Língua irlandesa
O irlandês (Gaeilge), também conhecido como gaélico irlandês ou simplesmente gaélico, é um idioma falado como língua nativa na Ilha da Irlanda, predominantemente nas zonas rurais ocidentais da ilha. O irlandês era a língua principal da llha Esmeralda antes de os ingleses a invadirem durante a Idade Média. É um dos membros da divisão gaélica das línguas célticas. HistóriaA partir de 1922, com a independência da República da Irlanda (chamada originalmente "Estado Livre Irlandês"), o irlandês passou a ser, juntamente com o inglês, o idioma oficial deste país. Desde 13 de junho de 2005, o irlandês é um dos idiomas oficiais da União Europeia. Desde 1998, com o Acordo de Belfast, o irlandês é também reconhecido como língua minoritária na Irlanda do Norte. Durante a história da Irlanda foi proibido o ensino da língua nas escolas durante a colonização inglesa. Além disso, a grande fome em meados do século XIX matou uma imensa quantidade de falantes da língua e fez tantos outros emigrarem do país. O irlandês é atualmente a língua materna de pouco mais de 2% da população da República da Irlanda. As comunidades e regiões onde se fala primariamente o irlandês são chamadas Gaeltachtaí (no singular, Gaeltacht). A Gaeltacht com maior população é Conamara, no Condado de Galway (Contae na Gaillimhe) e nas Ilhas de Aran (oileáin Árann). As Gaeltachtaí, no entanto, apenas contam com 27,9% da população que fala o irlandês diariamente em contextos não educacionais, segundo dados do Censo de 2016, de forma que a maioria da população falante nativa do gaélico está espalhada em regiões onde é minoritária.[1] Pelo fato de o governo irlandês tornar obrigatório o estudo do idioma nas escolas públicas, muitas pessoas falam-no como segunda língua. A maioria das pessoas tem, ao mínimo, uma noção básica do idioma. Conquanto seja o inglês o idioma predominante da República da Irlanda, ao longo da ilha (principalmente nos Gaeltachtaí) há vários jornais, revistas e emissoras de rádio em língua irlandesa. Outrossim, desde 1996 há um canal de televisão em língua irlandesa chamado Teilifís na Gaeilge (televisão em irlandês), o TG4.[2] GramáticaO irlandês é uma língua flexiva, de ordem Verbo-Sujeito-Objeto e alinhamento nominativo-acusativo. SubstantivosOs substantivos declinam em três números (singular, dual e plural), dois gêneros e quatro casos (nominativo-acusativo, vocativo, genitivo e dativo).[3] Há cinco declinações, identificáveis pela terminação do nominativo e genitivo singulares:
Exemplo da primeira declinação:
Segunda declinação:
Terceira declinação, na qual o dativo é idêntico ao nominativo:
Quarta declinação, na qual todos os casos são essencialmente idênticos (mas o vocativo, como sempre será inevitavelmente precedido de a e lenido):
Quinta declinação, na qual nominativo e dativo são iguais:
AdjetivosAdjetivos concordam em número, gênero e caso e seguem sempre o substantivo. Há dois graus morfológicos: positivo e comparativo; por exemplo:
O grau superlativo é indicado pela desinência comparativa em uma oração relativa, por exemplo: Is é Seán an páiste is cairdiúla den triúr. ("Seán é o garoto mais amigável dos três.") VerbosVerbos são conjugados em três tempos (passado, presente e futuro), dois aspectos (simples e habitual) e quatro modos (indicativo, subjuntivo, condicional e imperativo). Os verbos ainda têm formas relativas sintéticas no dialeto de Connacht, mas a voz passiva é sempre perifrástica. Os verbos ainda têm formas substantivas e adjetivas. A conjugação é extremamente regular, de forma que muitas gramáticas apenas reconhecem onze verbos irregulares.[3] A distinção entre formas verbais dependentes e independentes, característica das línguas goidélicas, foi preservada apenas residualmente no irlandês moderno. No irlandês antigo, gaélico escocês e manês, os verbos possuem em regra uma forma independente (geral) e uma dependente (utilizada após certas partículas); por exemplo: no escocês, “ele tomará” se diz ’’glacaidh’’, enquanto “ele não tomará” se diz cha ghlac.[4] No irlandês, diz-se ‘’glacfaidh sé’’ e ‘’ní ghlacfaidh sé’’ (a mudança de ‘’g’’ para ‘’gh’’ é uma mera mutação). Algumas formas específicas de verbos irregulares, contudo, ainda mantém formas dependentes e independentes no irlandês moderno, como por exemplo:[3]
Assim como no português, se diferencia o verbo de cópula para qualidades inerentes (is, “ser”) e transientes (bí, “estar”).[5] Mutação inicialAssim como o restante das línguas celtas vivas, o irlandês apresenta mutação consonantal, em duas classes:
Mutações muitas vezes são a única maneira de se distinguirem formas gramaticais. Por exemplo: a única forma não contextual de se distinguir entre o pronome possessivo de terceira pessoa masculino singular (“dele”), feminino singular (“dela”) e plural (“deles[as]”), visto que o pronome nas três formas é a, mas o primeiro traz lenição, o segundo não traz mutação, e, o terceiro, eclipse:
VariedadesA classificação dos principais dialetos irlandeses corresponde às quatro províncias, com exceção de Leinster, cujo dialeto tradicional desapareceu. Assim, os três principais dialetos irlandeses vivos são: Ulster, no norte; Munster, no sul; e Connacht, na região central e ocidental da ilha. Houve um dialeto distinto em Leinster até a morte de sua última falante, Annie O'Hanlon, em 1960. Até o início do século XX, havia um dialeto distinto em Newfoundland, no Canadá, baseado no de Munster, mas a comunidade irlandesa do Canadá foi demasiadamente assimilada.[6] Além destes dialetos tradicionais, variedades características de centros urbanos foram registradas historicamente e, apesar de terem desaparecido, o número de casas falantes de irlandês em centros urbanos parece estar em crescimento graças à expansão da mídia de língua irlandesa. Isto deu origem a uma linguagem coloquial antes desconhecida que inclui, por exemplo, a perda das mutações consonantais e o uso extensivo de empréstimos do inglês.[7] Desde a criação do Estado Livre Irlandês, devido à dificuldade de promover a língua irlandesa por causa da sua grande diversidade e ortografia conservadora, foi desenvolvida uma variedade padrão chamada An Caighdeán Oifigiúil ("o padrão oficial"), publicada em 1945, com vista a encontrar um núcleo comum entre os três principais dialetos e, quando isto se mostrasse impossível, utilizar a forma mais frequente, ou mesmo uma forma clássica neutra.[8][9] UlsterO dialeto de Ulster, falado em Donegal, Louth e Meath, é a mais distinta das variedades irlandesas, partilhando uma série de particularidades com o manês e o gaélico escocês, como o uso da partícula negativa ‘’cha(n)’’ ao invés do ‘’ní’’ de outros dialetos, e a desinência de primeira pessoa singular ‘’-am’’ ao invés de ‘’-im’’.[10] MunsterO dialeto de Munster é falado principalmente em Kerry, Waterford e Cork e caracterizado por desinências verbais distintas do padrão, particularidades nas regras de mutação consonantal e acentuação da segunda sílaba de palavras em que esta tem vogal longa, ditongo ou é -(e)ach e a primeira tem vogal curta (e.g. corcán "panela" pronunciado [kəɾˠˈkɑːn̪ˠ]). Este dialeto chegou a ser falado em Newfoundland, no Canadá, até o início do século XX, mas desapareceu do uso comum, deixando algumas marcas limitadas no dialeto local de inglês.[6] ConnachtO dialeto de Connacht é falado principalmente em Mayo, Galway e nas duas maiores ilhas de Aran: Inishmore e Inishmaan (Inisheer fala a variedade de Munster). É caracterizado pelo uso mais extensivo do sufixo -achan (e.g. lagachan em vez de lagú para "enfraquecimento") e, em comum com Ulster e as outras línguas gaélicas, pela pronúncia das formas velarizadas de /v/ como /w/ (e.g. sliabh, significando "montanha", é pronunciado como [ʃlʲiəw] ao invés de [ʃlʲiəw]). ExemplosFrases comuns
João 1:1-8Texto do Evangelho segundo João, capítulo I, versículo 1 ao 8:
Referências
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