Maria Beatriz Nascimento
Maria Beatriz Nascimento (Aracaju, 12 de julho de 1942 – Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1995) foi uma brasileira historiadora, professora, roteirista, poeta e ativista pelos direitos humanos de negros e mulheres.[1] Nascida em Sergipe, migrou com a família para a cidade do Rio de Janeiro, onde formou-se em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ) especializou-se na Universidade Federal Fluminense (UFF) e fez parte do corpo discente do curso de mestrado em Comunicação Social da UFRJ. Tornou-se influente nos estudos das relações raciais no Brasil após sua notoriedade em organizações acadêmicas do movimento negro. Suas obras mais notórias são o documentário Ori (1989) e artigos sobre o conceito de quilombo na História, raça, racismo e sexismo.[2] BiografiaMaria Beatriz nasceu em Aracaju, em 1942[1]. Seus pais eram a dona de casa Rubina Pereira do Nascimento e o pedreiro Francisco Xavier do Nascimento, que tiveram dez filhos, sendo a segunda filha mais nova. Com apenas 7 anos, migrou com a família para a cidade do Rio de Janeiro, no final de 1949, em uma viagem de barco, partindo de Salvador, instalando em Cordovil, Zona da Leopoldina[1]. Entre 1968 e 1971, cursa História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez estágio em pesquisa no Arquivo Nacional, sob orientação do historiador José Honório Rodrigues e ingressa na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, lecionando história na escola estadual Roma, em Copacabana[3]. Em 1978, inicia pós-graduação lato sensu em História, pela Universidade Federal Fluminense, concluindo em 1981, estudando sistemas alternativos organizados exclusivamente por negros, pesquisando de quilombos às favelas modernas[4]. Movimento negroJá formada e lecionando na rede estadual, Maria Beatriz começou sua militância, participando e propondo discussões raciais[5], em especial no meio acadêmico. Ajudou a criar o Grupo de Trabalho André Rebouças, em 1974, na Universidade Federal Fluminense (UFF), e o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, em 1975[1][6]. Participou como conferencista de diversos encontros, conferências e simpósios[7], falando sobre seus incômodos quanto ao espaço universitário falar do negro apenas como o escravo, como se as pessoas negras tivessem participado da história apenas como mão-de-obra compulsória e sem direito à escolha[1][6][8]. Participou da Quinzena do Negro, em outubro de 1977, na Universidade de São Paulo, apresentando trabalho relacionado à questão étnico-racial, em especial dos quilombos[1]. Esteve duas vezes na África, com o intuito de conhecer parte do continente. Dentre essas vezes esteve em Angola, para conhecer os territórios dos antigos quilombos angolanos[1]. A universidade era seu lugar privilegiado de atuação Esta era a sua militância, e foi também o seu dilema.[9]. A encruzilhada entre a academia e o movimento social se manteve durante toda a trajetória de Beatriz, que também apontava os limites do pensamento acadêmico, no horizonte da sua dinâmica de produção colonial, indicando as possibilidades de uma história da gente negra.[10] MorteEm 1995, Maria Beatriz cursava mestrado em Comunicação Social[3][11], pela UFRJ e tinha aconselhado sua amiga, Áurea, a largar o companheiro, Antônio Jorge Amorim Viana, após várias reclamações de violência doméstica[12]. Em 28 de janeiro daquele ano, ele deu cinco tiros em Maria Beatriz, por entender que ela interferia em sua vida privada e o teria ofendido, chamando-o de "bicha" em frente a seus amigos.[13] Antônio fugiu e acabou sendo preso em um bar pela polícia civil em 9 de fevereiro de 1995. Antônio já tinha passagem pela polícia por acusações de homicídio, tentativa de estupro e uso de drogas, pelas quais já cumpria pena de 11 anos e seis meses[11][14]. Antônio disse à polícia que o assassinato da professora se deu depois de consumo de bebida alcoólica e remédios para dor de estômago e ele não reagiu à prisão[3]. Em 19 de abril de 1996, Antônio foi condenado a 17 anos de prisão pela morte de Maria Beatriz. A amiga de Beatriz e namorada de Vianna, Áurea Gurgel da Silveira, também foi acusada, por prestar falso testemunho ao tentar manchar a imagem de Beatriz perante o júri dizendo que a pesquisadora aliciava menores e fazia orgias[14]. Maria Beatriz tinha 52 anos e foi sepultada no Cemitério São João Batista, com a presença da família, amigos e militantes do movimento negro. Divorciada, ela deixou uma filha,[11] Bethânia Nascimento Freitas Gomes, bailarina no Dance Theatre of Harlem, em Nova Iorque, e quem escreveu a Apresentação do livro Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: possibilidade nos dias da destruição.[15] ObrasO trabalho de maior reconhecimento de Maria Beatriz é o filme e documentário Ôrí (1989), de autoria, direção, argumento e roteiro original da socióloga e cineasta Raquel Gerber, no qual Maria Beatriz atua enquanto narradora, protagonista e personagem. A obra documenta a trajetória dos movimentos negros no Brasil entre 1977 e 1988, sendo o quilombo a ideia central e em parte a trajetória da própria Maria Beatriz[1]. Abordou temas como corporeidade do negro, a perda da imagem que atingia africanas e afrcanos escravizados e seus descendentes em diáspora e a situação das mulheres negras no Brasil, analisando sua condição social inferior devida ao amálgama de heranças escravistas com mecanismos racistas[1][5][8]. A intelectual apresentava, em suas obras, a experiência da população negra, especialmente das mulheres, no Brasil. No ensaio Meu negro interno,[16] buscou compreender a opressão sofrida pelas pessoas negras por meio da psicanálise.[17] Em busca de respostas para o sofrimento psíquico que sentia, consultou um analista, o qual sugeriu que havia uma força opressora, como se fosse um desdobramento da própria pensadora, que reproduzia o racismo no seu interior.[18] Beatriz Nascimento refutou essa ideia no ensaio e manteve-se na busca pela resposta que explicasse o abismo social provocado pelo racismo no Brasil.[19] Trabalhos importantes publicados em revistas e periódicos:
Bibliografia
Referências
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