A toponímica celta portuguesa refere-se aos nomes próprios de lugares em Portugal cuja origem é das línguas celtas.
Na área correspondente ao actual Portugal, diversas localidades com toponímica celta encontram-se citadas até por autores antigos. Nela, as regiões onde podemos encontrar um maior número desses topónimos são o norte (habitado sobretudo pelos Galaicos) o centro do país (habitado pelos Lusitanos, cuja língua tinha diversos celtismos, possivelmente mesmo uma língua celta, e por povos com dialectos potencialmente celtas, de mais difícil categorização, como a língua dos vetões.[1][2]) Mas igualmente o sul (no Alentejo, habitado pelos célticos, e no Algarve, habitado pelos fortemente celtizados Cónios. Mesmo a língua de Tartesso é por alguns classificada como celta, ainda que não haja consenso[3]). Povos que se movimentaram no território hoje português, interagindo, por vezes com migrações e disputas inter-tribais, nas regiões que viriam em grande medida a corresponder às antigas Províncias romanas da Lusitânia e da Galécia.
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Éforo, em seu relato, faz Céltica tão grande em seu tamanho que atribui às regiões de Céltica a maioria das regiões, tão longe quanto Gades, do que agora chamamos Ibéria [...]
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Lista de localidades (Poliotopónimos - Nomes de Assentamentos Humanos)
Notas:
Nomes marcados como asterisco são nomes propostos pelos autores como possíveis, mas que não possuem atestação nas fontes;
Nomes com sinais de interrogação indicam que sua identificação é incerta.
"Briga" ou a variante "Brica", é um topónimo muito frequente que significa "Povoação Fortificada", este nome, por sua vez tem origem no vocábulo proto-celta *-brigs[4], que significa "outeiro, sítio alto", e por extensão "castro, fortificação no alto" (atualmente os vestígios destas antigas povoações fortificadas denominam-se castros). Estes topónimos têm uma origem comum, ou seja, são cognatos, com topónimos de outras línguas celtas modernas tais como brí, ("outeiro") em gaélico irlandês, e bre, ("outeiro") em bretão e em galês. Estes topónimos têm equivalência com o topónimo latino castrum (castro) que significa fortaleza, fortificação, ou acampamento militar e com o topónimo de origem árabe alcácer (em árabe al-Qasr), que é a arabização do latim castrum (singular) ou de castra (plural) (empréstimo de origem latina no árabe).
Por "celta" entenda-se uma denominação genérica para várias línguas e dialetos celtas, que na Antiguidade já eram vários, embora com uma origem comum no proto-celta e aparentados, com variantes na morfologia (forma) dos vocábulos e topónimos (pelo que muitas vezes não há uma forma única de um topónimo variando por regiões).
Esta cidade tomou o nome de "Conimbriga", uma outra cidade, entrada em declínio, situada próximo da atual Condeixa-a-Velha, e passou a ser denominada como tal.
Derivado dos étimos celtas antigos ar-, ara, próximo, junto, antes, e de kar ou ker (outras variantes kal ou gal) - rocha, rochedo, penhasco, através do Baixo latimAlancar (que também originou o apelido Alencar).
Outro nome da cidade era Julióbriga (em homenagem a Caio Júlio César, mas este nome não perdurou). Referente aos brigantes, uma tribo galaica (nome derivado do celta antigo briga - outeiro, povoação fortificada)
De Cairniechyd, "sepulcro da saúde", carn ou cairn - sepulcro coberto de pedras, deriva do étimo céltico kar-, 'rochedo' (variantes kal- / gal-), ch = [ x ] > [ ʃ ] Há outras hipóteses para a origem do nome mas este é o que tem maior semelhança na morfologia.
Derivado do celta antigo carn (comparar com cairn no gaélico escocês, carnedd em galês), vocábulo derivado do étimo céltico kar-, 'rochedo' (variantes kal- / gal-)
Um dos elementos do topónimo - leukos, em celta antigo significava "branco" (línguas celtas antigas coincidem com o vocábulo em língua grega antiga para a mesma cor)
Situada próximo da atual Condeixa-a-Velha, esta cidade, entrada em declínio, teve o seu nome tomado pela cidade de Aeminium que passou a denominar-se "Conimbriga". O topónimo pode referir-se ao etnónimo "cónios" (conii) ou "cinetas" (cynetes, cynei), que tem origem no proto-celta*kwon - cão (como símbolo étnico totémico de um povo neste caso) ou, em alternativa, ao étimo celta antigo kon-, colina (comparar com uma língua celta moderna como o vocábulo do gaélico irlandêscnoc - colina). A colina de Conímbriga refere-se à povoação pré-romana que se situava na colina, a povoação romana do mesmo nome ficava na planície.
Olisippo era a forma no caso nominativo. Olisippona era a forma no caso acusativo singular feminino. Modificação fonética: Olisippona > Lisipona > Lisibona > Lisbona > Lisbõna > Lisbõa > Lisboa
A sua etimologia é ainda incerta. Topónimo de uma língua pré-celta celtizado? (por "língua ibérica" entenda-se o nome genérico para uma língua pré-celta)
Pode ter origem num topónimo celtizado de uma língua pré-celta. Pode ter origem no ibérico (termo genérico para língua pré-celta, neste caso) ves, 'montanha' (que aparece em vários topónimos europeus, como Vesúvio).
Pode ter origem num topónimo celtizado de uma língua pré-celta. Pode ter origem no ibérico (termo genérico para língua pré-celta, neste caso) ves, 'montanha' (que aparece em vários topónimos europeus, como Vesúvio). Existe o derivado Viseus.
Há outros rios com a raiz vocabular e possíveis cognatos em an-, como o rio Annan no sudoeste da Escócia, no condado de Dumfries and Galloway, mas não se sabe qual o seu significado pelo que será oriundo de línguas pré-celtas e pré-romanas muito antigas. Pode ter origem no vocábulo de uma língua pré-celta para "rio" (talvez ibérico, nome genérico para língua pré-celta).
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