Erosão dentáriaA diminuição do pH bucal deve-se principalmente à ingestão de alimentos ácidos (pães, leite e derivados, algumas frutas, café, refrigerantes e carnes em geral) que têm grande presença na alimentação diária da população. Esse baixo pH ocasiona diversos problemas, sendo um dos mais graves a erosão dentária. A alteração é definida como perda progressiva e irreversível de estrutura dental provocada por processos químicos que não envolvam ação bacteriana (SOUZA, 2017). O aumento no número de casos da doença pode ser facilmente compreendido através do acompanhamento da alimentação da população, que nunca antes foi marcada por tantos produtos industrializados (principalmente os refrigerantes à base de cola, que possuem o pH por volta de 2,5; e os alimentos embutidos, que têm o pH aproximado de 3) os quais possuem o nível de acidez altíssimo. Junto com isso observa-se a dinâmica do dia a dia atual, marcada pela agitação e falta de tempo (MAGALHÃES et al., 2008 apud FRANZNER, 2011). O CUIDAR DOS DENTESSegundo Silva et al. (2001) a preocupação em cuidar dos dentes remonta às mais antigas civilizações, os romanos, preconizavam a extração de dentes de leite para facilitar o nascimento correto do dente permanente na arcada dentária. Inicialmente as pessoas que trabalhavam com cuidados dentários não eram qualificadas, o que muda a partir do século II da nossa era, sendo esses cuidados exercidos por profissionais de medicina. Conforme o autor, a sociedade medieval moldou o desenvolvimento das práticas odontológicas. Durante muito tempo os segredos da prática eram repassados, aos indivíduos que pretendiam exercer o ofício, por mestre experiente. Das ações relacionadas ao cuidado com os dentes, o de limpá-los ocupa um papel importante. O primeiro creme dental era um material à base de rocha vulcânica misturada com ácido originário da fermentação de frutas, era esfregado nos dentes com pequenos ramos de arbustos, criado no Egito há cerca de quatro mil anos. O aprimoramento foi gerado pelos Romanos no século I da nossa era, que adicionaram a essa mistura mel, sangue, carvão, olhos de caranguejos, ossos moídos da cabeça de coelhos e urina humana, todos com a finalidade de deixar os dentes mais brancos. A partir de 1840 nos Estados Unidos a primeira escola de odontologia do mundo foi fundada. A primeira pasta de dentes comercial desenvolvida em 1850, inicialmente na forma de um pó, foi modificada posteriormente para a forma de pasta, com o nome comercial de “Creme Dentifrício do Dr. Sheffield” (SILVA et al., 2001). ÁCIDOSÁcidos são substâncias presentes em vários compostos, muitas são substâncias industriais ou de uso doméstico, e alguns são componentes importantes de fluidos biológicos ou produtos de reações biológicas (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005). Essas substâncias ionizam formando íons hidrogênio e contribuem para aumentar a concentração de íons H+ (aq) nas soluções aquosas. Como esse átomo é constituído por um próton e um elétron, o H+ é simplesmente um próton, por esse motivo essa classe de substancia (os ácidos) é conhecida como doadores de prótons. BASESSão substâncias também facilmente encontradas em nosso dia a dia, são conhecidas como receptoras de H+, ou seja, reagem com esses íons formando como produto principal água, conforme a figura 1 (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005). Segundo o autor, qualquer substância que eleva a concentração de íons OH- (aq) na água é considerada uma base. PHO pH corresponde ao potencial hidrogeniônico de uma solução, ou seja, a capacidade que uma substancia tem de liberar íons H+ na solução. Pode ser determinado numericamente conforme figura 2, e serve para medir o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de determinada solução uma vez que varia de 0 a próximo de 7 para ácidos, 7 substâncias neutras, e de próximo de sete a 14 para substâncias básicas (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005). A concentração de íons H+ (aq), é em geral pequena, por esse motivo é expressa em termos de pH, que é o negativo do logaritmo decimal da concentração desse íon, conforme figura 3, podendo então o valor numérico do pH pode ser calculado pela concentração de íons H+. EROSÃO DENTÁRIANa era da odontologia preventiva, com o decréscimo da prevalência de cárie, outras lesões que ocorrem na boca (de característica não cariosas), como a erosão dentária, têm despertado interesse da comunidade científica atual. Franzner (2011) define erosão dentária como sendo a perda irreversível de estrutura dentária por processo químico, sem o envolvimento de bactérias, fato afirmando também por Barbosa et al. (2012). O esmalte do dente humano (Figura 4) passa por um processo natural de desgaste durante o cumprimento do seu ciclo biológico. Contudo, apesar de ser um processo que ocorre naturalmente, este desgaste pode ser intensificado por atividades tanto extrínsecas, sendo a principal delas a alimentação, quanto intrínsecas, ocasionada pela ácido gástrico do estômago em episódios de vômitos. Com o acúmulo de tarefas e falta de tempo, as pessoas estão consumindo mais produtos industrializados, tais como alimentos e bebidas prontas, os quais apresentam componentes ácidos (MAGALHÃES et al., 2008 apud FRANZNER, 2011). A hidroxiapatita - Ca5(PO4)3OH - é o principal componente do material que constitui o esmalte do dente. Segundo Gouveia (1999), a dissolução do esmalte dental é desencadeada pela reação entre os íons H+ de um produto ácido e a hidroxiapatita. Esse processo recebe o nome desmineralização (Figura 5), é normal e ocorre naturalmente. O processo inverso, a mineralização, também é normal (SILVA et al., 2001). A partir da leitura de Mangueira et al. (2011), observa-se que o diagnóstico diferencial da erosão dentária envolve basicamente o conhecimento de lesões cervicais como abrasão (clinicamente caracterizada por uma lesão semelhante a uma cunha de superfície de aspecto polido) e atrição (clinicamente, uma superfície com a aparência extremamente polida e lisa). Enquanto na cárie, a exposição aos ácidos orgânicos desencadeia a formação de uma lesão subsuperficial por perda de 50% de mineral, mas a camada externa do esmalte é mantida intacta (o que permite sua remineralização), na erosão dentária, a superfície dentária exposta a ácidos de pH <4,5 resulta na destruição do esmalte em camadas, explicando o fato de alguns autores afirmarem que na erosão nenhuma remineralização pode ser esperada (MANGUEIRA et al., 2011). NEUTRALIZAÇÃOA saliva age como um meio de defesa dos tecidos dentais através de mecanismos que reduzem as perdas minerais sofridas durante o processo erosivo. Um desses mecanismos é a capacidade tampão, ou seja, não permitir que a acidez da boca varie, participando da neutralização de produtos ácidos no meio bucal. Contudo, o poder de atuação da saliva é reduzido quando bebidas ácidas são utilizadas com alta frequência (GOUVÉIA, 1999). O pH normal da boca é em torno de 6,8; e a desmineralização torna-se predominante a um pH abaixo de 5,5. Apesar de ter um mecanismo que permite regular o pH da boca, os maus hábitos de higiene e o consumo de alimentos com forte potencial ácido, como refrigerantes, conservantes e fermentáveis, o pH da boca pode atingir um valor abaixo de 5,5 após 10 minutos (SILVA et al., 2001). REFERÊNCIASBARBOSA, Amanda Maria Ferreira et al. Características bucais da perimólise e episódios recorrentes de vômitos - relato de caso. Odonto, v. 20, n. 40, p. 89-93, dez. 2012. BROWN; LEMAY; BURSTEN. Química, a Ciência Geral. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. FRANZNER, Belisa. EROSÃO DENTÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA. 2011. Monografia (Especialização em Odontopediatria) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. GOUVÉIA, Maria das Mercês de Aquino. Avaliação do pH, capacidade tampão, teor de flúor de sucos de frutas industrializados e morfologia e microdureza do esmalte de dentes decíduos erosionados pelo suco de laranja e incubados em saliva artificial: estudo in vitro. 1999. 170 p. Dissertação (Mestrado em Odontologia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999. MANGUEIRA, Dayane Franco Barros et al. Cárie e erosão dentária: uma breve revisão. Odontol. Clín.-Cient., Recife, v. 10, n. 2, p. 121-124, abr. 2011. SILVA, Roberto R. et al. A Química e a Conservação dos Dentes. Revista Química Nova na Escola, [S.l.], n. 13, p. 3-8, maio. 2001. SOUZA, Bárbara Capitanio de. Erosão dentária em paciente atleta: artigo de revisão. Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 2, p. 155-161, abr./jun. 2017. AUTORIAArtigo publicado em 04/10/2018 por Naara Coutinho Lutra, Naila Emília Krul e Victor Augusto Dantas dos Santos, técnicos em Biotecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI CIC, sob orientação do professor Carlos Eduardo Sanchuki. |