O Porto de Viana do Castelo situa-se no estuário do Rio Lima, tendo funcionado, ao longo da sua história, não só como porto de pesca e de abrigo para as embarcações, mas também como um importante entreposto comercial.[4] Com efeito, ainda no Século XIX o Rio Lima era navegável em grande parte do seu percurso, ligando o porto de Viana até Ponte da Barca e Arcos de Valdevez.[5] Devido a problemas de navegabilidade no Rio Cávado, as comunicações do Porto até Braga e Barcelos também eram feitas por Viana do Castelo, utilizando o Rio Lima até Carregadouro, e depois seguindo por estrada.[5]
No entanto, o progressivo assoreamento do Rio Lima, a abertura da estrada de Braga ao Porto e o início das carreiras de diligências de Viana do Castelo até Ponte da Barca e Arcos de Valdevez reduziram o movimento naquele eixo fluvial, retirando importância ao Porto de Viana do Castelo.[6] Além disso, também se verificou uma redução nos navios de longo curso, devido a uma maior concentração nos portos de Leixões e Lisboa, e na cabotagem marítima, em virtude do desenvolvimento dos transportes terrestres.[7]
Por outro lado, após a abertura da linha férrea, em 1 de Julho de 1878[8], a estação de Viana do Castelo passou a ser utilizada para reexportar por caminho de ferro os produtos que chegavam ao porto, vindo das colónias e do estrangeiro.[9] A estação foi construída no limite Norte da cidade, enquanto que as docas ficavam no Sul, e não existindo uma ligação directa entre as docas e a gare ferroviária, as mercadorias tinham de ser transportadas pelas ruas, atravessando toda a cidade.[10] Porém, a maior parte dos arruamentos tinham sido abertos de forma paralela à margem do rio, existindo apenas algumas artérias perpendiculares, e mesmo essas eram normalmente mais estreitas e irregulares, sendo de importância secundária.[10] Este factor gerava grandes problemas de tráfego, que dificultavam o transporte das mercadorias.[9]
A Câmara Municipal estava ciente desta questão desde o princípio, e procurou alargar algumas das ruas perpendiculares, nomeadamente as dos Crúzios, da Carreira e de Santa Ana.[10] Quando a Rua de Santa Ana foi alargada para uma avenida, em 1876, já estava em planeamento a abertura de uma nova avenida entre a futura estação e a doca, mas não dispunha de recursos financeiros para esse projecto.[9] Depois de várias alterações e projectos, a artéria entre a doca e a estação foi aberta em 1917, com o nome de Avenida Central,[9] futuramente renomeada para Avenida dos Combatentes da Grande Guerra.[11]
Planeamento e construção
Em 22 de Março de 1889, foi feito um projecto para desviar a estrada real n.º 4, para ceder à doca uma faixa de terreno onde se iria construir o ramal entre a estação e a doca.[10] Este projecto contemplou a alteração do traçado entre o limite oriental da Doca da Dízima e o Campo do Castelo, tendo sido concluído em 1894.[12]
No entanto, o processo para a construção do ramal só começou em 1909, quando a câmara pediu ao Ministério das Obras Públicas para construir o ramal, como forma de facilitar a deslocação das mercadorias, retirando os camiões das ruas da cidade.[13]
Em 1911, foi formada a Comissão dos Melhoramentos do Porto e Doca de Viana do Castelo, que tinha como objectivo desenvolver a as instalações portuárias.[14] Um dos seus objectivos era executar os estudos necessários para a instalação do ramal para a doca, que era considerado o mais importante componente do projecto.[15] Desta forma, esperava-se combater a concorrência dos outros portos,[15] aumentando o movimento de mercadorias.[7] Previa-se que iria crescer o tráfego de madeira, carvão, sal e outras mercadorias.[10]
Foi delineado um novo projecto, alterando o traçado para ocupar principalmente terrenos municipais e estatais, reduzindo dessa forma os custos de construção em relação ao projecto de 1889.[15] As obras iniciariam-se em 1918.[15] Para a construção, foi necessário expropriar cinco casas térreas e 833.5 m2 de terrenos, mudar a Fonte do Assento, e demolir o redondel das touradas no Campo do Castelo, que foi reconstruído no mesmo campo, numa posição mais a Oeste, em 1921.[15]
Inauguração e operação
O ramal foi inaugurado a 20 de Março de 1924.[1][16] O atraso da construção do ramal foi considerado como um exemplo da falta de interesse que existia em ligar a rede nacional de caminhos de ferro aos terminais portuários.[17]
Com a inauguração do ramal, a autarquia de Viana do Castelo pôde restringir o tráfego de mercadorias na Avenida Central ainda em 1924, de forma a reconvertê-la num passeio arborizado.[11]
No relatório de 1931 - 1932 da Direcção Geral de Caminhos de Ferro, este ramal aparece como sendo propriedade do estado, mas explorado pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.[18]
O ramal servia essencialmente para o transporte de mercadorias para o Porto de Viana do Castelo, materiais para os Estaleiros de Viana do Castelo e de pessoas que trabalhavam nesses locais (que viajavam acomodadas ao pé da carga).[1] Entre as mercadorias transportadas, estavam os vinhos na zona do Alto Lima, exportados para o estrangeiro através do porto de Viana do Castelo.[19]
Encerramento
O Ramal de Viana-Doca, sem qualquer obra de arte no seu percurso, foi encerrado no Verão de 1988.[1]
Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 102/99, de 9 de Setembro de 1999, o ramal foi desafectado do domínio público ferroviário e os terrenos passados para a posse da Câmara Municipal de Viana do Castelo para reordenamento urbanístico e viário da zona.[20]
Itinerário
O ramal saía da Estação de Viana do Castelo pela Linha do Minho, na direcção de Valença, e, 100 metros depois, virava à esquerda na direcção do litoral, passando pela Igreja de Nossa Senhora da Agonia, mais à frente pelos Estaleiros de Viana do Castelo, terminando na doca do porto.[1]
ABREU, Alberto (2010). Viana do Castelo: Roteiros Republicanos. Col: Colecção Roteiros Republicanos. Matosinhos: Quidnovi, Edição e Conteúdos, S. A. e Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. 128 páginas. ISBN978-989-554-736-4
FERNANDES, Mário (1995). Viana do Castelo: A Consolidação de uma Cidade (1855-1926). Lisboa: Edições Colibri. 185 páginas. ISBN972-8288-06-9
MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas !CS1 manut: Uso explícito de et al. (link) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X !CS1 manut: Uso explícito de et al. (link) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
Legenda:bitolas: ²2140 mm • ᴮ1668 mm • ⁱ1435 mm • ¹1000 mm • ³920 mm • ⁹900 mm • ⁶600 mm +designações abreviadas quando possível (fonte para linhas da Infraestruturas de Portugal: [1]: pág. 54) °ferrovias pesadas (#) não geridas pela Infraestruturas de Portugal (e/ou empresas antecessoras) †extinta (totalmente) • ‡projectada • ††reaberta • †‡reabertura projectada • ‡†projecto abandonado • ‡‡projecto recuperado • ↑substituída mantendo traçado/canal