Paiaiás
Os Paiaiás,[4] também referidos pelo etnônimo brasílico Payayá,[5] constituem um grupo étnico da família linguística Kariri, do tronco Macro-Jê. Atualmente, encontram-se em processo de etnogênese.[3]:82 e estão presentes, sobretudo, na região da Chapada Diamantina, estado da Bahia, e na cidade de Cristinápolis, no estado de Sergipe. Durante os últimos cinco séculos do genocídio dos povos Macro-Jê - cujo exemplo histórico mais notório foi a chamada Guerra dos Bárbaros[6] - os Payayá foram vítimas de perseguições, maltratos, chacinas e expulsão das próprias terras, chegando a ser considerados praticamente extintos já na segunda metade do século XVII. [7] História e costumesOs paiaiás predominavam em uma região que abarcava desde os atuais estados do Ceará e da Paraíba até a região sertaneja setentrional do atual estado da Bahia.[8] Os registros disponíveis sobre as práticas culturais dos paiaiás dizem respeito à sua alimentação, visto que eles cultivavam diversos gêneros alimentícios como o feijão, milho, amendoim e abóbora, a mandioca e o aipim, a batata-doce e o cará ou inhame. Além da agricultura, eles, também, praticavam a caça de subsistência, caçando animais como veados, porcos do mato, cascavéis, surucucus. Também pescavam a tainha para fazer farinha de peixe, além de coletarem plantas e frutos nativos do sertão nordestino, tais como o umbu, o mandacaru, o xique-xique e o mel de mandaçaia.[8] No chamado "sertão das Jacobinas", na região da Chapada Diamantina,[3]:23[9] os paiaiás eram genericamente chamados de tapuias, pelas autoridades coloniais e pelos colonos de origem européia que vieram a ocupar o interior da Bahia. Também chamados tapuias eram os maracás, igualmente considerados extintos no final do século XVII.[7] Etnogênese dos paiaiás de UtingaNo final do século XX, remanescentes da nação paiaiá iniciaram a luta para recuperar seu território, resgatar suas tradições e sua cultura. Esse movimento começa nos anos 1990, quando os descendentes diretos da anciã Yayá Gameleira (Maria Gameleira), a matriarca que tinha seu nome associado a uma gameleira existente no território ancestral paiaiá, passam a reivindicar sua identidade, enfrentando a oposição de diversos grupos e estudiosos que os consideravam extintos há séculos[2][10]. Atualmente, é possível encontrá-los na terra ancestral, nas proximidades no povoado de Cabeceira do Rio, situado no município baiano de Utinga, sob a liderança do cacique Juvenal Paiaiá[11], de seu irmão Otto Paiaiá e do pajé Esmeraldo Paiaiá. Além dos paiaiás de Utinga, haveria outros remanescentes em vários municípios baianos, desde o Recôncavo até o rio São Francisco (Jacobina, Tapiramutá, Mairi, Antônio Cardoso, Santo Estevão e Nova Soure, onde está a vila de Paiaiá, fundada em uma das áreas habitadas pelos paiaiás, à semelhança do que se verifica nos municípios de Anguera, Irará, Feira de Santana e Ipecaetá, entre outros. Em seu processo de etnogênese e recuperação da identidade, os paiaiás fundaram, em 2008, o Movimento Associativo Indígena Payayá (MAIP), registrado em 5 de maio de 2010 e cujo objetivo é ajudar as comunidades indígenas dos municípios de Utinga, Bonito e Morro do Chapéu a alcançarem a autossuficiência econômica. Os paiaiás, através do MAIP, desenvolvem projetos que de reflorestamento das margens do rio Utinga e seus afluentes, por meio de um viveiro de mudas de árvores que já haviam sumido da região, tais como pau d'arco, ipê roxo, mogno e putumuju[11]. Além disso, lutam pela recuperação da nascente do rio Utinga, em processo de assoreamento. Atualmente, há cerca de 100 famílias paiaiás às margens do rio Utinga[1][2], cuja bacia hidrográfica irriga os municípios de Utinga, Wagner, Lajedinho e Andaraí. Desde janeiro de 2019, essas famílias ocupam uma área de 112 hectares, situada no município de Utinga. A área foi cedida pelo governo estadual da Bahia numa conquista histórica, após seis anos de negociação pacífica entre os indígenas e o governo[11]. Os paiaiás têm se articulado com outros povos indígenas, e fazem parte do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA), que visa influir sobre as políticas públicas relacionadas com os povos indígenas daquele estado[11]. Ver tambémReferências
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