Rastislau da Morávia
Rastislau, Rostislau, Rastislav ou Rostislav (em latim: Rastiz - em grego: Rasisthlabos[1]), também conhecido como São Rastislau, foi o segundo monarca conhecido da Grande Morávia, reinando entre 846 e 870.[2][3] Embora ele tenha começado seu reinado como vassalo de Luís, o Germânico, rei da Frância Oriental, ele consolidou seu governo a ponto de, depois de 855, conseguir repelir diversos ataques francos.[4] Por iniciativa sua, dois irmãos, Cirilo e Metódio, enviados pelo imperador bizantino Miguel III em 863, traduziram os mais importantes livros litúrgicos cristãos para o antigo eslavônico eclesiástico.[5] Rastislau foi deposto pelo sobrinho Zuentibaldo I, que o entregou para os francos.[6] Primeiros anosDe acordo com os "Anais de Fulda", Rastislau era um sobrinho de Moimir I, o primeiro monarca conhecido da Morávia.[7][8] Nada se sabe sobre sua vida antes de 846[a], mas é possível que ele tenha servido como refém para seu tio na corte de Luís, o Germânico.[7] O rei franco invadiu a Morávia neste ano, depôs Moimir I e instalou Rastislau como o novo duque.[9] É provável que ele já fosse cristão quando acedeu ao trono e não há dúvidas de que ele foi batizado no máximo até esta data, pois o batismo era uma das condições impostas pelo rei franco pelo apoio.[9][10] Rumando para a independência![]() Nos primeiros oito anos do reinado de Rastislau não houve relato de revoltas morávias, o que sugere que Rastislau permaneceu fiel a Luís.[7] Neste período, Rastislau parece ter conseguido ampliar seus domínios para o oriente, estabelecendo uma nova fronteira com o Primeiro Império Búlgaro.[11] De acordo com os "Annales Bertiniani", em 853, Carlos, o Calvo, rei da Frância Ocidental, subornou os búlgaros para que, aliados aos "eslavos" (aparentemente os morávios), atacassem o reino de Luís, o Germano.[12] No decorrer do ataque búlgaro-morávio, Luís depôs o prefeito do Marquesado da Panônia, Ratpot, que imediatamente se aliou a Rastislau,[12][13] o que sugere que o duque morávio já se sentia confiante o suficiente para desafiar seu senhor franco.[14] Em 855, o rei franco oriental juntou um enorme exército para invadir a Morávia.[15][16] Porém, o atacasse fracassou perante as muralhas de uma das fortalezas que Rastislau (talvez Mikulčice, atualmente na República Checa) parece ter construído nos anos anteriores.[17] Despreparado para um cerco prolongado, o rei foi forçado a recuar[18] e, conforme o fazia, seu exército conseguiu derrotar uma grande força morávia.[18] Apesar disso, o exército de Rastislau seguiu os francos e saqueou diversas propriedades inimigas às margens do Danúbio.[19][20] No ano seguinte, Luís, o Germânico, entregou o comando dos marquesados a sudeste de seu reino ao filho, Carlomano, que foi encarregado de defendê-los dos morávios.[21] De acordo com os "Anais de Fulda", Carlomano liderou uma nova expedição contra Rastislau em 858, mas sua campanha fracassou também, aumentando ainda mais a ousadia do duque morávio.[21] No futuro, ambos seriam aliados contra o pai de Carlomano.[22]
Pribina, o duque eslavo da Panônia Inferior, morreu lutando contra os morávios em 861, o que sugere que Carlomano também havia concedido esta província a Rastislau.[24][25] Como resposta à revolta aberta do filho e Rastislau, Luís negociou uma contra-aliança com Bóris I da Bulgária.[26] Ele fingiu estar se preparando para atacar a Morávia, mas, no último momento, marchou contra Carlomano que, pego desprevenido, foi obrigado a se render.[26] Missão dos santos Cirilo e Metódio
Para aumentar sua capacidade de manobra, Rastislau tentou impedir as atividades dos missionários franceses em seu reino.[13] Para iss,o por volta de 862, ele primeiro tentou contatar a Santa Sé.[27] Sem sucesso, ele então pediu por "professores" em Constantinopla para poder formar sacerdotes morávios.[27] Sua embaixada na capital bizantina enfatizou também a necessidade de que estes "professores" fossem capazes de falar a língua eslava.[28] O pedido de Rastislau foi atendido quando Constantino (Cirilo) e Metódio, dois irmãos que haviam aprendido o dialeto eslavo falado em Tessalônica chegaram com uns poucos discípulos na Morávia em 863.[13][29] Os dois logo se dedicaram à tarefa para a qual foram enviados utilizado o eslavônico para ensinar e para a missa e Constantino chegou mesmo a inventar um alfabeto para os eslavos.[27] O clero francês logo percebeu que as atividades dos dois irmãos bizantinos representava uma ameaça às suas atividades,[30] mas, como os dois estavam sob a proteção de Rastislau, Luís, o Germânico, enviou Salomão I, o bispo de Constance, para Roma, onde ele relatou como a Diocese de Passau teria sido "fragmentada e arruinada" pela deserção dos morávios.[31] O rei franco estava também planejando lançar uma grande campanha contra Rastislau com o apoio de Bóris I da Bulgária.[32] Embora ele tenha desistido de participar no último minuto, a nova campanha foi um sucesso.[33] Em agosto de 864, Luís invadiu a Morávia depois de cruzar o Danúbio para cercar civitas Dowina (identificada, embora não unanimemente com o Castelo de Devín na Eslováquia).[34][35] O rei aparentemente pegou Rastislau de surpresa e o aprisionou na fortaleza.[35] Incapaz de escapar, Rastislau se rendeu, entregou diversos altos nobres como reféns e fez um novo juramento de lealdade.[35] A camapanha do rei, porém, não resultou na subjugação completa de Rastislau.[36] Em 865, de acordo com os "Anais de St-Bertin", Luís enviou seus exércitos contra os wends (eslavos) e, segundo os "Anais de Fulda", Werner, um conde da Panônia Superior, foi convocado no mesmo ano perante o rei e acusado de conspirar com Rastislau.[37][38] No final de 866, Constantino e Metódio partiram para Veneza, onde foram persuadidos pelos emissários do papa a irem para Roma.[39] Lá, o papa Adriano II aprovou as traduções eslavônicas das Escrituras, consagrando seus discípulos eslavos como sacerdotes e chegou mesmo a permitir que eles cantassem a liturgia eslava nas igrejas de Roma.[40] Anos finaisNo início de 868, o filho de Luís, o Germânico, Carlomano, conseguiu duas vitórias contra Rastislau, retornando carregado de espólios.[41] Em agosto, o próprio rei planejava invadir novamente a Morávia, mas ficou doente de repente.[41] O filho mais novo do rei, Carlos, o Gordo, tomou a frente da invasão e, invadindo o reino de Rastislau, incendiou todas as fortalezas que encontrou depois de derrotar as forças enviadas contra ele.[42] Nesta época, de acordo com os "Anais de Fulda", Rastislau, que havia concedido sua "velha cidade" para o sobrinho, Zuentibaldo, passou a governar a partir de sua "fortaleza indescritível", que pode ser identificada como sendo Mikulčice (na República Checa).[41] Em 869, o papa Adriano II, que estava decidido a reviver a Diocese da Ilíria, consagrou Metódio como arcebispo de Sírmio (Sremska Mitrovica, Sérvia) e legado papal de todos os eslavos, incluindo os territórios de Rastislau, Zuentibaldo e do filho de Pribina, Gozilo.[30][43] Zuentibaldo, neste ínterim, começou a negociar com Carlomano sem o conhecimento de Rastislau e aceitou a suserania dele sobre si e sobre seu reino.[44] Rastislau ficou "fora de si de raiva" quando soube da traição do sobrinho e armou para assassiná-lo num banquete.[45] Avisado, Zuentibaldo conseguiu escapar fingindo ter faltado para ir caçar com falcões.[45] Quando Rastislau enviou soldados para cacá-lo, Zuentibaldo capturou-o e o enviou, acorrentado, para Carlomano.[46] Rastislau foi enviado sob pesada guarda para Regensburg enquanto Carlomano invadia a Morávia e subjugava todos os seus castelos.[47] Em Regensburgo, Luís, o Germânico, recebeu Rastislau acorrentado com pesados grilhões[48] para ser julgado por uma assembleia de francos, bávaros e eslavos. Ele foi condenado à morte por traição, mas o rei comutou sua a pena para cegamento e prisão.[49] Rastislau morreu na prisão.[50][51] DevoçãoO duque Rastislau foi canonizado pela Igreja Ortodoxa Tcheco-Eslovaca em Prešov em 1994.[52] Ver também
Notas
Referências
Bibliografia
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