Relações entre Brasil e CanadáAs relações entre Brasil e Canadá têm sido cordiais, ainda que relativamente limitadas, embora a relação entre os países esteja aumentando ao longo dos anos.[1] HistóriaAté a década de 1820, Brasil e Canadá eram ambos colônias de potências europeias, portanto não mantinham nenhum contato direto oficial. Em 1822, o Brasil se tornaria independente de Portugal, enquanto que apenas em 1931, com a aprovação do Estatuto de Westminster, o Canadá adquiriria autonomia do Reino Unido. Até a aprovação do estatuto, todas as relações canadenses com governos estrangeiros eram controladas pelos britânicos. Durante o Segundo Reinado no Brasil, houve um movimento migratório tímido do Canadá para o Brasil. Sabe-se que um grupo de canadenses foram recrutados em Montreal para trabalhar nas fazendas de café paulistas, mas em geral, as tentativas de colonização canadense foram frustradas.[2] Em 1876, o Imperador Dom Pedro II, durante uma viagem à América do Norte, visitou a cidade canadense de Toronto.[3][4][5] No século XIX, o comércio entre os dois países era limitado, e em geral se dava em torno de commodities (produtos primários). Produtos canadenses como bacalhau, farinha e madeira eram vendidos para o Brasil, enquanto que os brasileiros ofertavam café, borracha, tabaco e açúcar.[2] Em 1866, os canadenses abriram seu primeiro escritório comercial no Brasil, porém a embaixada canadense seria aberta mais tarde, em 1944. Em 1941, o Brasil abriu uma missão permanente em Ottawa. O primeiro embaixador brasileiro no Canadá foi João Alberto Lins de Barros.[1] Hoje, além da embaixada em Brasília, o Canadá também está representado por consulados em São Paulo e Rio de Janeiro e escritórios comerciais em Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. As políticas da Guerra Fria também desempenharam um papel relevante: enquanto o Canadá foi um membro fundador da OTAN e estava bastante associado às politicas dos Estados Unidos, o Brasil era um observador no Movimento Não-Alinhado e seus líderes eram reticentes em relação aos Estados Unidos. O Canadá era bem desconectado politicamente da América Latina, não ingressando à Organização dos Estados Americanos até 1990. Os anos 1990 viram as relações entre os dois países aumentar em termos de trocas comerciais e investimentos,[6] e o Canadá se tornou interessado em acordos comerciais regionais na América Latina. ComércioTradicionalmente, o Brasil é o maior parceiro comercial do Canadá na América do Sul. É também o 3º maior mercado de exportação canadense nas Américas, depois dos Estados Unidos e México.[1] Nos anos 1990, a participação canadense na privatização e em investimentos diretos no Brasil foi tímida. No programa de desestatização, investidores do Canadá se concentraram principalmente no setor de telecomunicações.[7] DisputasVer artigo principal: Contencioso Brasil-Canadá (Embraer/Bombardier) no Sistema de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio.
As relações diplomáticas e econômicas entre os dois países tiveram seu pior momento em 1996 e 2001 por conta de diversas disputas comerciais. O principal ponto do contencioso vem da rivalidade entre as fabricantes de aviões Bombardier e Embraer. Ambas são grandes atores no mercado de jatos regionais. Em 1996, o Canadá foi à Organização Mundial de Comércio, alegando que o Estado brasileiro estava subsidiando os custos da Embraer, e o Brasil respondeu à acusação na OMC. Em 1999, o órgão decidiu que ambos eram culpados, e pediu para que os dois países limpassem seus programas de incentivo à exportação. O Canadá acatou, mas o Brasil não, levando a OMC a dar ao Canadá o direito de retaliar em R$1,3 milhão em sanções por ano durante seis anos, apesar da sanção não ter sido aplicada.[8][9] Nenhum dos países chegou a efetivar as retaliações, optando então pela negociação, por medo de que essas sanções pudessem afetar outros setores industriais.[10] Em fevereiro de 2001, o Canadá instituiu uma suspensão à carne brasileira, devido ao medo de um surto de encefalopatia espongiforme bovina, popularmente conhecida como a "doença da vaca louca", ainda que o Brasil não havia apresentado nenhum caso. Os brasileiros viram isso como um gesto político ligado à disputa dos aviões, e retaliaram. O Congresso Nacional do Brasil votou para suspender a ratificação de todos os tratados assinados com o Canadá, e protestos populares e boicotes foram organizados.[11] A suspensão foi retirada três semanas depois, após uma inspeção por uma equipe do NAFTA. Canadá e Brasil também se enfrentaram na proposta da Área de Livre Comércio das Américas, que o governo canadense promoveu ativamente.[12] O então presidente, Fernando Henrique Cardoso viu esta proposta com ceticismo, e preferiu criar um bloco sulamericano e então negociar com os Estados Unidos e o Canadá de uma posição mais sólida, porém, o Canadá recusou a proposta brasileira.[13] Outras disputas incluem as "suspeitas brasileiras da relação e aparente alinhamento automático canadense com os Estados Unidos, e o Brasil mantém que o Canadá não conseguiu reconhecer seu peso econômico e importância como ator regional e internacional".[14] Outros temasFora da política comercial, as relações tem sido mais calorosas. Os grupos formuladores de política externa em cada país tendem a valorizar multilateralismo e segurança humana. O Canadá não é necessariamente opositor aos objetivos brasileiros de reconhecimento internacional como uma grande potência e integração regional na América do Sul. O principal objetivo do Canadá na região é evitar a emergência de blocos comerciais hostis, separando as Américas do Norte e do Sul, e garantir que o Canadá tenha um acesso seguro a esses mercados. As ligações sub-nacionais também são amigáveis. Relações e trocas entre estados e províncias, cidades, universidades, pesquisa científica, culturais e organizações não-governamentais são importantes. Universidades canadenses receberam mais de 4 mil estudantes brasileiros em 1999 (um recorde),[14] enquanto que em 2006, quase 12 mil vistos foram emitidos a brasileiros para estudar no Canadá, fazendo do país o destino número um para estudantes brasileiros.[15] Mais de uma dúzia de Centros de Estudos Canadenses foram estabelecidos no Brasil.[1] As maiores cidades de ambos os países, Toronto e São Paulo, passaram pelo processo de geminação de cidades.[16] Aproximadamente 50 mil brasileiros visitam o Canadá por ano como turistas, e cerca de um terço desse número visitam o Brasil. Os dois paises também empreendem esforços de cooperação internacional, notavelmente no campo de ciência e tecnologia, selando diversos acordos para fomentar o investimento e desenvolvimento dessas áreas.[17] Ver tambémReferências
Bibliografia adicional
Ligações externas
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