Habitus
Habitus é um sistema de disposições incorporadas, tendências que organizam as formas pelas quais os indivíduos percebem o mundo social ao seu redor e a ele reagem[1] (em termos de classe social, religião, nacionalidade, etnia, educação, profissão etc.), como o habitus é adquirido através de mimesis[2] e reflete a realidade vivida a que os indivíduos são socializados, sua experiência individual e oportunidades objetivas. Assim, o habitus representa a forma como a cultura do grupo a história pessoal moldam o corpo e a mente e, como resultado, moldam a ação social no presente.[3] O conceito de habitus — também conhecido como capital cultural incorporado[4] — foi desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu com o objetivo de pôr fim à antinomia indivíduo/sociedade dentro da sociologia estruturalista.[5] Relaciona-se à capacidade de uma determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por meio de disposições para o seu modo de ser — sentir, pensar, agir. Habitus para BourdieuO habitus é, portanto, um conjunto unificador e separador de pessoas, bens, escolhas, consumos, práticas, etc. O que se come, o que se bebe, o que se escuta e o que se veste constituem práticas distintas e distintivas; são princípios classificatórios, de gostos e estilos diferentes. Estabelece-se, perante habitus esses esquemas classificatórios, o que é requintado e o que é vulgar, sempre de forma relacional, já que, “por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro”[6] Citações
Aristóteles: hexis e habitusÉ pertinente observar que Tomás de Aquino, em seu Comentário ao Livro V da Ética a Nicómaco[8], de Aristóteles, traduz o conceito grego de hexis como habitus, em latim. Provavelmente construiu essa conceituação em fontes diversas, porque não lia grego. O texto de Aquino que introduz o conceito escolástico de habitus é “Respondeo dicendum quod, sicut supra dictum est, habitus non diversificantur nisi ex hoc quod variat speciem actus, omnes enim actus unius speciei ad eundem habitum pertinent. Cum autem species actus ex obiecto sumatur secundum formalem rationem ipsius, necesse est quod idem specie sit actus qui fertur in rationem obiecti, et qui fertur in obiectum sub tali ratione, sicut est eadem specie visio qua videtur lumen, et qua videtur color secundum luminis rationem”. Uma tradução possível seria algo como: "Respondo dizendo que, como foi dito acima, os hábitos não se diversificam a não ser que mude o tipo de ação, de fato, todas as ações da mesma espécie pertencem ao mesmo hábito. Sendo que a espécie da ação deriva do objeto segundo sua razão formal, é necessário que a ação seja da mesma espécie que se liga à razão do objeto, e que se ligue ao objeto sob tal razão, como é da mesma espécie a vista pela qual se vê a luz e pela qual se ver a cor dependendo da razão da luz". Estas “ações da mesma espécie” compõem a héxis descrita por Aristóteles como uma “disposição prática”, permanente e costumeira, automática, e muito provavelmente despercebida, pertencente a um plano ontogenético. Habitus na teoria literáriaO conceito de habitus de Bourdieu está entrelaçado com o conceito de estruturalismo na teoria literária. Peter Barry explica que, na abordagem estruturalista à literatura, há um constante afastamento da interpretação da obra literária individual e um impulso paralelo em direção ao entendimento das estruturas maiores que as contêm[9]. Há, portanto, um forte desejo de compreender os fatores influenciadores maiores que moldam uma obra literária individual. Como resultado, o habitus pode ser empregado na teoria literária para compreender aquelas estruturas externas maiores que influenciam determinadas teorias e obras de literatura. Referências
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