Golpe de Estado no Sudão em 2019
Golpe de Estado no Sudão em 2019 ocorreu na noite de 10 de abril de 2019 quando o presidente sudanês Omar al-Bashir foi retirado do poder pelas Forças Armadas do Sudão em meio aos protestos que decorreriam no país.[1] As forças armadas sudanesas dissolveram o gabinete e a legislatura nacional e anunciaram um estado de emergência de três meses, a ser seguido por um período de transição de dois anos.[2] Ahmed Awad Ibn Auf, que era ministro da Defesa e vice-presidente do Sudão, declarou-se o presidente de facto e anunciou a suspensão da constituição do país, impôs um toque de recolher, ordenando efetivamente a dissolução dos protestos em curso. AntecedentesUma série de protestos contra o governo do Sudão começou em dezembro de 2018, após o fim dos subsídios ao trigo e ao combustível.[3] As manifestações irromperam em várias cidades devido ao aumento dos custos de vida, aumento do preço do petróleo, a escassez, a inflação e a deterioração da economia.[4] Em janeiro de 2019, os protestos mudaram o foco de atenção das questões econômicas para pedidos de renúncia do presidente de longa data do Sudão, Omar al-Bashir.[5][6] Em fevereiro de 2019, Bashir declarou o primeiro estado de emergência nacional em vinte anos em meio aos crescentes distúrbios,[7][8] o que implica que nenhum tipo de concentrações ou manifestações poderiam ser realizadas sem autorização. No entanto, os movimentos políticos e sociais de oposição ignoraram tal ordem e continuaram com os protestos até abril de 2019.[9] GolpeNas primeiras horas da manhã de 11 de abril de 2019, veículos militares entraram em um complexo militar onde ficava a residência de al-Bashir. A televisão estatal interrompeu sua programação habitual com o anúncio de que o exército faria um comunicado.[10] Um grupo de oficiais entrou no prédio da rede estatal de rádio e televisão Sudan TV em Omdurman, uma cidade satélite de Cartum, capital sudanesa, para emitir o anúncio a população. Em um pronunciamento televisionado, o ministro de Defensa Awad Ibn Ouf informou que Omar al Bashir foi deposto e preso e que o exército havia decidido assumir o controle do país durante um período transitório de dois anos, que será seguido por uma convocação para eleições. Também afirmou que um estado de emergência foi declarado em todo o Sudão. O ministro declarou que a Constituição do país foi suspensa, os postos de fronteira permanecerão fechados até novo aviso e o espaço aéreo também será fechado por 24 horas.[10] O anúncio provocou o clamor e o júbilo dos manifestantes reunidos em frente à sede das Forças Armadas para exigir a renúncia do presidente sudanês. Os manifestantes saíram pelas ruas com bandeiras sudanesas para celebrar a queda do presidente, dançando e cantando slogans contra Bashir.[11] Ao mesmo tempo, os militares formam um conselho interino, com o primeiro vice-presidente, o tenente-general Ahmed Awad Ibn Auf, como líder e a criação deste conselho militar interino que liderará o país pelos próximos dois anos.[12] A mídia estatal informou que todos os presos políticos, incluindo líderes do protesto anti-Bashir estavam sendo libertados da prisão.[13] O partido de al-Bashir, o Congresso Nacional, respondeu anunciando que realizaria uma manifestação apoiando o presidente deposto.[14] Soldados também invadiram os escritórios do Movimento Islâmico, a principal ala ideológica do Congresso Nacional em Cartum.[15] Em 12 de abril, a junta militar governante concordou em encurtar a duração de seu governo para "tão cedo quanto um mês" e transferir o controle para um governo civil se as negociações pudessem resultar na formação de um novo governo.[16] Naquela noite, Auf deixou o cargo de chefe do conselho militar e fez o tenente-general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, que atua como inspetor geral das forças armadas, seu sucessor.[17][18][19] Isto ocorreu após protestos sobre sua decisão de não extraditar Bashir para o Tribunal Penal Internacional.[17][20] A renúncia foi considerada um "triunfo" pelos manifestantes, que estavam "jubilantes".[21][22] Burhan foi considerado como tendo um registro mais limpo do que o restante dos generais de al-Bashir e não é procurado ou implicado por crimes de guerra por qualquer tribunal internacional.[22] Ele era um dos generais que haviam se aproximado dos manifestantes durante o acampamento de uma semana perto do quartel-general militar, encontrando-os e ouvindo suas opiniões.[22] Em 13 de abril, Burhan anunciou em seu primeiro discurso televisionado que o toque de recolher imposto por Auf havia sido suspenso e que foi emitida uma ordem para completar a libertação de todos os prisioneiros presos sob leis de emergência ordenadas por Bashir.[23][24] Horas antes,[23] membros do conselho militar no poder divulgaram uma declaração à televisão sudanesa que afirmava que Burhan havia aceitado a renúncia do chefe de inteligência e de segurança Salah Gosh.[25][24][26] Gosh havia supervisionado a repressão dos manifestantes que se opuseram a al-Bashir.[24] Após estes anúncios, as conversações entre os manifestantes e os militares para a transição para um governo civil começaram oficialmente.[26] PrisõesAlém de Bashir, várias autoridades foram detidas pelas Forças Armadas: o primeiro-ministro Mohamed Taher Ayala, Ahmed Mohammed Haroun (líder do partido Congresso Nacional), o ex-ministro da Defesa Abdel Rahim Mohammed Hussein e os ex-vice-presidentes Bakri Hassan Saleh e Ali Osman Taha.[27] Reação da oposiçãoEnquanto isso a oposição, as Forças da Liberdade da Mudança do Sudão, um grupo que reúne partidos e grupos da oposição do Sudão, denuncia que se trata e um golpe militar ou autogolpe militar do próprio regime para se perpetuar no poder, após quase quatro meses de protestos nas ruas.[28][29] Muitos ativistas sudaneses, incluindo os da Associação dos Profissionais Sudaneses e do Partido Comunista do Sudão, denunciaram o conselho de transição militar como um governo das "mesmas faces e entidades contra as quais nosso grande povo se rebelou" em um comunicado. Os ativistas exigem que o poder seja entregue a um governo civil.[1][30] Ver tambémReferências
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