[1] Ele é de extrema importância para diferenciá-lo de outras lesões endodônticas, odontogênicas e não odontogênicas que podem simular patologias endodônticas, como:[8]

Prognóstico e tratamento

O prognóstico depende do tamanho da lesão e fatores individuais: normalmente o tratamento do granuloma periapical consiste na exodontia do dente com curetagem, ou tratamento endodôntico (ou retratamento) com a possibilidade de cirurgia de apicectomia.[1][9] Após o tratamento endodôntico, recomenda-se o acompanhamento a cada 6 ou 12 meses para observar a cicatrização.[9]

A apicectomia é recomendada em casos onde há falha no tratamento endodôntico convencional, ou complexidade do sistema de canais radiculares, ou quando a obturação do ápice não é possível se não de forma retrógrada.

Lesões periapicais de tamanho exuberante, acima de 8 mm, são frequentemente extraídas cirurgicamente.[1][10][11] O material extraído deve ser enviado para exame anatomopatológico sempre.[1]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Smith, Molly Housley. «Periapical (dental) granuloma». www.pathologyoutlines.com. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  2. Pasupathy, Sanjay P.; Chakravarthy, Dhanavel; Chanmougananda, Sumathy; Nair, Preeti P. (1 de janeiro de 2012). «Periapical actinomycosis». Case Reports (em inglês): bcr2012006218. ISSN 1757-790X. PMC PMC4542948Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 22854234. doi:10.1136/bcr-2012-006218. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  3. a b Rosa, Catharina Simioni De; Bergamini, Mariana Lobo; Palmieri, Michelle; Sarmento, Dmitry José de Santana; Carvalho, Marcia Oliveira de; Ricardo, Ana Lúcia Franco; Hasseus, Bengt; Jonasson, Peter; Braz-Silva, Paulo Henrique (1 de outubro de 2020). «Differentiation of periapical granuloma from radicular cyst using cone beam computed tomography images texture analysis». Heliyon (em English) (10). ISSN 2405-8440. PMC PMC7560585Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 33088959. doi:10.1016/j.heliyon.2020.e05194. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  4. Leonard, E. P.; Lunin, M.; Provenza, D. V. (1 de outubro de 1974). «On the occurrence and morphology of Russell bodies in the dental granuloma: An evaluation of seventy-nine specimens». Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology (4): 584–590. ISSN 0030-4220. doi:10.1016/0030-4220(74)90089-9. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  5. Acharya, Swetha; Hallikeri, Kaveri; Anehosur, Ventakesh; Okade, Akshatha (May-Jun 2015). «Oral pulse or hyaline ring granuloma: A case report and a brief review». Journal of Indian Society of Periodontology (em inglês) (3). 327 páginas. ISSN 0972-124X. PMC PMC4520121Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 26229277. doi:10.4103/0972-124X.149029. Consultado em 21 de dezembro de 2024  Verifique data em: |data= (ajuda)
  6. Safi, Laya; Adl, Alireza; Azar, Mohammad Reza; Akbary, Raheleh (2008). «A twenty-year survey of pathologic reports of two common types of chronic periapical lesions in Shiraz Dental School». Journal of Dental Research (em inglês): Dental Prospects; ISSN 2008210X. PMC PMC3532737Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 23289061. doi:10.5681/JODDD.2008.013. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  7. Bell, Daniel; Weerakkody, Yuranga (2 de outubro de 2019). «Periapical radiolucency (teeth)». Radiopaedia.org. Radiopaedia.org (em inglês). doi:10.53347/rID-71385. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  8. Carvalho, Stephany Pimenta; Estrela, Carlos; Vencio, Eneida Franco (1 de julho de 2021). «Clinical Differential Diagnosis between Nonodontogenic and Endodontic Radiolucent Lesions in Periapical Location: A Critical Review». Iranian Endodontic Journal (3): 150–157. PMC PMC9735257Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 36704403. doi:10.22037/iej.v16i3.32572. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  9. a b Karamifar, Kasra; Tondari, Afsoon; Saghiri, Mohammad Ali (2020). «Endodontic Periapical Lesion: An Overview on the Etiology, Diagnosis and Current Treatment Modalities». European Endodontic Journal (2): 54–67. ISSN 2548-0839. PMC PMC7398993Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 32766513. doi:10.14744/eej.2020.42714. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  10. Alzahrani, Omar; Komo, Hisham; Howait, Mohammed; Alzahrani, Omar; Komo, Hisham A.; Howait, Mohammed (10 de janeiro de 2024). «Healing and Spontaneous Realignment of Displaced Roots With Periapical Granuloma After Microsurgical Endodontic Treatment (Three Years' Follow-up): A Case Report». Cureus (em inglês) (1). ISSN 2168-8184. PMC PMC10777889Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 38205085 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.7759/cureus.52020. Consultado em 21 de dezembro de 2024 
  11. Peñarrocha, Miguel; Martí, Eva; García, Berta; Gay, Cosme (agosto de 2007). «Relationship of Periapical Lesion Radiologic Size, Apical Resection, and Retrograde Filling With the Prognosis of Periapical Surgery». Journal of Oral and Maxillofacial Surgery (8): 1526–1529. ISSN 0278-2391. doi:10.1016/j.joms.2006.10.058. Consultado em 21 de dezembro de 2024