Orfeu e Eurídice (lenda)A antiga lenda de Orfeu e Eurídice (em grego: Ὀρφεύς, Εὐρυδίκη, Orpheus, Eurydikē) diz respeito ao amor fatídico de Orfeu da Trácia pela bela Eurídice. Orfeu era filho de Eagro e da musa Calíope. Pode ser uma adição tardia aos mitos de Orfeu, já que o último título de culto sugere aqueles ligados a Perséfone. O assunto da catábase de Orfeu para resgatar sua esposa está entre os mais frequentemente recontados de todos os mitos gregos, aparecendo em inúmeras obras de literatura, óperas, balés, pinturas, peças de teatro, musicais e, mais recentemente, em filmes e videogames. VersõesO mito era contado por volta do período arcaico grego e as primeiras referências se referem a Orfeu e sua esposa, sem nome.[1] No século III a.C., ela foi chamada de Agríope ("Olhos Selvagens") Trácia por Hermesíanax, que afirma que Orfeu teve sucesso em trazer de volta sua esposa do Hades. A mais antiga citação ao nome "Eurídice" foi feita no poema pastoral Lamento a Bíon, por Pseudo-Mosco (150 a.C.), que também diz que Orfeu conseguiu resgatá-la.[1][2] O nome Eurídice ("Ampla Lei") poderia estar na verdade sugerindo um epíteto de Perséfone, rainha do submundo e da vegetação.[1] Especula-se que isso poderia estar conectado originalmente a algum ritual "xamanístico" de catábase, e o mito de Orfeu poderia parecer originalmente intrigante aos gregos devido à sua ênfase na não violência e na restauração da vida.[3] O Alceste (século V a.C.) de Eurípides supõe a familiaridade do público com o mito, em que o marido de Alceste, Admeto, afirma que, tivera ele "os lábios de Orfeu e sua melodia", traria de volta sua esposa dos mortos.[5] Os órficos, surgindo no sul da Itália por volta do século V a.C., disseminaram poemas sobre a catábase de Orfeu, possivelmente baseando-se sobre a busca de sua esposa, segundo Jan Bremmer.[6] Isócrates (século IV a.C.) e Diodoro Sículo (século I a.C.) implicitamente sugerem um resgate bem sucedido.[2] Outros escritores antigos trataram a visita de Orfeu ao submundo de forma mais negativa. De acordo com Fedro no Banquete de Platão,[7] as divindades infernais apenas "apresentaram a ele uma aparição" de Eurídice. A representação de Orfeu feita por Platão é, na verdade, a de um covarde; em vez de escolher morrer para estar com seu amor, ele zombou das divindades na tentativa de visitar Hades, para recuperá-la viva. Como seu amor não era "verdadeiro"—o que significa que ele não estava disposto a morrer por isso—ele foi punido pelas divindades, primeiro dando-lhe apenas a aparição de sua ex-esposa no submundo e depois fazendo com que ele fosse morto por mulheres.[7] Representações de Orfeu com Eurídice são raras na antiguidade.[5] Há vasos do sul da Itália do século IV a.C. que foram identificados como representando Eurídice com o músico.[8][9][10] Um relevo do século V a.C. denominado Orfeu, Eurídice e Hermes costumou ser interpretado como indicando o momento de separação entre o casal, em que Orfeu olha à face de sua esposa. Porém não há indicativos disso, pois essa versão de proibição do olhar aparece apenas posteriormente em Virgílio. A maioria dos estudiosos consideram que essa cena representa, portanto, apenas o instante de uma simples saída do Hades, em que Hermes estaria na função de escolta, como psicopompo. Maurice Bowra considera que o relevo representaria uma versão do mito em que fora permitido um curto retorno de Eurídice à vida. Já Owen Lee afirma que na versão do escultor, não teria sido permitido o retorno de Eurídice à Terra e que as figuras permanecem no Hades.[2] Os romanos teriam herdado uma versão mais empobrecida do mito, a qual porém foi bastante influente em sua remodelação, tornando Orfeu um modelo programático aos poetas da Era de Augusto.[3] Na versão clássica da lenda de Virgílio, ela completa suas Geórgicas, um poema sobre o tema da agricultura. Aqui foi introduzido pela primeira vez o nome de Aristeu, ou Aristaios, o guardião das abelhas, e a trágica conclusão.[11] É nessa versão que se introduz, pela primeira vez de que se tem conhecimento, a afirmação de que o olhar de Orfeu levou à perda de sua esposa.[2] O mitógrafo Cônon, contemporâneo de Virgílio, não necessariamente se baseando na narrativa das Geórgicas, relata que Orfeu perdeu sua esposa porque "ele se esqueceu dos comandos sobre ela". Em Culex, uma obra de autoria que fora tradicionalmente atribuída a Virgílio, o que porém é atualmente questionado, afirma-se que Orfeu perdeu-a devido a "solicitar caros beijos" (oscula cara petens), o que deixa implícita uma proibição quanto ao toque, e não à visão dela.[2] A versão do mito de Ovídio, em suas Metamorfoses, foi publicada algumas décadas depois e emprega ênfase e propósito poético diferentes. Relata que a morte de Eurídice não foi causada pela fuga de Aristeu, mas por dançar com náiades no dia do seu casamento.[12] Na Biblioteca de Pseudo-Apolodoro Eurídice é simplesmente mordida por uma cobra antes de morrer e Orfeu vai ao Hades para resgatá-la.[13] Segundo Bowra, essas variações do primeiro século sugerem uma fonte comum, postulada como sendo um poema helenístico perdido, talvez não anterior ao século I a.C.[2] Bremmer afirma que é provável uma fonte do final do século III a.C. ou início do século II sobre mitologia que poderia ter introduzido o nome "Eurídice", bastante associado à Trácia ou Macedônia.[14] Havia um tabu bastante difundido como um folclore mágico e motivo narrativo na Antiguidade sobre a proibição de se olhar para trás, que também é encontrada nas Argonáuticas, na história da mulher de Ló e em antigas instruções de magia e purificação religiosa;[14][2] bem como a proibição de se olhar para espíritos dos mortos ou entidades do submundo.[2] Virgílio fez uma adaptação desses tabus à sua narrativa.[2] Na narrativa mística da Argonáutica Órfica (século II-III), Orfeu afirma que conheceu as coisas de além da morte quando trilhou os escuros caminhos do Hades: "por amor à minha esposa".[2] RecontagensLiteratura
Filmes e teatro
Música e balé
Referências
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