Francisco Martins Rodrigues
Francisco Martins Rodrigues (Moura, 14 de Novembro de 1927[1] — Lisboa, 22 de abril de 2008) foi um político português da esquerda e fundador do PCP(R) e da UDP.[2] Lutador fervoroso contra o fascismo, foi preso pela PIDE cinco vezes e sujeito a tortura, totalizando doze anos de cárcere durante o Estado Novo. BiografiaFilho de um Oficial do Exército expulso por ser oposicionista ao governo, Francisco Martins iniciou o seu percurso político em 1949 no Movimento de Unidade Democrática (MUD), após a deslocação da família para Lisboa, onde estuda até ao 6.º ano do liceu e trabalha, primeiro numa livraria e depois como aprendiz de mecânico na TAP. Casa com Maria Fernanda Ferreira Alves, em 1954, tendo dois filhos, Pedro e Miguel. Separam-se em 1966, aquando a prisão pela morte de um informante. Já em democracia, casa com Ana Barradas, no domícilio da qual viria a falecer, vítima de cancro intracraniano.[3][4] Actividade opositora, primeiras detenções e incorporação ao PCPPrimeiras detençõesÉ preso pela primeira vez, durante três meses, em 1951 por se manifestar contra a NATO, o que provoca o seu despedimento. Sucessivamente detido em pouco tempo, abandona a casa dos pais, passando a viver na semi-clandestinidade até 1953, quando adere como funcionário no Partido Comunista Português (PCP). Em 1956 começa a questionar a linha do PCUS, após o XX Congresso, nomeadamente a chamada 'coexistência pacífica'. No ano seguinte, é detido novamente, pela quarta vez, e é conduzido à prisão de Peniche onde estuda e começa a elaborar textos teóricos marxistas. Lá conhece dirigentes como Álvaro Cunhal, Francisco Miguel Duarte e Jaime Serra. Fuga de PenicheA 3 de Janeiro de 1960, participou na célebre "Fuga de Peniche", juntamente com Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Pedro Soares, Jaime Serra, Guilherme da Costa Carvalho, José Carlos, Rogério de Carvalho e Carlos Costa. Os chamados "Dez de Peniche" protagonizaram um episódio lendário na história da resistência antifascista portuguesa, que reforça o PCP na luta contra o salazarismo. Na rua, voltou à militância numa tipografia clandestina em Carnide, perto de Lisboa. Em 1961, incorporou-se ao Comité Local do partido em Lisboa, além de membro suplente do Comité Central. Em 1962, fez parte da Comissão Executiva, encarregando-se do trabalho político relativo à margem sul e arredores da capital do país. Ruptura com o PCP, prisão, torturas e 25 de AbrilProgressiva dissidênciaApoiante da extrema-esquerda, após a sua saída da direcção do Partido Comunista Português em 1963, tornou-se inimigo da teoria cunhalista do 'levantamento nacional', e defensor da independência de classe na luta contra a ditadura, considerando que o PCP "havia traído o seu carácter revolucionário", sendo então expulso do PCP em 1964. Radica-se então em Paris, onde formara uma nova organização, a Frente de Acção Popular (FAP).[5] A ruptura com o Partido Comunista Português veio antecedida de discrepâncias com a linha do partido face à guerra colonial, após ter escrito um manifesto, a pedido do Comité Central, que o secretário-geral considerou "muito vermelhusco" e alheio ao "espírito do partido", e por isso censurado. Martins apoiava no documento a insurreição popular armada como via para a oposição à política colonial da ditadura portuguesa, em apoio aos povos africanos que enfrentavam o colonialismo português naqueles anos. Seguem-se diferenças sobre a política da URSS, que cristalizam numa viagem a Moscovo em que o Comité Central do exterior resolve destitui-lo do posto na Comissão Executiva. Francisco Martins é proposto como secretário de Álvaro Cunhal, mas recusa a proposta. Foi então enviado para Paris, incorporando-se à organização do partido na capital francesa. Faz críticas à posição em assuntos como a guerra colonial, a passagem pacífica ao socialismo ou a revolução democrática e nacional. A ruptura e a criação do CMLP e da FAPLidera a primeira ruptura do PCP, no contexto do conflito sino-soviético.[5] O seu abandono do partido levá-lo-á a ser o mais importante ideólogo de extrema-esquerda nacional, participando na criação do Comité Marxista-Leninista Português e da Frente de Acção Popular em 1964, em Paris, apoiado pelo médico João Pulido Valente e por Rui d'Espiney. Nesse mesmo ano, visita a China Maoísta e a Albânia de Hoxha. Voltou em 1965 para fazer trabalho político no CMLP. Em Novembro desse ano, a identificação de um colaborador da polícia política no interior da organização, Mário Mateus, acaba com a execução do infiltrado. Acção reivindicada pela FAP, realizada pela mão do próprio Francisco e outro membro, tal como viria a ser relatado pelo próprio.[6][7][8][9][10][3] Francisco Martins é preso pela PIDE, sofrendo torturas violentas, juntamente com os dois outros criadores do CMLP e da FAP. Martins é condenado a 20 anos de prisão, Pulido Valente a 12 e Rui d'Espiney a 15. Só dois dias depois do 25 de Abril de 1974 foi solto, junto com Rui d'Espinay e Filipe Viegas Aleixo, a despeito da oposição veemente do general Spínola.[7] Fundação da UDPApós a Revolução dos Cravos participou na fundação do PCR (Partido Comunista Reconstruído) e da UDP, organização de massas que atingiu uma importante influência em sectores à esquerda do PCP. Em 1983 abandona ambas as organizações, considerando que caíram nos mesmos desvios atribuídos ao PCP. Nessa altura, Francisco Martins é já considerado um dos maiores teóricos do marxismo português. Caracteriza o 25 de Abril como sendo uma "crise revolucionária" e atribui a derrota final às fraquezas estruturais das organizações revolucionárias junto ao "reformismo" do PCP, plasmado na sua proposta de "unidade dos portugueses honrados" num "levantamento nacional". Quanto às organizações à esquerda do PCP, Martins considera que elas não fizeram a necessária ruptura com uma União Soviética que, para ele, não representava um projeto socialista. Daí para a frente, os escritos de Francisco Martins vincarão essa necessidade, marcando a orientação interclassista proposta por Georgi Dimitrov em 1935 como ponto de ruptura com a tradição bolchevique da independência da classe em relação à pequena burguesia. A sua obra Anti-Dimitrov. 1935-1985 meio século de derrotas da revolução recolhe o seu pensamento em relação ao que considera uma deriva reformista no conjunto dos partidos comunistas a partir da década de trinta. Revista comunista Política OperáriaEm 1984 tornou-se o fundador da Organização Comunista Política Operária e director da revista do mesmo nome, que continua a publicar-se na actualidade. Foi um dos promotores das Edições Dinossauro. Na última década da sua longa vida de luta revolucionária, estreitou laços de solidariedade com o movimento independentista galego, participando habitualmente nas manifestações do Dia da Pátria Galega (25 de Julho), nas Jornadas Independentistas Galegas organizadas pela organização comunista galega Primeira Linha e noutros eventos em apoio da autodeterminação da Galiza e das outras nações sem Estado da Península Ibérica (País Basco e Catalunha). Faleceu em 2008, aos 81 anos, após uma grave doença. Foi cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, a 23 de Abril. Publicado postumamente, o seu livro Os anos do silêncio contém notas autobiográficas, uma descrição das práticas de tortura do sono a que foi submetido e a sua defesa num julgamento de 1970. Obras
Obras disponíveis on-line
Ver tambémReferências
Ligações externas
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