Papagaio Ravachol
O papagaio Ravachol (América, c. 1890 — Pontevedra, 26 de janeiro de 1913) foi um papagaio que viveu com o farmacêutico Perfecto Feijoo. Tornou-se um dos símbolos da cidade. O enterro do papagaio Ravachol é comemorado todos os anos durante o carnaval da cidade de Pontevedra. Origem do nomeNão há indícios de que o papagaio tivesse um nome específico durante os seus primeiros meses em Pontevedra, mas antes de passar um ano desde a sua chegada à cidade, todos os vizinhos o conheciam pelo nome de um famoso revolucionário francês.[1] François Ravachol era um anarquista que, além de ser um desordeiro, era conhecido pelos seus ataques terroristas com dinamite. Foi o próprio dono, Don Perfecto Feijoo que deu ao papagaio o nome de Ravachol, devido ao seu carácter indisciplinado e indomável.[2] HistóriaO donoO farmacêutico de Pontevedra Perfecto Feijoo (1858-1935) formou-se na Universidade de Santiago de Compostela. Desde 1880 dirigia a farmácia localizada na Praça da Peregrina, junto à Igreja da Virgem Peregrina, na esquina da Rua Oliva. Tinha um carácter agradável e amigável e reunia a nata da sociedade de Pontevedra na sua farmácia. Personalidades da política, das artes e das ciências vinham à sua farmácia para participar nas reuniões mais animadas.[3] Foi sem dúvida uma das personalidades mais carismáticas da Galiza daquela época. Origens do papagaioEm 1702, a frota espanhola, juntamente com a frota francesa, tentou desembarcar mercadorias trazidas da América. Os navios foram atacados pela frota anglo-holandesa, o que levou à Batalha de Rande. Entre os bens provenientes do novo continente encontrava-se uma carga de pássaros exóticos. Após o afundamento dos navios, um grande número de papagaios conseguiu sobreviver. Espalharam-se e foram capturados pelos aldeões. A data de nascimento do Papagaio Ravachol é desconhecida, mas foi em 1891 que Martin Fayes, um professor de música e director da banda militar de Tui, amigo de D. Perfecto, lho deu. O jovem papagaio ficaria em Pontevedra durante 22 anos.[2] Chegada a Pontevedra do Papagaio RavacholDemorou algum tempo para o papagaio se adaptar ao seu novo lar, mas logo mostrou a sua natureza irrequieta e irreverente.[2] A sua capacidade de falar misturava-se a um vocabulário vulgar, dito ter vindo dos soldados do quartel onde o seu antigo dono Martin Fayes trabalhava. Dependendo da época do ano e da hora do dia, a gaiola do papagaio ficava na farmácia, no fundo da farmácia ou fora da farmácia ao lado de um banco de pedra. Era neste último local que o papagaio se sentia mais confortável a desfrutar da animação dos transeuntes. Morte e enterroA 26 de janeiro de 1913, o papagaio morreu.[4] Diz-se que a causa de sua morte foi o consumo excessivo de bolachas embebidas em vinho ou envenenamento.[5] A sociedade de Pontevedra mergulhou num triste sentimento de luto e organizou-se para se despedir da referência mais emblemática da cidade. O corpo foi embalsamado e exposto na farmácia. A Sociedade de Artesãos organizou o funeral e instalou uma câmara mortuária na farmácia. Marcaram a data do funeral para 5 de fevereiro de 1913. Pessoas famosas de Pontevedra participaram no funeral, que foi uma despedida ao amado papagaio Ravachol.[4] Os restos mortais do papagaio foram enterrados na quinta que D. Perfecto possuía em Mourente. DescriçãoPersonalidadeO temperamento do papagaio era muito peculiar, a sua verbosidade e facilidade de expressão tornavam-no uma atracção singular. Muitos clientes davam doces ao papagaio, pois aqueles que não o faziam recebiam uma boa reprimenda de Ravachol. Curiosidades e frasesA vida do papagaio foi marcada por um grande número de anedotas ligadas à sua facilidade de expressão e ao seu sarcasmo particular. O mais surpreendente é que o seu domínio da língua estava associado a uma inteligência que lhe permitia manter pequenas conversas. Identificava também algumas situações para aplicar as suas frases, quase sempre em galego, que rapidamente se tornaram populares e foram mais tarde utilizadas na linguagem quotidiana dos habitantes de Pontevedra. Por exemplo, Ravachol podia dizer as palavras ameaçadoras " se collo a vara ... " ( se eu pegar no pau... ) para se dirigir àqueles que o incomodavam. Se ninguém estivesse a tomar conta dos clientes e um cliente entrasse na farmácia, Ravachol gritava "Dom Perfecto há pessoas na loja". Se o cliente tivesse mau aspecto, o papagaio gritava: "Aqui não confiamos em si" . Por outro lado, quando um padre chegava, Ravachol imitava um corvo.[5] Ao presidente do governo espanhol, Eugenio Montero Ríos, e à escritora Emilia Pardo Bazán dedicou insultos que seriam condenados na altura. Outro exemplo da sua inteligência é que por vezes gritava "Don Perfecto a despachar" (Don Perfecto, vai tomar conta dos clientes) e quando o farmacêutico se aproximava dizia "engañeiche! "(Enganei-te! ) O papagaio Ravachol na cultura popularEnterro modernoEm 1985, um grupo de habitantes de Pontevedra, em colaboração com o comité municipal de festas, decidiu recriar o velório e o enterro do Papagaio Ravachol durante o carnaval da cidade.[6] O sucesso desta primeira recriação foi tal que em poucos anos o enterro do Papagaio Ravachol tornou-se num dos eventos mais populares do carnaval galego. A festa encerra a semana do carnaval em Pontevedra. É costume o Ravachol aparecer na segunda-feira de carnaval com um fato que muda todos os anos, dependendo dos eventos actuais. Inicialmente, o funeral realizava-se na sexta-feira, mas foi transferido para o sábado após a quarta-feira de cinzas para facilitar a participação de milhares de pessoas no cortejo fúnebre. RelevânciaSão muitos os exemplos de reconhecimento a esta figura do carnaval de Pontevedra. Tem sido tema de reportagens televisivas, colunas jornalísticas,[7] estudos históricos e inspiração literária. Tem também a sua própria saeta, rumba, tanguillos e coplas murgueras, [8] crachá e diversos artigos de merchandising. O papagaio tem um monumento desde 23 de fevereiro de 2006 no mesmo lugar da cidade onde aconteceram as suas façanhas pitorescas.[9] É precisamente ali que a farmácia de Don Perfecto Feijoo, demolida em 1947 para alargar a Rua Michelena, é reconstruída todos os anos e que os famosos encontros são recriados. O papagaio tem também uma figura dedicada na famosa cerâmica galega de Sargadelos.[10] Os bolos chamados Ravacholitos são também dedicados ao papagaio Ravachol.[11] Galeria
Referências
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