Nas últimas décadas, observa-se o crescimento ininterrupto dos casos de suicídio no Brasil. Os números são especialmente preocupantes entre jovens. Em um período de 28 anos, houve um aumento de 30% nos casos de suicídio, taxa maior do que a média das outras faixas etárias. A taxa cresce por uma conjunção de fatores. "A sociedade está cada vez menos solidária, o jovem não tem mais uma rede de apoio. Além disso, é desiludido em relação aos ideais que outras gerações tiveram", afirma Neury Botega, psiquiatra da UNICAMP.[2]
O Brasil é signatário do "Plano de Ação sobre Saúde Mental 2013–2020" da Organização Mundial da Saúde, que busca a redução da taxa de suicídio em 10% até 2020; no entanto, nos últimos dez anos, o número de suicídios no país tem aumentado, o que tem preocupado o governo.[5]
Métodos
Em 2019, realizou-se um estudo descritivo com base nos dados de óbitos por suicídio registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), entre 2010 a 2019, e de notificações de violências autoprovocadas registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em 2019. Segundo os dados, 60% dos suicídios fora através de envenenamento, 16,2% por lesão cortante, 6,2% enforcamento, %1,3 objeto contundente, 0,9% substância/objeto quente e 0,5% por arma de fogo. 83,9% da vezes, a tentativa ocorreu em casa e 40,9% da pessoas são reincidentes.[6]
Nos casos analisados de 1980 a 2006, quando o envenenamento foi o método de suicídio utilizado, 41,5% cometeram suicídio usando pesticidas e 18% usando medicamentos. Em relação ao número total de mortes ocorridas em casa, 64,5% foram causadas por enforcamento e 17,8% por armas de fogo. Por outro lado, de todas as mortes por envenenamento, 37,1% aconteceram no hospital e apenas 5,8% em casa. Nas ruas ou áreas públicas, a maioria das mortes envolveu o uso de armas de fogo (24,7%). Neste estudo, em relação aos métodos de escolha para o suicídio, as mulheres só predominaram sobre os homens no uso de medicação como método.[7]
No Brasil, os casos de intoxicações ocupacionais por agrotóxicos (fitossanitários) aparecem em queda enquanto o número de intoxicações propositais para fins de suicídio estão em alta, no entanto o SINITOX, Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas informa que "o menor número de casos de intoxicações e envenenamentos registrado nas estatísticas publicadas pelo Sinitox, nos últimos anos, ocorreu em virtude da diminuição da participação dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) nestes levantamentos".[8]
Tabela da evolução das intoxicações por agrotóxicos no Brasil[9]
Evolução das intoxicações com produtos fitossanitários no Brasil, tendo como causas a ocupacional e a tentativa de suícidio no período 1987-2013 levantadas na casuística do SINITOX (Goellner, 2018)
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Dados estatísticos
No Brasil, de acordo com estimativas oficiais do DATASUS, foram contabilizadas 195.979 mortes autoprovocadas entre 1996 e 2017, aos se considerar a distribuição por sexo, do total de mortes, 79,02% foram de homens, isso significa que para cada mulher que se mata, há, em média, quatro indivíduos do sexo oposto que cometem suicídio.[10]
No Rio Grande do Sul, há fortes indícios de que o problema possa estar relacionado à cultura do tabaco e aos agrotóxicos usados nas lavouras, pesticidas com manganês aumentam o risco de provocar danos ao sistema nervoso central.[11] Em 2015 suicidaram-se 10 pessoas — na maioria agricultores — em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha com cerca de 102 mil habitantes, conhecida como capital do fumo,[12] a cidade de Venâncio Aires, vizinha de Santa Cruz chegou a 37,22 casos por 100 mil habitantes.[12]
Por unidade federativa
O número de suicídios na tabela a seguir foi calculado a partir da soma das ocorrências de lesões autoprovocadas voluntariamente do Grande Grupo CID 10: X60-X84, os dados foram obtidos do Datasus.[13][14]
UF
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Total
Rondônia
1.068
1.050
1.221
1.104
1.221
1.358
1.490
1.410
1.414
1.408
1.377
1.112
1.306
1.436
1.528
1.397
1.566
1.406
1.479
1.508
1.571
1.458
1.290
1.314
32.492
Acre
310
342
331
246
302
321
407
360
287
337
375
357
355
387
439
488
531
522
550
507
655
820
689
625
10.543
Amazonas
1.199
1.240
1.299
1.233
1.352
1.255
1.349
1.389
1.476
1.517
1.671
1.681
1.948
1.991
2.263
2.527
2.678
2.596
2.721
2.989
2.821
3.005
2.928
3.030
48.158
Roraima
268
273
334
397
348
328
344
305
342
316
335
385
337
351
372
350
419
506
435
536
474
590
698
591
9.634
Pará
2.150
2.363
2.494
2.322
2.233
2.632
3.047
3.223
3.367
3.926
4.277
4.385
5.232
5.200
6.125
5.744
6.197
6.487
6.657
6.850
7.432
7.714
7.569
6.487
114.113
Amapá
347
298
334
345
339
389
429
411
403
429
439
406
429
421
503
488
536
545
543
554
600
634
652
631
11.105
Tocantins
509
520
617
579
657
709
720
770
832
782
833
946
954
1.051
1.185
1.211
1.236
1.262
1.319
1.393
1.525
1.568
1.456
1.377
24.011
Maranhão
1.384
1.531
1.709
1.341
1.611
1.832
2.030
2.229
2.255
2.729
2.738
3.143
3.502
3.585
3.887
4.135
4.663
5.026
5.580
5.382
5.452
5.076
4.811
4.514
80.145
Piauí
665
679
737
735
1.035
1.102
1.198
1.273
1.354
1.406
1.717
1.654
1.789
1.860
1.975
2.083
2.314
2.366
2.619
2.477
2.584
2.414
2.472
2.261
40.769
Ceará
3.469
3.591
3.168
3.765
3.941
4.073
4.480
4.765
4.904
5.110
5.268
5.645
5.801
5.849
7.047
7.420
8.433
9.081
9.297
8.824
8.129
9.807
9.186
6.826
147.879
Rio Grande do Norte
1.343
1.386
1.272
1.311
1.530
1.452
1.509
1.508
1.621
1.680
1.730
1.934
2.084
2.286
2.162
2.414
2.544
2.763
2.978
2.892
3.180
3.580
3.144
2.595
50.898
Paraíba
1.523
1.387
1.376
1.280
1.391
1.242
1.732
1.584
1.934
1.970
2.134
2.144
2.494
2.731
2.907
3.093
3.191
3.269
3.173
3.246
3.156
3.095
3.036
2.666
55.754
Pernambuco
6.235
6.940
7.461
7.200
7.448
7.614
7.472
7.451
7.407
7.607
7.799
8.148
8.157
7.968
7.646
7.771
7.483
7.291
7.480
8.212
9.114
9.770
8.639
8.189
186.502
Alagoas
1.669
1.671
1.665
1.479
1.671
1.781
1.986
2.028
2.083
2.198
2.691
2.984
2.956
3.060
3.403
3.572
3.367
3.514
3.463
2.986
3.096
3.133
2.683
2.383
61.522
Sergipe
1.176
1.000
1.079
1.132
1.181
1.249
1.305
1.230
1.312
1.304
1.372
1.339
1.457
1.641
1.781
1.764
1.955
2.165
2.167
2.444
2.483
2.323
2.112
1.957
38.928
Bahia
5.918
6.189
6.339
6.141
6.299
6.506
7.260
7.345
7.518
7.633
8.435
9.440
10.653
11.493
12.168
11.968
13.233
12.545
13.047
12.751
13.707
13.785
13.096
12.893
236.362
Minas Gerais
10.026
10.139
9.835
8.790
8.202
8.876
9.598
10.806
11.445
11.671
12.183
12.415
12.187
12.681
12.931
14.263
14.237
14.170
14.845
14.002
14.032
14.324
12.782
13.113
287.553
Espírito Santo
2.785
2.884
3.172
2.870
2.936
2.972
3.228
3.191
3.273
3.317
3.574
3.881
3.984
3.930
3.944
3.804
3.995
3.894
3.922
3.639
3.433
3.782
3.409
3.302
83.121
Rio de Janeiro
17.208
16.399
15.810
15.206
14.858
15.024
16.078
15.640
14.990
15.039
14.938
15.189
14.420
14.184
13.794
13.765
13.066
13.525
14.069
13.263
14.563
14.634
14.705
13.969
354.336
São Paulo
33.137
32.781
32.134
34.108
33.896
34.009
32.958
31.395
29.492
27.523
25.013
23.241
23.837
24.048
24.151
24.276
25.041
24.156
25.095
23.450
22.526
22.194
21.985
21.749
652.195
Paraná
7.126
6.990
6.772
6.628
6.812
6.950
7.254
7.655
8.378
8.354
8.463
8.832
9.074
9.286
9.535
9.376
9.832
8.935
8.912
8.723
9.022
8.603
8.549
8.388
198.449
Santa Catarina
3.811
3.724
3.190
3.266
3.312
3.394
3.688
3.764
3.890
3.951
3.852
3.952
4.132
4.039
4.115
4.245
4.285
4.062
4.447
4.243
4.334
4.621
4.251
4.329
94.897
Rio Grande do Sul
6.812
6.889
6.484
6.422
6.555
6.602
6.910
6.889
7.022
6.930
6.976
7.278
7.397
7.358
7.257
7.167
7.575
7.766
7.963
7.895
8.436
8.643
8.022
7.612
174.860
Mato Grosso do Sul
2.002
1.974
1.656
1.621
1.645
1.653
1.846
1.853
1.957
1.945
1.955
2.006
2.004
2.110
2.120
2.224
2.187
2.191
2.224
1.986
2.105
2.062
1.985
1.910
47.221
Mato Grosso
1.882
1.956
2.053
2.075
2.376
2.338
2.581
2.483
2.563
2.585
2.479
2.495
2.734
2.912
2.861
2.815
3.027
3.177
3.329
3.065
3.079
3.021
2.922
2.784
63.592
Goiás
3.397
3.740
3.563
3.716
3.650
3.723
4.081
3.977
4.310
4.344
4.128
4.294
4.865
4.921
5.279
5.542
6.371
6.575
6.728
6.607
6.579
6.452
6.185
5.829
118.856
Distrito Federal
1.737
1.614
1.585
1.582
1.596
1.570
1.570
1.723
1.641
1.622
1.636
1.746
1.848
1.918
1.878
1.940
2.051
1.888
1.900
1.712
1.773
1.549
1.558
1.476
41.113
Ano do Óbito
Óbitos p/Residênc
1996
119.156
1997
119.550
1998
117.690
1999
116.894
2000
118.397
2001
120.954
2002
126.550
2003
126.657
2004
127.470
2005
127.633
2006
128.388
2007
131.032
2008
135.936
2009
138.697
2010
143.256
2011
145.842
2012
152.013
2013
151.683
2014
156.942
2015
152.136
2016
155.861
2017
158.657
2018
150.814
2019
142.800
TOTAL
3.265.008
Na faixa etária de 11 a 19 anos
A maioria dos casos decorre de morte por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (63,2% entre homens e 42,8% entre mulheres), disparo de arma de fogo (21,4% entre homens e 9,2% entre mulheres) e pesticidas (17,6% entre mulheres e 3,3% entre homens). Em comparação com as outras faixas etárias, o uso de pesticidas, outros produtos químicos e substâncias nocivas (7,3% entre mulheres e 2,3% entre homens)e outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas (5,7% entre mulheres 0,2% entre homens) aparecem como métodos de suicídio em destaque.[carece de fontes?]
Na faixa etária de 20 a 59 anos
A maioria dos casos decorre de morte por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (59,7% entre homens e 40,4% entre mulheres), disparo de arma de fogo (16,6% entre homens e 9,5% entre mulheres) e pesticidas (12,1% entre mulheres e 5,6% entre homens).[carece de fontes?]
Na faixa etária de 60 anos e mais
A maioria dos casos decorre de morte por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (59,7% entre homens e 40,4% entre mulheres), disparo de arma de fogo (16,6% entre homens e 9,5% entre mulheres) e pesticidas (12,1% entre mulheres e 5,6% entre homens). Em comparação com as outras faixas etárias, a precipitação de um lugar elevado (7,7% entre mulheres e 2,8% entre homens) e uso de fumaça, fogo e chamas (7,7% entre mulheres e 1,1% entre homens) aparecem como métodos de suicídio em destaque.[carece de fontes?]
Ações do Ministério da Saúde
Portaria nº 1.876, institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio a ser implantadas em todas as unidades federadas.[15]
Portaria nº 3088/2011, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).[16]
Portaria nº 1271, a qual define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, torna as tentativas de suicídio e o suicídio agravos de notificação compulsória imediata em todo o território nacional.[17]
Portaria nº 3.479, institui o Comitê Gestor para elaboração de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio no Brasil em consonância com as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio e com as Diretrizes Organizacionais das Redes de Atenção à Saúde.[18]
Portaria Nº 3.491, institui incentivo financeiro de custeio para desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral à saúde direcionados para prevenção do suicídio no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS).[19]
Em setembro de 2017, o MS lançou o Boletim Epidemiológico 2017[20] e a Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017–2020.[21]
Em outubro de 2017, o Ministério da Saúde elaborou a cartilha Suicídio. Saber, agir e prevenir para orientar jornalistas na divulgação e abordagem de casos de suicídio, Algumas das dicas são: não divulgar detalhes sobre como o suicida se matou, evitar a palavra suicídio em manchetes e chamadas, assim como termos valorativos, como "cometeu" suicídio.[22]
O Brasil está entre os países que assinou o Plano de Ação em Saúde Mental 2015–2020 lançado pela Organização Pan-Americana da Saúde com objetivo de acompanhar o número anual de mortes e o desenvolvimento de programas de prevenção; a redução da taxa de mortalidade faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.
↑«Boletim Epidemiológico 33»(PDF). Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde. 17 de setembro de 2021. p. 6. Consultado em 24 de abril de 2022
↑«Dados de intoxicação». SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Consultado em 29 de setembro de 2019. Informamos aos usuários que o menor número de casos de intoxicações e envenenamentos registrado nas estatísticas publicadas pelo Sinitox, nos últimos anos, ocorreu em virtude da diminuição da participação dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) nestes levantamentos. Portanto, o número de casos de intoxicações e envenenamentos registrado pelos CIATs não vem decrescendo no país. A comparação de dados entre os anos deve ser realizada com cautela, buscando-se, idealmente, utilizar registros provenientes dos mesmos CIATs.