Embora seu trabalho tenha sido amplamente ignorado até meados do século XX,[2][3][4] sua obra tem experimentado um certo aumento de popularidade, embora mesmo pensadores ligados ao liberalismo clássico o acusem de ser "um filho do Iluminismo nascido por engano no século XX".[3][4]
É autor de diversos livros sobre economia, dentre os quais o já citado Ação Humana (1949), A Mentalidade Anticapitalista (1956) e As Seis lições (1979).
Biografia
Ludwig von Mises nasceu em Lviv, então parte do Império Austro-Húngaro e atual Ucrânia, filho de pais judeus. O seu pai trabalhava como engenheiro na cidade, e como descendentes de famílias de grande fortuna (seu bisavô paterno havia sido elevado à pequena nobreza e recebido de Francisco José I o título de edler) o jovem Ludwig e seu irmão Richard, que deixou contribuições na área de engenharia mecânica, tiveram uma infância confortável e que lhes proporcionou uma esmerada educação. Assim, aos doze anos, Ludwig falava fluentemente alemão, polonês e francês, lia em latim, e entendia o ucraniano.[5]
Quando Ludwig e Richard ainda eram pequenos, sua família voltou para Viena, onde tinha raízes. Em 1900, Mises frequentou a Universidade de Viena, sendo influenciado pelos trabalhos de Carl Menger. Entre 1904 e 1914, Mises assistiu às aulas do economista austríaco Eugen von Boehm-Bawerk, tendo concluído seu doutorado em 1906.
Em 1940, ele imigrou para Nova Iorque,[7] vindo aos Estados Unidos sob o patrocínio da Fundação Rockefeller e, como muitos outros intelectuais representantes do liberalismo clássico, recebeu apoio do Fundo William Volker para obter uma posição nas universidades norte-americanas,[8] finalmente tornando-se professor visitante na New York University de 1945 até sua aposentadoria em 1969,[9] sendo então financiado pelo empresário Lawrence Fertig.[10][11] Durante parte desse período atuou como consultor acerca de assuntos monetários para a União Pan-europeia[12] e recebeu um doutorado honorário do Grove City College.
Ludwig Heinrich von Mises faleceu no dia 10 de outubro de 1973, aos 92 anos de idade, no hospital St. Vincent, em Nova Iorque.
Mises escreveu e lecionou incansavelmente, divulgando o liberalismo clássico, sendo um dos líderes da Escola Austríaca de economia. Em Human Action, Mises revelou o fundamento conceitual da economia, que chamou de praxeologia, a ciência da ação humana. Muitos de seus trabalhos tratavam de dois temas econômicos relacionados:
Em artigo de 1920,[17] Mises argumentou que, sem uma economia de mercado não haveria um sistema de preços funcional, o qual considerava essencial para alcançar uma alocação racional dos bens de capital para os seus usos mais produtivos. O socialismo falha porque a demanda não pode ser conhecida sem preços estabelecidos pelo mercado. A crítica de Mises da via socialista para o desenvolvimento econômico é conhecida:
“
O único fato sobre a Rússia sob o regime soviético com que todas as pessoas concordam é: que a qualidade de vida do povo Russo é muito menor do que a do povo no pais que é universalmente considerado como o paradigma do capitalismo, os Estados Unidos. Se fôssemos considerar o regime soviético um experimento científico, poderíamos dizer que a experiência demonstrou claramente a superioridade do capitalismo e a inferioridade do socialismo.[18]
”
Oskar Lange iniciou a reflexão socialista sobre esse assunto a partir do ponto de vista de Mises, com o ensaio editado em outubro de 1936, On the Economic Theory of Socialism, publicado na Review of Economic Studies.[19]
Os argumentos de Mises foram ampliados por economistas austríacos posteriores, como Hayek.
Em Intervencionismo, uma Análise Econômica (1940), Ludwig von Mises escreveu:
“
A terminologia usual da linguagem política é estúpida. O que é esquerda e o que é direita? Por que Hitler é de 'direita' e Stalin, seu amigo e contemporâneo, de 'esquerda'? Quem é 'reacionário' e quem é 'progressista'? Reação contra políticas pouco inteligentes não deve ser condenada. E progresso em direção ao caos não deve ser elogiado. Nada deve ser aceito apenas por ser novo, radical, e estar na moda. 'Ortodoxia' não é um mal se a doutrina em que o ortodoxo se baseia é válida. Quem é antitrabalhista, aqueles que querem rebaixar o trabalho ao nível da Rússia, ou aqueles que querem para o trabalho o padrão de vidacapitalista dos Estados Unidos? Quem é 'nacionalista,' aqueles que querem colocar seu país sob os calcanhares dos Nazistas ou os que querem preservar sua independência?
As ideias de Mises foram também considerados uma forte influência para a política Reaganomics do presidente norte-americano Ronald Reagan.[21]
Críticas
Segundo o historiador econômico Bruce Caldwell, com a ascendência do Positivismo e do Keynesianismo, von Mises veio a ser considerado por muitos como o "economista anticientífico".[22] (carece de explicação).
O livro de 1927 von Mises "Liberalismo" tem sido criticado pelos seus comentários favoráveis ao fascismo. Marxistas como Herbert Marcuse e Perry Anderson, assim como o escritor alemão Claus-Dieter Krohn, alegaram que o autor era favorável ao fascismo italiano, por discutir o seu combate ao socialismo.[23] Recentemente o economista J. Bradford DeLong[24] e sociólogoRichard Seymour,[25] repetiram as mesmas críticas. Von Mises escreveu naquele livro:[26]
Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando o estabelecimento de ditaduras são cheios de boas intenções e que sua intervenção, em dado momento, salvou a civilização europeia. O mérito que o fascismo ganhou assim, por si só viverá eternamente na história. Mas apesar da sua política ter sido a salvação do momento, ela não é do tipo que possa garantir um sucesso contínuo. O Fascismo foi um improviso para fazer face a uma emergência. Entendê-lo como algo mais que isso seria um erro fatal.[27]
O biógrafo de Mises Jörg Guido Hülsmann chama a crítica de que Mises justificou o fascismo de "absurda", apontando para o resto da citação na qual ele chamou o fascismo de perigoso e o descreve como um "erro fatal" classificando-o como um "improviso de emergência" contra a crescente ameaça do comunismo e o socialismo, este exemplificado pelos bolcheviques na Rússia.[27]
Bibliografia
Em português
A Mentalidade Anticapitalista, LVM Editora; 3ª edição (1 janeiro 2017), ISBN-10 8593751059
Ação Humana: Um Tratado de Economia, LVM Editora; 3ª edição (1 janeiro 2010), ISBN-10 8562816833
As Seis Lições, LVM Editora; 9ª edição (16 abril 2018), ISBN-10 8593751253
Intervencionismo: Uma Análise Econômica, LVM Editora; 4ª edição (1 janeiro 2018), ISBN-10 8593751652
Liberalismo: Segundo a Tradição Clássica, LVM Editora; 2ª edição (1 janeiro 2010), ISBN-10 8562816159
O Cálculo Econômico sob o Socialismo, LVM Editora; 1ª edição (1 janeiro 2012), ISBN-10 8581190073
O Mercado. Rio de Janeiro: J. Olympio/Instituto Liberal, 1985. 151p.
O Livre Mercado e Seus Inimigos. São Paulo: Vide Editorial. 2016. 140p.
Marxismo Desmascarado. São Paulo: Vide Editorial. 2016. 160p.
Burocracia. São Paulo: Vide Editorial. 2016. 152p.
Socialismo: Uma Análise Econômica e Sociológica. Editora KONKIN. 2021. 590p.
Outros idiomas
Selected writings of Ludwig von Mises — Between the two World Wars: monetary disorder, interventionism, socialism and the Great Depression. Indianópolis, Liberty Fund, 2002.
Socialism. Indianópolis, Liberty Fund, 1981. 569 p.
↑Hulsmann, Jorg Guido (2007). Ludwig von Mises Institute, ed. Mises: The Last Knight of Liberalism. [S.l.: s.n.] ISBN1-933550-18-X
↑Kitch, Edmund W. (abril de 1983). «The Fire of Truth: A Remembrance of Law and Economics at Chicago, 1932–1970». Journal of Law and Economics. 26 (1): 163–234. doi:10.1086/467030
↑Rothbard, Murray, Ludwig von Mises: Scholar, Creator, Hero, the Ludwig von Mises Institute, 1988, p.61
↑Moss, Laurence S. "Introduction". The Economics of Ludwig von Mises: Toward a Critical Reappraisal. Sheed and Ward, 1976. [1]
↑Richard Nikolaus, Graf von (1953). An idea conquers the world. Coudenhove-Kalergi. Londres: Hutchinson. p. 247
↑Rothbard, Murray, Ludwig von Mises: Scholar, Creator, Hero, the Ludwig von Mises Institute, 1988, p. 67.
↑Reisman, George, Capitalism: a Treatise on Economics, "Introduction," Jameson Books, 1996; and Mises, Margit von, My Years with Ludwig von Mises, 2nd enlarged edit., Center for Future Education, 1984, pp. 219–220.
↑Samuelson, Paul A. (1986). The Collected Scientific Papers of Paul A. Samuelson. [S.l.: s.n.] p. 358 (n.1). ISBN0-262-19251-9
↑Hülsmann, Jörg Guido. Mises: The Last Knight of Liberalism. Ludwig von Mises Institute, 2007, pág. 585, (em inglês) ISBN 9781610163897 Adicionado em 16/08/2017.
↑Die Wirtschaftsrechnung in Sozialistischen Gemeinwesen, no Archiv fur Sozialwissencheften. A tradução em inglês apareceu em 1935 com o título de Economic Calculation in the Socialist Commonwealth, no volume Collectivist Economic Planning, editado em Londres por F.A. von Hayek. Argumentos semelhantes também constaram de artigo do mesmo ano de N.G.Pierson, em The Economist. POLÍTICA E PROGRAMAÇÃO ECONÔMICAS - ROSSETTI, José Paschoal, 3ª Ed., 1979, Ed. Atlas, Pg. 89
↑POLÍTICA E PROGRAMAÇÃO ECONÔMICAS - ROSSETTI, José Paschoal, 3ª Ed., 1979, Ed. Atlas, Pg. 92
↑On Mises's influence, see Rothbard, Murray, The Essential Ludwig von Mises, 2nd printing, the Ludwig von Mises Institute, 1983; on Eastman's conversion "from Marx to Mises," see Diggins, John P., Up From Communism Harper & Row, 1975, pp. 201–233; on Mises's students and seminar attendees, see Mises, Margit von, My Years with Ludwig von Mises, Arlington House, 1976, 2nd enlarged edit., Center for Future Education, 1984.