Pedro Cea
José Pedro Cea Urriza (Montevidéu, 1 de Setembro de 1900 - Montevidéu, 18 de Setembro de 1970) foi um futebolista do Uruguai que atuou na primeira metade do século XX. Foi o artilheiro de sua seleção na primeira Copa do Mundo. Cea é, ao lado dos húngaros Zoltán Czibor e Ferenc Puskás e do argentino Ángel Di María, um dos únicos jogadores a marcar gol tanto em final da Copa do Mundo como em final de Olimpíada. Cea também foi o único presente em todas as partidas do Uruguai na saga dos "três títulos mundiais" entre 1924 e 1928, participando de todos os jogos da Celeste tanto nas Olimpíadas de 1924 como das de 1928.[1] Por conta disso, ele está na seleta lista de futebolistas Campeões Olímpicos e também da Copa do Mundo.[2][3] Quebrador de gelo na infância, era descrito como um jogador solidário e atlético, que não se intimidava com adversários rudes,[4] sendo conhecido também por seu bom humor.[5] Apelidado de El Vasco ("O Basco"), em função de suas origens, e de El Empatador Olímpico, por ter feito o gol de empate prévio à vitória de virada do Uruguai na final da Copa do Mundo FIFA de 1930,[6] Cea foi eleito pela Federação Internacional de Histórias e Estatísticas do Futebol como o nono melhor jogador uruguaio do século XX, e o 44º melhor da América do Sul no mesmo período.[7] Carreira em clubesJogadorCea começou no pequeno Lito. Estreou pela seleção uruguaia em 1923,[8] quando ainda pertencia a este clube.[9] sem esconder sua paixão pelo Nacional, o que lhe valeu um convite dos tricolores para integrar a excursão realizada à Europa em 1925.[6] A excursão, no ano seguinte ao primeiro ouro olímpico do futebol uruguaio e sul-americano (no qual Cea participou), confirmou o valor do futebol uruguaio na Europa. 700 mil pessoas viram o Nacional ao longo de 38 partidas. Foram 130 gols marcados, somente 30 sofridos, com 26 vitórias e somente cinco derrotas.[10] Cea marcou treze gols, dentre eles um na vitória por 5-1 sobre a seleção belga em Bruxelas; três na vitória por 6-0 sobre a seleção francesa em Paris; um na vitória por 4-0 sobre a seleção catalã em Barcelona; um na vitória por 5-0 sobre o Sporting Clube de Portugal na capital portuguesa; um no empate em 2-2 com o Celta de Vigo e outro na vitória por 3-0 sobre o Deportivo La Coruña, ambos também na casa adversária.[11] Cea foi novamente emprestado ao Nacional para outra turnê internacional, em 1927, pelas Américas Central e do Norte. Fez cinco gols, incluindo dois na vitória por 3-1 sobre a seleção mexicana.[12] Mas foi somente em 1928 que Cea enfim passou de forma oficial do Nacional.[6] Naquele mesmo ano, o Lito, que chegara a ficar duas vezes em terceiro lugar no campeonato uruguaio em meados da década de 1920, acabou rebaixado, não retornando mais à elite.[13] As excursões foram o melhor momento de Cea pelo Nacional. Entre sua vinda e sua saída, em 1935,[6] o clube foi campeão uruguaio somente em 1933 e em 1934,[13] a única campanha vitoriosa em que atuou em algumas partidas;[14] o Peñarol foi bicampeão em 1928-1929, não houve campeonato em 1930 em função da Copa do Mundo realizada no país naquele ano, o Montevideo Wanderers venceu em 1931 e o Peñarol, novamente em 1932.[13] Cea chegou ao Nacional de forma oficial já veterano e participava mais das partidas entre quadros reservas.[6] Em uma delas, contra os reservas do Peñarol, falou alto ao colega Héctor Castro, também campeão mundial em 1930, que "jogue pelo meio, que o Peñarol não pôs ninguém aí", em provocação a Lorenzo Fernández, adversário que havia sido colega deles na Copa do Mundo. Fernández ouviu e respondeu "e eu, quem sou?", no que Cea retrucou: "você não é ninguém". O trio teria trocado diversas jogadas ríspidas na partida, mas ao final saíram os três abraçados.[6] El Vasco era torcedor tricolor de modo tão fervoroso que declarou publicamente que jamais visitaria a sede do rival Peñarol. Só quebrou o juramento uma vez, para a surpresa geral dos presentes: foi em 1957 no velório de Álvaro Gestido, outro ex-colega da Copa do Mundo FIFA de 1930. "Vocês nunca poderão saber que classe de homem perderam. Perdas assim são impossíveis de se empatar", declarou o homem também conhecido como Empatador Olímpico. "Álvaro Gestido foi meu amigo e devo a ele ter sido campeão do mundo em 1930. Me custou vir, mas não devia faltar. É uma dívida de honra estar nesta homenagem. Porque, ademais, lhe direi, foi o maior de todos os peñarolenses como jogador, como pessoa, como atleta e como peñarolense" foi sua famosa resposta à indagação feita a respeito de sua presença.[6] SeleçãoCea estreou pela seleção em 4 de novembro de 1923,[8] em vitória por 2-0 sobre o Paraguai pela Copa América daquele ano, quando ainda defendia o pequeno Lito. O Uruguai foi campeão, com Cea marcando um gol, o da vitória por 2-1 sobre o Brasil. O título classificou os uruguaios para as Olimpíadas de 1924.[9] Ciclo OlímpicoA Seleção Uruguaia foi a primeira a demonstrar a nível mundial um bom futebol sem pertencer à Europa, conseguindo um bicampeonato olímpico quando o futebol nos Jogos Olímpicos era a principal competição internacional deste esporte. A façanha se deu em duas edições seguidas, em 1924, em Paris, e em 1928, em Amsterdã. O Uruguai recebeu então o apelido de Celeste Olímpica e acabaria eleito para sediar a primeira Copa do Mundo FIFA, em 1930.[15] A seleção uruguaia ficou marcada por passes de pé em pé e toques precisos em contraposição ao estilo de chutões e de força física dos europeus. Mas, apesar dos títulos olímpicos virem em duas edições seguidas, somente cinco jogadores fizeram parte de ambas as conquistas: José Nasazzi, José Leandro Andrade, Héctor Scarone, Héctor Castro e Cea.[16] Os cinco estiveram também na Copa do Mundo FIFA de 1930, mas somente Cea esteve em todas as partidas das três conquistas mundiais.[1] Nas Olimpíadas de Paris, Cea fez quatro gols: o quarto e o sétimo no 7-0 na estreia contra a Iugoslávia, o primeiro da vitória de virada por 2-1 sobre os Países Baixos nas semifinais e o segundo na vitória por 3-0 na decisão contra a Suíça.[17] Após essa partida, os uruguaios deram uma volta completa no campo, andando pela pista lateral e acenando para a plateia, inaugurando o gesto que ficaria conhecido como "volta olímpica", repetido por eles nas duas conquistas mundiais seguintes e posteriormente adotado por todos os países.[18] Ainda em 1924, o Uruguai também ganhou a Copa América daquele ano, com Cea entre os titulares. Na competição, marcou o terceiro gol na vitória por 3-1 sobre o Paraguai.[19] A Celeste não participou da edição de 1925,[20] voltando em edição de 1926 e sendo campeão, mas sem a inclusão de Cea entre os convocados.[21] Na edição de 1927, o Uruguai, novamente sem Cea, foi vice-campeão para a Argentina. A colocação bastou para qualificar a Celeste às Olimpíadas de 1928.[22] Já nos jogos de Amsterdã, Cea foi convocado. Marcou um único gol, o primeiro dos uruguaios na vitória de virada por 3-2 sobre a Itália na semifinal.[23] Copa do Mundo de 1930Cea já era um veterano na ocasião da primeira Copa do Mundo e inicialmente não tinha sua participação esperada. Para participar, submeteu-se a um rigoroso treinamento pessoal.[4] Mas a estreia terminou criticada, em vitória magra de 1-0 sobre o Peru, partida que inaugurou oficialmente o estádio Centenário contra uma seleção criada apenas três anos antes, terminando de forma decepcionante à plateia.[24] O jornal El País escreveu que "Os Deuses estão cansados!". Na partida seguinte, porém, a Celeste ressurgiu em um 4-0 sobre a Romênia, com todos os gols surgindo nos primeiros 35 minutos. Cea fez o último.[25] Na semifinal, contra a Iugoslávia, Cea marcou metade dos gols na vitória de virada por 6-1: o do empate, aos 19 minutos do primeiro tempo, e os dois últimos, respectivamente aos 21 e 27 minutos da segunda etapa. Os adversários criticaram fortemente a arbitragem brasileira, contestando a não marcação de um pênalti quando ainda venciam a partida e a validade de dois gols uruguaios, mas não os de Cea.[26] Na decisão, contra a Argentina, Cea teve participação ativa especialmente nos dois primeiros gols. No primeiro, que também foi o primeiro lance de perigo na partida, El Vasco recebeu pela meia direita, na risca da grande área, e levou a bola para o centro, perseguido pela defesa argentina.[27] Antes que chutasse, o colega Héctor Castro se a antecipou e tocou a bola para Pablo Dorado, que havia ficado desmarcado. Dorado chutou cruzado, entre as pernas do goleiro Juan Botasso, e abriu o placar. Os argentinos passaram à frente ainda no primeiro tempo, e Cea empatou o jogo aos 13 minutos da segunda etapa. Marcou de carrinho, para completar passe de Héctor Scarone, que estava acossado por dois argentinos.[27] Cea, assim, acabaria recebendo outro apelido, o de El Empatador Olímpico.[6] Cea jogou pela última vez pelo Uruguai em 4 de dezembro de 1932,[8] em derrota de 2-1 em Montevidéu para o Brasil pela Copa Rio Branco.[28] Após parar de jogarAlém disso, foi o treinador da Seleção Uruguaia nos campeonatos sul-americanos de 1941 e 1942, sendo vice-campeão e campeão, respectivamente. Posteriormente, virou comentarista esportivo. Quando faleceu, foi velado na sede do Nacional.[6] TítulosJogador
TreinadorReferências
|
Portal di Ensiklopedia Dunia