Õ Blésq Blom
Õ Blésq Blom é o quinto álbum de estúdio da banda brasileira de rock Titãs, lançado em 16 de outubro de 1989 pela WEA.[2] ContextoDurante a turnê do disco anterior (Go Back), na passagem por Recife, os Titãs encontraram na Praia de Boa Viagem um casal de músicos repentistas, Mauro e Quitéria (respectivamente, de 68 e 57 anos[3]). Após ouvi-los e admirar sua performance, decidiram gravá-los lá mesmo, usando um gravador que o vocalista Paulo Miklos pegou.[3] A música gravada foi usada como introdução do disco e dos shows das turnês subsequentes,[4] e já começou a ser usada na turnê de Go Back.[3] Mauro era um ex-estivador do Porto do Recife e, por conta do constante contato com estrangeiros, aprendeu palavras em vários idiomas.[5][3] Com a ajuda da esposa (que passou a guiá-lo a partir de 1982, quando ficou cego[5][3]), ele percorria diariamente a praia cantando canções escritas em vários idiomas simultâneos - embora ele não soubesse o real significado das palavras - em troca de esmolas,[5] marcando o tempo com um caxixi improvisado com pano, papelão e chumbo.[3] Por sua participação no disco, o casal recebeu o pagamento de NCzS 6 mil (com suas apresentações na praia, costumavam faturar de NCzS 40 a NCzS 100 por dia).[5] Mauro nunca havia ouvido uma gravação da própria voz antes.[3] Planejava-se convidar os músicos para se apresentarem na turnê de divulgação do disco com a banda, mas a participação não foi possível por limitações da produção dos shows.[6] Na época da turnê, o vocalista/saxofonista Paulo Miklos e o guitarrista Marcelo Fromer anunciaram que planejavam produzir um disco de Mauro e Quitéria pela WEA.[7] GravaçãoÕ Blésq Blom foi gravado entre julho e setembro de 1989.[3] Seu repertório de 12 músicas foi curado a partir de 30 composições.[3] Logo no primeiro mês de gravações, a mãe do baixista/vocalista Nando Reis morreu, e ele iniciou os trabalhos abalado pela morte dela,[8] mas considerou que a atividade foi fundamental para que ele processasse o luto.[8][4] Durante as gravações do disco, foram visitados pelo casal Tina Weymouth e Chris Frantz, respectivamente baixista e baterista do Talking Heads.[4] Faixas"Miséria" foi escrita por Arnaldo Antunes, a letra era maior, Sérgio Britto e Paulo Miklos a encurtaram. Caetano Veloso declarou que ela fez o grupo atingir "o topo da MPB".[9] A faixa "Faculdade" veio a Nando num sonho.[4] Várias outras faixas além das que foram lançadas foram criadas para o disco e acabaram ficando de fora. Duas delas foram aproveitadas no disco ao vivo Acústico MTV: "Nem 5 Minutos Guardados" e "A Melhor Forma".[10] Outras seis tiveram suas versões iniciais lançadas posteriormente na coletânea E-Collection, de 2001, juntamente a outras raridades da banda. São elas: "Aqui É Legal", "Estrelas", "Eu Prefiro Correr", "Minha Namorada", "Porta Principal" e "Saber Sangrar".[11] "Eu Não Sei Fazer Música", lançada no disco Tudo ao Mesmo Tempo Agora em 1991, também foi escrita nessa época. Lançamento e divulgaçãoO álbum foi lançado no dia 16 de outubro em um show no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Como parte da campanha de divulgação do álbum, a banda contratou o grupo de grafiteiros Tupi Não Dá para escrever o título do álbum em pontos estratégicos de São Paulo. Chamaram também Caetano Veloso para escrever o comunicado de imprensa sobre o disco;[2][4] seu filho Moreno escreveu um PS.[4] O lançamento do disco veio junto com o lançamento do single "Flores".[9] Título e capaO título do disco (que pode ser "traduzido" como "os primeiros homens que andaram sobre a terra"[1] ou "os primeiros habitantes da Terra"[3]) vem da letra da faixa de abertura; Nando afirma ter sido o provável responsável pela ideia de adotá-lo como nome da obra e afirma ter certeza de que sugeriu a grafia da letra "o" com til ("Õ").[4] Originalmente, a obra se chamaria Racio Címio.[3] A capa é uma colagem do vocalista Arnaldo Antunes, que produziu cinco trabalhos e a banda votou para decidir qual deles estamparia o disco.[4] Repercussão e legado
Branco Mello e Sérgio Britto (respectivamente) sobre Õ Blésq Blom[9] Em duas semanas, o álbum atingiu a marca de 100 mil cópias vendidas, recebendo por consequência o certificado de Disco de Ouro.[12] Na altura do lançamento do disco seguinte, Tudo ao Mesmo Tempo Agora, estava na marca de 226 mil cópias vendidas.[13] Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, o álbum vendeu 230 mil cópias.[14] O jornalista Ricardo Alexandre falou em 400 mil em livro lançado em meados dos anos 1990.[9] Na revista Bizz, José Augusto Lemos chamou o álbum de "o vinil mais bem produzido que este país já viu". A publicação mais tarde consagraria o trabalho com o Prêmio Bizz de melhor disco tanto na votação do público quanto na da crítica.[9] Em 2007, foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o 74º melhor disco da música brasileira.[15] Dois anos antes, sua capa fora eleita pela então ressuscitada revista Bizz a 100ª principal capa da história do rock.[16] Em um artigo publicado um ano antes na mesma revista, o vocalista e tecladista Sérgio Britto considerou este álbum como um dos melhores que a banda havia feito, juntamente aos antecessores Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. Ele disse ainda que o trabalho, "se não influenciou, ao menos antecipou toda a onda do Mangue Beat e a mistura de MPB e música nordestina com elementos de rock e programações eletrônicas."[17] O então vocalista Paulo Miklos, em entrevista à mesma revista em 2012, disse também: "Na frente do palco da gente, estreando em Recife, estava todo mundo que seria do manguebeat, na primeira fila. [Fred] Zeroquatro [do Mundo Livre S/A] e a turma toda. Isso Chico Science quem me falou. Assim, aquele momento em que a gente pegou Mauro e Quitéria na praia e fez aquele disco foi um momento de laboratório para dar essa trombada estética que gera alguma coisa, do pop rock misturado com a música nordestina, com uma carga de brasilidade violenta e tal."[18] Recepção da crítica
Escrevendo para o Jornal do Brasil, Aponean Rodrigues chamou o disco de "correto, gostoso de ouvir e de dançar e com instantes de poesia crítica". Analisou que Cabeça Dinossauro havia sido uma "demarcação de carreira", que Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas fora a evolução desta demarcação e que Õ Blésq Blom consolidava esta evolução. Disse ainda que "seguindo por este caminho, em sua resplandescente [sic] ascenção [sic] ao olimpo do rock nacional para conquistar a coroa ou a pecha de melhor banda brasileira do gênero (...) os Titãs têm realizado um trabalho coerente e de qualidade." Ele também elogiou a produção, os vocais e as faixas, entre as quais não detectou nenhum "desnível".[19] No mesmo jornal, algumas edições depois, os críticos Fábio Rodrigues, Tárik de Souza e Aldir Blanc também teceram elogios ao disco na coluna "O disco em questão".[20] Faixas
CréditosConforme Discos do Brasil:[22]
Referências
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