Senhoras de SantanaAs Senhoras de Santana foram um grupo brasileiro formado no começo da década de 1980 que protestava contra a sexualidade e sua discussão na televisão, defendendo a censura.[1] Ao lado da organização Tradição, Família e Propriedade, foi um dos primeiros grupos católicos tradicionalistas e conservadores a conseguir maior visibilidade nacional no século XX.[2] HistóriaO grupo ganhou este nome por morar e se reunir sempre na Rua Paderewsky, uma luxuosa rua privativa no alto do bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo. Lutavam contra o que consideravam imoral, despudorado e péssimo exemplo para os jovens na programação da televisão brasileira.[3][4] A princípio, elas se dedicavam apenas à caridade e a reuniões para reflexão sobre o Evangelho. Pouco tempo depois, passaram a organizar vigílias de oração e até protestos nas portas das estações de televisão.[3] Um dos seus atos mais lembrados foi acampar na porta dos estúdios da Rede Globo, exigindo que fosse tirado do ar o quadro da então sexóloga Marta Suplicy no programa TV Mulher, no qual ela falava abertamente sobre sexo. Não obtiveram, porém, sucesso.[5][6] Em 1980, chegaram a recolher 100 mil assinaturas em um manifesto contra a pornografia. Financiadas pelos maridos, foram a Brasília entregar pessoalmente o documento ao então Ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel.[3] A atenção que o ministro dispensou ao grupo gerou reação em editoriais de alguns jornais preocupados com um possível enrijecimento da censura no momento em que ocorria a abertura política. Uma das organizadoras do movimento, Ercília César Silveira, disse em entrevista no ano 2000 que o ministro as convidou para participar da censura e da discussão dos critérios para revistas e TV, porém disse que houve, também, demagogia.[3]
O grupo logo ganhou má fama e virou alvo de chacotas. Eram constantemente chamadas de "carolas" e "mal-amadas", entre vários outros adjetivos pejorativos, e a expressão "Senhora de Santana" virou, na época, sinônimo de pessoa chata e inconveniente. Além disso, Silveira era filha de um general, em uma época em que o país ainda estava sob o comando da ditadura militar, o que ajudou a piorar ainda mais a fama do grupo. Mesmo assim, o grupo resistiu por algum tempo, ganhando apoio de outras mulheres da sociedade, até se desfazer ainda na década de 1980 devido a ameaças de morte anônimas recebidas.[3] Atualidade
![]() As remanescentes ainda vivas hoje se recusam a falar e dar entrevistas sobre o assunto, alegando ter mágoas da mídia.[3] No ano de 2008, o jornal Valor Econômico considerou Santana como o reduto paulistano do moralismo, alegando que a religiosidade (da Igreja Católica) possui certa relevância no bairro e retratando também as "novas senhoras de Santana".[7][8] No mesmo ano, houve eleições municipais e Marta Suplicy, a "inimiga" das senhoras, obteve um péssimo apoio da zona eleitoral de Santana, com uma queda de 53% em relação às eleições anteriores. O Valor Econômico fez uma matéria desfavorável às senhoras e aos católicos conservadores do bairro. O candidato favorito do bairro foi Gilberto Kassab, que teve o apoio de 82,38% do eleitorado santanense.[9][10] Durante a polarização Bolsonarismo x Lulismo os prédios do bairro exibiam bandeiras do Brasil penduradas nas portarias dos edifícios: o presidente Jair Bolsonaro teve em Santana a sua segunda vitória mais expressiva na capital em 2018: 75,47% dos votos na zona eleitoral da região (perdendo apenas para Indianópolis, com 76,15%). A devoção a Bolsonaro. Na edição de 12 fevereiro 2021 a revista Veja São Paulo nomeou os moradores do bairro como "Santaners" (baseado nos frequentadores da região da Faria Lima - Faria Limers) com a capa: "A paixão pelos botecos, os comércios centenários e os moradores conservadores do centro da Zona Norte."[11] Na eleição para segundo turno para presidente da República, Bolsonaro recebeu da região a quarta maior votação das Zonas Eleitorais da cidade com 48,73% dos votos, sendo superado pelas ZE's da Zona Leste: Vila Formosa (Jardim Anália Franco) com 49,32%, Tatuapé com 48,98% e Mooca com 48,84%.[12] Na Eleição municipal de São Paulo em 2024 no primeiro turno a população do bairro votou majoritariamente na direita (Pablo Marçal - 30,82) % e (Ricardo Nunes - 30,53 %) contra 23,86 % de Guilherme Boulos do PSOL.[13] No século XXI a expressão "Senhoras de Santana" foi novamente utilizada para descrever grupos como: Movimento Brasil Livre [14][15] e o conservadorismo de alguns grupos sociais [16]. Referências
Ligações externasEntrevista no Observatório da Imprensa [1][ligação inativa] |
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