Sua avó paterna, Joana Maria de Freitas, estava entre os migrantes da "primeira lista" - aqueles que partiram da Ilha da Madeira para povoar a Ilha de Santa Catarina, na segunda metade do século XVIII. Era filha de António dos Santos Vicente, oficial de carpinteiro, serrador e lavrador, e de sua esposa, Maria de Freitas. O casal e seus filhos Antônio, Francisco, Joana, Antônia, Vicência vieram como agregados da família do capitão Henrique César Berenguer de Bettencourt (ou Henrique Cesar de Berenger e Bitencourt).[4][5][6][7]
Casou-se com Florinda Cândida de Freitas a 16 de agosto de 1840, após dedicar-lhe versos apaixonados. Com ela, teve dois filhos - Ovídio Antônio Dutra (1843 – 1877), funcionário público e político e Marcelino Antônio Dutra Filho. Marcelino teve também dois filhos fora do casamento: Juvêncio e Antônio Reis Dutra (1835 – 1911), ambos poetas.
Jornalista, publicou seus poemas até mesmo no Rio de Janeiro. Satírico, notabilizou-se pelos versos denominados Assembléia das Aves,[9] relacionados à campanha política de 1847, nos quais ridicularizava os políticos do Partido Conservador, que no Desterro era apelidado "Partido Cristão" e representava a burguesia comercial local e os clérigos, sendo seu líder Arcipreste Paiva.[10]
Figura pitoresca, Dutra costumava chegar de canoa ao trapiche que dava acesso ao mercado público municipal, trazendo hortaliças diversas do Ribeirão da Ilha. Ali descarregava a canoa e, "com aquele ar de matuto que nunca perdeu, rumava para a Assembléia, onde se tornava, de repente, ardoroso combatente". Os adversários o apelidaram "Poeta do Brejo". Foram famosas as suas polêmicas com o Arcipreste Paiva e as suas poesias satíricas publicadas nos jornais da cidade. Usou diversos pseudônimos, como Inhato-Mirim, Gil Fabiano, Poeta do Brejo (ou P. do B.) além da sigla M.A.D.[3]
Foi administrador do primeiro cemitério público de Florianópolis, situado na cabeceira da Ponte Hercílio Luz, ao lado do primeiro cemitério alemão, e criou vários epitáfios, dentre eles o seu:
↑SANTOS, Maria Licínia Fernandes dos. Os Madeirenses na Colonização do Brasil. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico. Secretaria Regional do Turismo e Cultura, 1999. Capítulo Terceiro. "O recrutamento de casais madeirenses para o Brasil no século XVIII", p. 73. ISBN 9728263198
↑Segundo Jacques Schweidson, em Saga Judaica na Ilha do Desterro, um grande número de cristãos-novos veio parar na Ilha de Santa Catarina (Desterro). No grupo de migrantes açorianos que colonizou a ilha, misturavam-se fervorosos católicos e muitos descendentes de judeus forçados à assimilação. Na história do Estado de Santa Catarina, é bastante conhecido o renhido combate travado entre judeus e cristãos, na esfera política. Havia, desde a década de 1830, dois partidos, um deles representativo da corrente dita liberal (o "Partido Judeu" ou Liberal, que evoluiu para o Partido Republicano), e o outro, representativo da corrente conservadora (Partido Cristão). Ver Judeus na Ilha de Santa Catarina - Brasil e a ação dos jesuítas. por Izidoro Azevedo dos Santos.
DUTRA, M. A. ; JUNKES, L. (Org.) . Assembléia das Aves e Outros Poemas, de Marcelino Antônio Dutra. 1. ed. Florianópolis: Nova Letra/Academia Catarinense de Letras/Associação Catarinense de Imprensa, 2006. v. 1. 124 p.
SOARES, I. Marcelino Antônio Dutra. - Um Aspecto formativo da Literatura Catarinense. Porto Alegre: Ed. Sulina, 1970.