Red Rose Speedway é o segundo álbum de estúdio da banda anglo-americana de rockWings e o quarto álbum de estúdio do músico britânico Paul McCartney após a separação dos Beatles. Foi lançado pela gravadora Apple em 3 de maio de 1973, precedido por seu primeiro single,"My Love". Ao incluir o nome de McCartney nos créditos, o single e o álbum romperam com a tradição dos trabalhos anteriores da banda. A mudança foi feita pensando que o desconhecimento do público com a banda havia sido o fator responsável pelo fraco desempenho comercial do álbum de estreia do grupo em 1971, Wild Life.
Antes das gravações do álbum começarem, McCartney recrutou o guitarrista Henry McCullough e lançou o primeiro single da banda, "Give Ireland Back to the Irish". As sessões ocorreram ao longo de 1972 em cinco estúdios diferentes em Londres. Também foram gravados os singles "Mary Had a Little Lamb", "Hi, Hi, Hi" e "Live and Let Die". Originalmente planejado como um álbum duplo, foi condensado em um único disco a pedido da gravadora EMI, justificando que o material apresentado não era de um padrão suficientemente alto e que estava ciente das vendas modestas dos dois primeiros singles. McCullough e Denny Laine mais tarde expressaram decepção com a escolha das faixas.
Red Rose Speedway alcançou a 5ª posição na parada de álbuns do Reino Unido e o primeiro lugar na Billboard nos Estados Unidos, enquanto "My Love" liderou a Billboard Hot 100. Embora um sucesso comercial, o álbum recebeu uma resposta mista dos críticos, que consideraram as canções "medíocres". Décadas depois de seu lançamento, continua a receber críticas mistas.
Contexto
No início de 1972, Paul McCartney decidiu expandir a formação dos Wings adicionando outro guitarrista, Henry McCullough, e começar uma turnê com o grupo.[2] A banda fez uma breve turnê em fevereiro. Eles tocavam em pequenos salões, muitas vezes sem aviso prévio, para evitar o tumulto da mídia que vinha em locais mais estabelecidos.[2]
Apesar de não lançar um álbum em 1972, a banda lançou três singles enquanto preparava o sucessor de Wild Life: "Give Ireland Back to the Irish", banida pela BBC por sua mensagem política;[3] "Mary Had a Little Lamb", baseada em uma canção de ninar; e "Hi, Hi, Hi", também banida por referências a drogas e letras "sexualmente sugestivas".[2][nb 1]
Gravação
As gravações de Red Rose Speedway começaram em março de 1972.[5] Foi inicialmente planejado como um álbum duplo,[6] e McCartney decidiu incluir algumas composições inéditas que haviam sido gravadas originalmente durante as sessões de Ram em 1971, antes da formação do grupo.[5] Duas dessas canções, "Get on the Right Thing" e "Little Lamb Dragonfly", apareceriam no álbum final.[7] As sessões foram realizadas no estúdio Olympic em Londres, com Glyn Johns como produtor.[8] Na primeira sessão, Paul pediu a Johns que pensasse nele como "o baixista de uma banda" em vez de "Paul McCartney (dos Beatles)", porém depois se sentiria ofendido quando Johns o tratou devidamente como um músico comum.[9] O produtor achava que os Wings não eram uma banda genuína e não tinha o calibre dos artistas com quem ele costumava trabalhar.[10] Em pouco tempo, de acordo com o autor Howard Sounes, "Johns estava lendo um jornal na sala de controle do Olympic enquanto o grupo fumava maconha e se aglomerava sem rumo no estúdio".[11][nb 2] Em 17 de abril, Glyn Johns disse à imprensa que havia parado de trabalhar no álbum devido a um "desacordo" com McCartney e que "agora eles teriam respeito um pelo outro".[12]
Wings continuou a gravar esporadicamente entre a divulgação de seu single "Mary Had a Little Lamb".[13] Depois que a banda excursionou pela Europa em julho e agosto, outras sessões ocorreram em outubro e novembro de 1972 nos estúdios EMI (atual Abbey Road) e Olympic.[14]Morgan, Trident e Island foram os outros estúdios onde a banda gravou naquele ano.[15]
Red Rose Speedway era um disco tão inseguro. Tinha algumas músicas lindas (...) tinha "My Love" mas faltava alguma coisa. Precisávamos de um som mais pesado. Foi um período terrivelmente incerto.[16]
O álbum foi reduzido a um único disco por McCartney – de acordo com Henry McCullough, na tentativa de lançar um disco mais comercial e menos caro.[17] A decisão veio através da EMI;[18][19] que além de acreditar que o material não era de um padrão suficientemente alto,[20][21] estava atenta ao modesto desempenho comercial dos dois primeiros singles da banda.[15] O álbum termina com um medley de 11 minutos com as canções: "Hold Me Tight", "Lazy Dynamite", "Hands of Love" e "Power Cut", feito em um estilo semelhante ao presente no álbum Abbey Road dos Beatles.[22] "Power Cut" foi escrita durante a greve dos mineiros de 1972.[23] O guitarrista Denny Laine mais tarde expressou sua decepção por apenas um único disco ter sido lançado, dizendo que em sua forma original, Red Rose Speedway era "mais uma vitrine para a banda".[15] Entre as omissões estavam suas composições "I Would Only Smile" e "I Lie Around", nas quais Laine apresenta-se nos vocais principais.[24] McCullough ficou igualmente desapontado que várias das canções orientadas para o rock foram cortadas da listagem de faixas, o que favoreceu o material mais leve das sessões.[15]
"Live and Let Die", a canção-título do filme de James Bond de mesmo nome, foi gravada durante as sessões de Red Rose Speedway, mas foi inicialmente lançada no álbum Live and Let Die.[25] Denny Laine incluiu "I Would Only Smile" em seu álbum solo, Japanese Tears.[26] "Mama's Little Girl" foi gravada durante as sessões e mais tarde apareceu como o lado B do single "Put It There" em 1990.[2] Entre as outras faixas descartadas estavam "Night Out", "Jazz Street", "Best Friend" , "Thank You Darling", "The Mess" e um cover de Thomas Wayne, "Tragedy".
Arte da capa
Rompendo com a tradição adotada no disco anterior, os créditos incluíram o nome de Paul McCartney, e em vez de uma foto do grupo, apenas seu rosto aparece na capa.[27] A foto foi tirada por Linda.[28] A contracapa apresenta o pé de um pedestal de microfone e um buquê de rosas, com a imagem dentro de um fundo preto como se estivesse sendo iluminada.[28] No espaço abaixo desta imagem havia uma mensagem em braile para Stevie Wonder,[29] onde se lia "We love ya baby" (Nós te amamos, querido).[28]
A mudança do nome para "Paul McCartney e Wings" foi feita pensando que o desconhecimento do público com a banda havia sido o fator responsável pelas vendas decepcionantes de Wild Life.[30][31] Nos Estados Unidos, a Capitol estava preocupada que o posicionamento da rosa vermelha na capa pudesse tornar o rosto de Paul irreconhecível para os que fossem comprar o disco. Como nenhum crédito foi incluído na capa, a gravadora lançou o álbum com um adesivo azul no canto superior direito, identificando a banda e listando as músicas.[28]
Lançamento
O álbum foi precedido pelo lançamento de seu primeiro single em março de 1973, "My Love", acompanhado de "The Mess".[32] A última canção foi gravada ao vivo durante a turnê europeia da banda no verão de 1972.[33] Com a gravadora Apple dando preferência às duas coletâneas dos Beatles – 1962–1966 e 1967–1970[34][35] – Red Rose Speedway não foi lançado até o final de abril nos Estados Unidos, e em 4 de maio no Reino Unido.[35] "My Love" alcançou a 9ª posição na parada de singles do Reino Unido[36] e liderou a Billboard Hot 100.[37] Isso aumentou as expectativas para o álbum, que alcançou o 5º lugar no Reino Unido e foi para o top 1 nos Estados Unidos.[37]
Red Rose Speedway recebeu uma resposta mista dos críticos,[44][45] muitos dos quais consideraram suas canções como "medíocres".[15] De acordo com o autor e crítico Bob Woffinden, o álbum foi um exemplo de Paul "continuando a irritar seu público" antes que ele e os Wings finalmente ganhassem respeito com o lançamento de Band on the Run no final de 1973.[46] O crítico do Village Voice, Robert Christgau, zombou da confiança de McCartney como uma "extravagância sem rumo" e descreveu o trabalho como "possivelmente o pior álbum já feito por uma estrela do rock 'de primeira linha'".
De acordo com o autor Michael Frontani, uma crítica geralmente favorável da Rolling Stone, escrita pelo músico Lenny Kaye, significou uma reviravolta em uma imprensa que era abertamente hostil a McCartney desde 1970.[47] Frontani acrescenta: "Enquanto a música de McCartney continuaria a ser criticada por alguns comentadores tão vazios e fáceis, a crítica de Kaye parece marcar o ponto em que a arte da consequência não era mais exigida de Paul pelos críticos de rock (...)"[48] Ian Dove do New York Times observou que o trabalho de Paul continuou a empalidecer ao lado de seus ex-colegas John Lennon e George Harrison, mas considerou Red Rose Speedway seu melhor álbum até agora.[49] Escrevendo para a revista NME, Tony Tyler reconheceu que o álbum era "leve" e carente de "postura intelectual", mas acrescentou: "com todo o peso atual e pós-apocalíptico ao redor, eu estou muito feliz em descobrir um disco leve que não apenas não consegue alienar, mas na verdade consegue impressionar através da boa estrutura melódica, excelente execução e boa produção."[50]
Assim como a NME, a Rolling Stone logo mudou sua opinião sobre o Red Rose Speedway.[51] Escrevendo para o The Rolling Stone Record Guide, John Swenson disse que o álbum mostrava "os piores aspectos de Paul como artista solo e líder da banda" e estava "cheio de baboseiras fracas e sentimentais".[52] Em seu livro The Beatles Forever, Nicholas Schaffner descreveu-a como uma "música agradavelmente rechonchuda – fofa, encantadora, inofensiva e divertida [...] uma trilha sonora para tardes preguiçosas ao sol".[53]
Relançamentos
A versão em Compact Disc (CD), lançada pela subsidiária da EMI, Fame, em 5 de outubro de 1987, continha três faixas bônus: "I Lie Around", "Country Dreamer" e "The Mess". Em 1993, Red Rose Speedway foi remasterizado e relançado em CD como parte da série "The Paul McCartney Collection", com "C Moon", "Hi, Hi, Hi", "The Mess" e "I Lie Around" (o lado B de "Live and Let Die") como faixas bônus.[54] "Country Dreamer" foi posteriormente adicionada à reedição de Band on the Run.
Em 2018, Red Rose Speedway foi relançado como parte da "Paul McCartney Archive Collection".[55] O conteúdo bônus incluía a versão original do álbum duplo com diferentes mixagens de "Seaside Woman" e "I Would Only Smile" das lançadas no póstumo Wide Prairie de Linda McCartney e Japanese Tears de Denny Laine, os singles "Mary Had a Little Lamb", "Hi, Hi, Hi" e "Live and Let Die" com seus respectivos lados B, as mixagens iniciais e não trabalhadas de várias faixas, bem como gravações inéditas de estúdio e ao vivo. As canções "Country Dreamer" e "Little Woman Love" incluídas na reedição são as mesmas versões lançadas anteriormente nas reedições de Band on the Run e Ram.
"Medley: Hold Me Tight / Lazy Dynamite / Hands of Love / Power Cut"
11:14
Lista de faixas do álbum duplo original
Listagem do acetato inicial
Originalmente planejado como um álbum duplo,[56] esta é a listagem dos acetatos do baterista Denny Seiwell, datados de 13 de dezembro de 1972.[21][57] A maioria das faixas deixadas de fora da versão lançada acabaram como lados B, enquanto outras permaneceram oficialmente inéditas (como "Tragedy", "Night Out", "Jazz Street", "1882") até o lançamento da versão de luxo (deluxe) de Red Rose Speedway em 2018.
Lado um
"Big Barn Bed"
"My Love"
"When the Night"
"Single Pigeon"
Lado dois
"Tragedy" (Gerald H. Nelson, Fred B. Burch)
"Mama's Little Girl"
"Loup (1st Indian on the Moon)"
"I Would Only Smile" (Denny Laine)
Lado três
"Country Dreamer"
"Night Out"
"One More Kiss"
"Jazz Street"
Lado quatro
"I Lie Around"
"Little Lamb Dragonfly"
"Get on the Right Thing"
"1882" (ao vivo)
"The Mess" (ao vivo)
"I Would Only Smile" é uma canção com vocais principais de Denny Laine. Eventualmente, foi lançado no álbum solo de Laine, Japanese Tears.[58]
"1882" é uma canção que remonta a 1970, gravada pela primeira vez como uma demo na época do álbum McCartney. Uma versão caseira foi gravada em janeiro de 1972.[2] Uma gravação ao vivo do mesmo show de "The Mess" (em Haia, 21 de agosto de 1972) receberam overdubs de estúdio adicionados, mas não foi lançada até 2018.
Listagem final
De acordo com o site oficial de Paul McCartney, sua equipe encontrou uma lista atualizada das faixas do álbum em sua versão dupla datada de 30 de janeiro de 1973 que diferia dos acetatos de Seiwell de 1972. Paul confirmou a listagem atualizada como a originalmente planejada para o lançamento, dizendo: "Sabe, é assim que me lembro daquele álbum duplo."[57]
Em dezembro de 2018, McCartney lançou oficialmente Red Rose Speedway: Reconstructed, uma versão reorganizada do "álbum duplo" originalmente concebido, como um CD bônus da versão de luxo de Red Rose Speedway e separadamente como um vinil duplo.[59][60]
"Tragedy" (Gerald H. Nelson, Fred B. Burch) – 3:22
"Little Lamb Dragonfly" – 6:24
Duração: 77:12
"Seaside Woman" apresenta Linda McCartney nos vocais principais. Posteriormente, foi lançada como single sob o pseudônimo de "Suzy and the Red Stripes" em 1977, bem como na coletânea póstuma, Wide Prairie.
Outros outtakes
Outras canções gravadas durante este período que não fizeram parte do lançamento original do disco único incluem:
"Thank You Darling" - Um dueto com Paul e Linda McCartney. Lançado como uma faixa bônus da versão de luxo de Red Rose Speedway.
"Soily" - Uma gravação ao vivo foi mixada, mas não entrou na listagem do álbum. Paul fez outras tentativas de gravar essa música em estúdio, incluindo uma versão gravada em janeiro de 1972,[2] e no programa One Hand Clapping, que acabou sendo lançado como faixa bônus da versão de luxo de Venus and Mars. Finalmente teve um lançamento oficial quando uma versão ao vivo apareceu no álbum Wings over America.[61][62]
"Henry's Blues" - Uma canção com vocais principais e guitarra slide do guitarrista dos Wings, Henry McCullough. Uma gravação ao vivo foi feita durante a turnê europeia do Wings em meados de 1972, embora nunca tenha sido lançada oficialmente.
"Best Friend" - Uma gravação ao vivo e uma versão em estúdio foram mixadas. A versão de estúdio não teve um lançamento oficial até o momento, enquanto a gravação ao vivo em Antuérpia foi lançada no Red Rose Speedway: Reconstructed em 2018.
Archive Collection (2018)
Red Rose Speedway foi reeditado em vários pacotes:
Edição padrão: álbum original de 9 faixas.
Edição especial: o álbum original de 9 faixas no primeiro disco, mais 17 faixas bônus em um segundo disco.
Box Set: o álbum original de 9 faixas, a versão dupla, o disco bônus, um DVD e um blu-ray.
Versão remasterizada de 2 LPs da Edição Especial e um link para download digital do material.
Versão do álbum duplo em LP e um link para download digital do material.
↑A BBC baniu a canção devido à parte: "I want to lie you on the bed, get you ready for my body gun" (Quero deitar você na cama, preparar você para minha arma corporal). No entanto, as últimas palavras são "Polygon" (Polígono). A BBC pensou na primeira frase devido a uma cópia incorreta da letra enviada pela Northern Songs.[4]
↑Uma noite, de acordo com Glyn, Linda e Denny Laine o repreenderam por sua falta de interesse, ao que Glyn respondeu que eles estavam se enganando se pensassem que simplesmente estar em uma banda com Paul McCartney significava que a música que eles fizeram valeu a pena gravar. Dizendo a eles que era "merda".[11]
Clayson, Alan (2003). Paul McCartney. London: Sanctuary. ISBN1-86074-486-9
Doggett, Peter (2011). You Never Give Me Your Money: The Beatles After the Breakup. New York, NY: It Books. ISBN978-0-06-177418-8
Frontani, Michael (2009). «The Solo Years». In: Womack, Kenneth. The Cambridge Companion to the Beatles. Cambridge, UK: Cambridge University Press. ISBN978-0-521-68976-2
James Paul McCartney (1973)·Wings Over the World (1979)·Concert for Kampuchea (1980)·Rockshow (1980)·Back To The Egg (1981)·Give My Regards to Broad Street (1984)·Get Back (1991)·Paul Is Live - The New World Tour (1993)·In The World Tonight (1997)·Live at the Cavern Club (1999)·Wingspan (2001)·Back in the U.S. (2002)·Paul McCartney in Red Square (2003)·Between Chaos and Creation (2005)·Chaos and Creation at Abbey Road (2005)·The Space Within US (2006)·The McCartney Years (2007)·Good Evening New York City (2009)