Puta falta de sacanagemPuta falta de sacanagem é um meme da Internet que surgiu no Brasil em 2010. Originou-se de uma sessão de autógrafos da banda Restart que, devido ao inesperado excesso de fãs no local, foi cancelada, gerando um clima de revolta e criando tumulto. Nesse contexto, uma repórter da Folha de S.Paulo foi ao evento entrevistar em vídeo os participantes, sendo uma delas Georgia Massa, que, nervosa, se confundiu e disse que o cancelamento havia sido uma "puta falta de sacanagem". A frase, junta a outras como "Vou xingar muito no Twitter", se tornou popular na Internet e foi notada pelo próprio Restart, que apresentou uma música em homenagem ao episódio. Posteriormente, Georgia e outros fãs que participavam do evento cancelado foram chamados para assistir ao seu show. Apesar de uma parcela de fãs ter abraçado o meme, outra parcela criou aversão à entrevistada. "Puta falta de sacanagem" é citado como um dos motivos pelo sucesso do Restart e impulsionou sua notoriedade online. Considerado um dos maiores memes do ano e da década, foi indicado ao MTV Video Music Brasil 2010 na categoria Web Hit. OrigemEventoNo dia 28 de abril de 2010, às 19h (UTC−3), ocorreria uma sessão de autógrafos e um pequeno show da banda brasileira Restart em uma biblioteca Fnac, na Avenida Paulista, em São Paulo.[1][2][3] Uma das intenções da banda era promover seu álbum homônimo de estreia.[4]:29 A organização do evento planejou distribuir 250 pulseiras para os jovens que queriam conhecer a banda.[3] No entanto, há estimativas de que o número total de adolescentes chegou a três mil pessoas.[4]:29 Como o público no local foi maior que o esperado, a livraria cancelou o evento pouco antes de seu início, alegando que se tratava de uma medida de segurança.[3] Tal notícia criou um clima de revolta entre os fãs, tanto entre os que tinham permissão para entrar (com pulseira) quanto aqueles que queriam entrar a qualquer custo;[2] alguns desses fãs estavam na fila desde a madrugada.[3] Houve críticas à falta de comunicação do evento, pois muitas pessoas não sabiam que seria necessário ter uma pulseira para participar.[5] A biblioteca costumava ter doze seguranças e, mesmo dobrando esse número antes do início do evento, o tumulto gerado pelo anúncio do cancelamento só conseguiu ser contido com o apoio da Polícia Militar.[3][6] Posteriormente, a banda publicou em seu Twitter uma nota de desculpas, dizendo: "Pedimos desculpas a todas as pessoas que foram até lá e infelizmente não conseguiram estar com a gente. Nossa maior vontade era poder estar lá com vocês, mas não podemos arcar nunca com a falta de segurança que vocês merecem".[6] Vídeo da Folha de S.PauloEm meio ao tumulto, Inara Chayamiti, videorrepórter da Folha de S.Paulo, foi ao local entrevistar em vídeo os fãs que participariam do evento.[7] Uma delas era Georgia Massa, na época com 16 anos.[8] Nervosa e chorando,[1] confundiu as frases "puta sacanagem" e "falta de respeito",[9] dizendo: "Acho [o cancelamento] uma puta falta de sacanagem com o pessoal aqui, que está passando mal. Estou sem comer, estou passando mal".[3] Em entrevista, justificou a confusão: "Estava nervosa. Tinha empurra-empurra, e eu já estava tonta. Quis dizer que era uma puta falta de consideração".[10] Georgia disse que não se considerava fã de Restart: "A minha amiga decidiu comprar um CD da banda Restart e quis ir à sessão de autógrafos que aconteceria naquele dia. Eu fui junto, somente para acompanhá-la".[3] Outras frases da entrevista que tiveram repercussão incluem "Vou xingar muito no Twitter" e "Restart não presta mais", ditas por Luis Carlos Marinho, que aguardava desde a manhã e estava indignado com o cancelamento;[5][11][a] e "A 'Família Restart' não vai deixar barato".[1][b] Repercussão e respostaPouco tempo após a publicação da entrevista pela Folha de S.Paulo, "Puta falta de sacanagem" entrou para os Trending Topics do Twitter,[9] sendo um dos assuntos mais comentados da plataforma na época,[11] e inspirou vários tipos de montagens na Internet,[1] incluindo remixes musicais, reedições e montagens focando nos erros das falas dos entrevistados.[2] Diversos programas de comédia veicularam a entrevista original, como o Custe o Que Custar (CQC), da Rede Bandeirantes, bem como sites de humor, sendo que um blog foi nomeado em homenagem ao meme.[3][12] A frase também passou a ser utilizada na vida real, diante de situações de injustiça.[13] Georgia declarou que, apesar de se envergonhar no início, decidiu aproveitar a fama,[3] e apareceu em programas de televisão.[4]:117 Ela descobriu a repercussão do vídeo ao acessar o YouTube e perceber que estava entre os vídeos de maior destaque, e adicionou: "Quando a minha mãe viu aquilo, ficou muito brava. Eu não havia contado sobre o vídeo, mas quando ela descobriu, me deu uma bronca".[3] No dia 13 de maio, o Restart riu da situação no canal MTV Brasil e cantou uma música com Marcelo Adnet em referência ao episódio.[14] Fãs da banda que estavam presentes no evento de autógrafos foram convidados para seu show Happy Rock Sunday, também em São Paulo. Georgia Massa foi chamada pelo grupo para "receber o carinho do público" durante a apresentação e ganhou uma camiseta com o bordão estampado.[15] Ela comentou: "As fãs me xingavam da plateia, não sei por quê", mas disse: "Conheci os meninos. Foi um sonho".[10] A propagação do meme se iniciou por trolls,[4]:117 já que existia um preconceito adolescente com os fãs do Restart. Sendo assim, as pessoas entrevistadas receberam críticas.[2] Eventualmente, uma parcela de fãs da banda abraçou a frase por achá-la engraçada e, principalmente, porque não manchou a imagem do grupo.[4]:117 Outra parcela, no entanto, criou uma aversão a Georgia, pois teriam ficado com ciúme de não terem a mesma chance de se aproximar ao Restart.[12] Georgia disse que, apesar de passar a ser reconhecida nas ruas, também começou a receber xingamentos e críticas frequentemente, e comentou um evento onde diversos adolescentes, provavelmente fãs de Restart, apareceram em frente à portaria do prédio em que morava: "Parecia que queriam me bater ou brigar comigo".[3] Em uma ocasião, o próprio Restart gravou um vídeo pedindo para que parassem de assediar a adolescente.[5] LegadoA repercussão online do Restart foi um dos principais motivos de seu sucesso, sendo que "Puta falta de sacanagem" impulsionou tal repercussão.[4]:29 O meme ajudou a banda a ficar popular nacionalmente; segundo Georgia, "o empresário deles na época me disse que eu fiz o sucesso do grupo com a minha frase. Isso foi real, porque era uma banda pequena, que logo ficou famosa por conta de uma coisa que eu falei". O vocalista Pe Lanza disse que o evento ajudou no sucesso da banda: "Os acontecimentos daquele dia geraram a curiosidade do público em saber quem eram aqueles garotos que causavam tanta histeria no público juvenil. Óbvio que o cunho humorístico que deram aos depoimentos dos fãs ajudou bastante. Isso não tem como negar".[3] Inara Chayamiti, que gravou a entrevista à Folha de S.Paulo, escreveu em dezembro de 2010: "A frase embaralhada de uma única fã em um momento de estresse se tornou a melhor forma de expressar a revolta sem perder o humor contra qualquer coisa a qualquer hora — são 3h30 da manhã de uma segunda e tem gente indignada e conectada que diz: '#putafaltadesacanagem'", e completou: "Um pretinho básico entre os memes, um clássico".[7] Foi considerado um dos principais fenômenos brasileiros de 2010,[9][16] sendo indicado ao MTV Video Music Brasil daquele ano na categoria Web Hit, embora perdendo para a paródia "Justin Biba".[17] Em votação promovida pela Tec, a seção de tecnologia da Folha de S.Paulo, "Puta falta de sacanagem" ficou em segundo lugar na categoria de meme brasileiro do ano, atrás de "Cala a boca, Galvão".[7] No mesmo ano, entrou na lista dos "20 virais mais amados do YouTube" da Super.[18] Mesmo com o fim do Restart em 2015, o meme continua sendo utilizado,[3][5] e foi citado no livro de 2017 Os 198 Maiores Memes Brasileiros que Você Respeita, de Kleyson Barbosa.[1] Em 2019, o Estadão inseriu "Puta falta de sacanagem" na sua lista de "50 memes que marcaram os anos 2010".[19] Foi discutido em trabalhos acadêmicos.[2][4] NotasReferências
Ligações externas
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