Os historiadores e genealogistas têm opiniões não coincidentes sobre a origem remota da família Ataíde (nomeadamente sobre se a família - através do seu progenitor D. Egas Duer (c. 1140 - c. 1180) - se entronca ou não na linhagem medieval dos Riba Douro, com os autores mais recentes inclinando-se no sentido afirmativo),[1] concordando entretanto todos que o sobrenome é derivado da freguesia de S. Pedro de Ataíde, situada no antigo julgado de Santa Cruz de Riba Tâmega, atual concelho de Amarante, onde desde o período subsequente à fundação do Reino[1] a família possuía uma Honra.[2]
De facto, as Inquirições ordenadas pelo rei D. Dinis no ano de 1290 apuraram que toda a freguesia de S. Pedro de Ataíde era honrada, sendo seu senhor Gonçalo Viegas, que herdara a honra do seu avô paterno Martim Viegas de Ataíde (filho do acima referido Egas Duer),[2] fidalgo do reinado de D. Sancho I,[3][4][5] e possuía também na freguesia uma quinta com Torre, conhecida como quintã[6] de Ataíde ou quinta do Pinheiro.[7]
No ano de 1706, o Tomo Primeiro da Corografia Portuguesa, de António Carvalho da Costa, confirmava existir ainda na freguesia de S. Pedro de Ataíde uma "quinta em que houve Torre, que se desfez", na antiga honra que fora solar de origem dos Ataídes.
Nesse mesmo ano de 1706 era proprietário da referida quinta D. Manuel de Azevedo de Ataíde e Brito[18] (1649 - 1721),[17] senhor da honra de Barbosa[19] por carta régia de 09.04.1675.[17] A posse da quinta e da honra de Ataíde entrara na sua família na geração do seu quarto avô D. João de Azevedo (c. 1430 - 27.07.1517), 31.º bispo do Porto[20] de 1465 a 1495, que teve filhos com D. Joana de Castro (1460 - 1532), neta do 1.º conde de Atouguia e herdeira das honras de Ataíde e de Barbosa.[21]
Em Ataíde, os senhores de Barbosa possuíam um hospital, na ermida de Nossa Senhora da Natividade, junto à antiga torre de Ataíde, que administravam e sustentavam à sua custa.[23][24][25] A quintã de Ataíde permaneceria na propriedade dos descendentes de D. Joana de Castro até à extinção dos morgadios em Portugal, no ano de 1863.[26]
A varonia dos Ataídes extinguiu-se próximo do final do século XVII,[7] com o falecimento de D. Jerónimo de Ataíde (1579 - 1669), 6.º conde da Castanheira e 2.º conde de Castro Daire (que usou, em Espanha, o título de marquês de Colares),[27] tendo os seus bens vinculados passado em seguida, por sucessão, primeiro para os marqueses de Cascais e depois para os condes da Vidigueira e marqueses de Nisa (ou seja, a família dos representantes de Vasco da Gama).[7]
A linha de primogenitura dos Ataídes era a dos condes de Atouguia, título que desde o final do século XVI, com a morte sem geração legítima do 3.º conde, o vice-rei da Índia D. Luís de Ataíde, passou para os descendentes de uma tia deste, que tinham a varonia de Câmara,[7] de um ramo segundogénito da casa dos condes da Calheta. Neles continuaria o título até o falecimento do 11.º conde, D. Jerónimo de Ataíde, no cadafalso de Belém, como uma das vítimas do chamado processo dos Távoras. Na sequência, o título foi extinto.
Contudo, uma linha de parentesco mais próxima da antiga casa de Atouguia era a de uma irmã do 3.º conde, D. Helena de Ataíde, casada com Tristão da Cunha, comendador de São Pedro de Torres Vedras (neto de outro Tristão da Cunha, famoso navegador e diplomata), que teve também descendência, nos acima referidos condes de Povolide.[10][15][28]
As armas dos Ataídes, tal como se encontram no Livro do Armeiro-Mor datado de 1509 e na Sala de Sintra (onde figuram como o quarto brasão, na ordem de importância da época[7]), são as seguintes:
De azul, quatro bandas de prata. Timbre: onça passante de azul, carregada no corpo das peças do escudo.[7]
O envolvimento de D. Álvaro de Ataíde, senhor da Castanheira, na conspiração do Duque de Viseu contra D. João II foi objeto de uma comédia de Tirso de Molina, do ano de 1611, intitulada La gallega Mari-Hernández, em que os dois principais personagens são o Rei de Portugal e o conspirador D. Álvaro.[31]
O navegador e explorador francês François Pyrard de Laval, no seu livro de 1679 Voyage de Francois Pyrard, de Laval, contenant sa navigation aux Indes Orientales, Maldives, Moluques, & au Brésil, descreveu o seu contemporâneo D. Estêvão de Ataíde, defensor de Moçambique contra os ataques e cercos holandeses de 1607 e de 1608, como "um corajoso e galhardo fidalgo".[33][34]
No último romance de Eça de Queiroz, A Ilustre Casa de Ramires, o personagem central, Gonçalo Mendes Ramires, refere o papel da família Ataíde na História de Portugal, "torrão augusto, trilhado heroicamente pelos Gamas, os Ataídes, os Castros, os seus próprios avós”.[36]
↑ abManuel Abranches de Soveral. «Egas.0 Duer». roglo.eu. Consultado em 21 de novembro de 2024. Nas inquirições de 1258 documenta-se que D. Egas Duer tinha uma honra na freguesia de S. Pedro de Ataíde, em Amarante («propter honorem Domne Egee Duer»). Casado com Maria Soares de Souza ca 1140, tiveram Martim Viegas de Ataíde (ca 1165-1258)
↑Montaner, Alberto; Ferrari, Matteo; Santos, Maria Alice Pereira dos; Fonte, Carlos Carvalho da; Valdés, Eduardo Pardo de Guevara y; Amaral, Augusto; Santos, Marta Gomes dos; Farelo, Mário; Clemmensen, Steen. «Estudos de Heráldica Medieval». IEM - Instituto de Estudos Medievais, Universidade Nova de Lisboa. Estudos 4: 499. ISBN978-989-97066-5-1. Consultado em 2 de setembro de 2021
↑Seixas, Miguel Metelo de; Teles, João Bernardo Galvão (2008). «Em redor das armas dos Ataídes: a problemática da família heráldica das bandas». Armas e Troféus: 52 (Gonçalo Viegas era bisneto de Egas Duer, progenitor dos Ataídes, fidalgo do séc. XII, casado com D. Maria Soares de Sousa, em relação ao qual não há provas definitivas sobre se pertencia ou não à linhagem dos Riba Douro). Consultado em 11 de outubro de 2020
↑ abcdefghijFreire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Primeiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 80, 81, 211, 176, 84, 84, 84, 84, 40, 75. Consultado em 7 de setembro de 2019
↑Costa, António Carvalho da (1706). Corografia Portuguesa, Tomo Primeiro(PDF). Lisboa: Valentim da Costa Deslandes. p. 130. Consultado em 7 de setembro de 2019
↑«Condes da Atouguia». Arquivo Distrital da Guarda. 22 de outubro de 2014. Consultado em 7 de setembro de 2019
↑Freire, Anselmo Braamcamp (1913). Um aventureiro na empresa de Ceuta. Robarts - University of Toronto. Lisboa: Livraria Ferin, Baptista, Torres
↑Molina, Tirso de (1611). «La gallega Mari-Hernández». Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes (em espanhol). Consultado em 11 de setembro de 2024. La gallega Mari-Hernández. Tirso de Molina. Personas Don Juan II de Portugal Don Álvaro de Ataíde ...
↑«Obras Completas de Luiz de Camões, volume II». www.gutenberg.org. LXIV, CXCI. Consultado em 16 de julho de 2024. LXIV. Que vençais no Oriente tantos Reis / Que de novo nos deis da India o Estado (...) CXCI. Pois torna por seu Rei e juntamente / Por Christo a governar aquella parte (...)
↑Garrett, Almeida (6 de janeiro de 2014). Filipa de Vilhena. Lisboa: Edições Vercial. D. Jerónimo de Ataíde, o filho mais velho da célebre condessa de Atouguia, D. Filipa de Vilhena