SimonianismoOs simonianos eram uma seita gnóstica do século II que considerava Simão Mago como seu fundador e cujas doutrinas, chamadas simonianismo, eram também baseadas nos ensinamentos dele. A seita floresceu na Síria, em vários distritos da Ásia Menor e em Roma. No século III, remanescentes da seita ainda existiam, como relatado por Orígenes na sua obra Contra Celso e sobreviveram até o século IV[1]. Segundo ele:
Quando Justino Mártir escreveu em sua Primeira Apologia[3] em 152, a seita dos simonianos parecia ser formidável, pois ele cita quatro vezes o seu fundador, Simão Mago.[4][5]. Os simonianos também foram mencionados por Hegesipo, reutilizado depois por Eusébio de Cesareia[6]. Suas doutrinas foram citadas e contra-argumentadas por Ireneu em seu Adversus Haereses[7], por Hipólito em Philosophumena[8] e depois por Epifânio[9]. Orígenes também menciona que alguns da seita eram chamados de Heleniani[10]. A Grande Declaração (Apophasis)Em Philosophumena de Hipólito, a doutrina de Simão é relatada de acordo com sua obra A Grande Declaração e é evidente que o que nos chegou são as opiniões doutrinárias dos simonianos como elas haviam se desenvolvido no século II. Como o próprio Hipólito afirma em mais de um lugar[11], o simonianismo é uma forma mais primitiva do valentianismo, com alguns resquícios de aristotelismo e estoicismo. Linhas geraisO livro todo é uma mistura de influências helênicas e hebraicas no qual as mesmas alegorias são aplicadas a Homero, Hesíodo e Moisés. Começando com a afirmação de Moisés que «Pois Jeová teu Deus é um fogo consumidor...» (Deuteronômio 4:24), Simão a combina com a filosofia de Heráclito onde o fogo é o primeiro princípio de tudo. Este primeiro princípio ele chamou de "Poder sem limites" e declarou que ele está dentro dos filhos dos homens, seres nascidos de carne e sangue. Mas o fogo não era tão simples como muitos imaginavam e Simão fez distinção entre suas propriedades escondidas e manifestas, mantendo que as primeiras era a causa das últimas. Como os Estoicos, ele concebeu este fogo como um ser inteligente. Deste ser não-gerado brotou o mundo como conhecemos, por meio do qual existiam seis raízes, cada uma com seus lados de dentro e de fora, organizadas assim (em inglês): ![]() Esta seis raízes, Mente, Voz, Razão, Reflexo, Nome e Pensamento são também chamadas "Seis Poderes". Misturado com elas estava o grande poder, o "Poder sem Limites". Este é o que "permaneceu, permanece e permanecerá" ("He who has stood, stands, and will stand" em inglês no diagrama). O sétimo poder ("Raíz") corresponde ao sétimo dia após os seis dias da criação. Este sétimo poder existia antes do mundo e é o "Espírito de Deus que pairava sobre as águas" («...mas o espírito de Deus pairava por cima das águas» (Gênesis 1:2)). Ele existe potencialmente em cada um dos filhos dos homens e pode ser desenvolvido em cada um até sua própria imensidão. O pequeno pode se tornar grande, o ponto pode ser aumentado ao infinito[12]. Contudo, caberia a cada um desenvolve-lo e é sobre esta responsabilidade que estaria implícita nas palavras «...para não sermos condenados com o mundo» (I Coríntios 11:32). Pois se a imagem "Daquele que Permanece" não for atualizada em nós, ela não sobrevive à morte do corpo. "O machado", ele disse, "está perto das raízes da árvore: cada árvore que não produzir bons frutos é cortada e atirada ao fogo"[13] (como «O machado já está posto à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, é cortada e lançada no fogo» (Mateus 3:10)). EdenO livro tem também uma fascinante interpretação fisiológica do Jardim do Éden que evidencia um certo conhecimento anatômico por parte se Simão ou seus seguidores. Aqui o Paraíso é o útero e o rio que corre para fora do Éden, o cordão umbilical.
Os cinco livros de Moisés são representados como os cinco sentidos:
FragmentoComo o lado feminino do ser original aparece o "pensamento" ou "concepção" (Ennoia), que é "mãe" de todos os Aeons. Há uma passagem mística sobre a unidade de todas as coisas, que lembra o Tablete Esmeralda.
PráticasOs simonianos foram acusados de usar mágica e teurgia, encantamentos e poções do amor; tratar a idolatria com indiferença, reputando-a nem como boa nem como má[15], proclamar que todo sexo era amor perfeito e, de maneira geral, de viver vidas muito desordenadas e imorais. Eusébio[16] afirma que os simonianos são a mais imoral e depravada seita do mundo. De modo geral, dizia-se que eles não acreditavam que nada em si era bom ou mau por natureza: não eram boas obras que faziam dos homens santos no próximo mundo, mas a graça impingida por Simão e Helena naqueles que os seguiam [17] Até o fim, acreditava-se que os simonianos veneravam Simão Mago sob a imagem de Zeus e Helena sob a de Atena. Porém, Hipólito adiciona que "Se algum, vendo as imagens de Simão ou Helena, os chamar por estes nomes, ele é retirado por mostrar ignorância nos mistérios". Daí fica evidente que os simonianos não permitiam que se adorassem diretamente os seus fundadores. Na texto Clementino Reconhecimentos, Helena é chamada de Luna[18], o que pode significar que as imagens seria representações do sol e da lua. Tudo isso, porém, são informações que nos chegaram por relatos de segunda mão dados por oponentes dos simonianos. É discutível se estes detratores iriam fielmente e acuradamente relatar a verdade sobre Simão e seus seguidores, ainda que eles tivessem informação suficiente para isso. Testemunho da VerdadeFora destas fontes patrísticas, os simonianos foram brevemente mencionados no Testemunho da verdade(58,1-60,3)[19] da Biblioteca de Nag Hammadi, uma coleção de manuscritos gnósticos descobertos em 1945 no Egito. O autor aparentemente os incluiu numa longa lista de heréticos[20]:
O tradutor Birger A. Pearson diz que esta passagem provavelmente lida com as práticas de seitas gnósticas libertinas, mas pelo estado fragmentário do texto é impossível saber a que grupos eles se referem. O ascético e decidido autor pode ter não ter tido nenhum outro problema com os simonianos exceto eles se casarem e terem filhos. Porém, Epifânio acusou os simonianos de "se entregarem aos mistérios da obscenidade e - argumentando mais seriamente - nos líquidos corporais (em latim: emissionum virorum, feminarum menstruorum) que deveriam ser coletados para uso em mistérios de uma forma imunda; e que esses seriam os mistérios da vida e a mais perfeita gnosis[21]. LegadoDuas outras seitas tinham uma conexão muito próxima com os simonianos, os dositeanos e os menandrianos, provavelmente ramos do simonianismo. Seus nomes são heranças de seus fundadores, Dositeu e Menandro, respectivamente. Acredita-se que Dositeu, um samaritano, tenha originalmente sido professor e depois pupilo de Simão Mago. Até pelo menos o começo do século VII, Eulógio de Alexandria[22] se opôs aos dositeanos que consideravam Dositeu como o grande profeta previsto por Moisés. Dositeu morreu de inanição[23]. Assim como Simão, Menandro - seu pupilo e, após sua morte, seu mais importante sucessor - também proclamou a si mesmo como sendo o enviado de Deus, o Messias. Da mesma forma, ele ensinou sobre a criação do mundo por anjos enviados pelaEnnoia (Sophia). Ele afirmava também que os homens receberam a imortalidade e a ressurreição pelo seu batismo e praticava as artes mágicas. A seita fundada por ele, os Menandrianos, continuaram a existir por um considerável período de tempo. Referências
Ligações externas
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