A maioria são ex-chefes de Estado ou Governo marcados historicamente pelos males que causaram à humanidade durante o século XX. Listou-se também militares e funcionários de regimes autoritários; civis homicidas; nomes relacionados ao sensacionalismo midiático; líderes religiosos; e indivíduos ligados, de modo geral, ao conservadorismo social ou econômico.[8][5][6]
Em 2021, Nando Reis publicou um vídeo em que canta a música e afirma acreditar que a letra fosse de certa forma tendenciosa, por mencionar muito mais pessoas de direita que de esquerda. Ele também explica que o nome de Ronaldo Bôscoli está presente por conta de um artigo, em que este rechaçava o show que o grupo ia fazer no Canecão, considerando injusto tê-lo incluído e que Bôscoli não era comparável "com esses facínoras".[5][9][10]
Em 2023, os Titãs incluíram o nome de Jair Bolsonaro na letra de "Nome Aos Bois" durante os shows da turnê "Encontro", que juntou todos os integrantes ainda vivos da formação clássica.[11][12] O nome do ex-presidente foi incluído entre os nomes de Nelson Rockefeller e Dulcídio Wanderley Boschilia, no lugar de Afanásio Jazadji. Em 2021, Nando Reis já havia divulgado em seu canal pessoal do YouTube uma versão voz e violão com uma indicação para essa alteração na letra [13].
Em 1989, a banda lançou O Pulso, interpretada como versão patológica de Nome aos Bois, intercalando doenças com condições doentias.[14]
Personalidades citadas
As personalidades aparecem com o nome e pela ordem na qual são citadas na música.[4]
Antônio Erasmo Dias. Militar. Coronel reformado do Exército que liderou uma invasão à PUC de São Paulo, em 22 de setembro de 1977, onde uma reunião de estudantes pretendia refundar a UNE, que terminou com dezenas de feridos e centenas de estudantes detidos. Posteriormente tornou-se secretário de segurança pública de São Paulo e deputado federal por esse estado.[19][20][21]
Lindomar Castilho. Cantor e instrumentista popular, conhecido pelas canções Você é Doida Demais e Eu Amo a Sua Mãe. Agressivo e ciumento, em 30 de março de 1981 assassinou Eliane de Grammont, sua segunda esposa e de quem estava separado desde o ano anterior. Foi condenado e cumpriu alguns anos de prisão nos regimes fechado e semiaberto.[25][26][27]
Richard Milhous Nixon. Político republicano, foi o 37º Presidente dos Estados Unidos e governou o país de 1968 a 1974. Penúltimo presidente americano durante a Guerra do Vietnã, Nixon implementou uma estratégia de substituir as tropas norte-americanas por tropas sul-vietnamitas, o que ficou conhecido como "vietnamização". Renunciou após ser flagrado em um escândalo de espionagem contra o Partido Democrata, intitulado Caso Watergate.[28][29][30]
Antônio Delfim Netto. Político e economista. Foi Ministro da Fazenda de 1967 a 1974, com status e apelido de "superministro", conhecido por ter arquitetado as condições para um grande crescimento econômico do país durante o auge do Regime Militar, o milagre econômico, vivido entre 1968 e 1973.[31][32] Assinou, junto com outros, o AI-5.
Ronaldo Bôscoli. Produtor musical e compositor, era polêmico e envolveu-se em muitas controvérsias, namorou as cantoras Nara Leão, Maysa Matarazzo e Elis Regina. Com a última, se casou e teve um filho, o também produtor João Marcelo Bôscoli.[33][34] Segundo Nando Reis, foi citado em resposta a um artigo de autoria de Bôscoli no final dos anos 80, criticando os Titãs, que iam se apresentar na lendária casa de shows Canecão, no Rio de Janeiro.[10]
Jean-Claude Duvalier. Ditador. 33º Presidente do Haiti, Baby Doc era filho de Papa Doc, governou o país entre 1971 e 1986. Com a forte crise econômica e o terrorismo político originado no governo de seu pai, foi obrigado a fugir para a França, onde se exilou em 1986, tendo retornado ao Haiti em 2011.[35][36][37]
François Duvalier. Ditador. 32º Presidente do Haiti, François Duvalier era pai de Baby Doc e governou o país entre 1957 e 1971, quando foi sucedido pelo filho. Seu governo foi conhecido pela brutalidade, valendo-se dos tontons macoutes (bichos papões, em língua portuguesa), unidades paramilitares sob o comando direto de Papa Doc - e depois de seu filho - e pelo desrespeito aos direitos humanos, com dezenas de milhares de mortos e desaparecidos.[38][39][40]
Raul Fernandes do Amaral Street. Corretor de ações, conhecido por assassinar em 1976 a socialiteÂngela Diniz, com a qual se envolvera amorosamente. Foi julgado duas vezes: o primeiro julgamento (em 1979), no qual a defesa se baseou na tese da legítima defesa da honra, foi refeito em 1981. Cumpriu cinco anos de prisão até obter liberdade condicional em 1987.[44][45][46]
Afanásio Jazadji. Radialista e advogado, deputado estadual por São Paulo entre 1987 e 2007, defende ferrenhamente a pena de morte no Brasil.[49][50][51]Jair Messias Bolsonaro. Vereador e Deputado pelo Rio de Janeiro e ex-presidente do Brasil entre 2019 e 2022, defensor das práticas de tortura e assassinatos cometidos pela ditadura militar brasileira. A versão modificada da letra se repetiu durante todos os shows da turnê internacional "Encontro", realizada em 2023.[11][12]
Dulcídio Wanderley Boschilla. Árbitro de futebol nas décadas de 1970 e de 1980, conhecido pelo estilo truculento, cunhou a frase "eu quebro e arrebento". Além disso, foi policial militar e serviu à ditadura trabalhando no DOI-CODI, apesar de ter sempre afirmado que jamais participou de torturas.[52][53][54][55]
Augusto Pinochet. Ditador. 46º Presidente do Chile entre 1973 e 1990. Seu governo, iniciado com o golpe de 11 de setembro de 1973, assim como outros regimes militares, também ficou conhecido pelo desrespeito aos direitos humanos e pela perseguição feroz aos opositores.[56][57]
Cândido Gil Gomes. Radialista e repórter policial, famoso por sua empostação de voz, seus gestos, sua postura sensacionalista na cobertura de crimes e sua participação no extinto jornalístico Aqui Agora, do SBT. Gil foi citado na música por sua atuação anterior no rádio, pois a canção é de 1987 e o jornalístico televisivo estrearia apenas em 1991.[49][58][59]
Sun Myung Moon. Líder religioso. Fundou a Igreja da Unificação em 1954. Autointitulava-se Salvador da Humanidade, Messias, Verdadeiro Pai, entre outros. Em 1981 foi acusado de fazer lavagem cerebral em seguidores no Brasil, país no qual possuía grandes propriedades rurais. Era bilionário e possuía empresas em vários segmentos econômicos.[60][61][62]
James Warren Jones. Líder religioso. Pastor evangélico, fundador da igreja Templo do Povo, que tornou-se sinônimo de grupo suicida após o suicídio em massa ocorrido no dia 18 de novembro de 1978, em sua isolada coletividade comunitária agrícola chamada Jonestown, localizada na Guiana. Jones foi encontrado morto com um ferimento de bala na cabeça junto a outros 909 corpos, a maioria de pessoas envenenadas com cianeto.[63][64][65]
Flávio Cavalcanti. Comunicador, apresentador, jornalista e compositor. Conservador, dono de uma postura agressiva e por achincalhar artistas em seu programa, com direito a destruir no ar os discos dos mesmos. Polêmico, foi árduo defensor da ditadura militar, mas chegou a ter problemas com a Censura por defender Leila Diniz após ela ter dado uma entrevista para o jornal esquerdista O Pasquim.[69][70][71]
Adolf Hitler. Ditador e genocida. Foi chanceler da Alemanha de 1933 a 1945. Líder do nazismo, foi um dos responsáveis pela Segunda Guerra Mundial e pelo Holocausto. Autointitulava-se Der Führer (o Chefe, em alemão).[72][73] Em maior entonação, o nome "Adolf" era cantado em coro.
Manuel de Borba Gato. Bandeirantepaulista. Motivou a Guerra dos Emboabas ao se desentender com Manuel Nunes Viana, líder dos forasteiros (emboabas). É uma figura controversa em meio à discussão sobre o que representou o bandeirantismo para o Brasil.[74][75]
Idi Amin Dada. Ditador. 3º Presidente de Uganda, governou o país entre 1971 e 1979. Sua permanência no poder foi caracterizada pelo terror, que lhe valeu a alcunha de "o carniceiro da África" (ou "de Uganda"), entre acusações de genocídio e canibalismo. Deposto, passou o restante da vida na Arábia Saudita.[83][84][85]
Sérgio Paranhos Fleury. Policial, atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ficando conhecido pela violência com a qual combatia os adversários do Regime Militar, submetendo-os à tortura. Comandou o Esquadrão da Morte.[106][107]
Referências
↑Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda (1986). Novo dicionário da língua portuguesa 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S.A. 1197 páginas. Dar nome aos bois. Bras. Revelar nomes que se vinham ocultando, geralmente por se tratar de protagonistas de acontecimentos desabonadores.
↑«Dicionário online Caldas Aulete». Dicionário Caldas Aulete. Consultado em 28 de julho de 2016. Dar nome aos bois 1 Bras. Pop. Identificar pessoas, situações etc. antes só genericamente mencionadas. 2 P.ext. Mencionar explicitamente, de modo pormenorizado, aquilo ou aqueles que se vinha ocultando ou a que se fazia referência vaga.
↑PESSOA, Carlos (25 de março de 2004). «Nome aos Bois». Jornal dos Amigos. Consultado em 1 de junho de 2015
↑ abTitãs (2017). Nome aos bois. Titãs. Consultado em 6 de fevereiro de 2020 – via Youtube
↑Alonso, Gustavo (2017). «A MPBzação do rock mainstream no Brasil». In: Amaral, Adriana; Bomfim, Ivan; Bergamin, Marcelo; Conter, Gustavo Daudt Fischer; Goddard, Michael N.; Silveira, Fabricio. Mapeando cenas da música pop: cidades, mediações e arquivos - Volume I(PDF). João Pessoa: Marca de Fantasia. p. 95. ISBN978-85-67732-82-4. Na faixa “Nome aos bois” do LP Jesus não tem dentes no país dos banguelas, de 1987, os Titãs listaram grandes malfeitores da história: de ditadores como Garrastazu Médici, Hitler e Pinochet a apresentadores de TV como Flávio Cavalcanti. No meio deles está o bossa-novista Ronaldo Bôscoli, que na época declarava que o rock era mero produto banal da indústria cultural
↑ abEstadão Conteúdo (18 de abril de 2019). «Nando Reis contorna até seu ateísmo para gravar músicas de Roberto Carlos». ISTOÉ Independente. Consultado em 1 de julho de 2022. 'Eu reconheço que foi um exagero incluir Bôscoli naquela lista.' Seu ato involuntário de redenção foi gravar agora Procura-se, do álbum de Roberto de 1980, sem saber que o cantor assinava a parceria com Ronaldo Bôscoli. Fica como um pedido de desculpas.
↑FIGUEIREDO, Cecília; KOBAYASHI, Eliza Mayumi (Outubro de 2004). «Os Álbuns do DOPS»(PDF). ADUSP. Consultado em 1 de junho de 2015 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑FREIDEL, Frank, SIDEY, Hugh (2006). «Harry S. Truman - biography». "The Presidents of the United States of America(republicado em WhiteHouse.gov). Consultado em 2 de junho de 2015 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑FREIDEL, Frank; SIDEY, Hugh (2006). «Ronald Reagan». The Presidents of the United States of America (republicado em WhiteHouse.gov). Consultado em 2 de junho de 2015 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑MELLO FILHO, Marcelo Soares Bandeira de (2 de dezembro de 2011). «Revista Oikos». Consultado em 2 de junho de 2015