Ficou conhecido após ter matado, em 30 de dezembro de 1976, com um tiro na nuca e três tiros no rosto, a socialiteÂngela Diniz, com quem namorava há quatro meses.[3] O julgamento de Doca Street foi amplamente divulgado pela mídia[4][5][6] e teve como foco a moral sexual feminina. O assassino foi condenado a dois anos de prisão com sursis e imediatamente solto. A decisão judicial gerou um amplo movimento de protesto feminista, sob o lema "quem ama não mata", ocasionando um novo julgamento, quando Doca Street foi condenado a quinze anos de prisão.[7] O evento é considerado um marco na história do feminismo no Brasil.[8]
Foi julgado duas vezes: o primeiro julgamento (em 1979), no qual a defesa se baseou na tese da legítima defesa da honra, foi refeito em 1981. Cumpriu cinco anos de prisão até obter liberdade condicional em 1987.[9][7][10]
Após a prisão, Street continuou atuando no mercado financeiro e no comércio de automóveis.
Em 2006, Doca Street lançou o livro Mea Culpa, em que dá sua versão: Ângela teria o mandado ir embora, ocasião em que ele implorou para ficar com ela, que lhe respondeu que se aceitasse dividi-la com homens e mulheres poderia ficar, agredindo-o com uma maleta, que continha o revólver, que caiu no chão e foi utilizado por Raul para matá-la em seguida.[11][6]
Seu apelido é a abreviação de "Fernandoca", como era chamado pela família.[1]
O primeiro julgamento
Doca Street foi julgado em 1979 em Cabo Frio, sendo defendido pelo advogado Evandro Lins e Silva. A defesa foi baseada na tese de legítima defesa da honra, responsabilizando-se a vítima por ter provocado tal violência, em razão do próprio comportamento.[7] Na acusação, a família de Ângela contratou o advogado Evaristo de Moraes Filho para atuar como assistente de acusação.[7][12]
Durante o julgamento, se examinou amplamente a vida de Ângela, questionando sua moralidade sexual, seu envolvimentos com outros crimes, e sua dependência de drogas.[5] O julgamento foi extensamente coberto pela mídia, sendo que só o Grupo Globo levou uma equipe de 68 pessoas entre técnicos e repórteres.[13]
O tribunal do júri condenou Doca Street por cinco votos a dois a uma pena de 18 meses pelo crime e seis meses por ter fugido da justiça, com direito à sursis. Por já ter cumprido sete meses preso, ou seja, um terço da pena, Doca foi liberado e pode sair livre do tribunal.[5][7]
O movimento feminista
A escandalosa decisão a favor do assassino de Ângela Diniz produziu o primeiro de uma série de movimentos feministas de protesto contra a violência doméstica sob o lema "quem ama não mata", slogan tomado como resposta da argumentação da defesa da Doca Street de que ele "matou por amor".[14][8] A pressão do movimento feminista levou a um novo julgamento de Doca Street.
O segundo julgamento
Em 1981, Doca Street foi submetido a um novo julgamento e condenado a 15 anos de prisão.[12] O julgamento foi acompanhado pessoalmente por ativistas feministas, que organizaram uma vigília e exigiram sentença e prisão para o assassino, explodindo em aplausos quando a sentença foi anunciada.[8] Enquanto que no primeiro julgamento havia predominado uma cobertura machista da mídia a partir da vida sexual da vítima,[4][5] já no segundo julgamento, a pressão do movimento feminista impôs um quadro de sentido baseado no próprio assassinato e na invalidade do argumento emocional para justificá-lo.[8]
É citado na música Nome aos Bois, da banda Titãs, lançada em 1988. Samba de Aluisio Machado, questionando a impunidade dos ricos, é intitulado "Doca Street".[15]
O programa Linha Direta, da Rede Globo, fez a reconstituição do crime e do julgamento no episódio Ângela e Doca.[16]
O podcastPraia dos Ossos, produzido pela Rádio Novelo e lançado em agosto de 2020, aborda em oito episódios o assassinato de Ângela Diniz. O sexto tem como título: "Doca".[18]
↑BRUM, Eliane (1 de setembro de 2006). «"Nem sei onde atirei"». Época. Consultado em 2 de junho de 2015
↑Angélica Santa Cruz (1 de setembro de 2006). «Perdoe-me, Ângela, diz Doca Street». O Estado de S. Paulo. Consultado em 7 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 10 de novembro de 2010