Lisete Arelaro
Lisete Regina Gomes Arelaro ou simplesmente Lisete Arelaro (Campinas, 30 de maio de 1945 – São Paulo, 12 de março de 2022) foi uma pedagoga, professora, pesquisadora e ativista política brasileira. Militante política do movimento estudantil durante a ditadura militar brasileira, foi filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e atuou na área de educação durante a gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo. Posteriormente, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e concorreu ao governo do Estado de São Paulo nas eleições de 2018. Foi professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, instituição onde desenvolveu sua carreira docente. BiografiaAnos iniciaisNascida e criada em Campinas, no interior de São Paulo,[1][2] no seio de uma família de classe média, com pai e mãe com formação universitária, Lisete Regina Gomes Arelaro estudou no Instituto de Educação Carlos Gomes, uma escola pública tradicional de Campinas que adotava as diretrizes pedagógicas do movimento de renovação Escola Nova. Nessa instituição de ensino, ela se tornaria presidente do grêmio estudantil escolar, o Grêmio Estudantil Castro Alves. Além das aulas no ensino regular, sua condição de classe lhe permitiu que tivesse estudado piano no Conservatório de Música de Campinas.[3] Em 1960, Lisete Regina ingressa no curso normal visando uma formação como professora normalista, enfrentando opiniões contrárias de seu pai advogado e de sua professora de matemática. Nesta época, ela aprofunda sua compreensão política da realidade social, lendo contato com as obras de Karl Marx e, também, com a teologia da libertação.[3] Vida acadêmica e profissionalApós desempenhar ações de alfabetização em paróquias da cidade de Campinas, além de ter tido a experiência de magistério no Vale do Ribeira e professora de piano no Conservatório de Música de Campinas, em 1963, Lisete Regina Gomes Arelaro ingressou no curso de Pedagogia da Universidade Católica de Campinas (atual PUC-Campinas) tendo concluído o seu curso no ano de 1966.[3] Ela se muda para a cidade de São Paulo em 1968, após concluir uma especialização em administração escolar na PUC-Campinas, e ingressou no curso de pós-graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), onde estudou com Luiz Pereira, Octavio Ianni e Florestan Fernandes, tendo o concluído em 1970, mas o simples fato de frequentá-lo despertaria a atenção dos órgãos de repressão da Ditadura Militar de 1964.[3] Lisete Arelaro foi professora em escolas públicas entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, tendo trabalho em escolas situados em Conchal e na Zona Leste do município de São Paulo, até quando foi forçada a se afastar da sala de aula, após as prisões arbitrárias feitas pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Desde então, exerceria funções administrativas na tecnocracia da Secretaria de Educação no Estado de São Paulo, especialmente na área de orçamento em educação, chegando a ocupar cargos em comissão, a despeito de correspondências de advertência que o Serviço Nacional de Informações (SNI) enviada para seus superiores, em razão de suas prisões políticas.[3] Entre 1973 e 1980, ela cursou o mestrado em educação na Universidade de São Paulo, tendo defendido a dissertação A Descentralização na Lei nº. 5692/71: coerência ou contradição, sob a orientação da professora Maria da Penha Villalobos.[4] Dois anos depois, Lisete Regina é aprovada por concurso e ingressa como professora da Faculdade de Educação da USP (FEUSP).[2][4][5][6], tendo lecionado as disciplinas Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus, Economia da Educação, Planejamento Educacional, Administração Escolar II, Política Educacional, Legislação da Educação, Política e Organização da Educação Básica no Brasil e Pedagogia da Terra. Em 1988, ela concluiu o seu doutoramento ao defender tese de doutorado em educação na USP com o tema: A (ex)tensão do Ensino Básico para todos: o avesso de um direito democrático;[7][6][2][4][5] esta tese se desenvolveu sob orientação do professor José Mario Pires Azanha, o qual participou em vários momentos profissionais de docência não-universitária e de administração educacional de Lisete Regina.[3] Em 1989, passou a ministrar aulas no Programa de Pós-graduação em Educação da USP, onde lecionou as disciplinas Financiamento da Educação, Metodologia de Pesquisa Educacional, Estado, Planejamento e Ensino Fundamental no Brasil e Cátedra Paulo Freire; além de ter orientado dissertações e teses de doutorado de várias pessoas que se tornariam referência no campo. Em 2005, ela se tornou professora livre docente da Faculdade de Educação da USP, tendo defendido a tese de livre docência: Os Fundos Públicos no Financiamento da Educação - o caso FUNDEB: Justiça Social, Equívoco Político ou Estratégia Neoliberal?.[4] Ela é reconhecida como uma das referência no campo da educação[2][5], especialmente nos estudos sobre financiamento da educação, municipalização do ensino e do método freireano, expertise adquirida ao trabalhar com a tecnocracia da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, além das experiências como agente educacional em campanhas de alfabetização no estado de Alagoas, situado no Nordeste brasileiro, onde teve um contato com a metodologia de alfabetização de Paulo Freire, como professora em diversas instituições de ensino, inclusive sendo diretora de escolas de ensino fundamental.[3] Militância política, perseguição durante a Ditadura Militar de 1964 e cargos públicosA origem da militância política de Lisete Arelaro estava associada ao movimento estudantil, visto que, além de ter sido da filiada à Juventude Estudantil Católica (JEC) e ter relações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), ela foi presidente de grêmio estudantil e do centro acadêmico do curso de Pedagogia da Universidade Católica de Campinas (atual PUC-Campinas).[3] Com a implantação da Ditadura Militar a partir de 1964, Lisete Regina foi presa três vezes pelos órgãos de repressão do estado, com destaque para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que tinha o delegado da polícia civil Sérgio Paranhos Fleury como o seu chefe. Todas as prisões dela foram feitas sem que tivesse sido a instaurado um prévio processo e não havia a comunicação dessa detenção pelo estado para os familiares ou conhecidos, sendo que estes só tomavam conhecimento da prisão, quando ela era solta.[3] Durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, então filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), na Prefeitura de São Paulo, Lisete Arelaro atuou como assessora de Paulo Freire na administração da Secretaria Municipal de Educação.[8][3][7][6][2] Entre 1993 e 1996, ela foi nomeada e exerceu o cargo de Secretária Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura de Diadema, sob a gestão de José de Filippi Júnior, prefeito que havia sido eleito pelo PT. Ela voltaria a ocupar esse cargo de secretária municipal entre 2001 a 2002.[8][3][7][6][2] Na condição de professora concursada da USP, Lisete Regina ocupou diversos cargos administrativos de natureza acadêmica, destacando-se, principalmente, o fato de ela ter sido Diretora da FEUSP entre 2010 e 2014.[8][3][7][6][2] Ela desempenhou cargos de liderança em entidades classistas e científicas, como o cargo de Presidente do Fórum Nacional de Faculdades e Centros de Educação Pública (FORUMDIR) de 2012 a 2014, e, posteriormente, se tornou Presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (FINEDUCA), entre 2015 e 2017.[3] Durante as eleições para o governo do estado de São Paulo de 2018, a Professora Lisete, que no passado havia sido filiada ao PT, concorreu ao cargo de governadora estadual pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tendo obtido o 8º lugar na disputa.[8][3][7][6][2] Por conhecer a realidade da perseguição política feita por órgãos do estado, um dos últimos atos de sua militância política foi a defesa pública de uma professora de uma escola pública do município de São Caetano do Sul, chamada Catarina Troiano, que foi demitida pela Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul por ser contra o retorno das aulas presenciais durante um período agudo da pandemia no ano de 2021.[2][9] Na oportunidade, a Professora Lisete afirmou:
PensamentoA correlação entre pensamento (teoria) e ação (práxis) é algo central na perspectiva de educação para Lisete Regina Gomes Arelaro, o que mostra as influências sobre sua proposta teórica de autores como o filósofo e revolucionário alemão Karl Marx, o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes e o educador e filósofo brasileiro Paulo Freire. Nas próprias palavras da Lisete Arelaro, seu pensamento-ação pode ser sintetizado nos seguintes termos:
MorteLisete Regina Gomes Arelaro morreu em 12 de março de 2022, aos 76 anos, devido a uma câncer de estômago, que ela vinha enfrentando.[8][7][6][2][5] A repercussão da morte da Professora Lisete levou a que diversas entidades manifestassem o seu pesar, como os vários órgãos e unidades da Universidade de São Paulo, a Faculdade de Educação da USP, a APEOESP, o SINTUSP, a ADUSP, além de educadores, parlamentares e ativistas de distintos movimentos sociais.[2] Principais obrasLivros
Artigos e capítulos de livrosRelação dos principais artigos publicados durante a trajetória de cinco décadas de Lisete Arelaro:
Ver tambémReferências
Ligações externas
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