Santuário de Santo André de Teixido
O santuário de Santo André de Teixido é uma capela situada na paróquia de Teixido, na parte leste do concelho de Cedeira. É um famoso lugar de peregrinação, e segundo o ditado popular "vai de morto quem não foi de vivo". A romaria principal se dá todo dia 8 de setembro, dia da Virgem dos Milagres,[1] ainda que ao longo do ano se celebrem outras menos concorridas, como a do 30 de novembro, dia de Santo André, mais litúrgica. Carregado de forte significação antropológica, do ponto de vista artístico o mais notável são os reredos barrocos.[2] Considera-se que a peregrinação a esta localidade data da Idade do Ferro, mas o primeiro registro de que haja constância é do ano de 1391. Também foi citada pelo Padre Sarmiento em seu livro Viaje a Galicia (1754-1755), depois de tê-la visitado. Ao longo de todos estes séculos várias tradições foram forjadas ao redor deste culto, já formando parte de sua lenda. Lenda do santuárioHá uma lenda de clara origem popular que explica as origens do santuário. A lenda parte sempre da chegada de Santo André ou dos seus restos a este ponto da geografia galega. Neste ponto a lenda separa-se em duas versões, na primeira, Santo André queixa-se ao Nosso Senhor do afastado e montesinho do sítio que vai fazer que nenhum romeiro se aproxime até tão longe,[3] ao que Cristo responde: Fique aqui, Santo André,/que de mortos ou de vivos/todos te virão ver. Noutra versão, Santo André compara-se com seu companheiro de apostolado, São Tiago, que tem templo grande, caminho de reputado e milhares de romeiros, enquanto que ele apenas tem fiéis que lhe rezem. Também neste caso o Senhor promete compensar-lhe o suposto ultraje assegurando-lhe que hão-de ir de mortos os que não foram de vivos. PeregrinaçãoOs romeiros tinham o costume de botar uma pedra nos moledros situados em ambos os dois lados do caminho (contam-se até vinte moledros entre o lugar de Veriño de Abaixo e Teixido). As pedras do moledro diz a lenda que "falaram" no Juízo Final para dizer quem cumpriu com a promessa de ir a Santo André. A peregrinação a Teixido considera-se[4] que se deu já a partir da Idade do Ferro, quando a cultura castreja. Porém, o primeiro registo da existência de peregrinação dá-se no ano de 1391, no testamento duma senhora de Viveiro, que diz[5] "mando ir por mim em romaria a Santo André de Teixido, porque lho tenho prometido, e que lhe ponham no altar uma vela do tamanho de uma mulher do meu estado".[6] Curiosamente, na zona de Cotobade, a Via Láctea é chamada de "Caminho de Santo André", e afirma-se que termina acima da capela do santuário.[7] Segundo a descrição de Otero Pedrayo:
O temploHistóriaA capela encontra-se situada na serra da Capelada, perto das falésias sobre o mar. O Pai Sarmiento refere-se no ano 1703 a esta igreja como pequena, velha e indigna na que, excepto o retábulo, não existia adorno algum. O templo tem a sua origem num mosteiro do que se tem constância da sua existência desde o século XII, sob a proteção dos condes de Trava. Em 1196 foi entregue à Ordem de São João de Jerusalém, que tinham a sua base em Portomarín. Tempo mais tarde, o templo passou às mãos dos Andrade de San Sadurniño (família da que se conservam os seus escudos na fábrica, junto com a cruz dos cavaleiros de Jerusalém e a legenda "D SAN IVAN"). Esta dupla dependência do santuário configurou-se como uma fonte de conflitos para o controlo das ganâncias romeiras, como o longo litígio pelos dízimos entre os Andrade e o priorado de Portomarín. Contraditoriamente esta instabilidade coincidiu com uma bonança económica do santuário materializada na construção do retábulo barroco em 1624, chegando à reedificação do presbitério em 1665 e da nave em 1785. DescriçãoAtendendo a sua estrutura trata-se dum templo gótico de tipologia marinheira. O elemento que conserva mais antigo é o arco triunfal, de tipo apontado. As partes mais antigas correspondem à época dos Andrade: a abside que era inicialmente abobadada e a porta lateral composta por um arco conopial de tipo isabelino (próprio do gótico tardio), e que deveu de servir de porta principal do templo desde o século XV ao XVIII. Este desenho foi complementado com a construção da nova fachada e a torre campanário, terminada em 1781 graças ao aumento dos benefícios produto do auge romeiro da época. No ano 1970 descobriram-se pinturas murais com a representação do martírio de Santo André. Lendas e tradiçõesA alma do morto levada por familiaresO que se ofereceu a Santo André e não foi de vivo, deve ir de morto, e para isso um jeito de cumprir com a romaria é com a ajuda dos seus familiares vivos (normalmente dois) acompanhando a alma do morto.[9] Antes de começar a peregrinação, os parentes vão ao cemitério onde se encontra a tumba do defunto, para convidar ao espírito do morto a fazer a viagem com eles. O pão de Santo AndréCom miolo do pão fazem-se "sanandresiños", figuras representativas da romaria. Inicialmente havia três figuras: um homem, uma mulher e uma pomba. Hoje em dia são cinco as figuras representadas e são:
A fonte dos três canosA fonte dos três canos, ou "fonte do santo", consultavam-lhe sobre se Santo André concederia ou não o que se lhe pedia. Para isso, botava-se uma migalha de pão. Se flutuava, era porque o santo atenderia a súplica. Se alagava, não havia esperança. Segundo outra versão, se a migalha de pão flutuava, o interessado regressaria de novo a Santo André. A erva-de-namorarA erva-de-namorar (Armeria pubigera) dá-se nos arredores de Teixido, e dizem ser boa para solucionar os problemas de amores. O ramoUma das tradições consiste em voltar da romaria com o ramo de Santo André. O ramo consiste numa vara de aveleira e, atados nela, vários raminhos de teixo. Ao ramo também se lhe põe algo de "erva-de-namorar". Cantigueiro ao Santo André
GaleriaReferências
Bibliografia
Ligações externas
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