Cisto odontogênico glandular

O 'cisto odontogênico glandular (COG) é um cisto odontogênico do desenvolvimento incomum.[1][2] Ao contrário dos demais cistos odontogênicos, ele possui um perfil localmente agressivo e uma taxa de recidiva relativamente alta.[1][2]

Sinais e sintomas

O COG tende a ser assintomático na maior parte (75%) dos casos.[1] Entretanto, o sinal mais comum é a expansão da cortical óssea, que pode ocorrer entre 43,5 a 87% dos casos.[1]

Outros sinais e sintomas incluem:[3][4][5]

Aspectos radiográficos e histológicos

Radiograficamente, o COG pode se apresentar como uma lesão radiolúcida uni ou multilocular de bordas bem delimitadas na maior parte dos casos, com um halo radiopaco em 94,5% das lesões.[1][2] Seu aspecto radiográfico é semelhante ao de outros cistos, como cisto dentígero, cisto periodontal lateral, e cisto globulomaxilar.[1] Entretanto, ele é localmente agressivo e está relacionado ao deslocamento de dentes e reabsorção radicular.[1]

Histologicamente, seu aspecto é bastante variável.[1] Normalmente é caracterizado por uma cavidade cística revestida por epitélio que pode conter células mucosas, células claras, epitélio ciliado, ou as células mais características desse cisto, em prego.[6] A classificação mais recente das lesões odontogênicas da OMS sugere que embora as células epiteliais em prego sejam características marcantes desse cisto, a variabilidade da espessura epitelial é obrigatória para o diagnóstico, e outras características podem estar presentes:[1][6][7]

  • Células em prego: são células de epitélio cuboidal eosinofílicas, presentes na superfície do revestimento cístico e lembram o epitélio reduzido do esmalte;
  • Microcistos intraepiteliais ou espaços semelhantes a ductos, revestidos por uma camada única de epitélio cuboidal a colunar;
  • Prolongamentos das células em prego semelhantes à secreção de ductos de glândulas apócrinas;
  • Células claras;
  • Espessura variável do epitélio cístico;
  • Células caliciformes;
  • Espessamento epitelial em placas ou esferas, semelhantes ao cisto periodontal lateral;
  • Aspecto multicístico, semelhante ao cisto odontogênico botrioide;
  • Células ciliadas.

Causas

A origem do COG ainda é incerta.[8] Teoriza-se que trauma local, um cisto pré-existente ou mesmo constituintes cancerígenos possam originar o COG.[8] Sabe-se que o COG possui duas mutações características: de Bcl-2 e de MAML2.[7][9] A mutação de MAML2 é de especial importância, por diferenciar o cisto do carcinoma mucoepidermoide.[6][7]

Epidemiologia

O COG é bastante raro, representando menos de 0,5% dos cistos odontogênicos diagnosticados.[1] Afeta adultos de meia idade, sem predileção por gênero.[1] Afeta mais a mandíbula do que a maxila (73,2 a 80% dos casos), e preferencialmente na região anterior (60%).[1] Na maxila, tende a se concentrar na região globulomaxilar.[1]

Diagnóstico

O diagnóstico se dá através de exame anatomopatológico, que se faz necessário por a lesão poder se assemelhar ao carcinoma mucoepidermoide.[1] O COG possui características variáveis, e algumas são bem distintas de outros cistos e tumores da região bucomaxilofacial.[1][6][7]

Diagnóstico diferencial inclui:[1][7]

Prognóstico e tratamento

O COG possui um comportamento localmente agressivo, e características como a presença de microcistos e placas epiteliais são consideradas fatores preditivos de agressividade.[2] Radiograficamente, cistos multiloculares e que rompem a integridade da cortical óssea também são preditores de agressividade.[1]

O tratamento conservador do COG, como a enucleação ou curetagem, podem implicar em recidiva do cisto.[1] A marsupialização ou descompressão podem ser utilizadas para promover a redução de lesões maiores, antes de removê-las cirurgicamente.[1] Como a taxa de recidiva varia entre 21,6 a 50%, alguns autores recomendam até mesmo a ressecção em bloco para evitar a recidiva, assim como o acompanhamento por pelo menos 3 anos, mas idealmente por pelo menos 7 anos.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Gorgis, Romario; Christian Krarup, Søren Aksel; Reibel, Jesper; Nørholt, Sven Erik (30 de junho de 2023). «Glandular Odontogenic Cyst: a Case Report and Literature Review». Journal of Oral & Maxillofacial Research (em inglês) (2): e1. ISSN 2029-283X. PMC PMC10382194Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 37521326 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.5037/jomr.2023.14204. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  2. a b c d Crane, Hannah; Karbhari, Bhavesh; Hughes, David; Orr, Robert; Brierley, Daniel (1 de setembro de 2021). «Glandular Odontogenic Cyst with Metaplastic Cartilage: Report of an Unusual Case and Literature Review». Head and Neck Pathology (em inglês) (3): 1041–1046. ISSN 1936-0568. PMC PMC8384936Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 33104949. doi:10.1007/s12105-020-01239-8. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  3. Faisal, Mohammad; Ahmad, Syed Ansar; Ansari, Uzma (1 de setembro de 2015). «Glandular odontogenic cyst – Literature review and report of a paediatric case». Journal of Oral Biology and Craniofacial Research (3): 219–225. ISSN 2212-4268. PMC PMC4623883Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 26587384. doi:10.1016/j.jobcr.2015.06.011. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  4. Neville, Brad W. (2016). Slootweg, Pieter J., ed. «Cyst, Glandular Odontogenic». Cham: Springer International Publishing (em inglês): 89–93. ISBN 978-3-319-28085-1. doi:10.1007/978-3-319-28085-1_677. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  5. Momeni Roochi, Mehrnoush; Tavakoli, Iman; Ghazi, Fatemeh Mojgan; Tavakoli, Ali (1 de julho de 2015). «Case series and review of glandular odontogenic cyst with emphasis on treatment modalities». Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery (6): 746–750. ISSN 1010-5182. doi:10.1016/j.jcms.2015.03.030. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  6. a b c d Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2013). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2017 (4th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. doi:10.5146/tjpath.2017.01410. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  7. a b c d e Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2022). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2022 (5th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. PMC PMC9999699Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 35578902. doi:10.5146/tjpath.2022.01573. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  8. a b AbdullGaffar, Badr; Koilelat, Mohamed (maio de 2017). «Glandular Odontogenic Cyst: The Value of Intraepithelial Hemosiderin». International Journal of Surgical Pathology (em inglês) (3): 250–252. ISSN 1066-8969. doi:10.1177/1066896916672333. Consultado em 29 de outubro de 2024 
  9. Shah, Monali; Kale, Hemant; Ranginwala, Amena; Patel, Govind (abril de 2014). «Glandular odontogenic cyst: A rare entity». Journal of Oral and Maxillofacial Pathology (em inglês) (1). 89 páginas. ISSN 0973-029X. PMC PMC4065455Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 24959044. doi:10.4103/0973-029X.131922. Consultado em 29 de outubro de 2024