Nascida na cidade do Rio de Janeiro em 1862, era filha do médico Valentim José da Silveira Lopes, mais tarde Visconde de São Valentim, e de Adelina Pereira Lopes, ambos portugueses emigrados para o Brasil. Mudou-se ainda na infância para a cidade de Campinas,[4] no estado de São Paulo, onde, em 1881, publicou seus primeiros textos na Gazeta de Campinas, apesar de na época a literatura não ser vista como uma atividade própria para mulheres.[9] Numa entrevista concedida a João do Rio entre 1904 e 1905, confessou que adorava escrever versos, mas o fazia às escondidas.[6] Três anos depois, em 1884, começa a escrever também para o jornal carioca O País, trabalho que durou mais de três décadas.
Carreira
Em 1886, mudou-se para Lisboa, onde se lança como escritora e junto de sua irmã publica Contos Infantis, em 1887.[10] Em 28 de novembro de 1887 casou-se com Filinto de Almeida, à época diretor da revista A Semana Ilustrada, editada no Rio de Janeiro.[11] Passou a ser colaboradora sistemática da publicação. Também escreveu para a revista Brasil-Portugal (1899-1914).[12] Júlia retornou ao Brasil em 1888, onde publica seu primeiro romance, Memórias de Marta, que sai em folhetins em O País.[4] Seu textos em jornais da época tratam sempre de temas pertinentes como a República, a abolição e direitos civis.[4][5][7]
Também colaborou com periódicos da imprensa de mulheres, como a revista A Mensageira, de São Paulo, dirigida pela escritora Presciliana Duarte de Almeida entre 1897 e 1900.
Pioneira da literatura infantil no Brasil, seu primeiro livro, Contos Infantis (1886), foi uma reunião de 33 textos em verso e 27 em prosa destinados às crianças, escrito em parceria com sua irmã, Adelina Lopes Vieira.[6] Em 1887, em Portugal, publicou Traços e iluminuras, outro livro de contos.[13][14]
Escreveu também para teatro, com dois volumes publicados e cerca de 10 textos inéditos.[15][16]
A crítica literária Lúcia Miguel-Pereira, em História da literatura: prosa de ficção – de 1870 a 1920, considera Ânsia eterna como magnum opus de Júlia Lopes de Almeida. Ela afirma que "os contos de Ânsia eterna parecem todavia a sua melhor obra, aquela em que, sem nada perder de sua singeleza, ela aproveitou com mais arte os seus recursos de escritora e deixou mais patente a sua sensibilidade."[20]
Grêmio Júlia Lopes
Instituição cultural feminina fundada em 26 de novembro de 1916 por um grupo de intelectuais cuiabanas.[21] A escolha de Júlia Lopes como patrona foi proposta pela professora Maria Dimpina Lobo Duarte após a leitura do "Livro das Noivas".[21] O Grêmio Júlia Lopes se dedicava principalmente a produção literária através da revista A Violeta, proposta da professora Maria da Glória Figueiredo, e que seria dirigida por vinte anos anos pela professora Bernardina Maria Elvira Rich.[22] O periódico contava com a contribuição da própria Júlia Lopes, e dentre várias outras intelectuais cuiabanas, de modo mais constante com Maria Dimpina, Bernardina Rich e a professora Maria de Arruda Müller.[22] A revista A Violeta circulou mensalmente de 1916 até 1950, e sempre foi laborado apenas por mulheres.[22]
Fundação da ABL
Júlia Lopes de Almeida integrava o grupo de escritores e intelectuais que planejou a criação da Academia Brasileira de Letras (ABL).[17] Seu nome constava da primeira lista dos 40 "imortais" que fundariam a entidade, elaborada por Lúcio de Mendonça.[23]
Na primeira reunião da ABL, porém, seu nome foi excluído.[23] Os fundadores optaram por manter a Academia exclusivamente masculina, da mesma forma que a Academia Francesa, que lhes servia de modelo.[24] No lugar de Júlia Lopes entrou justamente o seu marido, Filinto de Almeida, que chegou a ser chamado de "acadêmico consorte".[25]
O veto à participação de mulheres só terminou em 1977, com a eleição de Rachel de Queiroz para a cadeira nº 5.[4][7][26]
↑ abZINANI; Cecil Jeanine Albert; BARP, Guilherme. Traços e iluminuras: obra esquecida de Júlia Lopes de Almeida. In: KNAPP, Cristina Löff; ZINANI, Cecil Jeanine Albert (orgs.). Interpretações e reverberações em Júlia Lopes de Almeida. Caxias do Sul: EDUCS, 2022. p. 53-87. Disponível em: https://www.ucs.br/educs/livro/interpretacoes-e-reverberacoes-em-julia-lopes-de-almeida/. Acesso em: 22 out. 2022.
↑ALMEIDA, Júlia Lopes de (1913). Correio da roça. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 209 páginas
↑GUIMARÃES, Rafael Eisinger; CARNIEL, Morgana. A (re)escrita de si e a imaginação da nação: o redimensionamento do papel do feminino e do rural na construção do Brasil República no romance epistolar Correio da roça. In: KNAPP, Cristina Löff; ZINANI, Cecil Jeanine Albert (orgs.). Interpretações e reverberações em Júlia Lopes de Almeida. Caxias do Sul: EDUCS, 2022. p. 125-167. Disponível em: https://www.ucs.br/educs/livro/interpretacoes-e-reverberacoes-em-julia-lopes-de-almeida. Acesso em: 22 out. 2022.
↑ALMEIDA, Júlia Lopes de (1914). A Silveirinha. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 305 páginas
↑KNAPP, Cristina Löff; GUERRA, Gisele Troian; MORAES, Raissa. Relações familiares na obra O funil do diabo, de Júlia Lopes de Almeida. In: KNAPP, Cristina Löff; ZINANI, Cecil Jeanine Albert (orgs.). Interpretações e reverberações em Júlia Lopes de Almeida. Caxias do Sul: EDUCS, 2022. p. 168-211. Disponível em: Disponível em: https://www.ucs.br/educs/livro/interpretacoes-e-reverberacoes-em-julia-lopes-de-almeida/. Acesso em: 22 out. 2022.
↑Almeida, Júlia Lopes de (1903). Ancia eterna. Paris, Rio de Janeiro: Garnier. 260 páginas
↑Almeida, Júlia Lopes de (1940). Ânsia eterna. Rio de Janeiro: A Noite