Uga Uga
Uga Uga é uma telenovela brasileira produzida pela TV Globo e exibida originalmente de 8 de maio de 2000 a 19 de janeiro de 2001 em 221 capítulos,[2] com o último capítulo reexibido no dia subsequente, 20 de janeiro.[1] Substituiu Vila Madalena e foi substituída por Um Anjo Caiu do Céu, sendo a 60ª "novela das sete" exibida pela emissora. Escrita por Carlos Lombardi, com a colaboração de Margareth Boury e Tiago Santiago, teve direção de João Camargo e Ary Coslov. A direção geral foi de Alexandre Avancini e Wolf Maya, também diretor de núcleo.[2] Contou com as atuações de Cláudio Heinrich, Humberto Martins, Vivianne Pasmanter, Lima Duarte, Marcello Novaes, Betty Lago, Nair Bello e Marcos Pasquim.[1] Enredo
Os biólogos Nikos Junior e Mag são assassinados por índios rebeldes durante uma expedição na Amazônia, deixando o pequeno Adriano – com apenas três anos – sozinho na selva, sendo salvo e cuidado pelo Pajé Anru de uma pacífica tribo. Passados vinte anos, agora sob o nome nativo de Tatuapú, o rapaz se tornou um legítimo índio, nem fazendo ideia que seu avô, Nikos, nunca deixou de procurá-lo e que ele é herdeiro único da poderosa fábrica de brinquedos Tróia. A insistência em encontrar o neto é um estorvo para a ambiciosa Santa, cunhada de Nikos, que deseja que o filho Rolando seja o herdeiro por hierarquia e ordena que este voe até o local onde Adriano desapareceu para simular interesse nas buscas. Ironicamente o avião de Rolando cai na selva e ele é salvo exatamente por Tatuapú. Em meio a esse acidente ainda estava Baldochi, homem que precisou forjar a própria morte anos antes, para fugir do bandido Turco, que ele havia ajudado a enviar para a cadeia, e que fugiu para se vingar. Ele descobre que Tatuapú é Adriano e o leva para sua família no Rio de Janeiro, tornando-se seu mentor na cidade grande. Ao contar a todos que está vivo, Baldochi tem que lidar com Maria João, ex-noiva que ele deixou no altar no dia do casamento para fugir de Turco e que agora o odeia. Decidido a reconquistá-la, ele passa a disputar a amada com seu novo namorado, o malandro Beterraba, embora nem imagine que o irmão dela, Dinho, é na verdade filho dos dois. Já Tatuapú, além de uma nova vida que ele jamais imaginou que existia, enfrenta o dilema em estar dividido entre o amor puro de Guinevére e as aventuras com Bionda, moça doidivanas, que fugiu diversas vezes de casamentos arranjados pelos pais, Felipe e Vitória, exatamente no altar, fazendo a família sempre ser alvo de humilhação pública. Ela é irmã da ambiciosa Bruna, que só pensa em dinheiro e colocar as mãos na fortuna dos pais. As duas são primas da atrapalhada Tati, uma pobretona da parte falida da família, que é facilmente enganada por todos por ser ingênua demais, inclusive pelo namorado, Rolando, mas que encontra o verdadeiro amor nos braços do mulherengo Van Damme, irmão de Baldochi, com quem tem uma fogosa relação. Já Bionda se divide entre três amores: o excêntrico de Tatuapú, o policial Salomão – com quem vive uma cômica relação de amor e ódio – e o sensual Amon. Já Stella é uma operária da fábrica de brinquedos que ignora os sentimentos de Ary por querer um homem rico, embora ele seja disputado por Shiva. Ainda há Brigitte, ex-aeromoça demitida quando descobrem que ela contrabandeava produtos no avião e que se torna tutora de Tatuapú. Elenco
Participações especiais
ProduçãoOriginalmente a novela estrearia na faixa das 18h como substituta Força de um Desejo. No entanto, Carlos Lombardi nunca entregou o número de capítulos prévios suficientes para que a história inicial fosse avaliada e aprovada dentro do prazo limite – até setembro de 1999 – e Esplendor, de Ana Maria Moretzsohn, acabou ficando com a vaga para o horário.[3] O autor foi informado que teria mais cinco meses de prazo, uma vez que seu projeto foi promovido para "novela das sete" e estrearia em maio de 2000, substituindo Vila Madalena e em uma tentativa de inserir comédia para tentar salvar o horário.[4] As gravações começaram em setembro de 1999.[4] As cenas iniciais de Baldochi, ambientadas na Costa Rica, foram gravadas em Vassouras, interior do Rio de Janeiro, cuja arquitetura cinquentista estava bem preservada.[1] As cachoeiras de Lumiar, também no Rio de Janeiro foram utilizadas para as sequências iniciais de Tatuapú, enquanto a reserva natural de Xerém serviram de cenário para a floresta que o personagem morava, onde a equipe também gravou diversas cenas de vista aéreas para dar veracidade às cenas da tribo, que eram de estúdio. Outras gravações ocorreram em Angra dos Reis e Miguel Pereira. Os cenógrafos Mário Monteiro e Maurício Rohlfs ficam responsáveis pela criação da cidade cenográfica que foi construída nos Estúdios Globo, sendo dividida em dois espaços principais: o primeiro era uma réplica do bairro carioca de Santa Teresa, onde a maior parte dos personagens morava, enquanto o segundo era a tribo de Tatuapú – a qual teve todo o cenário reaproveitado da tribo utilizada na minissérie A Muralha.[2] A novela foi uma das que menos utilizaram os estúdios da emissora, tendo 30% de cenas de estúdio e 70% de externas.[5] Cada capítulo foi orçado em R$ 180 mil.[5] Inicialmente Uga Uga foi planejada para ter 160 capítulos porém a emissora pediu que ela fosse expandida para 250 capítulos, devido ao sucesso. O autor recusou, alegando que a história perderia fôlego com tanto tempo no ar, fechando um acordo para escrever mais 61 capítulos, totalizando 221, mais dois meses e meio no ar.[6] ReferênciasCarlos teve a ideia de escrever a novela após ler uma notícia nos jornais ocorrida em Belém, no Pará, sobre um fazendeiro que pedia ajuda para encontrar seu filho perdido desde a infância, quando indígenas que incendiaram seu sítio, mataram parte de sua família e levaram a criança.[7] Para evitar controvérsias, a história foi contrabalanceada com outro povo indígena que salva o protagonista.[7] Outra inspiração veio das diversas lendas que vinham desde o século XIX sobre crianças criadas sozinhas na natureza que retornaram com dificuldade à civilização e chegavam a atacar outros humanos, além da história verdadeira de Jean-Claude Auger.[8] O autor também citou como referências os personagens Tarzan e Mogli, presentes nos livros Tarzan, O Filho das Selvas, publicado pelo estadunidense Edgar Rice Burroughs em 1912, e O Livro da Selva, do britânico Rudyard Kipling em 1894, além do filme O Enigma de Kaspar Hauser, de 1974, sobre a real história da criança-fera Kaspar Hauser.[8] Pela criação do personagem, Tatuapú classifica-se como um tarzanide, termo criado pelo crítico literário francês Francis Lacassin para definir personagens similares ao homem-macaco.[9] Além disso Carlos fez uma referência a personagem Tiazinha, interpretada por Suzana Alves no Programa H, da Band, ao escrever as cenas onde a personagem Santa saia pelas noites buscando rapazes novos para levar para a cama usando uma máscara e um chicote.[10] Já a abertura foi criada pelo diretor Gustavo Garnier e referencia a cultura das histórias em quadrinhos para atrair o público jovem, sendo que também a cada final de capítulo o gibi era "fechado" de forma animada.[2] Escolha do elencoSusana Vieira foi convidada para interpretar a antagonista Santa, porém a atriz recusou apenas por achar o nome da novela de mau gosto.[11][12] Originalmente Murilo Benício foi convidado para interpretar Beterraba, porém o ator já estava escalado como protagonista de Esplendor.[13] Marcos Palmeira chegou a aceitar o papel, porém foi deslocado antes do início das gravações para Porto dos Milagres, passando o personagem enfim para Marcello Novaes.[13] Carlos Lombardi queria um ator loiro para interpretar o protagonista para que o público não pudesse achar que em algum momento o personagem fosse indígena, deixando clara a intenção de ser um órfão perdido criado por povos originários, optando especialmente por Cláudio Heinrich, com quem o autor já havia trabalhado em Malhação.[14] O elenco contou com alguns nomes escolhidos pessoalmente pelo autor e já tradicionais em suas novelas, como Humberto Martins, Betty Lago, Françoise Forton, Mário Gomes, Marcelo Novaes e Tatyane Goulart.[15] Para se preparar para o personagem, Cláudio Heinrich passou a fazer aulas intensivas de musculação para conquistar um corpo definido, além de passar por sessões de bronzeamento artificial para ficar com o bronzeado similar a alguém que nunca usou protetor.[16] O ator também passou uma semana no Parque Indígena do Xingu convivendo com indígenas Uailapiti e descendentes de indígenas, tendo também aulas de línguas tupi-guaranis para criar a língua própria do povo fictício da história.[16] "Descamisados"A tradição dos personagens seminus na maioria do tempo e cenas altamente sensuais em trabalhos de Carlos Lombardi também esteve presente em Uga Uga.[17] A revista Isto É avaliou que o público era atraído para a trama pelas cenas de Danielle Winits com trajes molhados e transparentes e Cláudio Heinrich usando apenas uma tanga.[17] Marcos Pasquim tornou-se um dos maiores símbolos sexuais da época, pelo corpo torneado e com pelos naturais – o protótipo da virilidade masculina na época – o que intensificou suas cenas usando apenas cueca e se relacionando com diversas mulheres ao longo da história.[17] O autor declarou que a sexualização da história era intencional: "No outono/inverno, o telespectador é atraído pelos cenários iluminados".[17] Tamanho foi o sucesso que a revista Isto É Gente realizou uma matéria especial falando sobre os "descamisados", trazendo Marcello Novaes, Mateus Rocha, Cláudio Heinrich, Humberto Martins e Marcos Pasquim sem camisa na capa.[18] A imprensa tratou a repercussão como a invasão do "homem-objeto", alegando que a televisão estava repleta de mulheres seminuas há anos e que Uga Uga trouxe o homem como objeto também para o desejo das mulheres.[19] Cláudio Heinrich teve que parar uma das gravações na praia após um acumulo excessivo de pessoas em volta dele, que chegaram a cercar o carro de uma reportagem acreditando que o ator estivesse dentro.[19] Mateus Rocha chegou a ter seu órgão genital apalpado por mulheres e recebeu propostas em dinheiro para trocar favores sexuais, enquanto Marcello Novaes foi cercado por mulheres durante um desfile que fazia em Fortaleza, que furaram o cordão de segurança e atrapalharam o trabalho para assediá-lo.[19] Marcos Pasquim recebeu diversos convites para posar nu, mas não aceitou.[20] Apesar de interpretarem policiais, Ângelo Paes Leme e Marcelo Faria passaram a fazer cenas sem roupa e apareceram em nu traseiro.[21][21] Para agradar o público masculino o autor também intensificou as cenas em que Danielle Winits e Joana Limaverde apareciam com amplos decotes ou de roupas íntimas, além de incorporar Mariana Ximenes e Nívea Stelmann em cenas na tribo de Tatuapú com trajes indígenas reveladores.[22] Porém, o excessivo apelo sexual da trama recebeu críticas da imprensa, como do jornal Folha de S.Paulo, que alegou que a novela deveria se chamar Sexo Sexo e que "...não importa a história. Tudo é motivo para estimular a libido dos telespectadores".[22] A novela chegou a ser notificada pelo Ministério da Justiça pelo excesso de sensualidade, ameaçando reclassifica-la para 12 anos, o que impediria sua exibição antes das 20h, porém isso não chegou a acontecer mesmo com o autor mantendo o teor das cenas.[23] Conteúdo transmídiaEm setembro de 2000, devido ao sucesso da personagem Bionda com as crianças, a emissora fechou uma parceria com a empresa fabricante de brinquedos Estrela para lançar uma versão da boneca Susi com os traços e roupas do papel de Mariana Ximenes, com uma produção de cem mil unidades, além de relançar o tradicional boneco da década de 1980 Sapo Chulé, personagem criado pelo quadrinhista Paulo José,[24] que seria aromatizado com essência de queijo gorgonzola, e que na novela representaria o índio Tatuapú.[25][26] Os tererês metalizados utilizados também por Bionda também se tornaram um item comercial, apesar de não pelas empresas Globo, tendo sido vendido em lojas e bancas de camelô de forma informal.[2] Trilha sonoraNacional
A primeira trilha sonora da telenovela foi lançada em 12 de setembro de 2000 pela Som Livre. A capa do álbum teve caricaturas presentes na abertura da novela.[1]
Internacional
A segunda trilha sonora da telenovela foi lançada em 12 de setembro de 2000 pela Som Livre, compilando canções internacionais. Cláudio Heinrich ilustrou a capa do álbum.[1]
AudiênciaUga Uga estreou com 42 pontos de média e picos de 47, representando um aumento de dez pontos em relação a estreia da anterior, Vila Madalena, tornando-se também a maior audiência da emissora naquele dia, empatada com a "novela das oito" Terra Nostra.[27] A média da primeira semana fechou em 37 pontos, a melhor em três anos.[17] Durante os dois primeiros meses os índices se mantiveram positivos entre 35 e 36 pontos, um aumento de três pontos em relação a antecessora e seis a Andando nas Nuvens.[28] Em 23 de agosto a trama bateu seu recorde com 51 pontos.[29] O último capítulo marcou 40 pontos, com picos de 51. Uga Uga teve média geral de 38 pontos, acima do esperado pela emissora – a meta para o horário na época era de 30 – sendo a melhor audiência das "novelas das sete" desde Cara & Coroa, em 1995.[30] Apesar do grande sucesso de audiência na época e dos pedidos de exibição por parte dos telespectadores, a novela nunca foi reprisada.[31] Outras mídiasDando continuidade ao processo de resgate, através do Projeto Resgate[32], a novela foi disponibilizada na íntegra no Globoplay em 27 de fevereiro de 2023.[33] ControvérsiasA personagem de Betty Lago foi alvo de protestos por parte do Sindicato Nacional dos Aeronautas, que reclamaram do comportamento pouco ortodoxo da aeromoça.[34] O estereótipo criado na novela causou imensa revolta entre indígenas, que afirmavam que a novela estava incentivando a sexualização de povos nativos, além de serem retratados como "animais de atração em um circo, usados para chamar a atenção".[35] Prêmios
Melhor Atriz: Mariana Ximenes Atriz Revelação: Mariana Ximenes
Melhor Atriz: Mariana Ximenes Melhor Atriz: Mariana Ximenes Melhor Atriz: Mariana Ximenes Referências
Ligações externas |