Militão Ribeiro
Militão Bessa Ribeiro (Murça, Murça, 13 de agosto de 1896 — São Sebastião da Pedreira, Lisboa, 2 de janeiro de 1950)[1] foi um marçano, operário têxtil e político revolucionário antifascista português, dirigente histórico do Partido Comunista Português assassinado por maus tratos e possível envenenamento[2][3] pelo regime do Estado Novo no Estabelecimento Prisional de Lisboa.[4] No Brasil, também é conhecido por ter sido jogador do Club de Regatas Vasco da Gama, tradicional time do futebol carioca.[5] BiografiaJuventudeFilho de agricultores, Bárbara de Jesus e Francisco Bessa Ribeiro, emigrou de Murça para o Brasil com 13 anos, onde trabalhou como marçano e operário têxtil. No assento de batismo, é registado como tendo nascido a 13 de agosto de 1896, na freguesia e concelho de Murça, tendo sido batizado em Murça a 29 de agosto de 1896, como filho natural de Bárbara de Jesus, trabalhadora, natural de Murça, sem referências ao nome do pai. Apenas no assento de óbito é mencionado como filho de Francisco Bessa Ribeiro, natural de Penafiel.[6][7][8] Foi jogador do Club de Regatas Vasco da Gama, um clube historicamente conhecido por seus laços com Portugal e lutas contra o racismo no futebol. Início da Atividade PolíticaNo Brasil, Militão Ribeiro torna-se membro do Partido Comunista Brasileiro ainda antes da entrada para o partido do líder histórico Luís Carlos Prestes. Consequência da sua atividade política, Militão Ribeiro é extraditado do Brasil para Portugal no início dos anos 30 pela Ditadura de Getúlio Vargas que o cataloga como "indesejável".[6] Fuga e clandestinidadeDeportado do Brasil amarrado no porão do navio que o transportou, com a indicação de ser entregue à polícia portuguesa no porto de Leixões, conseguiu fugir com o auxílio de um marinheiro quando o barco aportou em Lisboa.[6] Refugia-se em Murça e começa a militar no Partido Comunista Português.[6] Juntamente com outros habitantes locais como Mário José de Barros, a quem transmite o seu ideal comunista, viriam nas décadas de 1930 e 1940 a fazer circular clandestinamente nesta região literatura de Karl Marx, de Max Beer, ou obras como Os Dez Dias que Abalaram o Mundo ou O Estado e a Revolução, levando ideias revolucionárias a muitos e, por exemplo, à expulsão do Seminário do historiador António Borges Coelho em 1945, em função das suas leituras. PrisãoEm 13 de julho de 1934, Militão Ribeiro é preso no Porto, por pertencer à organização a que aderira por intermédio de Lino Teixeira Pinto, o Socorro Vermelho Internacional.[6] Julgado no Tribunal Militar Especial a 6 de abril de 1935, é condenado a 12 meses de prisão e transferido da Prisão do Aljube da cidade do Porto para a Prisão de Peniche a 20 de abril, onde reencontraria o seu companheiro Mário José de Barros, preso em 1935 por propaganda contra a ditadura fascista. Já com a sua pena cumprida, a 8 de junho de 1935, Militão Ribeiro é embarcado, por alegado “motivo de insubordinação”, com destino à Fortaleza de São João Baptista em Angra do Heroísmo, e em 29 de outubro de 1936 sem julgamento é levado com o primeiro grupo de presos políticos que inauguram o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde, entre eles Bento António Gonçalves, Secretário-Geral do PCP. Reorganização do PCPNo dia 15 de julho de 1940 é amnistiado pela amnistia de 1940 decretada pela ditadura do Estado Novo. Em clandestinidade, a partir de orientações fundamentais discutidas com Bento Gonçalves e outros dirigentes no Tarrafal, participa na reorganização do Partido Comunista Português, integrando o seu primeiro secretariado, juntamente com Júlio Fogaça e Manuel Guedes.[6] Foi um dos responsáveis, em 1941, pela reorganização de tipografias e de tarefas de militantes que permitiu o relançamento clandestino do jornal Avante! em agosto desse ano, cuja publicação não mais seria interrompida até à atualidade.[9] Em 1942, é um dos dirigentes na tarefa de organização do movimento grevista desse ano, que reivindicava uma melhoria nas condições de trabalho em Portugal. Segunda prisãoEm 22 de novembro de 1942 é preso em função do seu envolvimento no movimento grevista, ficando detido na Prisão de Aljube de Lisboa por dois anos sem julgamento. É julgado pelo Tribunal Militar Especial em 5 de abril de 1944 e condenado a 4 anos de prisão. É embarcado de novo, em 26 de julho, para o Campo de Concentração do Tarrafal. Anos depois, abrangido pela amnistia de agosto de 1945, é libertado em novembro desse ano. Militância ativa no PCPIntegra o Secretariado do PCP com Álvaro Cunhal, José Gregório e Manuel Guedes, e participa no IV Congresso do PCP, o 2.º ilegal, em novembro de 1946, no qual é eleito para o Comité Central do Partido Comunista Português e respetivo Secretariado. Terceira prisãoMilitão Ribeiro vivia com a militante comunista Luísa Rodrigues na casa clandestina do PCP de Macinhata do Vouga, Sever do Vouga. Sendo esta detetada e Luísa Rodrigues presa em 10 de fevereiro, Militão Ribeiro escapa, sendo procurado e perseguido pelas polícias do Estado Novo, refugiando-se na casa habitada por Álvaro Cunhal e Sofia Ferreira no Luso, onde é preso a 25 de março de 1949.[10] Reencontra Luísa Rodrigues pela última vez na prisão do Porto e é transferido para o Estabelecimento Prisional de Lisboa. Aqui, padecendo de uma doença infecciosa, consequência de eventual envenenamento pela PIDE evocada pelo próprio Militão Ribeiro,[2][3] e sem assistência médica e medicamentosa para as doenças causadas pelos maus tratos nas prisões e deportações de que foi vítima, viria a falecer em resultado do regime prisional a que foi sujeito. Isolado numa cela individual, vigiado 24 horas por dia, completamente incomunicável, decidiu recorrer à greve da fome como forma de pressão para que fosse tratado. Sem qualquer mudança de atitude por parte da PIDE, entrou em coma na manhã do dia 2 de janeiro de 1950, falecendo nesse mesmo dia no Estabelecimento Prisional de Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, pelas 13:30 horas, com o peso de apenas 32 quilos, aos 53 anos. Apesar de todo o contexto em torno da sua morte, no registo de óbito foi inscrita pneumonia como a causa da morte.[11][8] Obra escritaMilitão Ribeiro é autor de 6 influentes longas cartas dirigidas ao PCP, escritas a partir da prisão, a última delas no próprio sangue, das quais apenas 2 chegaram aos nossos dias, ambas datadas de 1949.[12] O poeta Pablo Neruda refere em versos da sua obra A Lâmpada Marinha a morte de Militão Ribeiro e a tortura a Luísa Rodrigues.[13] ToponímiaExiste uma rua com o seu nome no Feijó, Almada, distrito de Setúbal.[14] ReferênciasCitações
Bibliografia
Ligações Externas
Bibliografia
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