Sambas de Enredo 2010
Sambas de Enredo 2010 é um álbum com as músicas das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o carnaval de 2010. Foi lançado oficialmente no dia 2 de dezembro de 2009, pela Universal Music em parceria com a Gravasamba.[1] O disco foi gravado entre outubro e novembro de 2009, após as agremiações realizarem suas disputas de samba-enredo. Na primeira fase da produção, foram gravados na Cidade do Samba, ao vivo, algo que não ocorria desde o álbum de 1998, a bateria das escolas e o coro com a participação das comunidades. Na segunda fase, foram gravadas as bases de cavaco e violão no estúdio Cia. dos Técnicos, em Copacabana, no Rio. No mesmo local, foram gravadas as vozes dos intérpretes, encerrando a terceira fase, antes da mixagem e masterização.[2] O álbum foi produzido por Laíla e Mário Jorge Bruno, com direção artística de Zacarias Siqueira de Oliveira, e arranjos musicais de Alceu Maia e Jorge Cardoso.[3] Campeão do carnaval de 2009, o Salgueiro estampou a capa do álbum e foi a faixa de abertura do disco com um samba sobre o hábito de ler. Vice-campeã de 2009, a Beija-Flor estampou a contracapa e apresentou um samba sobre os cinquenta anos de Brasília, na voz de Neguinho da Beija-Flor. O samba da Portela, que tem Diogo Nogueira entre os seus compositores, tem como tema a informática e a inclusão digital.[4] A obra foi criticada por apresentar, no refrão principal, um merchandising da Positivo, marca que patrocinou o desfile. A canção da Vila Isabel, em homenagem à Noel Rosa, foi composta por Martinho da Vila, e adaptada de outra música sua, "Presença de Noel". Foi a décima vitória de Martinho em disputas na escola.[5] Tendo como tema os desfiles e personalidades inesquecíveis do Sambódromo, a Grande Rio juntou dois sambas concorrentes. A obra teve assinatura de Arlindo Cruz, Carlos Senna, Emerson Dias, entre outros.[6] Assim como a Portela, a Grande Rio também recebeu criticas por inserir um merchan de sua patrocinadora, a Brahma, no refrão de seu samba.[7] A obra da Mangueira homenageou a música brasileira e foi interpretada por três cantores, com alusivo gravado por Emílio Santiago.[8] O samba da Imperatriz Leopoldinense, sobre a religiosidade brasileira, marcou o retorno do intérprete Dominguinhos do Estácio à escola.[9] A canção da Viradouro, interpretada por Wander Pires, homenageou o México.[10] Segredos e mistérios foram os temas da composição da Unidos da Tijuca; enquanto a moda foi o enredo do Porto da Pedra.[11][12] O samba da Mocidade Independente aborda os paraísos idealizados pelo homem.[13] A União da Ilha, campeã do Grupo de Acesso em 2009, fez a junção de dois sambas concorrentes. Entre os compositores da obra, sobre Dom Quixote, estão Arlindo Neto e o intérprete da escola, Ito Melodia.[14] O álbum recebeu criticas mistas. Foi elogiado o retorno das gravações ao vivo, mas a safra de sambas foi classificada como mediana.[15] As obras de Imperatriz e Vila Isabel foram apontadas como as melhores do ano pela crítica especializada.[16] No Desfile das Escolas de Samba, além de Vila e Imperatriz, Mangueira, Beija-Flor e Unidos da Tijuca também receberam nota máxima no quesito samba-enredo, desconsiderando as notas descartadas.[17] O samba da Imperatriz foi o mais premiado do ano, recebendo quatro prêmios, incluindo o Estandarte de Ouro, considerado o "óscar do carnaval".[18] O samba da Mangueira recebeu três prêmios. Do seu lançamento até o carnaval de 2010, o álbum esteve entre os mais vendidos do Brasil, chegando a ocupar a primeira posição do Top 20 Semanal da ABPD.[19] AntecedentesCampeão do carnaval de 2009, o Salgueiro manteve o carnavalesco Renato Lage e escolheu como tema de seu enredo, os livros. Vice-campeã de 2009, a Beija-Flor manteve sua comissão de carnaval e anunciou uma homenagem aos cinquenta anos de Brasília, patrocinado pelo governo do Distrito Federal, mas causou polêmica ao não abordar os escândalos de corrupção no enredo.[21] Terceira colocada, a Portela perdeu os carnavalescos Lane Santana e Jorge Caribé, que se desligaram da agremiação. Para substitui-los, montou uma nova dupla formada por Amauri Santos e Alex de Oliveira, que elaboraram um enredo sobre a informática e a inclusão digital. O desfile da escola teve patrocínio da Positivo Tecnologia. A Unidos de Vila Isabel manteve o carnavalesco Alex de Souza, que assume a escola sozinho após a parceria com Paulo Barros, que se transferiu para a Unidos da Tijuca. A agremiação escolheu homenagear o cantor e compositor Noel Rosa, morto em 1937. O sambista era conhecido como o "poeta da vila", pela sua ligação com o bairro de Vila Isabel, onde está sediada a escola de samba. O enredo foi assinado pelo carnavalesco Alex de Souza, pelo historiador Alex Varela e pelo compositor Martinho da Vila.[20] A Grande Rio, quinta colocada em 2009, contratou Mestre Ciça e manteve o carnavalesco Cahê Rodrigues, que escolheu um enredo em homenagem aos desfiles e personagens mais marcantes do Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A escola recebeu patrocínio da Cervejaria Brahma, gestora do Camarote N.º 1 da Sapucaí. Sexta colocada, a Estação Primeira de Mangueira elegeu o músico e compositor Ivo Meirelles como seu novo presidente e contratou Márcia Lage como sua nova carnavalesca, escolhendo como enredo a música brasileira. Após desentendimentos com a direção da escola, Márcia foi demitida em setembro de 2009, sendo substituída pelos carnavalescos Jaime Cezário e Jorge Caribé.[22] A escola também contratou um novo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael e Marcella Alves, e os intérpretes Zé Paulo Sierra e Rixxah, para formar com Luizito um trio de cantores, apelidado de "os três tenores da Mangueira". Após o sétimo lugar de 2009, a Imperatriz Leopoldinense e a carnavalesca Rosa Magalhães romperam a parceria de dezoito anos. A escola contratou o carnavalesco Max Lopes, que retornou a agremiação após 20 anos, e anunciou um enredo sobre a religiosidade brasileira e o sincretismo religioso. Após a saída de Paulinho Mocidade, a Imperatriz também contratou o intérprete Dominguinhos do Estácio.[9] Oitava colocada em 2009, a Unidos do Viradouro demitiu o carnavalesco Milton Cunha. Para substituí-lo, contratou o carnavalesco Edson Pereira e efetivou ao posto o diretor de carnaval Junior Schall, escolhendo um enredo sobre o México. A escola também trocou de intérprete, dispensando David do Pandeiro e contratando Wander Pires, demitido pela Mocidade. Nona colocada, a Unidos da Tijuca recontratou o carnavalesco Paulo Barros, lançado pela escola no Grupo Especial, e escolheu como enredo os segredos da humanidade. Após o décimo lugar no carnaval anterior, a Unidos do Porto da Pedra demitiu Max Lopes e contratou o carnavalesco Paulo Menezes, que estava na Renascer de Jacarepaguá, anunciando um enredo sobre a história das roupas. Penúltima colocada no carnaval de 2009, a Mocidade Independente de Padre Miguel, contratou o carnavalesco Cid Carvalho, que desenvolveu um enredo sobre os paraísos históricos e os idealizados pelo homem. A escola demitiu o intérprete Wander Pires e contratou David do Pandeiro, que estava na Viradouro. A poucos dias do desfile, Nêgo é contratado para formar dupla com David. Campeã do Grupo A de 2009, a União da Ilha do Governador retornou ao Grupo Especial após oito anos no acesso. A escola contratou a carnavalesca Rosa Magalhães, dispensada da Imperatriz, que desenvolveu um enredo sobre Dom Quixote de La Mancha e os sonhos impossíveis, incluindo o da própria escola de permanecer na primeira divisão do carnaval carioca.[7] Escolha dos sambasA Unidos de Vila Isabel foi a primeira escola a definir seu samba-enredo para o carnaval de 2010.[23] Apontado como favorito pela imprensa e por torcedores, o samba composto por Martinho da Vila, sozinho, foi escolhido vencedor. A escola cogitou não realizar disputa e encomendar o samba diretamente à Martinho, mas desistiu da ideia. A final ocorreu na quadra da agremiação, na madrugada do domingo, dia 4 de outubro de 2009, e foi acompanhada por cerca de cinco mil pessoas. Essa foi a décima vitória de Martinho em disputas da escola. Desde 1993, o compositor não assinava uma obra para a Vila Isabel.[5][24]
Campeão de 2009, o Salgueiro foi a segunda agremiação a escolher o samba para o carnaval do ano seguinte. A final da disputa foi realizada na madrugada do domingo, dia 11 de outubro de 2009, e reuniu cerca de oito mil pessoas na quadra da escola.[25] O samba da parceria de Josemar Manfredini, Brasil do Quintal, Jassa, Betinho do Ponto e Fernando Magarça, confirmou o favoritismo e foi escolhido vencedor.[26] A Unidos do Porto da Pedra foi a terceira escola a definir seu samba. A final da disputa foi realizada na madrugada da segunda-feira, dia 12 de outubro de 2009, e acompanhada por cerca de cinco mil pessoas em sua quadra. O samba da parceria de Bira, Porkinho e Heitor Costa foi escolhido vencedor. Foi a terceira vitória de Porkinho na Porto da Pedra.[12][27] A Portela realizou a final de sua disputa na madrugada do sábado, dia 17 de outubro de 2009. Cerca de dez mil pessoas passaram pela quadra da agremiação. O samba da parceria de Ciraninho, Rafael dos Santos, Diogo Nogueira, Naldo e Junior Scafura foi escolhido vencedor. Foi a quarta vitória consecutiva de Ciraninho e Diogo na Portela.[4][28]
Quatro escolas realizaram suas finais de samba-enredo na madrugada do domingo, dia 18 de outubro de 2009. Na Mangueira, o samba vencedor foi da parceria de Renan Brandão, Machado, Paulinho Bandolim e Rodrigo Carioca. Todos venceram pela primeira vez na agremiação. O samba foi escolhido pelo presidente da escola, Ivo Meirelles, e causou surpresa por derrotar as parcerias favoritas, de Gusttavo Clarão e de Hélio Turco.[8] A Grande Rio optou pela junção dos sambas das parcerias de Arlindo Cruz e de Barbeirinho. Favorito a vencer a disputa, o samba de Arlindo teve uma pequena parte aproveitada, enquanto a maior parte da obra de Barbeirinho foi utilizada. Com isso, o samba final passou a ser assinado por Barbeirinho, Mingau, G. Marins, Arlindo Cruz, Emerson Dias, Levi Dutra, Carlos Senna, Chico da Vila, Da Lua, Isaac, Rafael Ribeiro e Juarez Pantoja.[6][29] A Viradouro escolheu como vencedor o samba da parceria de Floriano do Carangueijo, Gustavo Marbella e Sacadura Cabral.[10][30] Quase às sete horas da manhã do domingo, a Unidos da Tijuca anunciou a vitória da obra de Júlio Alves, Marcelinho Calil e Totonho. Foi a quarta vitória de Júlio na escola; e a terceira de Totonho.[31][11] A União da Ilha do Governador escolheu seu samba na madrugada da segunda-feira, dia 19 de outubro de 2009 e, assim como a Grande Rio, optou por juntar dois sambas concorrentes. Por volta das duas horas da madrugada, o presidente da agremiação, Ney Filardi, anunciou a junção do samba da parceria de Arlindo Neto com o samba da parceria de Ito Melodia (intérprete oficial da escola). Da obra da parceria de Arlindo, foi utilizado o final da segunda estrofe, o refrão principal e a primeira estrofe; enquanto da obra da parceria de Ito, foi utilizado o refrão do meio e o início da segunda estrofe. Com isso, o samba final passou a ser assinado por Grassano, Gabriel Fraga, Márcio André Filho, João Bosco, Arlindo Neto, Gugu das Candongas, Marquinhus do Banjo, Barbosão, Ito Melodia e Léo da Ilha. Compositor mais jovem da escola, com dezessete anos, Arlindo Neto venceu sua primeira disputa de samba-enredo. Seu pai, Arlindo Cruz, acompanhou a final. Cerca de sete mil pessoas passaram pela quadra da escola.[14]
Na mesma data, a Mocidade Independente de Padre Miguel fez a final de sua disputa. Perto de cinco horas da manhã, o presidente da escola, Paulo Vianna, anunciou a vitória do samba de J. Giovanni, Zé Glória e Hugo Reis.[13][32] A Imperatriz Leopoldinense escolheu seu hino na madrugada da terça-feira, dia 19 de outubro de 2009. Favorito, o samba da parceria de Guga, Jeferson Lima, Flavinho, Gil Branco e Me Leva foi anunciado vencedor da disputa por volta das duas horas da madrugada. Essa foi a 15.ª vitória de Guga na Imperatriz, confirmando o compositor como um dos maiores vencedores de disputas de samba-enredo da história do carnaval carioca.[33]
Na mesma noite, encerrando as disputas de samba do Grupo Especial, a Beija-Flor escolheu seu samba para 2010. Assim como na Imperatriz, venceu a obra apontada como favorita desde o início da disputa. Perto das três horas da madrugada foi anunciada a vitória da parceria de Serginho Sumaré, Picolé da Beija-Flor, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Dílson Marimba e André do Cavaco.[34] Serginho Sumaré venceu pela terceira vez na escola. Picolé venceu pela segunda vez, sendo que a primeira foi há 29 anos, em 1981.[35] GravaçãoEnquanto as escolas escolhiam seus sambas, Zacarias Siqueira de Oliveira, diretor artístico do álbum, anunciou que ele seria gravado ao vivo, na Cidade do Samba Joãosinho Trinta, com o acompanhamento dos intérpretes, ritmistas e componentes de cada agremiação.[36] Desde o disco de 1998, as gravações não eram realizadas ao vivo.[37] A gravação do álbum foi dividida em três fases: gravação da bateria e do coro da comunidade, ao vivo, na Cidade do Samba; gravação de cavaco e violão no estúdio; e gravação de voz dos intérpretes no estúdio.
As gravações na Cidade do Samba começaram na terça-feira, dia 20 de outubro de 2009, com Salgueiro, Porto da Pedra e Portela. Na quarta-feira, dia 21, foi a vez de Grande Rio, Viradouro e Unidos da Tijuca gravarem suas obras. Mocidade, União da Ilha e Mangueira gravaram na quinta-feira, dia 22. Vila Isabel, Imperatriz e Beija-Flor encerraram os trabalhos na sexta-feira, dia 23. Nessa primeira fase, de gravações ao vivo, cada escola levou cerca de cinquenta ritmistas e cem componentes da comunidade para fazer um coral. No sábado, dia 23, foram gravadas as bases de cavaco e violão. E a partir da segunda-feira, dia 25, os intérpretes oficiais das escolas começaram a gravar os sambas no Cia. dos Técnicos, em Copacabana.[2] O álbum foi produzido por Laíla e Mário Jorge Bruno, com direção artística de Zacarias Siqueira de Oliveira, e arranjos musicais de Alceu Maia e Jorge Cardoso.[3] Lançamento e design visualO álbum foi lançado oficialmente no dia 2 de dezembro de 2009, reconhecido como Dia Nacional do Samba. No mesmo dia, a Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) promoveu uma festa para convidados na Cidade do Samba, para apresentação do álbum. As doze agremiações se apresentaram com seus intérpretes e casais de mestre-sala e porta-bandeira, acompanhadas pela Bateria Furiosa, do Salgueiro, sob comando de Mestre Marcão. Na ocasião, foram homenageados o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, representado pelo secretário especial de Turismo do Rio, Antonio Pedro Figueira de Melo; o produtor televisivo Boni; o deputado e secretário municipal de Esporte e Lazer, Chiquinho da Mangueira; e o presidente da Associação das Velhas Guardas das Escolas de Samba do Rio, Ed Miranda. A apresentação da festa ficou a cargo de Jorge Perlingeiro.[1] Tradicionalmente, a capa do álbum e seu design visual remetem à escola campeã do carnaval anterior, enquanto a contracapa remete à vice-campeã. Na capa de Sambas de Enredo 2010 foi utilizada uma imagem do fotógrafo Henrique Matos com o carro abre-alas do Salgueiro no carnaval de 2009, intitulado "Tambores da Academia". À frente da alegoria, aparece parte da ala "Maculelê". Além do título do álbum, a capa contém as inscrições "ao vivo" e "Salgueiro Campeão". As inscrições são nas cores do Salgueiro, vermelho e branco. Fabio Oliveira foi o responsável pela arte da capa. O CD também é vermelho, remetendo ao Salgueiro. O encarte contém as letras dos sambas com as bandeiras de cada escola.[38] Na contracapa do álbum foi utilizada uma imagem, também do fotógrafo Henrique Matos, com o carro abre-alas de 2009 da Beija-Flor, intitulado "Egito Antigo - O Despertar do Hábito de se Banhar". É apresentada a inscrição "Beija-Flor vice-campeã" e o nome das escolas que compõem o álbum, com letras e detalhes nas cores branco e azul. Fabiano Feroli e Alberto Vilar foram os responsáveis pelo projeto gráfico.[3] FaixasTradicionalmente a lista de faixas segue a ordem de classificação do carnaval anterior. A primeira faixa é do campeão de 2009, Salgueiro; a segunda é da vice-campeã, Beija-Flor; e assim por diante. A última faixa é da escola que ascendeu do grupo de acesso, no caso, a União da Ilha do Governador, campeã do Grupo A de 2009 e promovida ao Grupo Especial de 2010.[3]
Conteúdo musical
A faixa de abertura do álbum é do Salgueiro, campeão do carnaval de 2009. O disco abre com Quinho cantando o refrão principal do samba, sem percussão, apenas com batidas produzidas pelos ritmistas e pelas palmas do coro da comunidade. Após o intérprete soltar o grito de guerra, bateria e percussão entram completas, acompanhadas pelo coro. O samba aborda o hábito de ler e faz referência à gêneros da literatura e à bíblia ("o livro sagrado da vida"), tendo como ponto forte o seu refrão principal ("Uma história de amor / Sem ponto final / Academia do Samba é Salgueiro / No livro do meu carnaval"). A faixa termina com o refrão principal repetido quatro vezes e acompanhado com palmas pelo coro da comunidade salgueirense.[39]
A faixa da Beija-Flor é a de maior duração do álbum, com pouco mais de sete minutos. A faixa abre com uma versão em samba dos primeiros acordes da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, tema de abertura do noticiário radiofônico A Voz do Brasil; seguida pelo grito de guerra do intérprete Neguinho da Beija-Flor. A canção tem como tema Brasília, e aborda desde a lenda do Lago Paranoá até a construção da capital federal do Brasil. Também faz referência à Juscelino Kubitschek ("A flor desabrochou nas mãos de JK"); Oscar Niemeyer ("Vem ver... A arte do mestre num traço um poema"); e aos candangos, migrantes que trabalharam na construção da capital ("Sou candango, calango e Beija-Flor!").[40]
A faixa da Portela é interpretada por Gilsinho. A canção aborda a informática e a inclusão digital, inserindo um merchandising do patrocinador do desfile, a Positivo Tecnologia, no verso "Faz da criança um cidadão / Positivo pra nação". A faixa é finalizada com o coro da comunidade gritando "Ah! Eu sou Portela!".[41]
Apesar de ter a letra mais extensa, o samba da Vila Isabel é o mais rápido do álbum, com quatro minutos e meio de duração. A faixa começa com o coro da comunidade saudando a bateria da escola (Swingueira de Noel), enquanto o intérprete Tinga solta seu grito de guerra. Após essa introdução, o compositor do samba, Martinho da Vila, apresenta a escola e o enredo e declara que o homenageado, Noel Rosa, "vai baixar na avenida". A primeira parte do samba é uma adaptação da canção "Presença de Noel", também de Martinho, em parceria com Gracia do Salgueiro. O samba da Vila difere dos demais quanto à estrutura musical. Enquanto os outros sambas apostam em dois refrões de quatro a cinco versos, o samba de Martinho apresenta um refrão central maior, com seis versos, e um refrão principal de apenas um verso.[20][42]
A faixa da Grande Rio é interpretada por Wantuir. A canção aborda os desfiles que fizeram história no Sambódromo da Marquês de Sapucaí e homenageia personalidades como Joãosinho Trinta ("Quero mais que nota trinta pro talento do João"), Jamelão ("saudade da linda voz que se calou, eu sou cantor! / Eu sou cantor! / No seu protesto, nunca foi um puxador..."), e o gari Renato Sorriso ("E o sambista com sorriso divinal"). No refrão principal, o samba cita o Camarote N.º 1, da Brahma, patrocinadora do desfile; além de fazer menção ao slogan da marca ("Grande Rio, eu sou guerreiro / Sou brasileiro e faço meu ziriguidum / Vibra arquibancada, explode / O camarote número um").[43]
A faixa da Mangueira é aberta por Emílio Santiago cantando um trecho da música "Bem Simples", do grupo Roupa Nova. Após uma saudação do coro da comunidade à bateria da Mangueira, os três intérpretes da escola declamam a saudação "minha Mangueira!", sendo seguidos pela inserção de um áudio de Jamelão, declamando a mesma saudação. O trecho com a voz de Jamelão, morto em 2007, foi retirado da gravação do samba mangueirense de 2003.[37] Luizito, Rixxah e Zé Paulo Sierra, se dividem na condução do samba, cada um cantando um trecho. A canção tem como tema a música brasileira e faz menção a diversos sucessos da MPB. A faixa é encerrada com o mesmo áudio de Jamelão utilizado no início.[44]
A faixa da Imperatriz é interpretada por Dominguinhos do Estácio. A canção aborda a religiosidade brasileira, com referências aos rituais de adoração indígena, ao Cristianismo, e às religiões afro-brasileiras.[45]
A faixa da Viradouro é interpretada por Wander Pires. A canção começa com o grito de guerra de Wander enquanto, ao fundo, a bateria toca uma versão em samba da música "Está Chegando a Hora", versão brasileira da canção mexicana "Cielito Lindo". O samba da Viradouro homenageia o México e faz referência à símbolos do país, como a tequila, o sombrero, o Dia dos Mortos, o forte tempero da culinária e os murais de Diego Rivera.[46]
A nona faixa, da Unidos da Tijuca, é interpretada por Bruno Ribas. O samba aborda temas como segredos e mistérios. A primeira estrofe do samba tem nove versos, seguida pelo refrão do meio, com quatro versos bisados. A segunda estrofe tem doze versos, seguidos pelo refrão principal, com quatro versos bisados.[47]
A faixa do Porto da Pedra é interpretada por Luizinho Andanças. A canção tem como tema as roupas. O refrão principal, assim como o título da obra, faz referência à música "Com que Roupa?", de Noel Rosa.[48]
A faixa da Mocidade Independente é interpretada por David do Pandeiro. O samba tem como tema os paraísos históricos e os idealizados pelo homem. O refrão principal faz referência ao paraíso do carnaval.[49]
A última faixa do álbum é da União da Ilha. A faixa começa com um instrumental de música flamenca, enquanto o intérprete Ito Melodia faz seu grito de guerra. A canção resume a história de Dom Quixote de La Mancha, e cita outros personagens como Sancho Pança, Dulcinéia e o cavalo Rocinante. O início do samba festeja o retorno da escola ao grupo de elite ("Voltou a Ilha / Delira o povo de alegria"). O refrão principal faz referência ao "sonho impossível" da escola de permanecer no Grupo Especial ("A Ilha vem cantar / Mais um sonho impossível... Sonhar!"). A faixa é finalizada com o coro da comunidade saudando o retorno da Ilha com o grito "ôôô a União voltou", enquanto a bateria executa bossas em ritmo de funk.[50] Crítica profissional
João Pimentel, do jornal O Globo, classificou a safra de sambas como mediana, argumentando que nenhuma obra se destacou no álbum. Segundo o jornalista, o samba do Salgueiro "traduziu bem o enredo"; a Beija-Flor "conseguiu um ótimo resultado, apoiado em uma boa melodia"; a Mangueira "apostou na simplicidade e deve emocionar"; o samba da Tijuca tem "uma boa melodia e um refrão bacana"; a Imperatriz tem "um enredo que deve se ajustar às características da tradicional escola de Ramos"; e a Vila Isabel "tenta, acertadamente, transitar entre o samba melodioso e poético com uma pegada mais acelerada, como mandam os tempos atuais". Entre os sambas razoáveis foram apontados o da Portela, com "uma boa melodia, mas uma letra não muito criativa"; da União da Ilha ("não convence muito"); da Mocidade ("a música também não ajuda muito"); do Porto da Pedra ("tenta ser engraçado, mas sem conteúdo"); e da Grande Rio ("se salva por pouco"). O samba da Viradouro foi apontado como o pior.[15] Leonardo Bruno, do jornal Extra, destacou os sambas de Vila Isabel ("bela letra, melodia rica") e Imperatriz ("melodia linda, letra emocionante"); e também destacou o desempenho do intérprete Dominguinhos do Estácio ("em ótima forma"). Também foram elogiados os sambas da União da Ilha ("contagiante", "melodia gostosa e uma letra que conta bem a história de Dom Quixote") e Mangueira ("simples na descrição do enredo e com melodia fácil"), mas pontuou que a gravação da escola foi prejudicada pela divisão dos três intérpretes ("cada um cantando um pedaço da letra, como se fosse um jogral"). Para o jornalista, a Mocidade tem "um samba animado com letra valente"; o samba da Beija-Flor tem "letra longa" e "bons refrões"; da Grande Rio tem uma "letra que descreve bem o enredo"; da Portela tem "uma melodia gostosa, mas a letra sofre com um enredo difícil de ser contado"; da Tijuca tem "melodia simples, com algumas passagens interessantes", mas "uma letra que esconde o tema". Entre os destaques negativos, foram apontados o samba da Viradouro, que "passou em branco no disco, com uma melodia reta"; do Salgueiro com "letra pobre e superficial"; e do Porto da Pedra com "letra e melodia muito ruins".[16] Os editores do site especializado Sambario elogiaram a volta das gravações ao vivo, mas fizeram ponderações. Para Marco Maciel, as baterias tiveram o som abafado pelo "forte coral" e os instrumentos de corda ficaram "praticamente ausentes na audição".[37] João Marcos criticou o ritmo acelerado das gravações.[51] Para Luiz Carlos Rosa, "a sonoridade dos instrumentos de corda é quase nulo".[52] Bruno Guedes classificou o coral como "alto e exagerado".[53] Sobre a safra, foram destacados os sambas de Vila Isabel e Imperatriz. Para Marco Maciel, o samba da Vila tem "requinte na melodia", com "poesia direta e, ao mesmo tempo, encantadora"; enquanto Imperatriz "impressionou pela força de seu refrão principal" e "pelo clamor de sua melodia, que alterna lirismo e valentia". Além de Vila e Imperatriz, Cláudio Carvalho elogiou os sambas da Beija-Flor ("melodia em tom predominantemente menor e letra bem elaborada, embora um tanto quanto grande") e da União da Ilha ("letra simples e emocionante, combinada com melodia redondinha").[54] Para João Marcos o samba da Mangueira tem bons refrões e melodia interessante; o da Mocidade "é uma marcha assumidíssima"; enquanto o do Salgueiro "se não é uma obra-prima, é simpática e uma audição divertida" com destaque para o refrão principal classificado como "um arrasa-quarteirão daqueles que a escola não tinha há muito tempo".[51] Para Luiz Carlos Rosa, o samba da Portela tem um bom refrão principal e uma melodia agradável "com bons momentos no final da segunda parte"; e o samba da Unidos da Tijuca "tem refrões razoáveis e uma melodia que não compromete".[52] Marco Maciel apontou que o samba da Viradouro tem "melodia complexa e bem variada, aliada a uma letra extensa, de boa qualidade"; enquanto o da Grande Rio é "longo, com a letra um tanto irregular e tendência de arrastamento".[37] O samba do Porto da Pedra foi um dos mais criticado pelos editores do site. Para Weinny Eirado, a obra "possui algumas limitações, mas a abertura e o encerramento são sensacionais".[55] Fábio Rodrigues, do Jornal Inverta, destacou os sambas da Imperatriz ("samba no estilo clássico sem oba-oba, bem cadenciado, mas com refrões fortes que impulsionam ao canto"); União da Ilha ("Apesar de ser o resultado de uma junção, houve um casamento perfeito entre as duas obras"); Mangueira ("O seu ponto de destaque é a construção melódica, variada e inovadora"); Vila Isabel ("uma melodia que conduz ao canto e uma letra com narrativa perfeita"); e Beija-Flor ("O refrão principal é muito forte e o do meio com um balanço envolvente"). Também foram bem avaliados os sambas do Salgueiro ("pra frente e de fácil leitura"); da Viradouro ("Sua parte melódica é riquíssima") e do Porto da Pedra ("o ponto alto desta composição é sua construção melódica"). Também escreveu que no samba da Grande Rio, "os pontos altos ficam no refrão do meio e na segunda parte"; e no da Tijuca, "a primeira parte até o refrão do meio cumpre de forma bem simples o seu papel. Da segunda parte em diante, cresce em termos de letra e melodia". Entre os destaques negativos foram apontadas as obras de Mocidade ("é uma letra que mais confunde do que esclarece sobre o tema") e Portela ("enredo um tanto quanto confuso, utópico e de gosto duvidoso, que acabou dando em um samba com as mesmas características").[56] Desempenho comercialDo seu lançamento até o período de carnaval, o álbum esteve entre os mais vendidos do Brasil, chegando a ocupar a primeira posição do Top 20 Semanal da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD).[57]
Os sambas no carnavalNotasA apuração do resultado do desfile das escolas de samba de 2010 foi realizada na quarta-feira de cinzas, dia 17 de fevereiro de 2010, na Praça da Apoteose.[65] Seguindo o regulamento do ano, foram descartadas a maior e a menor nota recebida em cada quesito, por cada escola. Cada quesito teve cinco julgadores, que avaliaram as escolas com notas de oito à dez, podendo ser fracionadas em décimos.[66] Os sambas da Mangueira e da Vila Isabel foram os únicos a receberem nota máxima de todos os julgadores e, com os descartes, conquistaram trinta pontos no quesito. Beija-Flor, Imperatriz e Unidos da Tijuca também conquistaram os trinta pontos. As escolas receberam uma nota abaixo da máxima, mas ela foi descartada. A Tijuca foi campeã do carnaval. O samba mais despontuado pelos julgadores foi o da Viradouro. A escola foi a última colocada no carnaval, sendo rebaixada. Abaixo, o desempenho de cada samba, por ordem de pontuação alcançada.[17]
PremiaçõesO samba da Imperatriz foi o mais premiado de 2010. Abaixo, as premiações recebidas por cada samba:
CréditosAo processo de elaboração do álbum se atribui os seguintes créditos:[3]
Referências
Bibliografia
Ver também
Ligações externas
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