Kananga do Japão
Kananga do Japão é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Manchete, entre 19 de julho de 1989 e 25 de março de 1990, em 208 capítulos, substituindo Olho por Olho e sendo substituída por Pantanal. Escrita por Wilson Aguiar Filho, com colaboração de Leila Míccolis, Colmar Diniz, Gil Haguenauer, Guto Graça Mello, Rodrigo Cid e Sérgio Perricone, sob a direção de Wilson Solon e Carlos Magalhães e direção geral de Tizuka Yamasaki, direção de núcleo de Jayme Monjardim.[2] Sucesso de audiência e crítica, venceu seis categorias no Prêmio APCA.[3] Conta com Christiane Torloni, Raul Gazolla, Tônia Carrero, Giuseppe Oristanio, Elaine Cristina, Carlos Alberto, Júlia Lemmertz e Rosamaria Murtinho nos papéis principais.[4] Produção
Adolpho Bloch, presidente da Rede Manchete, deu a ideia de produzir um folhetim que mostrasse o Grêmio Recreativo Familiar Kananga do Japão, um famoso cabaré da década de 1930. Com isso, contratou Aguiar Filho, que já produziu Marquesa de Santos e Dona Beija, maior sucesso da teledramaturgia da emissora, desde então. Esse projeto seria uma forma de suprir os prejuízos pela produção anterior, Olho por Olho.[5] Para desenvolver o texto de Wilson Aguiar Filho, a equipe investiu em material fotográfico, livros e documentos do Museu da Imagem e do Som, Arquivo Nacional e Biblioteca Nacional.[6] A emissora gastou 20 milhões de dólares com a produção da obra,[7][8] cujas filmagens se iniciaram em 15 de maio de 1989.[9] Para a história, o elenco teve de aprender dança de salão,[10] samba de gafieira, maxixe e foxtrot, além de capoeira, snooker, etiqueta e noções de judaísmo.[4] Uma maneira utilizada pela Manchete para conquistar o público foi narrar, dentro da história, partes do governo de Getúlio Vargas e Washington Luís e a prisão de Olga Benário.[5] Conforme comentário do diretor artístico Jayme Monjardim, «se essa novela não der certo, a Manchete desistirá da dramaturgia».[11] Escolha do elencoA escolha do elenco foi feita pela própria direção de teledramaturgia da emissora. Maitê Proença foi a primeira a ser escolhida para a trama, porém ela estava com a volta para a Rede Globo acertada.[7] Uma forma adquirida pela Rede Manchete foi contratar atores da Rede Globo que faziam sucesso,[6] tais como Glória Pires, Joana Fomm, Cláudia Raia e Marcos Paulo,[12] entretanto não obteve muito êxito, porque vários decidiram ficar na emissora adversária.[13] Por outro lado, para escolherem o intérprete de Alex foi feito um teste com Ernesto Piccolo, Mário Gomes e José de Abreu,[9] porém Raul Gazolla ficou com o papel.[14][15][16][17][18][19][20][21][22][23][24][25] Cenário e caracterização
O cenário de maior parte da trama é a casa noturna de danças Kananga do Japão, localizada na Praça Onze.[26] Foram envolvidos mais de 200 profissionais para a construção de uma cidade cenográfica em Grumari, no Rio de Janeiro,[8][27] com cerca de seis mil metros quadrados. A cenografia recaiu ao diretor Rodrigo Cid, o qual projetou lojas, chafarizes, linhas de bonde, colégios e a casa noturna intitulada Kananga do Japão.[6] Outras imagens foram filmadas nos estúdios da Manchete em Vista Alegre, na Zona Norte do Rio.[9] Poucos dias antes da estreia, a Rede Manchete assinou uma parceria com a Fundação do Cinema Brasileiro, o qual confirmava a cessão de cenas de filmes lançados entre 1930 e 1939.[28] O trabalho de 500 engenheiros, arquitetos e cenógrafos para a construção de bondes, trilhos e casas durou cerca de quatro meses e consumiu 1,5 milhão de dólares do orçamento de 5,5 milhões da telenovela.[29] Segundo comentário da escritora, "o compromisso maior foi retratar o que era a Praça Onze naquela época."[30] O maquilhador e esteticista Guilherme Pereira e o figurinista Colmar Diniz[31] foram os responsáveis para a caracterização dos personagens de forma condicente com a época retratada. Consoante Pereira, «A maquilhagem dos anos 30 exaltava a beleza da mulher como nunca, daí exigindo de um profissional um profundo sentido estético, precisão e harmonia. Os cabelos em pequenas ondas, as sobrancelhas finas e os olhos caídos faziam um rosto perfeito. Mas qualquer deslize poderia representar um desastre. Então, para se chegar à composição final de cada personagem, foi preciso chegar a um consenso com o figurino, a arte, cenografia e com a direção da novela, além dos próprios atores".[4][32][33][34][35] EnredoEm 1930, Dora é uma moça fina cuja família perdeu tudo após a Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, tendo que se mudar para Rio de Janeiro com a mãe Zulmira e as irmãs Madalena e Alzira para morar na pensão dos tios Joséphine e Epílogo. Ela vai trabalhar no grêmio recreativo Kananga do Japão, onde se apaixona por Alex Ferreira, mas decide casar-se com Danilo, um milionário que poderia salvar sua família. Inconformado, Alex casa-se com Lizette, rival de Dora na dança de salão, mas ambos vivem infelizes separados, ainda mais quando a madrasta de Danilo, a diabólica Letícia, passa a infernizar Dora por ser apaixonada pelo enteado. Elitistas, Sílvia e Chico, irmã e pai de Danilo, também não gostam de Dora por ela ser de família falida e passam a tentar arruinar o casamento. Enquanto isso Alzira se apaixona pelo primo Júlio, cujo pai Epílogo é contra por desejar uma moça rica para o filho, se ocupando a ponto de não notar as traições de Joséphine ou os assédios do caçula Vado na empregada Isaura. O outro primo de Dora, Henrique, também vive um amor proibido com Hannah, cujos pais dela são contra pelo moço não ser judeu. No Kananga do Japão ainda há o alcoolismo de Daisy pela frieza do marido Orestes; as confusões criadas pelas dançarinas Zazá, Eduarda, Sueli, Eduarda e Amália; as investidas do bicheiro Caveirinha na virginal Madalena; e o triângulo entre Joséphine, Juca e a cantora Lulu Kelly. ExibiçãoInicialmente, a estreia estava prevista para 16 de junho de 1989,[36] mas a data foi adiada por problemas no elenco e texto.[9] Portanto, o primeiro capítulo de Kananga do Japão exibido no dia 19 de julho do mesmo ano, na faixa da 21h30min pela Rede Manchete. No sábado da primeira semana de exibição, foi transmitido um resumo de todos os episódios apresentados.[37] Apresentada de segunda a sábado,[38] seu último capítulo foi mostrado em 25 de março de 1990, sendo substituída por Pantanal.[1] Foi reapresentada duas vezes, na primeira ocasião, de 21 de maio de 1990 a 18 de janeiro de 1991, de segunda a sábado, sob 209 episódios e, na segunda, entre 18 de março e 10 de outubro de 1997 em 149 capítulos, de segunda a sexta.[39][40] Em Portugal, foi exibida pela RTP2, somente aos domingos, durante quatro anos.[41] No fim de cada capítulo, eram exibidas, em três minutos, imagens documentais sobre a época.[11] A vinheta de abertura foi produzida por Adolpho Rosenthal e dividida em quatro temas: porto, guerra, baile e campo, baseados na obra de Cândido Portinari, O Lavrador de Café.[42] Ela representa as danças e os eventos feitos no cabaré Kananga do Japão, sob o som de "Minha", executado pela cantora Misty.[43][44] Elenco
Participações especiaisMúsica
O tema de abertura da telenovela, "Minha", é interpretado pela cantora Misty. A trilha sonora conta ainda com cantores como Elis Regina, por "Aquarela do Brasil" e Evandro Mesquita, por "Gago apaixonado" e a banda de rock progressivo Sagrado Coração da Terra, por "Passional". Tais canções foram incluídas em um CD, cuja produção recaiu a Guto Graça Mello, Tatiana Lohmann, Lia Sampaio e Celso Lessa.[59] Márcia Cezimbra, periodista do Jornal do Brasil, não gostou das canções escolhidas para a obra: "[as músicas] que leva ao ar não são da época em que se passa a novela, [é] uma trilha fora do ritmo".[60]
Lançamento e repercussãoAudiênciaNo Rio de Janeiro, principal praça da Manchete, Kananga do Japão marcou com 20 pontos no primeiro capítulo, representando um aumento de 14 pontos em relação à estreia da anterior, Olho por Olho, que teve 6.[61] Ao longo da exibição, novela manteve uma audiência entre 15 e 25 pontos no Rio.[62] A média geral na capital carioca foi de 20 pontos, considerada um sucesso acima do esperado.[61] Já em São Paulo, onde a emissora não tinha muita força ou concentrava muitos esforços, Kananga do Japão estreou com 6 pontos, triplicando o resultado da estreia da novela anterior, e teve média geral de 5 pontos.[61][62] Avaliação em retrospectoA revista Veja comentou logo após a estreia: "Neste início, ficou evidente a intenção dos diretores de usar tomadas de estilo cinematográfico, fugindo da rotina das câmaras bem aproximadas dos personagens sempre que há diálogos [...] a Rede Globo deixou evidente que enxerga na novela uma concorrente de peso e vê a possibilidade de a Manchete reeditar o êxito de Dona Beija, de 1986".[64] Um colunista da Última Hora avaliou positivamente a história e observou que "é louvável o que a Rede Manchete vem tentando em termos de qualidade plástica e artística para fazer de Kananga do Japão uma novela a nível das melhores produções da Rede Globo, [é] uma disputa sadia e necessária porque atrás dela nascem centenas de empregos".[65] Linda Monteiro, do mesmo jornal, analisou Raul Gazzola: "jovem, bonito, com boa expressão corporal, [tem] grande intimidade com a dança, uma figura de um típico malandro da boêmia carioca [com] o olhar, a voz, os trejeitos, a ginga de corpo e o sorriso maroto de conquistador".[66] Braulio Tavares, do Jornal do Brasil, disse: "a produção bem cuidada, o visual irrepreensível, o background histórico e social, o trato hábil com luzes e câmaras, a coreografia fluida, os figurinos e cenários convincentes [estão ali]".[38] Por outro lado, o jornalista Fernando de Morais criticou a dança: "a montagem do balé é um insulto: Olga Benário, que era judia mas não dava a isso importância alguma, gritaria vivas a Israel. E os produtores alemães e americanos interessados no filme fizeram muita chantagem para rodar um fita apenas policial. Não autorizei".[67] O repórter Arthur Laranjeira, de O Dia, disse que "[há] belas imagens, [com] excelente trabalho de reconstituição dos anos 30 revelado em perfeitas maquiagens, figurinos [e] cenários [...] Guilherme Pereira [mostrou-se] preocupado com cada detalhe dos muitos rostos com que trabalhou, modificando-os durante as várias fases da novela". Ainda, avaliou os atores e suas interpretações: "Raul Gazzola [transformou-se] em novo símbolo sexual. A beleza de Cristiane Torloni nunca foi tão bem mostrada em nenhuma outra novela. Tônia Carrero vem mostrando bons momentos, enfrentou cenas perigosas sem cair no ridículo".[63] A jornalista Regina Rito criticou a cena de nudez da personagem Dora: "aparece com os seios inteiramente nus!", por outro lado, uma telespectadora carioca enviou uma carta de discórdia: "Será que se a cena fosse da novela Tieta mereceria censura ou será que os seios da Isadora Ribeiro e o bumbum do rapaz no término da novela Brega & Chique são fatos absolutamente normais? Atitudes como esta reforçam uma postura iníqua, de uma jornalista que coloca a opinião e o gosto nas matérias contra o trabalho de pessoas sérias."[68] Prêmios e indicaçõesO troféu APCA, premiação organizada pela Associação Paulista de Críticos de Arte indicou Kananga do Japão a seis categorias para a seção de televisão, as quais venceram. Rodrigo Cid, Sérgio Perricone e Gil Haguenauer foram selecionados à melhor cenografia, Guto Graça Mello à melhor trilha sonora, Colmar Diniz recebeu a condecoração de melhor figurino, Adolph Rosenthal e Tony Cid Guimarães foram escolhidos por melhor abertura[3][69] e Cristiana Oliveira venceu na categoria de melhor revelação feminina.[70] O troféu Imprensa, realizado anualmente, indicou-a como melhor novela e selecionou Raul Gazzola para concorrer à revelação, porém não venceram.[carece de fontes] NotasReferências
Ligações externas
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