Maria Adelaide Coelho da Cunha
Maria Adelaide Coelho da Cunha (Lisboa, Encarnação, 13 de Outubro de 1869 — Porto, Ramalde, 23 de Novembro de 1954) foi herdeira do co-fundador do Diário de Notícias, o seu pai Eduardo Coelho, e mulher de Alfredo da Cunha que o sucedeu como administrador e director do jornal. Ficou conhecida pela polémica pública gerada pelo seu internamento psiquiátrico e interdição judicial aos 48 anos de idade, após abandonar o marido para prosseguir um relacionamento amoroso com o chauffeur da família. BiografiaNasceu a 13 de outubro de 1869 e foi batizada na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, em Lisboa, filha de Eduardo Coelho e D. Maria da Conceição Costa Coelho.[1] Casou a 19 de abril de 1890, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, com Alfredo da Cunha, e viviam no Palácio de São Vicente, na Graça, onde Maria Adelaide organizava festas e salões.[2][3][4] Em 13 de Novembro de 1918 desencadeou-se um grande escândalo quando resolveu, sem aviso prévio, abandonar a casa[5]. Foi então revelado que Maria Adelaide, com 48 anos de idade, se apaixonara pelo motorista da família, Manuel Cardoso Claro, 22 anos mais novo, e partira com ele para um esconderijo em Santa Comba Dão, terra natal de Manuel. Foi encontrada onze dias depois pelo marido e filho de Maria Adelaide, acompanhados de médicos e forças policiais. Maria Adelaide revelou a intenção de iniciar o processo de divórcio ao marido, que recusou, e foi levada para o Hospital Conde de Ferreira, onde foi observada por Magalhães Lemos, internada na ala das criminosas e passou a primeira semana em isolamento, proibida de ler jornais ou saber notícias de fora e vigiada por uma criada privativa. Começou então a escrever um diário e cartas que enviava em segredo a Manuel. A 3 de fevereiro de 1919 fugiu do hospital psiquiátrico, ajudada por Manuel. A 25 de fevereiro foram encontrados no Rossão, na Serra da Gralheira, e ela foi novamente levada para o Porto. Manuel e o seu primo, que lhes dera abrigo, foram presos e levado para a Cadeia da Relação no Porto, onde ficou encarcerado durante quatro anos, acusado de rapto, violação e cárcere privado, sem culpa formada.[3][4][6][7] Apesar de se ter defendido, mantendo uma polémica na imprensa e publicando um livro sobre o assunto (Doida não!: documentação psicológica e jurídica, Tip. Fonseca (1920)), a que o marido respondeu com outro (Infelizmente louca!: resposta documentada ao livro «Doida não!» atribuído a D. Maria Adelaide Coelho da Cunha. Lisboa: Tipografia da Emprêsa Diario de Noticias, 1920), a interdição judicial não foi levantada e o marido e o único filho do casal, então com 26 anos de idade, mantiveram-se na posse de toda a sua fortuna. Maria Adelaide foi considerada louca por uma junta médica formada para avaliar o caso, composta por Júlio de Matos, António Egas Moniz e José Sobral Cid, os mais famosos alienistas portugueses de então[8], diagnosticada com "degenerescência hereditária", "loucura lúcida" e "neurastenia" e interditada judicialmente de gerir os seus bens.[9] Manuel Claro contrata Bernardo Lucas, um jurista que consegue que Maria Adelaide deixe o hospital a 9 de agosto de 1919, acompanhada do Governador Civil, e que irá demonstrar a ilegalidade do processo de internamento, poluído por processos morais e não terapêuticos. Durante o seu internamento, Maria Adelaide não recebeu medicação ou terapia alguma. Após obter a liberdade, viveu de forma incógnita na cidade do Porto, apoiada por famílias portuenses que lhe davam trabalho, e visitava Manuel disfarçada de lavadeira.[3][4][10] Por recomendação do seu advogado, Maria Adelaide começa a enviar cartas que serão publicadas como crónicas assinadas por si na primeira página do jornal A Capital a partir de agosto de 1920, sob o título O Martírio de Uma Mulher, a dar conta de todos os pormenores do horrível episódio que tinha vivido. Escreve também para o periódico portuense A Tribuna entre Abril e Agosto de 1921, sob o título Lágrimas de mãe.[7][10] Como resultado, o hospital Conde Ferreira é alvo de uma investigação jornalística, que veio a revelar que mais mulheres tinham sido internadas como forma de a família as castigar. O escândalo é elevado a parlamento, e o Ministro da Justiça, Artur Lopes Cardoso redige uma proposta de lei para se regularem os artigos constitucionais que estabeleciam providências para internamento em hospitais psiquiátricos.[3][4] O escândalo fez com que Alfredo da Cunha abandonasse em 1919 a direcção do Diário de Notícias e vendesse a respectiva empresa. Em 1922, Manuel foi libertado da cadeia; instalou-se com Maria Adelaide no Porto, onde ela se dedicou aos trabalhos de costura e ele ficou como taxista, com uma viatura que lhe foi concedida pelo sindicato dos motoristas que já tinha pago as custas judiciais.[3][11] Maria Adelaide não se liberta da interdição até aos 74 anos de idade, o que acontece com o apoio do filho, que depois da morte do marido se reaproxima dela. [3][4][9] Nunca se casaram mas viveram conjuntamente até à morte de Maria Adelaide, a 23 de novembro de 1954, na freguesia de Ramalde, no Porto.[1] Alfredo da Cunha morreu doze anos antes, em 1942[12]. Maria Adelaide Coelho da Cunha encontra-se sepultada no Cemitério de Ramalde, na cidade do Porto. Na cultura popularO drama, que apaixonou a alta sociedade lisboeta do tempo, inspirou diversas obras, entre as quais:
Obra
Referências
Ligações externas
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