A obra foi apresentada originalmente no seu formato de instalação, a 2 de fevereiro de 2010, a propósito da exposição dos projetos finalistas ao Prémio BES Photo 2010 no Museu Coleção Berardo do Centro Cultural de Belém, onde foi premiada. Insert foi exibida também em vários festivais internacionais de cinema, como o Festival IndieLisboa, que lhe atribuiu o prémio de Melhor Realizador.[3]
Sinopse
Castro Marim era o local para onde pessoas homossexuais, condenadas por "desvios sexuais", eram enviadas para um exílio interno. O trabalho forçado nas salinas procura transformar pecado em produção de sal. Uma jovem condenada encontra-se presa entre memórias remanescentes, uma descoberta de seu corpo e uma experiência sexual com outra mulher. A paisagem torna-se cenário de um encontro proibido.[4]
Filipa César concebeu Insert como parte de Memograma, uma instalação com um total de 40 minutos de duração, constituída por uma série de fotografias e dois filmes, que aborda a história de Castro Marim, conhecida mais pela produção de sal, do que como local de desterro e trabalhos forçados.[6]Insert foi rodado em 16mm e transferido para formato HD Cam.[7] Ao ser escolhida como vencedora do prémio de fotografia BES Photo, a instalação recebeu um apoio financeiro de 25 mil euros da Bes Arte & Finança, que permitiu a sua distribuição em circuitos de cinema.[8]
Temas e estética
Insert explora noções de margem e rizoma, materializando-as nas montanhas de sal em Castro Marim, lugar de transgressão pelo modo como as personagens inscrevem os seus corpos e respondem aos seus desejos lésbicos.[9] Estes conceitos são apresentados de modo abstrato, enaltecido pela característica found footage do filme.[10] A obra inspira-se na abordagem em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1971), de Rainer Werner Fassbinder, ao processo de censura. Marco Martins e Filipa César colocam a descoberto idênticos procedimentos de silenciamento, da censura fascista do Estado Novo e, consequentemente, as possibilidades de resistência na atualidade.[11]
Continuidade artística
O trabalho de Filipa César contemporâneo de Insert demonstra uma coerência com uma análise do passado político português. Com a obra Le Passeur (2008) trabalha testemunhos de indivíduos que, durante o Estado Novo, ajudavam outros a saltar a fronteira. Em Memograma (2010) e Porto 1975 (2010) mantém um posicionamento no mesmo período político.[12]
Depois da experiência em Insert, Marco Martins tornaria a produzir uma instalação de vídeo multicanal. Em 2013, com o artista italiano Michelangelo Pistolletto realiza Twenty-One-Twelve: The Day the World Didn’t End, uma obra exibida no Museu do Louvre, integrando a retrospetiva Year One - Earthly Paradise, e no MAXXI – Museu Nacional das Artes do Século XXI.[13][14]
Distribuição
A instalação Insert foi apresentada originalmente a 2 de fevereiro de 2010, na exposição da sexta edição do Prémio BES Photo, no Museu Coleção Berardo do Centro Cultural de Belém.[15] Ainda que a obra não tenha sido pensado como entidade autónoma, acabaria por ser exibida em festivais de cinema e mostras, dos quais se destacam:
↑Tomé, J. (2020). Memograma / Insert de Filipa César: a margem enquanto cartografía da resistencia, transgressáo e memoria lésbicas/Filipa Cesar's Memograma / Insert; the margin as a cartography of lesbian resistance, transgression and memory. Estúdio, (30), 93+.