Fotino

 Nota: Este artigo é sobre o herético de Sirmio. Para o gênero de insetos Photinus, veja Vaga-lume.

Fotino (m. 376) foi um heresiarca cristão e um bispo de Sirmio, na província romana da Panônia, notório por negar a encarnação de Cristo. Na literatura posterior, seu nome se tornou sinônimo de alguém que afirme que Cristo não era Deus.

Vida

Fotino cresceu em Ancira, na província da Galácia, onde ele foi um estudante e diácono do bispo Marcelo de Ancira. Marcelo, no final de sua vida um ardoroso oponente do arianismo, foi deposto em 336 e reinstalado posteriormente pelo Concílio de Sárdica em 343, que também instalou Fotino como bispo de Sirmio.[1] Em 344, o Concílio de Antioquia derrubou novamente Marcelo e aprovou o Macrostich, um credo que listava suas crenças e objeções às doutrinas de Marcelo (entre outros). R.P.C. Hanson (1973) descreveu a cristologia de Fotino como consistente com os ensinamentos iniciais de Marcelo[2] entre 340-350.[3]

Ele retornou à sua sé durante o reinado de Juliano, o Apóstata, mas foi exilado novamente por Valentiniano I, de acordo com Jerônimo (em De Viris Illustribus, cap. 107[4]). Ele se assentou na sua província nativa da Galácia e sua doutrina, o "focinianismo", morreu no ocidente. No tempo de Agostinho, um "fociniano" era qualquer um que acreditasse que Cristo era apenas um homem.

Sistema teológico

Ao mesmo tempo Fotino declarou seu próprio sistema teológico, que afirmava que Jesus não era divino e que o Logos não existia antes da concepção de Jesus.[5] Para Fotino, o Logos era simplesmente um aspecto de um Deus monoteísta, portanto ele negava a pré-existência de Cristo e via teofanias no Antigo Testamento como sendo do Pai e o Antigo de dias (como em «Eu estava olhando até que foram postos uns tronos, e um que era antigo de dias se assentou;» (Daniel 7:9)) seria apenas uma predição.[6]

O historiador da Igreja Sócrates Escolástico identificou as crenças de Fotino com as de Sabélio, Paulo de Samósata e Marcelo de Ancira.[1][7][8] Ambrósio de Alexandria, entre os muitos que acusaram Fotino de reduzir Cristo a um homem adotado por deus, ou seja, a união entre o Logos e o homem seria uma de inspiração e concordância moral apenas. Ambrósio diz ainda que dois dos textos favoritos de Fotino eram «Pois só há um Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem» (I Timóteo 2:5) e «mas agora procurais tirar-me a vida, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus» (João 8:40) e é fácil ver o por quê.[9]

Sínodos realizados em 345 e 347 excomungaram Fotino, mas ele permaneceu como bispo por causa do apoio popular. Um sínodo em Sirmio foi realizado e Hilário de Poitiers cita algumas de suas proposições arianas.

Fotino então apelou ao imperador romano Constâncio II. Em outro sínodo em Sirmio em 351, Fotino argumentou com o semi-ariano Basílio de Ancira e Fotino foi deposto sob acusações de sabelianismo e adocionismo. Ele foi anatemizado e enviado ao exílio, onde ele escreveu diversas obras teológicas.[5][8]

Ele recebeu uma carta de aprovação de Juliano, o Apóstata em 362 que acusava Diodoro de Tarso, então engajado em combater as tentativas de Juliano de descristianizar o império, e que assim começava:

Oh Fotino! Você de qualquer forma parece defender o que provavelmente a verdade, e chegou mais perto de ser salvo, e faz bem em acreditar que aquele que se propõe um deus não poderia de forma nenhuma ter nascido de um útero. Mas Diodoro, um padre charlatão dos nazarenos, quando ele tenta provar aquela teoria sem sentido sobre um útero através de artifícios e malabarismos, é claramente um esperto sofista daquela crença dos caipiras.
 
Cartas, Juliano, o Apóstata[10].

O comentário de Ambrosiastro, na geração seguinte, é desta carta e diz que Fotino 'por não considerar Cristo como Deus alegando que ele nasceu, parece sábio aos mundanos'[11]

Em mais ou menos 365, uma carta de Papa Libério, bispo de Roma, a diversos bispos macedonianos lista Fotino entre eles[12]

Dentre todas as críticas de Fotino, é incrível que nenhum dos seus contemporâneos tenha acusado-o de negar o nascimento virginal de Jesus. Mesmo Vigílio de Tapso, no século VI, não o acusa disto.[13]

Referências

  1. a b Sócrates Escolástico. «18». História Eclesiástica. The Emperor of the West requests his Brother to send him Three Persons who could give an Account of the Deposition of Athanasius and Paul. Those who are sent publish Another Form of the Creed. (em inglês). II. [S.l.: s.n.] 
  2. R.P.C. Hanson (1973). The Search for the Christian Doctrine of God: The Arian Controversy, 318-381 (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 9780801031465  "A doutrina de Fotino parece ter sido uma forma do que poderia ser chamado de marcelismo intermediário, ou seja, o que Marcelo ensinou originalmente antes que suas vicissitudes fizeram com que ele abrandasse sua doutrina e levasse em consideração as críticas de seus amigos e de seus inimigos, mais moderadas. Ele [Fotino] certamente ensinou que o corpo humano de Jesus tinha uma mente ou uma alma, insistindo em sua completude, e isto é totalmente consistente com o ensinamento de Marcelo, embora ele, no período inicial de sua literatura teológica, não parece ter defendido desta forma".
  3. Hanson "Não parece haver nada especialmente original no ensinamento de Fotino. Ele era um discípulo doutrinário de Marcelo. Ele não reflete o conceito idiossincrático de Marcelo sobre uma duração limitada do reino de Cristo, e é mais enfático que ele sobre a natureza humana da alma de Cristo. Ele provavelmente reflete a posição de Marcelo entre 340 e 350 e, talvez possa nos fazer considerar novamente as conjecturas discutidas antes sobre o que Marcelo realmente, nos períodos intermediário e final de sua carreira, admitiu uma alma humana para Cristo e que ele abrandou suas ideias mais excêntricas. Fotino deve ter representado um embaraço considerável não apenas para Marcelo, a quem ele seguiu fielmente demais, mas também a todos os teólogos ocidentais. Ele mostrou-lhes o que poderia acontecer àqueles que insistissem rigorosamente que haveria apenas uma hipóstase na Trindade e quão perto eles estavam de cair no precipício do sabelianismo. Ele pode também ter contribuído para o preconceito contra - ou uma cegueira à necessidade de - atribuir uma alma humana para Jesus."
  4. "De Viris Illustribus - Photinus the heresiarch", em inglês.
  5. a b Sozomeno. «6». História Eclesiástica. Photinus, Bishop of Sirmium. His Heresy, and the Council convened at Sirmium in Opposition thereto. The Three Formularies of Faith. This Agitator of Empty Ideas was refuted by Basil of Ancyra. After his Deposition Photinus, although solicited, declined Reconciliation. (em inglês). IV. [S.l.: s.n.] 
  6. Hanson: "Fotino apelou particularmente para Isaías 44:6 ('Eu sou Deus e não há outro') para articular uma doutrina marcadamente monoteísta de Deus. O Logos, para ele, era simplesmente uma forma manifestada do Pai, um poder ou aspecto dele e de forma nenhuma diferente dele. Ele aparentemente cunhou a palavra 'VerboPai' e considerava o Logos como totalmente intercambiável com 'Deus'. Como Marcelo, ele favorecia a analogia de um homem e seu pensamento como a relação entre o Pai e o Filho, Ele não poderia de forma nenhuma utilizar-se do termo 'conceber' nestas circunstâncias. Assim como o Marcelo inicial, ele distinguia claramente o Pai do Filho e afirmava que Ele só passou a existir a partir da encarnação e pode ser definido como inteiramente um ser humano nascido de Maria. Assim, Cristo não seria preexistente e as teofanias do Antigo Testamento nada mais eram do que Deus aparecendo. Quando o AT falava de um filho de Deus, como em Daniel 7:13 - 'Vi nas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem, que se chegou até o antigo de dias; foi apresentado diante dele.' -, nada mais era que uma predição."
  7. Sócrates Escolástico. «19». História Eclesiástica. Of the Creed sent by the Eastern Bishops to those in Italy, called the Lengthy Creed. (em inglês). II. [S.l.: s.n.] 
  8. a b Sócrates Escolástico. «29». História Eclesiástica. Of the Heresiarch Photinus. (em inglês). II. [S.l.: s.n.] 
  9. Hanson: "Há evidências aqui de uma determinação consistente em evitar reconhecer quaisquer distinções em Deus"
  10. Julian the Apostate. Loeb Classical Library. Letters (em inglês). 3. [S.l.: s.n.] pp. 186–7 
  11. Hanson: "Um estudo recente das referências à Fotino em Ambrosiastro (fl. 363-384]] por Lydia A. Speller confirma todos estes pontos... Isto é provavelmente uma referência ao fato de imperador Juliano, numa carta, parte da qual sobreviveu, enderaçada à Fotino (ca. 362) congratulava Fotino por sua recusa em acreditar que um deus poderia ter sido introduzido num útero."
  12. Sócrates Escolástico. «12». História Eclesiástica. The Macedonians, pressed by the Emperor's Violence toward them, send a Deputation to Liberius Bishop of Rome, and subscribe the Nicene Creed. (em inglês). IV. [S.l.: s.n.] 
  13. Hanson: "Finalmente, Vigílio de Tapso, no século VI, num Diálogo com os arianos, sabelianos e fotinianos, ensinou que 'Jesus Cristo (teve) seu início de Maria e ele foi adotado como Filho pelo Pai por causa da proeminência de seu comportamento sagrado e o incomparável mérito de sua santidade'"

Ligações externas