Rinchen Zangpo
Rinchen Zangpo, Rinchen Sangpo, Rinchen Tsang Po ou Lochen Rinchen Sangpo (em tibetano: རིན་ཆེན་བཟང་པོ་; Wylie: rin chen bzang po; Khatse Wingir, Ngari, 958[1][2] — Khatse Wingir, 1055),[3] também conhecido como Rinchen Wangchuk, Chai Dongpachen e Mahaguru Ratnabhadra, foi um dos principais lotsawas (tradutores de textos budistas em sânscrito para tibetano) durante o chamado período da "Escola da Nova Tradução" ou "Escola do Novo Mantra", que marcou a segunda difusão do budismo no Tibete. Rinchen Zangpo foi provavelmente a figura mais importante desse período, também conhecido como "Segunda Propagação do Budismo" no Tibete.[4] As suas traduções incluem o Viśeṣastavaṭikā de Prajñāvarman, um autor budista do século VIII.[5] Juntamente com Drokmi Sakya Yeshe (c. 992~994 – 1074~1077), é considerado o iniciador da corrente Sarmapa.[6] No entanto, contrariamente a Drokmi, não está inscrito em nenhuma das linhagens das escolas Sarmapa, embora seja comum ligá-lo a posteriori à corrente Kadampa, devido a ter sido brevemente discípulo de Atisha (982–1054).[4][7] Um dos seus associados famosos foi (Lochen) Legpai Sherab. Um dos discípulos de Zangpo, Guge Kyithangpa Yeshepal, escreveu a sua biografia.[8] Segundo a tradição, Rinchen Zangpo construiu 108 mosteiros no Tibete Ocidental e no que é hoje o Ladaque e o Himachal Pradexe, então possessões do reino de Guge, incluindo o célebre mosteiro de Tabo, no vale de Spiti e de Poo, em Kinnaur.[9] BiografiaRinchen Zangpo nasceu numa cidade chamada Khatse Wingir (khwa tse wing gir), no que é atualmente a prefeitura de Ngari, Tibete Ocidental. Pertencia ao clã Yudra (g.yu sgra),[nt 1] o que pode indicar que não era de etnia tibetana. Os seus pais chamaram-lhe Rinchen Wangchuk (rin chen dbang phyug). Teve uma irmã e dois irmãos, um mais velho e outro mais novo que ele. A irmã e o irmão mais novos fizeram votos religiosos. Embora os seus pais não fossem budistas, segundo a tradição, apoiaram a sua aspiração de criança de seguir a fé budista.[1] Foi ordenado monge quando tinha 13 anos.[10] pelo khenpo Yeshe Zangpo (mkhan po ye shes bzang po, d.u.). Em 975, quando ainda era adolescente, convenceu os pais a autorizarem-no a ir para a Índia estudar budismo. Segundo outras versões, essa sua ida para a Índia, mais precisamente Caxemira, deveu-se a uma ordem rei-monge de Guge Yesh-es-od (ca. 959–1040), que enviou 21 jovens monges para estudarem em centros budistas indianos e trazerem os seus ensinamentos para o Tibete.[1][11] Algumas fontes identificam-o ou confundem-o com o seu patrono Yesh-es-od.[1] Rinchen Zangpo esteve em Caxemira durante treze anos, onde estudou budismo. Depois de algum tempo em Guge, voltou à Índia pelo menos uma vez (algumas fontes referem três idas à Índia), durante seis anos, acompanhado por alguns discípulos.[2] Entre os seus mestres indianos (no total mais de 75, segundo algumas fontes)[7] incluem-se Sradhakavarma (bram ze bde byed go cha), Legpa Zangpo, Gunamitra Pandita, Dharmasanta, Buddhashila e Kamala Gupta Pandita[2] Segundo a lenda, quando voltou ao Tibete após a estadia em Caxemira, Rinchen Zangpo usou os seus conhecimentos budistas para desmascarar um mestre que atraía uma grande multidão levitando. Rinchen Zangpo terá apontado um dedo para ele, fazendo-o cair; o levitador fugiu e nunca mais se ouviu falar dele. Foi este incidente que o tornou conhecido pelo rei Yesh-es-od, algo que contradiz as versões mais comuns da história de Rinchen, segundo as quais ele teria ido para a Índia por ordem do rei ou patrocinado por este.[7] Yesh-es-od, cujo nome original era Songnge (srong nge) — Yesh-es-od ou Yeshe-Ö é uma abreviatura do seu nome de monge, Lha Lama Yeshe O (lha bla ma ye shes ´od) — estava empenhado em reformar e reavivar o budismo no Tibete, expurgando aquilo que ele considerava corrupções tibetanas da religião, que cresciam desde o colapso da Dinastia Yarlung em meados do século IX.[7] No seu regresso ao Tibete, Rinchen Zangpo levou consigo vários pânditas indianos,[7] com os quais fundou um centro de tradução de textos em sânscrito para tibetano, onde foram produzidos mais de 150 textos, dos quais os mais influentes foram o Tantra de Guhyasamaja, o Coral do Nome de Manjusri (Ârya-Mañjushrî-Nâmasangîti ou Mañjuśrīnāmasamgīti) e o Trantra de Chakrasamvara (Discurso de Sri Heruka).[carece de fontes] Rinchen Zangpo só conheceu grande mestre bengalês Atisha quando era bastante idoso (85 anos segundo algumas fontes).[12] Atisha foi insistentemente convidado por Yesh-es-od para ensinar o darma budista, mas quando finalmente aceitou deixar o seu mosteiro de Vikramashila (atualmente no estado indiano de Biar) já reinava em Guge Chang-chub-od (ou Jangchub Ö), o sucessor de Yesh-es-od.[nt 2] Conta-se que quando Atisha chegou a Toling, a capital de Guge, o único monge que não se levantou para o saudar em sinal de respeito foi Rinchen Zangpo, que deve ter ficado muito irritado por se sentir preterido. No entanto, de acordo com a tradição, o velho Rinchen acabou por ser conquistado pelo brilho intelectual do mestre indiano, a cujos pés acabou por se sentar. Atisha passou os últimos doze anos da sua vida no Tibete, primeiro no Tibete Ocidental — esteve dois anos em Tholding — e depois no Tibet Central. É a ele que se deve a introdução do budismo Vajrayana, com o seu esoterismo tântrico, no Tibete, e também a fundação da escola Kadampa, percursora da Gelugpa.[13] Rinchen Zangpo aperfeiçoou com Atisha os seus conhecimentos do Trantra de Chakrasamvara.[carece de fontes] Quando esteve em Caxemira, Rinchen Zangpo estou também o tratado de medicina ayurvédica Ashtanga Samhita (em tibetano: Yan-lag brGyad-pa’i sNying-po bsdus-par) e o seu comentário Chandrika (Dhaser), além do tratado veterinário sobre cavalos Shalihotra Asvayur Samhita. A sua tradução destes textos contribui para o avanço da medicina tibetana.[14] Rinchen Zangpo é também conhecido por ter sido o fundador de numerosos mosteiros (108 segundo a tradição, um número sagrado na numerologia budista), situados no Ngari e no que são hoje o Ladaque e o Himachal Pradexe, no norte da Índia. Entre estes figuram o de mosteiro de Tabo, no vale de Spiti, Poo, em Kinnaur,[9] Myarma (ou Nyarma)[nt 3] no Ladaque (então chamado Maryul), Khachar em Burang e mosteiro real de Toling em Guge.[16][nt 4] Os seus quatro principais discípulos foram Lochung Legpe Sherap, Gungshing Tsöndru Gyaltsen, Drapa Shönu Sherap e Kyinor Jnana. A sua biografia foi escrita por Gugé Kyithangpa Yeshepal.[8] Segundo a tradição, as suas relíquias foram depositadas num chorten do Lakhang Karpo do mosteiro de Toling, na capital de Guge.[carece de fontes] É considerado uma encarnação de Rastrapala, um discípulo de Buda.[16] Notas
Referências
Bibligrafia
Ligações externas
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