Tito de Alencar Lima
Frei Tito de Alencar Lima OP (Fortaleza, 14 de setembro de 1945 — Éveux, 10 de agosto de 1974) foi um frade católico brasileiro e alvo de perseguição da ditadura militar após ser fichado pela polícia devido a sua participação em um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE), no ano de 1968. É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, colegiado instituído pelo governo brasileiro responsável por apurar mortes e desaparecimentos no país entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e com foco na ditadura militar brasileira. Em 2021 uma rua no bairro Vila Leopoldina em São Paulo anteriormente batizada em homenagem ao torturador Sérgio Fleury, alegadamente um dos responsáveis pela perseguição a Frei Tito, foi rebatizada em sua homenagem.[1] BiografiaFilho caçula de Ildefonso Rodrigues de Lima e Laura de Alencar Lima, Tito de Alencar Lima nasceu em Fortaleza. A partir dos doze anos, por influência de sua irmã Nildes, que participava da Juventude Estudantil Católica (JEC), se aproximou da Ação Católica. Entre 1961 e 1962, ingressou no Liceu do Ceará e na JEC, participando da União Cearense de Estudantes Secundaristas. Nessa época, também se tornou congregado mariano, atuando nas comunidades pobres como a Favela do Dendê, em Fortaleza.[2] Em 1963, mudou-se para Recife, após ser escolhido como dirigente regional da região nordeste da JEC.[3][4] Em 1966, ingressou no noviciado dos dominicanos em Belo Horizonte, e fez a profissão dos votos no ano seguinte.[5] Em 1968 mudou-se para São Paulo para estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e no mesmo ano, no dia 12 de outubro, foi preso por participar do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna após ser fichado pela polícia e se tornar alvo de perseguição da ditadura militar. Frei Tito teve um papel fundamental para conseguir o sítio onde foi realizado o Congresso da Une em Ibiúna. Foi preso pela segunda vez no dia 4 de novembro de 1969 junto com outros dominicanos, dentre eles: Frei Betto, Fernando de Brito, Ivo Lesbaupin, Roberto Romano[6][7] e João Valença, pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Nessa ocasião, foi acusado, junto aos outros presos, de manter contatos com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente, Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura. Lá, Frei Tito foi submetido à palmatória e choques elétricos. Posteriormente foi transferido para o Presídio Tiradentes, onde permaneceu até 17 de fevereiro de 1970 e, em seguida, nas mãos da Justiça Militar, foi levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban), que posteriormente viraria o DOI-CODI. Na prisão, Frei Tito escreveu sobre a tortura que viveu e este documento se transformou em um símbolo da luta pelos direitos humanos. Em dezembro de 1970, incluído na lista de presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Tito foi banido do Brasil pelo governo de Emílio Garrastazu Médici e seguiu para o Chile. Sob a ameaça de novamente ser preso, fugiu para a Itália. De Roma, foi para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos. Traumatizado pela tortura, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico e, no dia 10 de agosto de 1974, cometeu suicídio.[8][9] Posteriormente seu corpo foi trasladado para o Brasil e, no dia 25 de março de 1983, foi sepultado no Cemitério São João Batista.[2] As torturasApós o período preso no Presídio Tiradentes, Frei Tito foi levado para a sede da OBAN - local chamado por Maurício Lopes, torturador, de "sucursal do inferno”. “Pau de arara”; choques elétricos na cabeça, nos órgãos genitais, pés, mãos e ouvidos; socos, pauladas e palmatórias são apenas alguns dos métodos de tortura pelos quais Tito passou durante 48 horas. Além disso, foi preso na chamada "cadeira do dragão" e queimado com cigarros. Uma noite no pau de arara, entretanto, foi o que levou o Frei à tentativa de suicídio. Tito cortou-se com uma gilete e foi levado ao Hospital Central do Exército, localizado no Cambuci. O tratamento médico pelo qual passou durou aproximadamente uma semana. Mas a tortura psicológica não deixou de acontecer. No início de 1970, Frei Tito foi torturado nos porões da chamada “Operação Bandeirantes”. Na prisão, ele escreveu sobre a sua tortura e o documento correu pelo mundo e se transformou em símbolo de luta pelos direitos humanos.
Em 13 de janeiro 1971, Tito foi deportado para o Chile e, sob a ameaça de novamente ser preso, fugiu para a Itália. De Roma foi para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos. Traumatizado pela tortura que teria sofrido, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico. Seu estado era instável, vivendo uma agoniada alternância entre prisão e liberdade diante do passado. O convento de Saint Jacques, localizado em Paris, abrigou Tito até junho de 1973. Lá, passou a estudar na Universidade de Sorbonne. O tratamento psiquiátrico, entretanto, não foi suficiente para que a sanidade fosse recuperada. O Frei foi, então, enviado para o convento dominicano de Sainte Marie de la Tourette, em Eveux. Uma vez, em pânico, recusou-se a entrar no convento e os frades chamaram o frei Xavier Plassat. Ao encontrar Tito, no meio da chuva, assustado e escondido atrás de uma árvore, dizia que Fleury não o deixava entrar no convento. Xavier então pediu a Tito para tomar café com a "autorização de Fleury" (segundo a visão de Tito). Ao entrar no carro, Xavier pediu a Tito que esperasse no carro enquanto buscava alguns agasalhos. Quando Xavier voltou para o veículo, Tito estava fora do carro (escondido na mesma árvore) e assustado, como se Fleury tivesse entrado no automóvel. MorteNo dia 10 de agosto de 1974, um morador dos arredores de Lyon encontrou o corpo de Frei Tito suspenso por uma corda. A causa da morte tornou-se um enigma.[10][11] Suspeita-se que Tito tenha cometido suicídio. Foi enterrado no cemitério dominicano do Convento Sainte-Marie de La Tourette em Éveux. Em 25 de março de 1983, o corpo de Frei Tito chegou ao Brasil.[12] Antes de chegar a Fortaleza, passou por São Paulo, onde foi realizada uma celebração litúrgica em sua memória e na de Alexandre Vannucchi. Cercado por bispos e numeroso grupo de sacerdotes, Dom Paulo Evaristo Arns repudiou a tragédia da tortura em missa de corpo presente acompanhada por mais de quatro mil pessoas. A missa foi celebrada em trajes vermelhos, usados em celebrações dos mártires. A agendaPoucos dias antes de morrer, Frei Tito escreveu na sua agenda:
Pensão especialEm 2015 foi sancionada a lei 13.148, de 16.7.2015, publicada no Diário Oficial da União de 17.7.2015, que concede pensão especial aos herdeiros de Frei Tito de Alencar Lima.[13] HomenagensNa quinta-feira do dia 11 de agosto de 2016, a Câmara Municipal de São Paulo concedeu o Título de Cidadão Paulistano ao Frei Tito de Alencar Lima. A homenagem em memória foi recebida pela sobrinha do Frei, Vera Lúcia de Alencar Lima. No seu discurso ela ressaltou a trajetória de seu tio: “O título é o reconhecimento da luta do Frei Tito pela justiça e liberdade. É uma iniciativa louvável, porque continuamos vendo muitas torturas e prisões, principalmente da juventude negra e pobre. A luta dele continua”.[14] Quem também estava presente era o Frei Dominicano João Xerri que louvou a homenagem afirmando que: “É importante não repetirmos os mesmo erros, e o Frei Tito e outros militantes são um incentivo para a juventude atual”.[14] A homenagem foi proposta pelo vereador Toninho Vespoli do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Ele salientou em reportagem para o portal da Câmara Municipal de São Paulo a importância daquele evento: “O Frei Tito foi torturado pela ditadura e isso tem a ver com o atual momento histórico que vivemos. A nossa democracia é recente e precisa de muita discussão. Essa homenagem é um reconhecimento da luta dele e de todos os brasileiros que enfrentaram a ditadura para termos direito à liberdade de expressão”.[14] Ver também
Referências
Ligações externas
|
Portal di Ensiklopedia Dunia