Na divisão proposta por John Wesley do Sermão, o capítulo cinco delineia os princípios éticos dos verdadeiramente religiosos e é, por isso, um dos mais discutidos e analisados capítulos do Novo Testamento. Kissinger relata que, entre os primeiros cristãos, nenhum outro capítulo era tão citado quanto este e o mesmo continua verdadeiro até hoje. Na Idade Média, uma interpretação foi proposta afirmando que este capítulo só se aplicava a um grupo seleto e não à população toda. Martinho Lutero, numa discussão sobre Mateus 5, criticou duramente a interpretação católica, afirmando que "este quinto capítulo caiu nas mãos de porcos e asnos vulgares, os juristas e sofistas, a mão direita de um burro de carga de um papa e seus mamelucos".[1]
A fonte de Mateus 5 é incerta. É possível identificar um punhado de paralelos com o Evangelho de Marcos e um número maior em relação ao Sermão da Planície do Evangelho de Lucas. Para os que acreditam na hipótese das duas fontes, seria isto um indicativo de que a maior parte do texto teria vindo da fonte Q. Porém, McArthur[2] lembra que os paralelos com Lucas tendem a ser muito tênues. Há ainda um número considerável de versículos que não tem paralelo em nenhum outro lugar e, por isso, MacArthur teoriza que haveria um passo a mais entre as fontes utilizadas por Mateus e Lucas do que o habitual.
Depois de uma breve introdução, Mateus introduz a seção conhecida como "Bem-aventuranças" (ou "Beatitudes"), que contém alguns dos ensinamentos mais famosos de Jesus (como "Ofereça a outra face"). Gundry propõe uma divisão em dois quartetos para esta seção. O primeiro delineia a perseguição aos seus discípulos e as recompensas que receberão por suportarem o tormento. O segundo lista o comportamento justo que levou à perseguição. A maior parte dos estudiosos acredita que a nona bem-aventurança, em Mateus 5:11, é distinta das primeiras oito, como se demonstra pela brusca mudança para uma narrativa em segunda pessoa. Quatro bem-aventuranças estão também em Lucas enquanto que as demais só aparecem em Mateus.
Depois das Beatitudes aparecem uma série de metáforas chamadas Sal e Luz, que são geralmente entendidas como comentários sobre elas. Entre elas estão diversas expressões famosas de Jesus, como "sal da terra", "luz do mundo" e "cidade sobre o monte" (que deu origem ao importante conceito político norte-americano da "city upon a hill").
Depois da introdução, os versos seguintes são comentários sobre seis tópicos específicos nos quais Jesus recita a Lei, começando com dois dos Dez Mandamentos, e depois comenta sobre eles. As seis antíteses são:
↑"5:17 'Lei' e 'Profetas' se referem às duas primeiras partes da Bíblia Hebraica: Lei, Profetas e Escritos. A 'Lei' pode também ser uma referência para toda a Bíblia Hebraica e também para os cinco primeiros livros (o Pentateuco)[3]
Referências
↑Lutero, Martinho, tr. para o inglês de Charles A. Hay. Commentary on “Sermon on the Mount”. Prefácio
↑McArthur, Harvey King. Understanding the Sermon on the Mount. Westport: Greenwood Press, 1978.
↑The Complete Gospels, Robert J. Miller ed., 1992 Polebridge Press, página 66, nota do tradutor
↑Commentary on Matthew, Robert H. Gundry, Baker Academic 2011, Matthew 5:21-48