A grande revelação desta copa foi a Seleção Neerlandesa de Futebol, que, sob a batuta de Rinus Michels, voltou à copa após 36 anos de ausência, desde a sua segunda participação, em 1938, na França, utilizando como bases o AFC Ajax, campeão intercontinental em 1972, e o Feyenoord, campeão intercontinental em 1970. A seleção era conhecida como "Laranja Mecânica" e "Carrossel Holandês", devido à tática de Michels de alternar os jogadores em suas posições. O destaque dessa equipe era Johan Cruijff, que atuava bem tanto na defesa, quanto no meio-campo ou no ataque. De longe, era a seleção favorita ao título, tanto por seu modo atordoante de jogar futebol quanto por ser responsável pela eliminação da seleção brasileira, que defendia o título, e contava com jogadores que atuaram na Copa de 1970, como Jairzinho e Rivellino.[1]
O neerlandês Johan Cruijff foi eleito o melhor jogador da competição. De acordo com os dados do portal Opta Sports, na Copa do Mundo de 1974, Cruijff foi o jogador com mais dribles certos (34), chances criadas (36) e passes certos no terço final de campo (136) em toda competição.[2] Na Copa do Mundo de 1974, Cruijff criou 5.1 oportunidades de gol por jogo. É o recorde da história das Copas de um jogador no mesmo torneio desde quando os dados da Opta Sports começaram a ser coletados em 1966.[3]
A Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer, Gerd Müller e outros era uma grande favorita. Outro selecionado, porém, surgiu como revelação a ameaçar esse favoritismo - os Países Baixos de Cruyff e Neeskens, que acabou sendo inovadora em suas atuações, apresentando resultados favoráveis. O timaço dos Países Baixos, dirigido por Rinus Michels, revolucionou o futebol mundial implementando um sistema tático onde os jogadores não guardavam posição fixa: era o chamado carrossel holandês. Os Países Baixos, apelidados de Laranja Mecânica (em alusão ao filme de Stanley Kubrick, adaptado do livro de Anthony Burgess) chegaram à final como os grandes favoritos ao título.[4]
O mundial foi transmitido em cores pela TV em 70 países e foi a primeira Copa do Mundo onde os jogadores começaram a usar número nos calções.
Seguindo a tendência inaugurada no mundial anterior, a bola oficial era a mesma: a Telstar, fabricada pela Adidas. Nesse mundial foram utilizados dois modelos: a principal, com hexágonos brancos e pentágonos pretos, que foi utilizada na maioria dos jogos, e uma totalmente branca, que foi utilizada em 8 jogos, incluindo a semifinal entre Brasil e Países Baixos, e a decisão do 3° lugar entre Brasil e Polônia.
O Zaire (atual República Democrática do Congo) participou pela primeira vez da Copa do Mundo, ao vencer o Campeonato Africano de Nações (que era classificatório para o Mundial naquela época), tornando-se assim a primeira equipe da África subsaariana a participar do Mundial. Pela classificação para a Copa do Mundo, todos os jogadores receberam como prêmio do governo de seu país, casa e automóvel. Mas devido à péssima campanha no Mundial, os prêmios foram confiscados mais tarde.
No jogo Iugoslávia e Zaire na 1ª fase, a Iugoslávia vencia por 2–0, quando o goleiro zairense Kazadi Mwamba pediu para ser substituído, alegando que mal tinha tocado na bola em 20 minutos jogados. Em seu lugar, entrou Tubilandu Ndimbi, que, logo depois que entrou, teve que trabalhar - teve que pegar a bola no fundo da rede, depois que a Iugoslávia marcou seu terceiro gol. No final, a Iugoslávia goleou por 9-0 e ficou com o 1° lugar na chave.
Outro episódio envolvendo a seleção do Zaire ocorreu na partida decisiva do grupo, contra o Brasil. Durante uma cobrança de falta, o zagueiro Ilunga Mwepu saiu da barreira e chutou a bola para longe antes que Rivelino pudesse fazer a cobrança. Embora a imprensa na época tivesse considerado o episódio um simples ato de desconhecimento das regras, Ilunga alegou depois que pretendia com isso que o juiz o expulsasse pelo ato (ele levou apenas um cartão amarelo), como forma de protestar contra o congelamento dos pagamentos dos jogadores por parte do governo.[5]
Último colocado no grupo D com 3 derrotas, a equipe do Haiti, pelo menos, teve um motivo para se orgulhar: ao marcar seu único gol na derrota por 3–1 diante da Itália, foi quebrada a invencibilidade da defesa italiana, que não tomava um gol desde 1972, e do goleiro Dino Zoff, que estava 1.142 minutos sem tomar gol. Coube a Emmanuel Sanon (falecido em 2008) esta façanha.
Na única vez em que as duas Alemanhas se enfrentaram em uma Copa do Mundo, a Alemanha Ocidental, demonstrando sua frieza, abriu mão de sua invencibilidade e perdeu para a Seleção Alemã Oriental de Futebol por 1–0, evitando cair no grupo de Brasil e Países Baixos na segunda fase da Copa. Consequentemente, apenas as seleções do Chile e da Austrália enfrentaram cada lado da Alemanha em partidas diferentes, terminando em duas derrotas australianas e uma derrota chilena, além de um empate (Alemanha Oriental X Chile).
Um dos grupos mais fortes da copa era o D com Polônia, Itália e Argentina brigando pelas 2 vagas e a seleção do Haiti servindo de saco de pancadas para os protagonistas conquistarem saldo. O Haiti perdeu da Itália por 3–1 (em partida que a equipe chegou a estar vencendo), da Argentina por 4–1 e da Polônia por 7–0. Deu a lógica e quem goleou por mais acabou passando, avançando Argentina e Polônia. A Laranja Mecânica passeou no seu grupo e ganhou do Uruguai por 2–0, empatou com a Suécia 0–0 e goleou a Bulgária por 4–1.
A Escócia se tornou a primeira seleção a ser eliminada na 1ª fase sem perder um só jogo. Curiosamente, ela foi a única equipe invicta do torneio.
No Mundial houve a estreia do chamado cartão vermelho. A primeira vítima dele na história das Copas foi o atacante chileno Carlos Caszely, que foi expulso aos 22 min do 2º tempo no jogo Alemanha Ocidental 1–0 Chile. O próprio Caszely era opositor ferrenho do ditador chileno Augusto Pinochet, que tomara o poder no país meses antes, após liderar um golpe de estado. Devido à sua expulsão, posteriormente Caszely, ídolo do Colo-Colo, foi proibido de jogar futebol em seu próprio país. Ele acabaria jogando em clubes da Espanha nos tempos politicamente mais difíceis.
Esse foi também o mundial em que ocorreu o primeiro caso de doping na história do torneio. O fato ocorreu com o zagueiro do Haiti Ernst Jean-Joseph, na partida em que sua seleção foi goleada pela Polônia por 7–0. No dia seguinte ao anúncio pela FIFA, seguranças da delegação tiraram o atleta do quarto onde dormia, levaram-no para um jardim na própria concentração e deram-lhe uma brutal surra. Em comunicado distribuído à imprensa, a delegação do Haiti disse que a agressão foi justificada pelo doping, onde o zagueiro, com sua atitude, envergonhara a sua pátria.[5]
Segunda fase
Chega a Segunda Fase; pela primeira vez um mundial tem uma segunda fase com dois grupos de 4, os melhores vão à final e os segundos colocados vão disputar o terceiro lugar. O Brasil ganha da Alemanha Oriental por 1–0, e da Argentina, por 2–1. A Holanda goleia a Argentina por 4–0 e vence a Alemanha Oriental por 2–0.
Pelo melhor saldo de gols, a Holanda joga pelo empate na rodada final contra o Brasil. Em um jogo tenso, e por muitas vezes violento, a Holanda leva a melhor, vencendo por 2–0 na partida que decidiu o finalista de seu grupo.
Nas partidas de semifinais, que definiriam os finalistas, e quem decidiria o 3° lugar, entre Brasil e Holanda, e entre Alemanha Ocidental e Polônia, os jogos foram interrompidos durante seu andamento para se dar um minuto de silêncio pelo falecimento do presidente argentino Juan Domingo Perón ocorrido dois dias antes.
Já no outro grupo da segunda fase a Alemanha vence a Iugoslávia por 2–0, a Suécia por 4–2. A Polônia venceu a Suécia por 1–0 e a Iugoslávia por 2–1. Pelo melhor saldo de gols, a Alemanha tem a vantagem do empate no jogo contra a Polônia. Em um jogo difícil em um campo encharcado, a Alemanha vence a Polônia por 1–0, e vai à final.
Nesta fase, o goleiro polonês Jan Tomaszewski conseguiu a proeza de defender dois pênaltis: um na partida contra a Suécia, em que defendeu o tiro de Staffan Tapper, e na semifinal contra a Alemanha, em que defendeu a cobrança de Uli Hoeneß. Tal façanha não foi superada até hoje na competição, só foi igualada no Mundial de 2002 pelo goleiro norte-americano Brad Friedel e no de 2022 por Yassine Bounou, defensor das redes marroquinas.
A partida entre Alemanha Ocidental e Polônia foi realizada com meia hora de atraso, devido à intensa chuva, que deixou o gramado do estádio totalmente alagado. O Corpo de Bombeiros foi acionado para drenar o campo com bombas de sucção, enquanto os funcionários do estádio percorriam o gramado com carrinhos de drenagem, para deixar o campo em condições de jogo. Mesmo assim, o campo continuou com poças de água durante a partida.
Restou ao Brasil jogar e perder, pelo terceiro lugar da Copa, contra a Polônia, 1–0 gol de Lato, que seria o artilheiro do torneio. Curiosamente, esta foi a única partida que o ídolo palmeirense Ademir da Guia, substituído por Mirandinha no intervalo, jogou pela Seleção no torneio.
Na final, a Holanda saíram na frente logo no início gol de pênalti, com pouco mais de um minuto de jogo, sem que sequer um alemão tivesse tocado na bola. A Alemanha não se abala, e chega ao empate também de pênalti. Müller aproveita a bola na área e faz o gol da virada. Depois só deu Países Baixos, mas Sepp Maier, o arqueiro germânico, parou o ataque da laranja mecânica e a Alemanha repetiu 54: virou para cima da grande favorita da final e sagrou-se bicampeã do mundo.
Pela conquista da Copa do Mundo, cada jogador alemão ganhou um prêmio de 50 mil dólares e um Fusca 0 km. Cada jogador holandês ganhou 100 mil dólares, apesar do vice-campeonato.
Mascote
Os mascotes oficiais da Copa de 1974 eram os garotos Tip e Tap. Na sua vez de sediar a Copa do Mundo, a Alemanha seguiu o modelo mexicano de usar uma figura humana. Mas, dessa vez, foram escolhidas duas mascotes: O Tip e o Tap são dois garotos felizes, que provavelmente representam o fair play entre as Alemanha Oriental e Ocidental, que, apesar de separadas, participam juntas da competição esportiva.
A camisa de um deles estampa a sigla WM, iniciais de Weltmeisterschaft ("Copa do Mundo" em alemão); a do outro, o número 74, ano em que foi realizada a competição. A dupla passa a mensagem de união e amizade, repetida 32 anos depois na pele da mascote Goleo VI e sua amiga Pille, quando a Copa voltou a ser disputada na Alemanha reunificada.
Controvérsia
O jogador polonês Wladyslaw Zmuda relembrou em 2021 que um cartola italiano apareceu no túnel do vestiário, no intervalo da partida entre Itália e Polônia, com uma mala cheia de dinheiro para que os poloneses se deixassem empatar no segundo tempo, resultado que classificaria as duas equipes. Segundo Zmuda: "Os italianos tinham certeza de que iriam vencer, mas no final do primeiro tempo estávamos vencendo por 2 a 0 e a classificação estava escapando e, quando estávamos indo para o vestiário, notamos um homem nos esperando no túnel com uma maleta na mão e, quando a abrimos, apareceram maços de notas, muitos dólares. Eu não podia acreditar, um cara com uma pasta de dinheiro no meio de um jogo da Copa do Mundo! Acho que foi aí que um dos nossos funcionários começou a discutir com ele. Foi só por um momento e fomos imediatamente mandados para o vestiário. Mas eu me lembro muito bem daquele dinheiro.". Miroslaw Bulzacki, ex-agente de futebol polonês, confirmou a acusação de Zmuda: "Eu me lembro daquela pasta. Ele tentou entregá-la a um dos jogadores, mas ninguém quis ficar com ela. Eles nos expulsaram e ordenaram que fôssemos para o vestiário, onde ele não podia entrar.".[6]
Campanha: sete partidas, três vitórias, dois empates, duas derrotas, seis gols a favor e quatro contra.
Partidas: Brasil 0–0 Iugoslávia, Brasil 0–0 Escócia, Brasil 3–0 Zaire, Brasil 1–0 Alemanha Oriental, Brasil 2–1 Argentina, Brasil 0–2 Países Baixos e Brasil 0–1 Polônia.
O Brasil, recentemente tricampeão mundial, estava com a auto estima alta. Zagallo, ainda técnico da seleção, usou a base da última copa, Jairzinho e Rivelino. Faltava o rei Pelé, que havia se aposentado da seleção em 1971. De fato, dos 22 jogadores convocados, somente nove fizeram parte da campanha do Tri, dos quais seis foram reservas naquela copa; Clodoaldo também estava cotado, mas uma contusão o tirou da equipe que foi à Alemanha Ocidental.
Porém, o Brasil não foi muito longe. A famosa Laranja Mecânica neerlandesa destruiu o sonho do tetra.
Por fim, o Brasil termina em 4º lugar após perder para a Polônia, consolidando a "Seleção Canarinho" em uma colocação abaixo dos poloneses.
Sorteio
O sorteio foi realizado no Main Hall of Radio Hessen no dia 5 de janeiro de 1974.
Os cabeças de chave foram Alemanha Ocidental, Brasil, Itália e Uruguai.