Número de habitantes "residentes", ou seja, que tinham a residência oficial neste município à data em que os censos se realizaram.
De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no município à data em que os censos se realizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente.
A origem do nome "Trancoso" motiva hoje em dia a especulação e a imaginação.[16] Existem pelo menos duas explicações, ambas de pendor mitológico. Tais explicações, contudo, poderão não ser tão fantasiosas como à partida seríamos levados a pensar. Uma destas explicações refere que o nome deriva de "troncoso", ou seja, o nome ficaria a dever-se ao facto de existirem árvores de grande porte na região em que a cidade foi fundada. De facto, Artur Taborda de Morais,[17] no estudo "As árvores notáveis de Portugal", descreve individualmente o "Castanheiro do Campo — Castanea sativa Mili"[18] e o "Freixo Grande de Trancoso — Fraxinus oxicarpa Willd".[19] O segundo, que foi considerado por Charles Joly (1818–1902),[20] em 1893, uma das maiores árvores da Europa,[21] já não existe, mas ainda hoje é possível observar árvores impressionantes como a "Tília Grande de Trancoso". Outra explicação, que específica concretamente um ato de fundação, um pouco à semelhança de Roma (cf. Fundação de Roma), refere que a cidade terá sido fundada por um emissário vindo do Egito ou da Etiópia. O nome do emissário seria Awseya Tarakos, que mais tarde viria a ser rei da Etiópia, da dinastia salomónica.[22] Existem, também, outras cidades europeias cujos nomes têm algumas semelhanças com Trancoso, podendo haver alguma relação entre eles (Tarragona, Tarascon, etc.). Em Portugal, atualmente, é possível encontrar a designação Trancoso para outras localidades e lugares. Existe, ainda, um rio no norte de Portugal, afluente do rio Minho, que tem esse nome.[23]
História
Com os seus numerosos monumentos, da arquitetura civil, religiosa e militar constitui um dos mais expressivos e belos centros históricos do país,[24] visitado anualmente por muitos milhares de pessoas. Estes monumentos distribuem-se um pouco por todo o município.
Na arquitetura religiosa, destacam-se na sede de município as igrejas paroquiais de Santa Maria e de São Pedro e a igreja da Misericórdia. Na arquitetura civil, encontramos a Casa dos Arcos, do século XVI, a Casa do Gato Preto (um curioso edifício do antigo bairro judaico), e o Pelourinho,[25][26][27][28][29] bela peça do mais puro estilo manuelino.
A cidade de Trancoso, devido à sua localização, entre os rios Douro, Côa e Mondego, faz parte de um conjunto de fortalezas situadas junto da serra da Estrela e da fronteira com Espanha. A sua localização privilegiada constitui um importante ponto de observação por sobre algumas das principais vias romanas que cruzam a região,[30][31][32] nomeadamente aquela que fazia a ligação entre Braga e Mérida. Em todo o caso, este é um assunto até agora pouco aprofundado, tanto mais que, numa época mais próxima de nós, até mesmo o estudo das vias de comunicação existentes no Portugal da Idade Média se encontra ainda numa fase embrionária.[33]
Assim, dada a sua localização, compreende-se a importância que esta cidade já tinha antes da fundação de Portugal. Durante a Reconquista trata-se de umas das praças fortes que mais disputa suscitou. Luís de Camões refere que a conquista de Beja, por D. Afonso Henriques, correspondeu a uma espécie de vingança pelo facto de Trancoso ter sido destruída ("Já na cidade Beja vai tomar / Vingança de Trancoso destruída[34]").
Não muito longe da cidade, encontra-se um importante sítio arqueológico considerado Património Mundial: sítios de arte rupestre do Vale do Côa. Desse modo, somos levados a pensar que toda esta região é habitada desde tempos imemoriais.
Época medieval
Trancoso encontra-se hoje rodeada de muralhas, da época dionisiana, com um belo castelo, também medieval, a coroar esse majestoso conjunto fortificado.
Aqui se travaram importantes batalhas, entre as quais a de Trancoso,[35] em 1385, num planalto a poucos quilómetros do centro histórico, que impôs pesada derrota às tropas invasoras e que antecipou o resultado da batalha de Aljubarrota.
Não esquecendo a antiguidade, porém, Trancoso mantém traços medievais no centro histórico quase inalteráveis, sendo o exterior um meio urbano já moderno e planeado.
Na contemporaneidade, o município de Trancoso tem vindo a estabelecer diversas parcerias com outros municípios aos níveis nacional e internacional. No caso de ligações diretas com outros municípios destacam-se as geminações. Neste caso, até ao presente momento, constata-se que a cidade de Trancoso encontra-se geminada com outros municípios em Portugal, Brasil e Cabo Verde. No caso de ligações envolvendo diversos municípios, o município faz parte da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE).
A nível internacional, no âmbito dos projetos de cooperação transfronteiriça, o município integra a comunidade de trabalho Beira Interior Norte - Diputación de Salamanca (BINSAL), constituindo esta comunidade uma das regiões transfronteiriças entre Portugal e Espanha. Este espaço pode ser brevemente descrito nos seguintes termos:
"O espaço transfronteiriço que engloba a Comunidade de Trabalho da Beira Interior Norte – Diputación de Salamanca, é composto em território português por nove Municípios, que são: Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Celorico da Beira, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso. Da parte espanhola a Diputación de Salamanca tem a seu cargo as comarcas: Alba de Tormes, Ciudad Rodrigo, Fuente de San Esteban, La Sierra, Ledesma, Peñaranda de Bracamonte, Salamanca e Vitigudino.[36]"
Curiosidades
Histórias de Trancoso
O contista Gonçalo Fernandes Trancoso, considerado um dos primeiros contistas da língua portuguesa, escreveu os Contos & Histórias de Proveito & Exemplo (1575). Este livro foi editado também no Brasil e está na origem de uma expressão brasileira para designar uma série de contos infantis e, de um modo geral, a literatura fantástica de tradição popular.
Alguns exemplos da presença da expressão no Brasil:
"Nossa cultura é muito rica em demasiadas histórias, das mais diversas às mais absurdas. As regiões brasileiras contam com imenso acervo de lendas, costumes, causos, folclores, histórias populares, de trancoso (ou troncoso) etc. Os nossos avós e pais cresceram ouvindo esses mitos, repassando para a gente como forma de nos intimidar e colocar regras, principalmente nos mais traquina".
"As histórias de Trancoso são uma tradição popular que permanece viva até os dias de hoje na região do Cariri. Isabel Maria é uma contadora de histórias da cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, que resgata os contos e histórias de antigamente".[37]
A única cópia da primeira edição do livro de Gonçalo Fernandes Trancoso encontra-se em Washington, DC:
"A primeira edição dos Contos & Histórias de Proveito & Exemplo data do ano de 1575, altura em que foram impressos por António Gonçalves. O texto foi adquirido no ano de 1923 pelo historiador e diplomata brasileiro Manuel de Oliveira Lima. Falecendo em 1928, nos E.U.A., terá legado este volume juntamente com a sua biblioteca, à biblioteca da Universidade Católica da América, a qual integra atualmente a Biblioteca Oliveira Lima, em Washington, DC (DUARTE, 2008: 97-98)".[38]
No começo do século XX, em 1921, Agostinho de Campos reeditou o livro das Histórias de Trancoso, denominando-as "Antologia Portuguesa". Mais recentemente, em 1982, Irene Avilez Teixeira, uma antiga professora primária, legou para a posterioridade um livro intitulado Trancoso — Terra de Sonho e Maravilha, que pode ser considerado uma versão contemporânea dos contos de Trancoso. Esta tradição, por assim dizer, ainda está de algum modo patente na recente apresentação da peça O Segredo da Arca de Trancoso, de Luiz Felipe Botelho, no Teatro Nacional D. Maria II.
Um exemplo típico do que poderia ser uma verdadeira História de Trancoso:
"Iniciou-se então a exploração até à estação de Mondim da Beira em 1910; de Mondim da Beira até Moimenta da Beira, via Salzedas em 1912; de Moimenta da Beira a Ponte do Abade em 1913, via Arcozelos, Faia e Vila da Ponte; de Ponte do Abade a Trancoso em 1915; e de Trancoso a Celorico da Beira em 1916, via Chafariz dos Ventos e Frexes (cf. Linha Férrea Entre-Douro e Beira".[39]
Naquele tempo de guerras e vida atribulada era o noivo quem dava o dote à noiva, como garantia de segurança, em caso de morte. Foi assim que D. Urraca, filha do rei D. Afonso Henriques e dos seus amores com D. Elvira Gualter recebeu muitos terrenos com a morte do marido. Essas terras, atualmente, pertencem ao município da Mêda e continuam conhecidas por Terras de D. Urraca.
As condições climáticas e a situação na transição do granito para o xisto, permitiram que nessas terras se produzisse um vinho famoso, que se destaca pelas suas qualidades.
Transportes
Acessos
Ferroviários
O único centro ferroviário do município fica em Vila Franca das Naves, na Linha da Beira Alta.[40] Desse modo, por essa mesma linha, é possível, por um lado, em direção ao litoral, viajar de comboio entre Trancoso, Coimbra e Lisboa, e por outro, na direção da fronteira, a cidade é ligada à Guarda, a Salamanca e Madrid, existindo ainda uma ligação até Paris através do Sud Expresso. Na década de 1930 esteve planeada uma linha férrea de via estreita entre as estações da Régua, na Linha do Douro, e de Pinhel, passando por Trancoso e Vila Franca das Naves.[41]
Rodoviários
A recente[quando?] conclusão da auto-estrada que liga Trancoso à A25 veio mitigar as deficiências existentes nas vias de comunicação, mas a situação está longe de ser resolvida.[necessário esclarecer]
Economia
Relativamente aos sectores de atividade, os empregos ligados ao sector terciário representam 64,5% do total da população empregada do município, tendência que se mantém ao nível distrital e nacional.
A forte representatividade do setor terciário face ao setor primário, justifica-se em grande medida pela debilidade que do setor primário atravessa, justificada, entre outros aspetos, pela dificuldade em tornar a agricultura numa atividade económica rentável, já que a atividade agrícola é encarada não como fonte de rendimento, mas como ocupação parcial, maioritariamente com carácter familiar e para consumo próprio.[42]
O município de Trancoso caracteriza-se por ser um dos maiores produtores de castanha, atividade agrícola que tem grande peso na economia das populações. O castanheiro faz parte da paisagem trancosense. Tradicionalmente é uma região de referência na produção de castanha e madeira de castanheiro.[43] Para o futuro, a Câmara Municipal tem apoiado alguns jovens empresários com projetos novos, sobretudo na área dos castanheiros, pecuária e queijarias.[44]
Feiras de Trancoso
As feiras de Trancoso, desde a Idade Média, têm uma expressão significativa na região,[45][46] inclusivamente em Castela, na vizinha Espanha.[47]
Feira de São Bartolomeu
Esta feira realiza-se em Trancoso durante o mês de agosto, desde 1273:
"Apresenta inclusa carta de D. Afonso, feita pelo notário Pero Pais, em Lisboa, a 8 de agosto de 1311 E.C. [1273 d.C.], mandando fazer uma feira anual na vila de Trancoso. A feira deverá começar oito dias antes do dia de S. Bartolomeu e durar 15 dias".[48]
Outras feiras no município:
Feira de Santa Luzia
Feira Medieval de Trancoso
Feira do Fumeiro de Trancoso
Feiras de Vila Franca das Naves: São José (19 de março), São Pedro (29 de junho) e São Martinho (11 de novembro).
Há ainda um mercado semanal, à sexta-feira, em Trancoso e, um mercado bimensal, em Vila Franca das Naves, na 2ª e 4ª quarta-feira de cada mês.
Turismo
A cidade de Trancoso mantém ainda a traça de um centro histórico medieval, que outras cidades portuguesas, como por exemplo Viseu,[49] por virtude dos processos de crescimento da cidade durante o século XIX, não preservaram. Desse modo, uma visita a Trancoso constitui uma viagem no tempo e permite ao visitante apreender e questionar a evolução das cidades e das suas formas ao longo do tempo.
Contudo, apesar de ter preservado grande parte da sua cintura amuralhada, uma visita à cidade de Trancoso, ao seu centro histórico, revela alterações na sua morfologia e arquitetura. Ora, estes são sinais da existência ainda hoje de um espaço histórico vivo e dinâmico, que distingue a cidade doutros dos núcleos urbanos da rede de Aldeias Históricas de Portugal.
O turismo cultural em Trancoso possibilita incursões em universos do saber que estão relacionados com a própria história da cidade (ex.: Medievalística, etc.).
A cidade, procurando desenvolver o turismo de natureza cultural, tem estabelecido algumas parcerias com outras cidades. Em Portugal, como foi referido acima, faz parte da rede de Aldeias Históricas. Em termos europeus, existem condições para o estabelecimento de novas parcerias e redes que possam contribuir para o desenvolvimento do potencial turístico da cidade. Neste último caso, por exemplo, encontram-se a Associação Europeia de Cidades e Regiões Históricas, a associação internacional Cidades Europeias Amuralhadas e o Fórum Ibérico de Cidades Amuralhadas.
↑INE (2012). «Quadros de apuramento por freguesia»(XLSX-ZIP). Censos 2011 (resultados definitivos). Tabelas anexas à publicação oficial; informação no separador "Q101_CENTRO". Instituto Nacional de Estatística. Consultado em 27 de julho de 2013
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↑FIGUEIREDO, C. (1952). Subsídios para o estudo da viação romana das Beiras, Beira Alta. Viseu.
↑FIGUEIREDO, C. (1953). Subsídios para o estudo da viação romana das Beiras, Beira Alta. Viseu.
↑MAIA, Manuel (1979). Vias romanas no território dos "Interannienses". Lisboa: Dir.-Geral do Património Cultural.
↑MONTEIRO, Helena (2012). A estrada de Beira: reconstituição de um traçado medieval. Dissertação de mestrado em História, especialização em História Medieval. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. URL: http://run.unl.pt/handle/10362/8340. Consulta em 17 de março de 2014
↑PORTUGAL. Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos - Secção de Expediente, Publicado no Diário do Governo n.º 83, Série I, de 10 de Abril de 1930.
↑COSTA, Joana Raquel Casaca da - Requalificação urbana e qualidade de vida no centro histórico de Trancoso [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2014. Dissertação de mestrado.
↑OLIVEIRA, Cristina Perpétua Sobral de - Agricultura familiar e desertificação: estudos de casos nos distritos de Braga e da Guarda [Em linha]. Lisboa: ISCTE, 2015. Dissertação de mestrado.
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