Lince-ibérico
O lince-ibérico[4] (nome científico: Lynx pardinus), também conhecido como liberne,[5] lobo-cerval, gato-fantasma,[5] gato-cerval[5] e gato-lince[5], é uma espécie de mamífero da família Felidae e género Lynx. Anteriormente considerado uma subespécie do lince-euroasiático (Lynx lynx), o lince-ibérico está agora classificado como espécie separada. Ambas as espécies percorriam juntas a Europa central durante o período Pleistoceno, separadas apenas por escolhas de habitat. Acredita-se que o lince-ibérico, assim como os outros linces, evoluiu a partir do Lynx issiodorensis. Apresenta muitas das características típicas dos linces, como orelhas peludas, pernas longas, cauda curta e um colar de pelo que se assemelha a uma barba. Ao contrário dos seus parentes mais próximos, o lince-ibérico tem uma cor castanho-amarelada com manchas. O comprimento da cabeça e do corpo é de 85 a 110 centímetros, com a pequena cauda a acrescentar um comprimento adicional de 12 a 30 centímetros. O macho é maior que a fêmea e podem pesar até cerca de 27 kg. A longevidade máxima na natureza é de treze anos. Endémico da Península Ibérica, o lince-ibérico é especialista na caça de coelhos, que representam a maioria da sua dieta, com grande dificuldade de se adaptar a outra alimentação. Um macho necessita de um coelho por dia; uma fêmea grávida come três coelhos por dia. A queda acentuada das populações da sua principal fonte de alimento, em resultado de duas doenças, contribuiu para o declínio do felino. O lince também foi afectado pela perda de matagal, o seu habitat principal, pelo desenvolvimento humano, incluindo mudanças no uso do solo (como o monocultivo de árvores) e pela construção de barragens e estradas. Os atropelamentos com veículos são a sua principal causa de morte não natural. O lince-ibérico foi uma espécie em perigo crítico até 2015 e até 2024 considerada uma espécie em perigo.[2] Ainda assim, é o carnívoro em maior perigo na Europa. Esteve categorizado como espécie em perigo por várias organizações, incluindo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).[2] A reprodução em cativeiro e os programas de reintrodução têm aumentado o seu número. Em 2013, a Andaluzia tinha uma população de 309 indivíduos em estado selvagem e em Dezembro de 2014 foram reintroduzidos os primeiros exemplares em Portugal. Em 2017 a população total do lince era de 475 espécimes. Numa tentativa de salvar esta espécie da extinção, teve início o projecto Europeu de Vida Natural que inclui a preservação do habitat, monitorização da população do lince e gestão das populações de coelho. Em 2022, a população era já de 1 668 exemplares, dos quais 261 em Portugal.[6] Em 2024, a população aumentou para 2 021 espécimes, levando à sua reclassificação de espécie em perigo para espécie vulnerável.[7] Taxonomia e evolução
O lince-ibérico foi descrito em 1827 por Coenraad Jacob Temminck, inicialmente no género Felis.[1] Já foi considerado uma subespécie do lince-euroasiático (Lynx lynx), mas estudos morfológicos e genéticos corroboram a hipótese de ser uma espécie separada.[2] Não são conhecidas subespécies do lince-ibérico.[1] A linhagem dos linces divergiu da dos outros felídeos há cerca de 7,2 milhões de anos.[8] O género Lynx começou a diversificar-se há cerca de 3,24 milhões de anos, e o lince-ibérico separou-se do lince-euroasiático há cerca de 1,18 milhão de anos.[8] Segundo Werdelin (1981), os linces evoluíram a partir do Lynx issiodorensis.[9] O lince-ibérico e o lince euroasiático eram endémicos da Europa Central durante o Pleistoceno. O isolamento do ancestral comum entre essas duas espécies, no sul da Península Ibérica em refúgios na Era do Gelo, culminou no surgimento do lince-ibérico, resultado de uma diminuição do porte desta espécie.[10] Tal diminuição no tamanho é observada no registo fóssil e provavelmente deu-se pela especialização do felídeo em caçar coelhos.[10] Distribuição geográfica e habitatAté ao século XIX, o lince-ibérico encontrava-se distribuído por toda a Península Ibérica, excepto ao longo de uma estreita faixa no norte e noroeste peninsular.[10] O registo fóssil aponta para uma distribuição muito mais ampla do lince-ibérico no fim do Pleistoceno, ocorrendo numa área de até 650 000 km² que se prolongava até ao sul da França.[10] Por volta de 1950, a sua distribuição foi dividida em duas populações; uma nortenha, desde a Galiza e partes do norte de Portugal estendendo-se até ao Mediterrâneo, e a população sulista, em várias zonas de Espanha.[10][11] Estima-se que houve uma regressão de cerca de 80% na área de distribuição entre 1960 e 1990, tendência que se manteve até à actualidade. Na década de oitenta, a espécie apresentava uma distribuição localizada na zona central e sudoeste da Península Ibérica, com uma área de distribuição estimada em 11 000 km².[10][12][13] Actualmente, a distribuição do lince pode estar restrita a duas áreas na Península Ibérica onde existem populações reprodutoras – Doñana e Andújar-Cardeña. Poderá também existir presença residual de indivíduos nas regiões dos Montes Toledo Oriental, Sistema Central Ocidental e algumas áreas da Serra Morena. Mantêm-se populações estáveis em cerca de 350 km², constatando-se reprodução somente em 14 000 ha.[13] Este felino prefere um ambiente heterogéneo de pastagem aberto, com arbustos densos como o medronheiro, a aroeira e zimbros, e árvores como a azinheira e o sobreiro. Está agora em grande parte restrito a áreas montanhosas, com apenas alguns grupos encontrados na floresta de várzea ou em densos matagais maquis.[14][15][16] No Parque Nacional de Doñana, prefere a floresta mediterrânea de bosques e arbustos, na maior parte das vezes, associada a algum curso de água.[17] Geralmente, evita plantações de Pinus e Eucalyptus.[17] DescriçãoO lince-ibérico apresenta muitas das características típicas dos linces, como orelhas peludas, pernas longas, cauda curta e um colar de pelo que se assemelha a uma barba.[18] Diferentemente dos seus parentes euroasiáticos, o lince-ibérico tem uma cor castanho-amarelada com manchas.[19] O pelo também é mais curto que o de outros linces, que geralmente estão adaptados a ambientes mais frios.[20] Algumas populações ocidentais não tinham manchas, no entanto acredita-se estarem extintas.[18] Geralmente as manchas têm uma cor mais intensa durante os meses do Verão.[21] Tem havido recentemente estudos sobre a configuração das manchas e a determinação do grau de diversidade genética dentro da espécie.[15] A cabeça e o corpo medem de 85 a 110 centímetros, com a pequena cauda a acrescentar um comprimento adicional de 12 a 30 centímetros. O tamanho dos ombros é de 60 a 70 centímetros. O macho é maior e mais pesado que a fêmea; estes apresentam um peso médio de 12,9 kg e um máximo de 26,8 kg, enquanto que as fêmeas apresentam um peso médio de 9,4 kg; tal é cerca de metade do peso do lince-euroasiático (Lynx lynx).[22][23] O lince-ibérico é um caçador muito especializado e que apresenta certas adaptações que melhoram a sua capacidade de capturar e matar pequenas presas. Tem um crânio encurtado, o que maximiza a força da mordidela dos caninos. Os seus focinhos são mais estreitos e têm mandíbulas mais longas e caninos menores do que animais que se alimentam de presas maiores.[15] Como todos os felídeos, o lince-ibérico tem pupilas verticais e uma visão excelente, especialmente quando há pouca visibilidade. Tem também reflexos apurados; os bigodes fornecem dados táteis muito detalhados e as orelhas proporcionam uma excelente audição. A maioria dos gatos solitários são silenciosos, excepto quando se sentem ameaçados ou quando os juvenis se encontram em perigo.[15] EcologiaO lince-ibérico é especialista em caçar coelhos — o coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus) constitui a maior parte da sua dieta (79,5–86,7%), a qual é também composta por lebres (Lepus granatensis — 5,9%) e os roedores de uma maneira menos comum (3,2%).[22] Um macho necessita de um coelho por dia; uma fêmea grávida come três coelhos por dia.[24] A espécie ibérica não é capaz de mudar a sua dieta significativamente se as populações de coelhos diminuírem acentuadamente.[25][26] O lince continua a necessitar dos coelhos para a maioria da sua dieta, 75%, mesmo depois de a sua presa favorita ter sido dizimada por duas doenças: a mixomatose, que se espalhou para a Península Ibérica depois de um médico a ter introduzido intencionalmente em França em 1952, e a doença hemorrágica dos coelhos, que começou em 1988.[25][26] Houve dois grandes surtos e o último surgiu em 2011 e 2012.[27] A recuperação tem ocorrido em algumas áreas durante o ano de 2013, a sobre-população de coelhos ocorreu em Córdoba, causando danos em transportes e propriedades agrícolas.[28] Em Dezembro de 2013, no entanto, foi reportado que as autoridades estavam preocupados com uma nova estirpe de doença hemorrágica, afectando principalmente os coelhos mais novos.[29] O lince-ibérico também caça outros mamíferos (incluindo roedores e insectívoros), aves, répteis e anfíbios, mais activamente durante o crepúsculo e à noite.[30] Por vezes também caça jovens veados, gamos, corças, muflões e patos. Compete pela caça com a raposa vermelha, o sacarrabos (Herpestes ichneumon) e o gato-bravo. É uma espécie solitária e caça sozinha; persegue a presa ou deita-se à espera durante horas por detrás de um arbusto ou de uma pedra até a presa estar suficientemente perto para poder atacar com poucos passos.[14][15][19] O lince-ibérico é menor que os seus parentes do norte, e caça tipicamente pequenos animais, geralmente nunca maiores que uma lebre. Também é diferente na escolha do seu habitat, preferindo matagais abertos, enquanto que o lince-euroasiático prefere as florestas.[22] Um lince, especialmente os animais mais novos, vagueia em áreas muito amplas, chegando a mais de 100 km. O seu território (~ 10 a 20 km2) depende da comida disponível.[24] Um adulto necessita de pelo menos um espaço de 5 a 20 km2, e uma população de 50 fêmeas em fase de reprodução precisa de 500 km2 de área de habitat.[30] Todavia, uma vez estabilizado, as distâncias tendem também a estabilizar por vários anos, em que os limites são feitos pelo homem, como estradas ou caminhos de ferro. O lince-ibérico marca o seu território com urina, excrementos deixados pela vegetação e com marcas de arranhões nas cascas de árvores.[20] Em Maio de 2013 foi avistado perto de Vila Nova de Milfontes (costa sudoeste de Portugal) um lince-ibérico pertencente ao Parque Nacional de Doñana. O seu trajecto de mais de 250 km demonstrou a grande capacidade de deslocação dos linces e a possibilidade de conectividade entre o Sul de Espanha e Portugal.[31] ReproduçãoA época do cio ocorre de Janeiro a Julho, predominantemente em Janeiro-Fevereiro. Durante a época de acasalamento a fêmea deixa o seu território à procura de um macho. O típico período de gestação dura cerca de dois meses; as crias nascem entre Março e Setembro, com o ponto alto de nascimentos em Março e Abril. Uma ninhada consiste em duas ou três crias (raramente uma, quatro ou cinco). As crias pesam entre 200 e 250 gramas.[22][23] As crias tornam-se independentes quando têm sete a dez meses, mas permanecem com a mãe até aos vinte meses de idade. Entre os 8 e os 23 meses os machos dispersam-se (as fêmeas dispersam-se mais tarde). A distância de dispersão máxima verificada foi de 42 km.[13] A sobrevivência dos mais novos depende muito da população de coelhos no seu habitat.[21] No estado selvagem, tanto os machos como as fêmeas alcançam a maturidade sexual com um ano de idade, embora na prática raramente se reproduzam sem que um território fique vago e tenha qualidade suficiente;[15] foi conhecida uma fêmea que só criou aos cinco anos de idade, quando a sua mãe morreu. A longevidade máxima na natureza é de treze anos.[22][23] A reprodução não é anual, pois no melhor habitat de Doñana, registou-se o valor de 0,8 ninhada/fêmea/ano.[13] Os irmãos tornam-se violentos uns para com os outros entre os 30 e os 60 dias, com o ponto máximo nos 45 dias. Uma cria normalmente mata o seu irmão numa violenta luta. Desconhece-se por que razão ocorrem estes episódios agressivos. Muitos cientistas acreditam que têm a ver com mudanças hormonais, quando a cria muda do leite da mãe para a carne. Outros julgam que têm a ver com padrões de hierarquia, e de "sobrevivência do mais apto." Os tratadores separam as crias antes de chegar o período de 60 dias.[16] A dificuldade em encontrar parceiros leva a um maior número de casos de endogamia, que resulta em menos crias e uma maior taxa de morte não traumática.[32] A endogamia leva a uma menor qualidade de sémen e a maiores taxas de infertilidade entre os machos, dificultando os esforços para aumentar a aptidão da espécie.[33] ConservaçãoO lince-ibérico foi uma espécie em perigo crítico até 2015[2][34][35] e até 2024 uma espécie em perigo[2][35], sendo ainda assim o felino mais ameaçado do mundo,[14][19] e o carnívoro em maior perigo na Europa.[36] Em 2024, a população aumentou para mais de 2000 espécimes, levando à sua reclassificação de espécie em perigo para espécie vulnerável[3]- Esteve categorizado como espécie em perigo crítico de conservação por várias organizações, incluindo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).[2] Se o lince-ibérico fosse considerado extinto, seria o primeiro felino a desaparecer desde o Smilodon populator, há 10 000 anos.[37] A população reduzida torna o animal especialmente vulnerável à extinção, o que pode acontecer através de eventos inesperados, como doenças ou desastres naturais.[38] As medidas de conservação incluem o restauro do seu habitat nativo, a manutenção da população de coelhos selvagens, a redução de causas não naturais de morte e a reprodução em cativeiro para posterior libertação na natureza.[38] A Comissão Nacional Espanhola para a Protecção da Natureza endossou um programa de conservação e reprodução ex-situ, para servir como "rede de segurança" ao manter a população em cativeiro, e também para ajudar a "estabelecer novas populações de lince-ibérico livres na natureza, através de programas de reintrodução."[38] Antes da libertação dos indivíduos criados em cativeiro, é possível simular o seu habitat natural com o intuito de prepará-los para a vida em estado selvagem.[38] Um estudo de 2006 usou um sistema de monitorização não invasivo que envolve câmaras para monitorizar os dados demográficos das populações de linces e coelhos na Serra Morena.[39] Na eventualidade de a população de coelhos selvagens entrar em declínio, podem ser fornecidos alimentos complementares.[39] O lince e o seu habitat estão totalmente protegidos e a sua caça é proibida. As principais ameaças ao animal incluem a perda de habitat, atropelamentos por veículos, envenenamento, cães selvagens, caça ilegal e surtos ocasionais de leucemia felina (um retrovírus que infecta gatos).[40] Alguns animais em cativeiro são afectados por doenças do trato urinário.[41] A perda de habitat é em grande parte consequência da construção de infraestruturas, do desenvolvimento urbano e do monocultivo de árvores, factores que fragmentam a distribuição do lince.[42] Ao longo do século XX, a população de coelhos sofreu um declínio dramático em consequência de vários surtos de mixomatose e de doença hemorrágica, reduzindo assim a disponibilidade da principal fonte de alimentação do lince-ibérico.[27][43] Os atropelamentos com veículos são a principal causa de morte não natural,[34][44][45] tendo morrido 14 indivíduos em estradas espanholas durante o ano de 2013.[46] Outra das principais causas de morte não natural são as armadilhas ilegais para coelhos e raposas.[47] Em 2013, verificou-se a presença de uma bactéria resistente a antibióticos no trato digestivo do lince-ibérico, o que pode levar a que infecções perigosas sejam de difícil tratamento e à diminuição da aptidão física do animal.[48][49] Outro estudo de 2013 sugere que as alterações climáticas podem vir a ameaçar o lince-ibérico devido à sua fraca adaptabilidade a novos climas. A sua deslocação para áreas com um clima mais favorável, mas com menor número de coelhos, aumentaria a sua mortalidade.[50] Estão a ser desenvolvidos esforços de gestão no sentido de conservar e restaurar a escala nativa do animal.[11] Os conservacionistas com a função de libertar o lince do cativeiro para o estado selvagem têm a preocupação de escolher áreas de habitat adequado, com abundância de coelhos e aceitação pelas comunidades locais.[51] Entre 1994 e 2013 foram gastos cerca de 90 milhões de euros em medidas de conservação.[52] A União Europeia contribuiu com cerca de 61% dos fundos.[29][40] O SOS Lynx é uma organização não governamental portuguesa que trabalha para evitar a extinção do lince-ibérico.[14][53][54] População selvagem e reintroduçõesÉ estimado que havia em 1960 cerca de 4 000 indivíduos,[55] cerca de 400 em 2000, menos de 200 em 2002, e possivelmente menos de 100 em Março de 2005.[56] O Parque Nacional de Doñana e a Serra de Andújar, Xaém, tinham as únicas populações reprodutoras, até que em 2007 foi descoberta uma população de 15 indivíduos em Castela-La Mancha (Espanha central).[57][58] Em 2008, a população de Doñana estava avaliada em 24 a 33, enquanto que o grupo da Sierra Morena tinha de 60 a 110 adultos. A população total está estimada em 99 a 158 adultos, incluindo a população de La Mancha. O lince-ibérico foi, assim, listado como criticamente ameaçado na categoria C2a(i) (i), na Lista Vermelha do IUCN.[2][59] A partir de 2009, o lince tem sido reintroduzido em Guadalmellato, resultando numa população de 23 indivíduos em 2013.[60] Desde 2010, a espécie tem também sido libertada em Guarrizas.[51][61] Tem havido discussões junto do Ministro do Ambiente para ser solto também na área de Campanarios de Azaba, junto a Salamanca.[62] Em Abril de 2013, foi reportado que a população selvagem total da Andaluzia (apenas 94 em 2002) tinha triplicado para 309 indivíduos.[60][63] A Quercus (uma associação portuguesa para a conservação da natureza) considerou a espécie inexistente em Portugal em 2007, em resposta à criação do Plano de Acção para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal pelo governo português, embora testemunhas tenham reportado terem avistado alguns linces perto da fronteira.[64] Depois do programa de reintrodução da espécie na natureza, em 2020 são 109 os espécimes que vivem em liberdade na natureza em Portugal.[65] Em Julho de 2013, grupos ambientalistas observaram uma ninhada selvagem na província de Cáceres (Extremadura).[66] Possíveis locais de libertação em Portugal, Extremadura e Castilla-La Mancha estão sob discussão desde 2013.[67] Um estudo publicado em 2013 em Nature Climate Change aconselhou que os programas de reintrodução ocorram no norte ibérico, o que sugere que a mudança climática poderia ameaçar os coelhos no sul.[52][68] Entretanto, Portugal fez as suas primeiras reintroduções em Dezembro de 2014. Num terreno com cerca de 2 000 ha no Parque Natural do Vale do Guadiana,[69] foi colocado em liberdade um casal de linces, que está sendo permanentemente monitorizado por uma equipa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).[70][71][72][73] A 7 de Fevereiro de 2015 foi libertado outro par, mas a fêmea, de nome Kayakweru, foi encontrada morta perto de Mértola, vitima de envenenamento.[74] As autoridades portuguesas pretendiam colocar mais exemplares em liberdade durante o primeiro semestre de 2015.[75] Desde 2007, devido a um surto do vírus da leucemia felina (FeLV), os linces selvagens foram testados periodicamente. As amostras retiradas entre Setembro–Dezembro de 2013 deram resultado negativo para o FeLV, mas um macho tornou-se o primeiro da sua espécie a ter uma análise positiva ao vírus da imunodeficiência felina (FIV), tendo sido colocado em quarentena.[76] Em 2016 o Governo Português voltou a permitir a caça na Reserva Natural da Serra da Malcata, podendo colocar em perigo a recuperação do lince-ibérico e de outras espécies como o abutre-preto ou o lobo.[77] Em Abril de 2016, no conjunto da Península Ibérica, existiam 403 linces.[78] Em 2021, um estudo realizado em Portugal e Espanha apresenta um censo com um simbólico número de 1111 exemplares a habitarem os dois países. A população em 2020 aumentou em cerca de trinta por cento. Nasceram 414 linces, dos quais 239 fêmeas reprodutoras. O Vale do Guadiana tem 140 exemplares, os territórios de Castilha-La Mancha albergam cerca de um terço do total da espécie.[79]
Reprodução em cativeiroEm 2002, o Zoo de Jerez confirmou que tinha três fêmeas e estava a desenvolver um plano para reprodução em cativeiro.[37] Uma dessas fêmeas era Saliega, capturada ainda em cria em Abril de 2002.[37] Ela tornou-se a primeira fêmea do lince-ibérico a reproduzir em cativeiro, dando luz a três crias saudáveis em 29 de Março de 2005, no centro de reprodução El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana Huelva, Espanha.[80] Nos anos seguintes, o número de nascimentos foi aumentando e centros de reprodução foram sendo criados. Em Março de 2009, foi reportado que 27 crias já tinham nascido desde o começo do programa.[81] Em 2009, o governo espanhol planeou construir um centro de reprodução, com um custo de €5,5 milhões, em Zarza de Granadilla.[81] No mesmo ano, Portugal estabeleceu um centro de reprodução em Silves, o Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI).[82][83] Havia 14 crias sobreviventes em 2008 e 15 em 2009.[84] Em 2010, o excesso de pluviosidade e questões de saúde fizeram com que os resultados de reprodução fossem mais baixos — 14 nascimentos e 8 sobreviventes[84] — mas no ano seguinte, os centros de reprodução registaram 45 nascimentos, com 26 crias sobreviventes.[85] Em 2012, os centros de Portugal e Espanha registaram um total de 44 sobreviventes e 59 nascimentos,[85][86] enquanto 2013 viu um total de 44 sobreviventes e 53 nascimentos.[87] Em Março de 2013, foi reportado que tinham sido conservados pela primeira vez embriões e óvulos de lince-ibérico.[88] Os embriões foram recolhidos da fêmea Azahar (CNRLI) e os óvulos da fêmea Saliega (El Acebuche) (ambas esterilizadas e retiradas do programa de reprodução) pelo Instituto Leibniz de Berlim para Zoos e Pesquisa de Vida Selvagem, e armazenados em nitrogénio líquido no Museo Nacional de Ciências Naturales de Madrid (CSIC) para possíveis reproduções futuras.[88] Em Julho de 2014, o MNCN-CSIC anunciou que tinha reproduzido células de esperma retiradas do tecido testicular de um lince sexualmente imaturo.[89] O lince-ibérico pode ser visto em cativeiro apenas no Zoo de Jerez,[90] e desde Dezembro de 2014 no Zoo de Lisboa.[91][92] Os animais de Jerez pertencem ao programa de reprodução, enquanto que o casal de Lisboa fazia parte do centro de reprodução português, mas já não são adequados, visto que Azahar falhou vários partos normais e foi esterilizada e o macho, Gamma, tem uma forma de epilepsia.[93] Em 2017 a população total do lince era de 475 espécimes.[94] Segundo o Programa de Conservação Ex-Situ, em 2020 deverão nascer entre 37 e 45 crias nos cinco centros de reprodução em Portugal e Espanha.[95] De 2009, ano em que abriu o Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, até 2024 nasceram lá 170 animais. Destes, 132 sobreviveram mais de seis meses e 110 foram reintroduzidos [no campo], 17 dos quais em Portugal, o que representa quase um terço dos animais aqui libertados.[96] Estudos genéticosEm Agosto de 2012, pesquisadores anunciaram que o genoma do lince-ibérico tinha sido sequenciado.[97] Também planeiam fazer testes genéticos em restos mortais de lince, para quantificar a perda de diversidade genética e melhorar os programas de conservação.[98] Em dezembro de 2012, foi relatado que os investigadores tinham localizado restos mortais de 466 linces-ibéricos em colecções particulares e museus.[98] No entanto, ficou estimado que 40% dos espécimes armazenados em museus foram perdidos ao longo dos últimos 20 anos.[98] A diversidade genética do lince-ibérico é mais baixa que a de outros felinos conhecidos por serem geneticamente pobres, incluindo a chita (Acinonyx jubatus), leões da cratera de Ngorongoro e o lince-euroasiático da Escandinávia.[99] Os investigadores acreditam que esta pode ser uma das consequências da diminuição do tamanho das populações e isolamento.[99] Um estudo publicado em 2013 indicou forte diferenciação genética entre as populações de Doñana e Andújar, tanto nas frequências e composições alélicas. Os linces de Doñana diferenciaram mais da população ancestral, devido a serem mais isolados e terem um índice baixo de população.[99] Os investigadores sugeriram colocar os dois grupos em conjunto, a fim de diminuir o grau de endogamia.[99] Notas
Referências
Bibliografia
Ligações externas
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