Salvador Barata Feyo
Salvador Carvão da Silva de Eça Barata Feyo (Moçâmedes, África Ocidental Portuguesa, Portugal, 5 de dezembro de 1899[1] – Lisboa, Portugal 31 de janeiro de 1990) foi um escultor e professor português. Destaca-se como figura maior da segunda geração de escultores modernistas portugueses, sendo autor de uma obra vasta e diversificada com particular incidência na estatuária de caráter oficial, no retrato e na escultura de temática religiosa, na medalhística, no desenho. Teve importante ação pedagógica enquanto professor da Escola de Belas-Artes do Porto. BiografiaFilho de Júlio César Barata Feyo, Oficial do Exército cuja vida militar decorreu em grande parte no Ultramar, onde exerceu elevados cargos, e de sua mulher Josefina Alice da Silva Carvão, Salvador Barata Feyo nasceu em Moçâmedes. Frequentou o Colégio Militar, depois o Liceu de Coimbra, completando os dois últimos anos do ensino secundário de novo em Lisboa. Formou-se em escultura na Escola de Belas-Artes de Lisboa (c. 1929) onde teve como professores: José Luís Monteiro, arquitetura; Ernesto Condeixa e Luciano Freire, desenho; Columbano Bordalo Pinheiro, pintura; Simões de Almeida (Sobrinho), escultura; etc. Em 1933 fez uma permanência em Itália (Nápoles, Roma, Florença) como bolseiro do Instituto de Alta Cultura.[2] Participou em diversos Salões da SNBA (premiado com a Segunda Medalha, 1930) e do S.P.N./S.N.I. (Prémio Mestre Manuel Pereira, 1945 e 1951). Participou em muitas outras mostras coletivas, entre as quais: I e II Salão dos Independentes, SNBA, Lisboa, 1930 e 1931; Feira Mundial de Nova Iorque, 1939; Exposição do Mundo Português, Lisboa, 1940; XXV Bienal de Veneza, 1950; II Bienal de S. Paulo, São Paulo, 1953; I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957 (Grande Prémio de Escultura); Exposition Universelle et Internationale de Bruxelles, Bruxelas, 1958; Art Portugais, Paris, 1968; etc. Em 1963 expôs na Sociedade Nacional de Belas Artes com Almada Negreiros, António Soares e Jorge Barradas.[3][4][5] Venceu o 3.º concurso para o monumento ao Infante D. Henrique, Sagres, em associação com o arquiteto João Andresen; a obra não se concretizou e a escultura de Barata Feyo, numa escala menos ambiciosa do que o previsto no projeto, foi exposta no Pavilhão Português da Feira de Bruxelas (1958), sendo posteriormente instalada na Praça Portugal (Brasília). Barata Feyo foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 28 de Julho de 1933 e o Prémio Nacional de Artes em 1960.[4][5][6]. Expôs individualmente na Galeria Buchholz, Lisboa (1944) e no Museu de Viana do Castelo (1956). Também a 1ª Exposição Magna da Escola Superior de Belas-Artes do Porto (apresentada nas instalações da escola em outubro de 1952), seria, embora sem essa denominação, uma exposição individual de Barata Feyo. E em 1981 essa mesma instituição organizou uma exposição retrospetiva da sua obra. Entre as suas publicações podem destacar-se: A Escultura de Alcobaça (Ed. Ática, 1945) e José Tagarro (Ed. Ática, 1960). Publicou também prefácios de catálogos de exposições (Carlos Botelho, 1954; António Carneiro, 1952 e 1958; etc.) e artigos no jornal O Comércio do Porto (O pintor Manuel Bentes; Diogo de Macedo; Rembrandt, etc.).[7] Foi professor da Escola de Belas Artes do Porto (1949-1972) e subdiretor dessa mesma instituição (1958-…). Foi diretor do Museu Nacional de Soares dos Reis (1950-1960). Tem obra de estatuária em diversas localidades de Portugal, em Brasília, na Cidade do Cabo; está representado em numerosas coleções, públicas e privadas, entre as quais: Museu do Chiado; Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Fundação Calouste Gulbenkian; Museu Nacional de Soares dos Reis. O Museu Barata Feyo, no Centro de Artes das Caldas da Rainha, acolhe um importante acervo de obras de obras de sua autoria.[8] ObraA escultura Primeiro Cânone, 1929, hoje desaparecida, é a sua primeira obra de relevo realizada autonomamente. Barata Feyo apresenta-nos um homem ereto e forte, "dum realismo simbólico, algo expressionista e rodinesco", que apresentaria com sucesso no Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes desse ano[9]. "Foi a minha primeira obra sem finalidade escolar", diria o escultor em 1981. "Queria que fosse um começo. Foi-o, com efeito, como primeira obra. Foi-o também como reação contra o cânone académico estabelecido. Primeira também de outro modo. Porque quis exprimir, simbolicamente, a origem do homem. Do homem como espécie, os primeiros passos desses longuíssimos levantar e despertar de que a história procura ser a memória, e do homem como ser, do indivíduo e do seu esforço para se levantar e verticalizar."[10]. "Manifestando uma fase ainda intensa de indagação e pesquisa, característica de um período de formação atento a valores de modernidade", Busto de José Tagarro, 1930, prolonga de algum modo a direção formal de Primeiro Cânone; o retrato do pintor seria exposto no I Salão dos Independentes desse mesmo ano, integrando-se bem no espírito renovador então pretendido, nomeadamente pela adesão a uma estética expressionista que diluía os traços fisionómicos e afirmava a plasticidade do suporte.[11] Barata Feyo vai estar atento à caracterização de cada figura representada, com especial enfase na sua dimensão psicológica, refletindo o conhecimento íntimo dos retratados (como acontece nos retratos dos que lhe estão próximos) ou o estudo de testemunhos e outros elementos documentais. "Dado o número de obras que fiz representando vultos destacados da nossa história, e com particular relevo de homens de letras, foi esse um método que tive que utilizar bastante", afirmaria o escultor em 1981.[12] Essa atenção está presente de modo muito claro na série de escritores (Alexandre Herculano, 1945; Almeida Garrett, 1945; Antero de Quental, 1946; Monumento Almeida Garrett, 1951), onde retrata os modelos buscando uma iconografia apropriada a cada caso. "A inspiração romântica de Garrett [na obra de 1945] esvoaça-lhe a longa capa, que se cola angustiadamente ao corpo de Antero, e o capote de Herculano é toda a severidade do homem". Se este formulário de panos que envolvem os corpos é uma constante na sua geração, "em nenhum outro colega seu eles atingem, em linguagem plástica, um tal poder expressivo ao nível dos significantes". A estátua de Bartolomeu Dias na Cidade do Cabo faz idêntica opção estética, "e o movimento estilizado da roupagem enfunada e duramente contrastada é movimento do próprio corpo". Os condicionalismos do contexto histórico e cultural em que trabalha irão levá-lo, por vezes, a soluções aquém das suas possibilidades reais, revelando marcas de uma formação tradicional "que só a inteligência formal do artista resolve em bem, caso a caso, na medida em que lhe é esteticamente e nacionalmente possível". Em qualquer caso, Barata Feyo "confirma o primeiro lugar de escultor da segunda geração – lugar que a sua ação de professor da Escola de Belas-Artes do Porto, de 49 a 72, acrescenta com positivo reflexo na geração que dessa escola saiu, nos anos 50-60".[13] Algumas obras
E ainda
Referências
Bibliografia
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