"Nossa novela traz a trajetória de brasileiros que não desistiram de sonhar e buscam nesses sonhos a matéria-prima para urdirem o mato de esperança".
— Solange Castro Neves sobre a temática da novela para o jornal Folha de S.Paulo.[15]
Nos anos 2000, a Rede Record decidiu voltar a produzir suas novelas. A autora Solange Castro Neves, que trabalhou por doze anos na Rede Globo colaborando em texto de autores titulares, foi contratada para assinar a trama.[16] Em janeiro de 2000, a produção foi iniciada e o título provisório Laços de Família divulgado. A novela substituta de Terra Nostra, da Rede Globo e que seria assinada por Manoel Carlos, teria o mesmo nome da divulgada por Neves, que declarou: "Foi a maior coincidência de toda a minha vida. Alguns jornais divulgaram que o título havia sido trocado para "Laços de ternura", mas não é verdade. Ainda não tive tempo para pensar num outro nome".[16] A produção de Laços de Família da Globo começou e em fevereiro a trama da Record continuava com o seu título, a autora dizia: "O nome da minha novela está registrado. Por que eu é que tenho de mudar?".[17]
Em abril as notas sobre a trama já eram divulgadas sobre o título oficial, Marcas da Paixão.[18] As locações foram divididas em três núcleos: nos estúdios da emissora e em uma fazenda em Embu, São Paulo; e Irecê, interior da Bahia.[16][19] As gravações foram iniciadas em 15 de março de 2000 na Bahia e cada capítulo com orçamento de aproximadamente R$ 50 mil.[18][20]
Em fevereiro de 2000, Riccó e Neves começaram a checar lugares para dar início as gravações de Marcas da Paixão.[19] Cidades do interior da Bahia, como Irecê e uma fazenda em Embu das Artes na Grande São Paulo foram escolhidas.[16][21] Neves, afirmou: "A novela vai mostrar várias situações geográficas. Teremos cenas nas terras secas da pequena Barro Alto, na Bahia. Os campos férteis do país terão como cenário a Fazenda Fantasia e a agitação das grandes cidades, o dia-a-dia da Construtora Mello Pontes, em São Paulo".[22]
Enredo
Após quebrar a banca num cassino clandestino da Bahia, o fazendeiro Jorge Maia (Walmor Chagas) é perseguido por uma quadrilha de olho em seu dinheiro, e acaba morrendo na explosão de seu jatinho. Toda sua fortuna é deixada para suas duas filhas bastardas: Guida (Carla Cabral) e Cíntia (Vanessa Lóes). A primeira é uma humilde professora que vive no vilarejo de Barro Alto, no árido sertāo baiano, e dedicou a vida a alfabetizar a população, sendo filha de Wilma (Jussara Freire), ex-funcionária da fazenda de Jorge que foi embora acreditando que havia sido rejeitada grávida por ele, tendo se casado depois com Zé Biriba (Renato Borghi) e tido mais dois filhos, o sonhador Dimas (Walther Verve) e o escultor Abel (Fábio Ferrer). Já Cíntia é uma arquiteta rica e sofisticada, que mora na cidade de São Paulo e vive em conflito com sua mãe, Olga (Mara Carvalho), que sempre tratou-a com desprezo por ser fruto de uma desilusão e namora o engenheiro Sílvio (Oscar Magrini), um mau-caráter sedutor que sonha em se tornar presidente da Construtora Mello Pontes e a manipula para isso.
Para desmascarar o vigarista, Cíntia conta com a ajuda do bondoso arquiteto César (Rodrigo Veronese), apaixonado por ela, do advogado Dr. Djalma (Cláudio Cavalcanti), e da avó, Marrita (Nathalia Timberg), com quem juntou as ações para ter a maior porcentagem e garantir a presidência.
As vidas de Cíntia e Guida mudam completamente quando elas descobrem que só poderão receber a herança se passarem um ano morando na Fazenda Fantasia, no interior paulistano, tocando os negócios do falecido pai, tendo que aprender a conviver com as diferenças e formarem uma verdadeira família, embora ambas se apaixonem pelo belo veterinário Diogo (Carlos Casagrande), criado como filho por Jorge e Dete (Irene Ravache), governanta da fazenda e amante de Jorge há mais de vinte anos. Falsa e ardilosa, Dete possui verdadeira adoração pelo filho adotivo e não suporta ter ficado sem uma parte da herança de Jorge, fazendo de tudo para afastar Cíntia e Guida da fazenda. Responsável pelas armações que tiraram Wilma e Olga de seu caminho no passado, Dete tem como cúmplices, dois homens facilmentes manipulados por ela: Motta (Carlo Briani), um advogado ingênuo e corrupto, a quem seduz; e o peão de rodeio Orlando Furacão (Emílio Orciollo Netto), um jovem perturbado e perigoso que foi levado a crer, por Dete, que é filho bastardo dela com Jorge Maia criado em orfanatos para não comprometer a imagem dela de virtuosa.
Ainda há o jovem Ivan (Eriberto Leão), engenheiro agrônomo particular de Jorge, e filho de Djalma, que foi espancado e jogado num rio para morrer durante o assassinato do fazendeiro, sendo dado como morto. Resgatado pelo mateiro Adrião (Antônio Petrin), é levado para Barro Alto, e após retornar, apaixona-se por Guida, formando um quadrado amoroso com Diogo e Cíntia. Disputado pelas sertanejas Marinalva (Lady Francisco) e Zefinha (Tânia Alves), Adrião é avô da doce surda-muda Lazinha (Natália Nobeschi), apaixonada por Abel, que também se envolve com a fogosa Creuza (Leila Lopes). Na região todos temem a ira de Tenório (Eduardo Conde), homem poderoso e sem escrúpulos que nutre uma obsessão por Wilma, seu grande amor do passado, e acaba unindo-se a Dete para prejudicar Cíntia e Guida.[2]
Exibição
A novela foi inicialmente anunciada para abril de 2000;[16] logo após foi divulgada pela cadeia televisiva uma data fixa: 15 de maio.[18] O primeiro capítulo de Marcas da Paixão acabou indo ao ar oficialmente no dia 8 de maio de 2000, na faixa das 20h15 pela Record.[23] Exibida de segunda a sábado,[24] Foi reprisada entre 9 de agosto a 26 de outubro de 2004 em 60 capítulos.
Recebeu a classificação indicativa de "não recomendada para menores de 12 anos" por conter violência, drogas lícitas e conteúdo sexual, e em sua reprise em 2004, foi "Livre para todos os públicos", editando as cenas mais fortes, e sem restrições de horário.[25] Sua abertura era transmitida ao som de "Marcas da paixão", interpretada pela dupla Gian & Giovani. Seu desfecho foi mostrado em 18 de novembro de 2000, totalizando 167 capítulos, sendo substituída por Vidas Cruzadas.[26]Marcas da Paixão foi vendida e exibida em Portugal em setembro de 2000 no horário nobre do canal RTP.[27]
Foi reprisada pela segunda vez entre 11 de janeiro e 3 de setembro de 2021 em 168 capítulos, através da Rede Família, canal irmão da RecordTV, substituindo Cidadão Brasileiro às 14h, com reprises dos capítulos semanais aos sábados e domingos.[28]
O tema de abertura da telenovela, "Marcas da paixão", é interpretado pela dupla Gian & Giovani. A trilha sonora conta ainda com cantores como Chitãozinho & Xororó, por "Falando ás paredes", As Meninas por "Xibom bombom" e Fafá de Belém por "Eu daria minha vida". Tais canções foram incluídas em um CD.[30]
"I Wanna Love You Forever" - Jessica Simpson (Tema de Cíntia e Diogo)
"There's No Sunshine Anymore" - Jon Secada (Tema der Olga e Sílvio)
Repercussão
Audiência
No dia da estreia de Marcas da Paixão, estrearam mais duas novelas na mesma faixa, Uga Uga da Rede Globo e A Mentira no SBT. O folhetim da Globo marcou 42 pontos, a mexicana do SBT fechou com 17 e Marcas da Paixão teve uma média de 10 pontos de audiência, medida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) na Grande São Paulo, oscilando a terceira posição no horário.[31][nota 1] A telenovela encerrou com uma média de 8 pontos em São Paulo, e no Rio de Janeiro fechou com 2 pontos.[3]
Avaliação em retrospecto
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Com um time promissor de jovens atores, algumas pérolas da velha guarda global e uma ambientação “genuinamente brasileira”, a Rede Record tenta fazer frente à mexicanização do concorrente SBT.
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Elena Corrêa de O Globo afirmou que Marcas da Paixão segue a fórmula "arroz-com-feijão", o que impede da trama cometer grandes erros. Ela priorizou as atuações de Walmor Chagas e Cláudio Cavalcanti, opinando que Chagas "levou o capítulo nas costas". Comparou o papel de Jussara Freire com a personagem Filó de Pantanal e o de Carla Regina com o seu em Mandacaru, ambas da Rede Manchete. Corrêa criticou a cena da explosão de um avião que ocorre no capítulo de estreia de Marcas da Paixão, torcendo que este fosse "o último toque de aventura da trama".[33] A Folha de S.Paulo, sobre a revisão feita por Francisco Martins da Costa, elogiou e notou a evolução da trama em relação as produções próprias feitas anteriormente e também as produções terceirizadas pela produtora JPO. Exibiu "cenas bucólicas e bem feitas no Nordeste e no interior de São Paulo", mas afirma que a trama se tornou trash após a cena da explosão do avião, lembrando, segundo Costa, uma cena da explosão de um shopping center da telenovela Torre de Babel, da Rede Globo.[34]
Patrícia d'Abreu e Ulisses Mattos do Jornal do Brasil ao comparar Marcas da Paixão com as tramas da Globo, "não pareceu tão eficiente". Criticaram a sonorização, pois "a todo instante, uma música de suspense forçava um tom que não havia em algumas cenas" e acabou elogiando os atores e o texto da autora.[35] Paula Alzugaray da IstoÉ Gente percebeu boas tramas que podem prender o telespectador junto a novela, elogiando Carla Regina, dizendo que "além de beleza, tem equilíbrio na interpretação. Na rolação de lágrimas dos primeiros capítulos, foi ela quem se saiu melhor, dando um banho em Casagrande e em Eriberto Leão". Alzugaray percebeu o teor dramático da novela, não distanciando-a da trama mexicana que estreou no mesmo dia da estreia de Marcas da Paixão, A Mentira no SBT.[24]
Notas
↑Cada ponto de audiência medido pelo Ibope em 2000 correspondia a 80 mil domicílios na Grande São Paulo.[32]
Referências
↑«Marks of Passion». Record TV Network. Consultado em 6 de julho de 2014. Arquivado do original em 18 de junho de 2014
↑d'Abreu, Patrícia, Mattos, Ulisses (10 de maio de 2000). «A novela das estréias». Jornal do Brasil. Consultado em 7 de fevereiro de 2014 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)