Caxemira

Nota: Se procura o idioma homônimo, veja Língua caxemira; para a canção da banda Led Zeppelin, veja Kashmir (canção); para a estampa também conhecida por paisley, veja Caxemira (estampa).
Mapa mostrando os territórios disputados: verde: Caxemira Livre e Territórios do Norte, sob controle do Paquistão; marrom-escuro: Jamu e Caxemira, sob controle da Índia; Aksai Chin, sob ocupação da China.

A Caxemira[nota 1] é uma região do norte do subcontinente indiano, hoje dividida entre a Índia, o Paquistão e a China. O termo "Caxemira" descrevia historicamente o vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia. Atualmente, o termo "Caxemira" politicamente descreve uma área muito maior, que inclui as regiões de Jamu, Caxemira e Ladaque.

O nome da região é também sinónimo de material têxtil de alta qualidade, devido à lã de caxemira, produzida a partir das cabras nativas dessa região.

Etimologia

A denominação da região, em algumas das línguas dos povos que a habitam, escreve-se کٔشِیر em língua caxemira, کشمیر em balti, कश्मीर em dogri e كھسىمڭر em uigur. O Nilamata Purana descreve a origem do vale das águas, um fato corroborado por proeminentes geólogos, e mostra como o próprio nome da terra foi derivado do processo de dessecação - Ka significa "água" e Shimir significa "dessecar". Assim, Caxemira significa "uma terra dessecada da água". Há também uma teoria que leva Caxemira a ser uma contração de Kashyap-mira ou Kashyapmir ou Kashyapmeru, o "Mar ou Montanha de Kashyapa", o sábio que se acredita ter drenado as águas do lago Satisar primordial, que Caxemira foi antes de ser recuperado. O Nilamata Purana dá o nome Kashmira ao (Caxemira Valley inclui o Lago Wular) "Mira", que significa o lago do mar ou a montanha de Sábio Kashyapa. Mira em sânscrito significa oceano ou fronteira, considerando-a como uma encarnação de Uma e é a Caxemira que o mundo conhece hoje. Os Caxemira, no entanto, chamam-no de 'Kashir', que foi derivado foneticamente de Caxemira. Os gregos chamavam-no de 'Kashyapa-pura', que foi identificado com Kaspapyros de Hecataeus (apud Stephanus de Byzantium) e Kaspatyros de Herodotus (3.102, 4.44). Caxemira também é acreditado para ser o país significado por Ptolemy 'Kaspeiria': 'Caxemira' é uma ortografia arcaica da atual Caxemira e, em alguns países, ainda é escrita dessa maneira. Uma tribo de origem semítica, chamada 'Kash' (que significa uma barra profunda, no dialeto nativo), acredita-se ter fundado as cidades de Caxã e Kashgar, para não ser confundido com a tribo de Kashyapi de Caspian. Terra e pessoas eram conhecidas como 'Kashir', das quais 'Cachemira' também era derivado daí. Foi chamado "Kaspeiria" pela Grécia Antiga. Em literatura clássica, Herodotus chama-o "Kaspatyrol".[1] Tibet ans chamado Khachal, que significa "neve e montanha". É, e tem sido, uma terra de rio s, lago s e flores silvestres s. O Rio Jhelum corre todo o comprimento do vale.[2]

Disputas pelo território

Ver artigo principal: Conflito na Caxemira

Tensões constantes

Atualmente localizada no norte do subcontinente indiano, a Caxemira é disputada pela Índia e pelo Paquistão, desde o fim da colonização britânica. As tensões na região têm início com a guerra de independência, em 1947, que resulta no nascimento dos dois Estados - a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Segundo uma resolução da ONU datada de 1947, a população local deveria decidir a situação política da Caxemira por meio de um plebiscito acerca da independência do território. Tal plebiscito, porém, nunca aconteceu, e a Caxemira foi incorporada à Índia, o que contrariou as pretensões do Paquistão e da população local - de maioria muçulmana - e levou à guerra de 1947 a 1948. O conflito termina com a divisão da Caxemira: cerca de um terço fica com o Paquistão (Caxemira Livre e Territórios do Norte, hoje denominados Gilgit-Baltistão) e o restante com a Índia.

Em 1962, a República Popular da China conquista um trecho de Jamu e Caxemira (Aksai Chin). No ano seguinte, o Paquistão cede aos chineses uma faixa dos Territórios do Norte. Um novo conflito, em 1965, não traz modificações territoriais. Já nos anos 1980, guerrilheiros separatistas passam a atuar na Caxemira indiana e mais de 25 mil pessoas morreram desde então. A Índia acusa o governo paquistanês de apoiar os guerrilheiros - favoráveis à unificação com o Paquistão - e intensifica a repressão. A situação da área continua tensa, pois além do conflito com o Paquistão, existe atualmente um forte movimento pró-independência na Caxemira.

Década de 1990

O conflito serve como justificativa para a militarização da fronteira e para a corrida armamentista. Índia e Paquistão realizam testes nucleares em 1998 e, em abril de 1999, experimentam mísseis balísticos capazes de levar ogivas atômicas, rompendo acordo assinado meses antes. Os dois países chegam à beira da guerra total. O primeiro-ministro ultranacionalista da Índia, Atal Vajpayee, ordena um pesado contra-ataque, que expulsa os separatistas em julho. A derrota paquistanesa leva a um golpe militar, liderado pelo general Pervez Musharraf, que depõe o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif. Índia e Paquistão travaram na Caxemira, em 1999, um confronto que se estendeu de 3 de maio a 26 de julho daquele ano, resultando em vitória indiana e em um saldo ambíguo de mortos, visto que os dois lados do conflito clamam por diferentes quantidade de mortos.

Terrorismo

Uma onda de explosões mata dezenas de civis nas maiores cidades paquistanesas, entre o final de 1999 e o primeiro semestre de 2000. Fracassam negociações de paz entre o governo da Índia e os separatistas muçulmanos da Caxemira em julho de 2000. Os combates recomeçam, assim como as ações terroristas nos territórios do Paquistão e da Índia. Em agosto de 2000, o Hizbul Mujahidine, principal grupo separatista muçulmano na Caxemira, anuncia uma trégua unilateral. A Índia suspende operações militares na Caxemira, pela primeira vez em 11 anos. As negociações fracassam diante da recusa da Índia em admitir o Paquistão na negociação de paz.

Demografia

O censo de 1901 da Índia Britânica revelou que os muçulmanos constituíam 74,16% da população total do Estado principesco de Caxemira e Jamu, frente a 23,72% de hindus e 1,21% de budistas. Os hindus encontravam-se principalmente em Jamu, onde formavam pouco menos de 80% da população.[3] No vale de Caxemira, os muçulmanos contavam 93,6% da população e os hindus, 5,24%.[3] Tais percentuais mantiveram-se relativamente inalterados nos últimos 100 anos.[4] Cerca de 40 anos depois, o censo de 1941 da Índia Britânica indicou que os muçulmanos formavam 93,6% da população do vale de Caxemira e os hindus, 4%.[4] Em 2003, o percentual de muçulmanos no vale de Caxemira era de 95%[5] e o de hindus, de 4%: No mesmo ano, em Jamu, a percentagem de hindus totalizava 66% e a de muçulmanos, 30%.[5]

Segundo o censo de 1901, a população total do Estado principesco de Caxemira e Jamu era de 2 905 578 habitantes, dos quais 2 154 695 eram muçulmanos (74,16%); 689 073, hindus (23,72%); 25 828, siques e 35 047, budistas. No vale de Caxemira, a população contava 1 157 394 habitantes, dos quais 1 083 766 muçulmanos (93,6%) e 60 641 hindus.[3] Conforme o censo de 2001 da Índia, a população total do estado indiano de Jamu e Caxemira era de 10 143 700 habitantes, dos quais 6 793 240 eram muçulmanos (66,97%); 3 005 349, hindus (29,63%); 207 154, siques; e 113 787, budistas.

Ver também

Notas

  1. "Caxemira", escrita dessa forma, é a única forma em língua portuguesa registrada pelos Dicionários Houaiss (Brasil), Aurélio (Brasil) e Priberam (Portugal); pela obra "Topónimos e Gentílicos" de Ivo Xavier FERNANDES (Porto: Editora Educação Nacional, Ltda., 1941. vol. I); pelo "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa" de J.P. MACHADO; e pelo "Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa" da Academia Brasileira de Letras. Não se deve usar em português, portanto, a forma Cachemira, que é, entretanto, a forma correta em espanhol. Cabe ressaltar, por fim, que em português europeu, ao contrário do português brasileiro, o uso consagrou Caxemira como nome próprio não precedido de artigo - i.e., em Portugal diz-se "em Caxemira", "de Caxemira", ao passo que no Brasil é usual ouvir "na Caxemira", "da Caxemira".

Referências

  1. name = Bamzai4.6> P. N. K. Bamzai, Cultura e História Política da Caxemira , Vol. 4-6, o chinês que visitou a Caxemira em 631 [AD] chamado de Ele Kia-shi-mi-lo
  2. Prithivi Nath Kaul Bamzai (1966). Kashmir and Power Politics from Lake Success to Tashkent. [S.l.]: Metropolitan Book Company. 341 páginas 
  3. a b c Imperial Gazetteer of India, volume 15. 1908. Oxford University Press, Oxford and London. pages 99-102.
  4. a b Rai, Mridu. 2004. Hindu Ruler, Muslim Subjects: Islam and the History of Kashmir. Princeton University Press. 320 pages. ISBN 0-691-11688-1. page 37.
  5. a b BBC. 2003. The Future of Kashmir? In Depth.
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