Bertholletia excelsa
Bertholletia excelsa ou Castanheira,[1] popularmente conhecida como castanha-do-pará,[2][3][4](e as variações regionais castanha-da-amazônia,[5][6][4] castanha-do-acre,[4][7] castanha-do-brasil)[8][9] noz amazônica, noz boliviana, tocari[4], juvia[10] ou tururi,[4][9] é uma árvore de grande porte da família Lecitidácea,[11] originária da floresta de terra firme, muito abundante na Amazônia,[1] cujo fruto contém a castanha, do qual se extrai o núcleo de sua semente para o consumo.[12] A primeira menção registrada remonta a 1596, realizada por Juan Álvarez Maldonado, nas matas do território que hoje corresponde ao Peru.[13] Mais de um século depois, o Império Português consolidou de maneira duradoura sua hegemonia na região amazônica ao estabelecer o Estado do Grão-Pará e Maranhão, fomentando o desenvolvimento econômico local por meio da exploração extrativista da oleaginosa que passou a ser popularmente conhecida como castanha-do-pará, em alusão à área que compreendia a atual Amazônia brasileira.[14] Etimologia e nomes"Castanha" vem do grego kástanon, por meio do latim castanea.[15] "Tocari" vem do caribe.[16] "Tururi" vem do termo tupi turu'ri.[17] NomenclaturaApesar do seu nome em inglês ("Brazil nut"), atualmente o maior exportador do fruto da Bertholletia excelsa amazônica não é o Brasil, mas sim a Bolívia,[18] onde são chamadas de almendras, ou ainda nuez amazónica e nuez boliviana. Isto se deve à drástica diminuição da espécie no Brasil, devido ao desmatamento.[19] O nome "castanha-do-pará" se refere a Capitania do Grão-Pará (1621–1821) que incluía toda a Amazônia brasileira. Atualmente muitos acreanos - por serem os maiores produtores nacionais de castanha[18] - referem-se a elas como "castanhas-do-acre". Alguns nomes indígenas são juvia, na região do rio Orinoco na Venezuela e Colômbia, e em outras regiões do Brasil. Como as castanhas são encontrados em todos os estados amazônicos brasileiros - e não apenas estes, mas também nos demais países amazônicos, como a Bolívia, maior produtora mundial[18] -, a espécie também é chamada castanha-da-amazônia.[20] Embora seja classificada pelos cozinheiros como uma castanha, os botanistas consideram a Bertholletia excelsa como uma semente, e não uma castanha, já que, nas castanhas e nozes, a casca se divide em duas metades, com a carne separando-se da casca. DescriçãoÉ um fruto com alto teor calórico e proteico, além disso contém o elemento selênio que combate os radicais livres e muitos estudos o recomendam para a prevenção do câncer. É a única espécie do gênero Bertholletia. Nativa das Guianas, Venezuela, Brasil (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Rondônia), leste da Colômbia, leste do Peru e leste da Bolívia, ela ocorre em árvores espalhadas pelas grandes florestas às margens do Rio Amazonas, Rio Negro,Rio Orinoco, Rio Araguaia e Rio Tocantins. O gênero foi batizado em homenagem ao químico francês Claude Louis Berthollet Atualmente, é abundante apenas no Estado do Acre, no norte da Bolívia e,[18] no Suriname. Incluída na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais como vulnerável, a castanheira tem experimentado grandes declínios em sua população por causa do desmatamento da floresta amazônica.[19] Uma das maiores concentrações de árvores existe no vale do Tocantins, onde diversas atividades, desde a construção das ferrovias Tocantins e Carajás até a construção do reservatório da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, provocaram um encolhimento no conjunto genético. Uma área de 200 mil hectares no sul do Pará foi comprada pelo governo com o objetivo de instalar agricultores. As árvores que permanecem nas vastas fazendas de gado do Pará e do Acre são negligenciadas e morrem. A produção de castanha caiu mais da metade entre 1970 e 1980 por causa do desmatamento e,[19] quase todas as castanhas consumidas no mundo ainda vêm de árvores selvagens.[21] É altamente consumida pela população local in natura, torrada, ou na forma de farinhas, doces e sorvetes. Sua casca é muito resistente e requer grande esforço para ser extraída manualmente. Características morfológicasA Bertholletia excelsa é uma grande árvore, chegando a medir entre 30 e 50 metros de altura e 1 ou 2 metros de diâmetro no tronco; está entre as maiores árvores da Amazônia. Há registros de exemplares com mais de 50 metros de altura e diâmetro maior que 5 metros, no Pará.[22] Pode viver mais de 500 anos, e, de acordo com algumas autoridades frequentemente chega a viver 1 000[23] ou 1 600 anos.[22] Seu tronco é reto e permanece sem galhos por mais da metade do comprimento da árvore, com uma grande coroa emergindo sobre a folhagem das árvores vizinhas. Sua casca é acinzentada e suave. A árvore é caducifólia, suas folhas, que medem de 20 centímetros a 35 cm de comprimento e 10 cm a 15 cm de largura, caem na estação seca. Suas flores são pequenas, de uma coloração verde-esbranquiçada, em panículas de 5 centímetros a 10 cm de comprimento; cada flor tem um cálice caducifólio dividido em duas partes, com seis pétalas desiguais e diversos estames reunidos numa massa ampla em forma de capuz. FenologiaFloresce na passagem da estação seca para a chuvosa, o que no leste da Bacia Amazônica ocorre de setembro a fevereiro, com pico de outubro a dezembro. Perto de julho suas folhas caem, algumas ficam completamente sem folhas na estação seca. As flores são em grande número, e duram apenas um dia. Os frutos demoram de 12 a 15 meses para amadurecer, e caem principalmente em janeiro e fevereiro. As sementes, quando não tratadas, demoram de 12 a 18 meses para germinar, devido a sua casca espessa.[24] ReproduçãoA Bertholletia excelsa produz fruto exclusivamente em matas virgens, já que florestas "não virgens" quase sempre carecem de orquidáceas, que são, indiretamente, responsáveis pela polinização das suas flores.[carece de fontes] A Bertholletia excelsa têm sido colhidas em plantações (na Malásia e em Gana), porém a sua produção é baixa e, atualmente, não são viáveis economicamente.[25][26][27] As flores amarelas da Bertholletia excelsa só podem ser polinizadas por um inseto suficientemente forte para levantar o "capuz" da flor e que tenha uma língua comprida o bastante para passar pela complexa espiral da flor, como é o caso das abelhas dos gêneros Bombus, Centris, Epicharis, Eulaema e Xylocopa. As orquídeas produzem um odor que atrai pequenas abelhas-da-orquídea (espécie Euglossa), de língua muito comprida, já que as abelhas-macho desta espécie precisam deste odor para atrair as fêmeas. A grande abelha-da-orquídea fêmea poliniza a Bertholletia excelsa. Sem a orquídea, as abelhas não cruzariam, e portanto a falta de abelhas significa que o fruto não é polinizado. Se tanto as orquídeas como as abelhas estiverem presentes, o fruto leva 14 meses para amadurecer após a polinização das flores. O fruto em si é uma grande cápsula de 10 centímetros a 15 centímetros de diâmetro que se assemelha ao endocarpo do côco no tamanho e pesa até dois quilogramas. Possui uma casca dura, semelhante à madeira, com uma espessura de 8 milímetros a 12 milímetros, e dentro estão de 8 a 24 sementes com cerca de cinco centímetros de comprimento dispostas como os gomos de uma laranja; não é, portanto, uma castanha no sentido biológico da palavra. A cápsula contém um pequeno buraco em uma das pontas, que permite a grandes roedores como a cutia e, com menos frequência, os esquilos, roerem até abrir a cápsula. Eles comem, então, algumas das castanhas que encontram ali dentro e enterram as outras para uso posterior; algumas destas que foram enterradas acabam por germinar e produzem novas Bertholletia excelsa. A maioria das sementes são "plantadas" pelas cutias em lugares escuros, e as jovens árvores acabam esperando por anos, em estado de hibernação, até que alguma árvore caia e a luz do sol possa alcançá-las. Micos já foram vistos abrindo os frutos da Bertholletia excelsa utilizando-se de uma pedra como uma bigorna. EcologiaVive preferencialmente nas florestas de terra firme, e cresce apenas onde a estação seca é de 3 a 5 meses. A densidade da espécie varia muito ao longo de toda a Amazônia, indo de 26 árvores reprodutivas por hectare a apenas um exemplar em 100 hectares. Cogita-se que alguns grupos de árvores devam sua existência a indígenas pré-colombianos.[28] ProduçãoEm 2020, a produção global de castanhas-do-brasil (em casca) foi de 69 658 toneladas, a maior parte das quais provém de colheitas selvagens em florestas tropicais, especialmente nas regiões da Amazônia do Brasil e da Bolívia, que produziram 92% do total mundial (ver tabela). Produção mundial
Efeitos da colheitaAs Bertholletia excelsa destinadas ao comércio internacional vêm inteiramente da colheita selvagem, e não de plantações. Este modelo vem sendo estimulado como uma maneira de se gerar renda a partir de uma floresta tropical sem destruí-la. As castanhas são colhidas por trabalhadores migrantes conhecidos como "castanheiros". A análise da idade das árvores nas áreas onde houve extração mostram que a colheita de moderada a intensa coleta tantas sementes que não resta um número suficiente para substituir as árvores mais antigas à medida que elas morrem. Sítios com menos atividades de colheita possuem mais árvores jovens, enquanto sítios com atividade intensa de colheita praticamente não as possuem.[30] Experimentos estatísticos foram feitos para se determinar quais fatores ambientais podem estar contribuindo para a falta de árvores mais jovens. O fator mais consistente foi o nível de atividade de colheita em determinado sítio. Uma simulação por computador que previa o tamanho das árvores em que pessoas pegavam todas as castanhas coincidiu com o tamanho das árvores encontradas nos sítios onde havia uma colheita intensa das castanhas. Iniciativas de preservaçãoSegundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, a preservação em áreas protegidas, governamentais ou corporativas, é insuficiente, e a tentativa de estabelecer populações novas tem fracassado. As atividades mais bem sucedidas são as empreendidas por populações nativas, nas reservas extrativistas.[carece de fontes] UsosAlimentaçãoAs Bertholletia excelsa possuem 18% de proteína, 13% de carboidratos e 69% de gordura. A proporção de gorduras é de, aproximadamente, 25% de gorduras saturadas, 41% de monoinsaturadas e 34% de poliinsaturadas.[31] Possuem um gosto um tanto terroso, muito apreciado em vários países. O conteúdo de gordura saturada das Bertholletia excelsa está entre o mais alto de todas as castanhas e nozes, superando até mesmo o da macadâmia. Devido ao gosto forte resultante, as Bertholletia excelsa podem substituir frequentemente macadâmias ou mesmo o coco em receitas. Bertholletia excelsa retiradas de suas cascas tornam-se rançosas rapidamente. As castanhas também podem ser esmagadas para se obter óleo. Nutricionalmente, as Bertholletia excelsa são ricas em selênio, embora a quantidade de selênio varie consideravelmente.[32] São também uma boa fonte de magnésio e tiamina. Algumas pesquisas indicaram que o consumo de selênio está relacionado com uma redução no risco de câncer de próstata.[33] Isto levou alguns analistas a recomendarem o consumo de Bertholletia excelsa como uma medida preventiva.[34] Estudos subsequentes sobre o efeito do selênio no câncer de próstata foram inconclusivos.[35] Óleo da CastanhaA castanha contem 70 a 72% de óleo doce, de perfume agradável e com gosto semelhante ao óleo de oliveira da Europa. O óleo quando envelhece tem uma cor amarelo-escuro e um cheiro desagradável de ranço.[36] O óleo de castanha é altamente nutritvo, contendo 75% ácidos graxos insaturados compostos principalmente por ácido palmítico, olêico e linolêico, além de fitoesteróides sistosterol e as vitaminas lipossolúveis A e E. Extraído da primeira prensagem, pode se obter um azeite extra-virgem podendo substituir o azeite da oliva por seu sabor suave e agradável.[37] A castanha é uma rica fonte de magnésio, tiamina e possui as mais altas concentrações conhecidas de selênio (126 ppm²), com propriedades antioxidantes. Algumas pesquisas indicaram que o consumo de selênio está relacionado com a redução do risco de câncer de próstata e recomendam o consumo da Bertholletia excelsa como uma medida preventiva.[38] As proteínas encontradas na castanha-do-brasil são muito ricas em aminoácidos sulfurados como a cisteína (8%) e a metionina (18%). A presença desses aminoacidos (methionine) melhora a adsorção de seleninum e outros minerais.[38] O óleo de Bertholletia excelsa é extraído das sementes secas, geralmente por prensagem à frio. O óleo de Bertholletia excelsa prensado a frio tem um odor agradável, amarelo. A composição de ácido graxos é constituído por ácido palmítico (14-16%), ácido esteárico (6-10%), ácido oleico (29-48%), ácido linoleico (30 - 47). As características físicas são densidade (0,914-0,917), ponto de fusão (0-4 °C), o valor de saponificação (193-202), o valor de iodo (94-106) e insaponificável (0,5 a 1%). Composição fisico-quimico do óleo virgem
Composição dos ácidos graxos
MedicinalO chá da casca da Bertholletia excelsa é usado na Amazônia para tratamento do fígado, e a infusão de suas sementes para problemas estomacais. Por seu conteúdo em selênio, a castanha é antioxidante. Seu óleo é usado como umidificador da pele.[39] Uso cosméticos e alimentíciosO óleo da sementes são muito ricos em proteínas por isso constitui um produto de grande valor alimentício. Além disso, o óleo da castanha-do-brasil também é usado para a confecção de cosméticos como shampoos, sabonetes e condicionador de cabelo porque seu uso proporciona maciez, brilho e sedosidade. É usado também como creme de pele que lubrifica e hidrata, deixando a pele macia.[40] Outros usosAssim como no uso alimentar, o óleo extraído da Bertholletia excelsa também é usado como lubrificante em relógios, para se fazer tintas para artistas plásticos e na indústria de cosméticos. A indústria cosmética emprega o óleo de castanha por suas propriedades anti-radicais livres, antioxidantes e hidratantes nas formulações anti-aging prevenindo o envelhecimento cutâneo e é considerado um dos melhores condicionadores para cabelos danificados e desidratados.[41] A madeira das Bertholletia excelsa é de excelente qualidade, porém a sua extração está proibida por lei nos três países produtores (Brasil, Bolívia e Peru). A extração ilegal de madeira e a abertura de clareiras representa uma ameaça contínua.[42] O efeito castanha-do-brasil, no qual itens maiores misturados em um mesmo recipiente com itens menores (por exemplo, Bertholletia excelsa misturadas com amendoins) tendem a subir ao topo, recebeu o nome desta espécie. RadioactividadeAs Bertholletia excelsa podem conter significativas quantidades de rádio, um material radioativo.[43] Embora a quantidade seja relativamente pequena, cerca de 1–7 pCi/g (40–260 Bq/kg), e a maior parte não fique retida no corpo, ela é mil vezes mais alta do que a maior parte dos outros alimentos.[44] De acordo com as Universidades Associadas de Oak Ridge, isto não se deve a níveis elevados de rádio no solo, mas sim ao extremamente extenso sistema de raízes da árvore.[45] Economia no BrasilEm 1945 no Brasil, o fim do ciclo da borracha na Amazônia abalou a economia da região, então a venda de castanhas (amêndoas) auxiliou na manutenção da economia de exportação nos estados do Amazonas e Pará.[19] Este último liderava a extração devido possuir o polígono das castanheiras (castanhal), concentrado no município de Marabá (no sudeste do Pará), tornando o Brasil o então maior exportador mundial, que era apreciada na Europa desde o século XVII.[19] Porém, na década de 1960 com a chegada da nova política de incentivos fiscais do governo federal brasileiro para a criação de pastagens com uso de fogo para à agropecuária, resultou no desmatamento e destruição de boa parte do polígono das castanheiras, que foi transformado no cemitério de castanheiras.[19] Referências
Fontes
Ligações externas
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