O Hospital Psiquiátrico São Pedro foi um hospital psiquiátrico de alta complexidade, localizado na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Inicialmente nomeado Hospício São Pedro em homenagem ao padroeiro da província, foi a primeira instituição psiquiátrica de Porto Alegre, sendo até hoje o maior hospital psiquiátrico do sul do Brasil, possuindo uma área de 13,9 hectares, que inclui 43.710 metros quadrados de área edificada, o prédio histórico do São Pedro está tombado pelos poderes públicos estadual e municipal. Seu conjunto arquitetônico é tombado pelo IPHAE.
História
Fundado em 13 de maio de 1874, foi inaugurado somente dez anos após, no dia 29 de junho, data consagrada a São Pedro. Foi o sexto asilo/hospício de alienados durante o Segundo Reinado do Brasil (1841-1889). Designado como Hospício São Pedro até 1925, passou a ser chamado Hospital São Pedro até 1961, quando então assumiu a atual identidade de Hospital Psiquiátrico São Pedro. [1][2]
Período clássico do hospital
Desde de sua inauguração foi considerado um grande avanço para a época, sendo um centro de inovação em psiquiatria. O Hospício São Pedro recebeu forte influência da psiquiatria francesa principalmente na gestão do dr. Jacintos Godoy, médico gaúcho formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre em 1911, e especialista em neuropsiquiatria pela Universidade de Paris (1919-1921), aluno de grandes mestres franceses da Salpetrière como Pierre Marie, Babinski, Dupré e Laignel Lavastine.[3] Os seus estudos no Hospital Salpêtrière em Paris, no final da década de 1910, refletiram na grande reforma do velho Hospício São Pedro na década seguinte e na formação das primeiras gerações de médicos psiquiatras no estado. Foi um dos pioneiros da província nos tratamentos biológicos mais avançados na época (malarioterapia, insulinoterapia e eletroconvulterapia) e na implementação de princípios da escola hospitalar francesa. [4]
Foram marcantes os trabalhos do dr. Godoy no combate à paralisia geral progressiva, de origem sifilítica, tratada pela aplicação de arsênico e bismuto. Descoberta pelo austríaco professor Wagner von Jaureg, a malarioterapia foi introduzida pela primeira vez no Brasil, no Hospital São Pedro, com grande sucesso na época. [5]
Em 1939, o dr. Jacintho Godoy criou um Curso de Formação de Enfermeiros que durou até 1952, que formou cerca de 191 enfermeiros.
A partir de 1940, os médicos psiquiatras do São Pedro começaram a se integrar no mundo e vários foram buscar fora do estado a ampliação dos seus conhecimentos como os doutores: Januário Bittencourt e Décio Soares de Souza (Europa); Dionélio Machado e Ernesto LaPorta (Rio de Janeiro); Luiz Pinto Ciulla e Almir Alves (Estados Unidos); Mario Martins e Cyro Martins (Buenos Aires). O neurocirurgião Almir Alves fez muitas leucotomias no hospital, nos Estados Unidos teria aprendido a eletroencefalografia, tendo trazido o primeiro aparelho para o Estado.[6][7] Com a proximidade de Buenos Aires, os primeiros psiquiatras gaúchos, oriundos do Hospício São Pedro vão buscar a formação psicanalítica e fundam uma das principais escolas brasileiras de psicanálise até hoje ativa no estado. Em 1944, Décio de Souza, psiquiatra que atuava no Hospital Psiquiátrico São Pedro, retornou de seus estudos no Serviço Jules Massermann de Nova York e substituiu o prof. Luiz Guedes na Cátedra de Psiquiatria da Faculdade de Medicina. Souza deu uma orientação psicanalítica à disciplina, e organizou cursos complementares, despertando grande interesse entre os alunos. Por esta época, Mario Martins, juntamente com sua esposa Zaira, foi a Buenos Aires para fazer formação com Angel Garma (1904-1993), um psicanalista espanhol com formação em Berlim, tendo sido analisado por Theodor Reik (1888-1969). Garma chegou a Buenos Aires em 1938. Os argentinos exerceram grande influência na formação de psicanalistas em Porto Alegre e no Rio de Janeiro (Gageiro, 2001). Em 1949, Mario Martins e sua esposa Zaira já contavam com um ativo grupo de estudos cujos membros eram David Zimmermann, Celestino Prunes, Paulo Guedes, Günter Wurth, Ernesto La Porta e Victor de Brito Velho. [8]
Em 1950, graças a forte influência da psicanálise no hospício, foi iniciada uma renovação dos métodos e da maneira de encarar o tratamento do doente mental. O dr. Mário Martins iniciou a formação de novos psicanalistas e, com a chegada de José Lemmertz, Cyro Martins e Celestino Prunes, foram-se estabelecendo as bases da futura Sociedade de Psicanálise de Porto Alegre. Surgiu o curso de Psiquiatria Dinâmica e os seus aprendizes foram assumindo posições no hospício e, gradativamente, transformando-o no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Nas duas décadas seguintes, 1960 e 1970, a Psicanálise será uma tendência hegemônica na psiquiatria do Estado, principalmente pelo trabalho e liderança de David Zimmermann no “Melanie”, como ficou conhecido o Centro Psiquiátrico Melanie Klein do Hospital São Pedro. Ao Melanie acorriam jovens médicos de todo o país em busca da formação psicanalítica. [8]
Divisão Melanie Klein
Em 1957, nas dependências do hospital, começou a funcionar o Curso de Especialização em Psiquiatria, dirigido por David Zimmermann e Paulo Guedes, professores da Faculdade de Medicina. Em 1961, durante a gestão de Luiz Pinto Ciulla, foi criada a Divisão Melanie Klein, que tornou o Hospital Psiquiátrico São Pedro uma referência nacional na formação de psiquiatras. O Programa caracterizou-se por um novo modelo de formação psiquiátrica, com forte ênfase psicanalítica, sendo oferecida formação em psicoterapia individual e em grupo. As atividades do curso de especialização deram origem no Hospital São Pedro ao Centro Psiquiátrico Melanie Klein. Este Centro assumiu uma posição de liderança nacional na formação de psiquiatras de orientação psicanalítica, e durante muito tempo foi a sede do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS.[9] Os jovens psiquiatras formados nessa unidade aos poucos se espalharam pelo interior do hospital, chefiaram unidades e iniciaram uma modernização no atendimento.[6]
Divisão Emil Kraepelin
A Divisão Kraepelin do Hospital Psiquiátrico São Pedro está na história da psiquiatria do Rio Grande do Sul como uma das principais fontes de estudos da atividade. Muitos psiquiatras gaúchos e brasileiros buscaram nessa fonte, inspiração para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos seus estudos. Na década de 70, a Divisão funcionava em alta rotatividade chegando abrigar até 400 pacientes femininos, recebendo pessoas, inclusive, de outros estados. Atualmente, a divisão trocou de nome e foi dividida em duas unidades chamadas: Moises Roitnann e Madre Matilde. [10]
Período moderno do hospital
Em 1983 o Dr. Ellis Alindo D'Arrigo Busnello, graduado nos cursos de história natural (1950-1953) e medicina (1950-1955) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em saúde pública e saúde mental (1971-1972) nos Estados Unidos, pela Universidade Johns Hopkins se torna diretor geral do Hospital Psiquiátrico São Pedro dando um novo enfoque a residência médica em psiquiatria, a reaproximando da neurobiologia e da psicofarmacologia. O Professor Ellis Busnello teve participação ativa e foi o grande construtor de pelo menos três residências médicas e foi professor de uma quarta. Foi um dos defensores e destacado construtor da pós-graduação da UFRGS. Sua participação na Psiquiatria Comunitária marcou época no país e lhe rendeu admiração nacional. Participou de várias associações e ainda é atuante na Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Na Academia é titular da Cadeira 34 que pertenceu ao seu antigo mestre, Dr. Jacinto Godoy.[11]
Serviços
Unidade para dependência química (UD)
Unidade Mario Martins Masculina (MMM)
Unidade Mario Martins Feminina (MMF)
Centro Integrado de Atenção Psicossocial - Infância e Adolescência (CIAPS)
Unidade Barros Falcão
Serviço de emergências psiquiátricas
Unidade de observação
Centro de reabilitação
Ambulatório especializado em saúde mental, com programas de atendimento para as principais patologias mentais.
Como instituição de ensino, o São Pedro conta há 34 anos com uma residência em psiquiatra e uma residência multidisciplinar em saúde mental. [1]Hoje, o hospital tem em torno de 200 alunos de graduação e pós-graduação, através de convênios de ensino e treinamento com as principais universidades do Estado do Rio Grande do Sul, e seu programa de residência médica é apto para aplicar a prova prática, etapa para obtenção do título de especialista em psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquatria (ABP).[12]
O hospital também pode emitir o certificado de proficiência prática em psiquiatria; essa condição foi obtida com a classificação “A” conferida a seu programa de residência médica outorgada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, que reconhece o Hospital Psiquiátrico São Pedro como uma instituição de excelência.[13]
Relação dos diretores gerais do Hospital Psiquiátrico São Pedro (1884-2011)
Nome
Período
Carlos Lisbôa
1884-1888
Olympio Olinto de Oliveira
1888-1889
Francisco de Paula Dias de Castro
1889-1901
Tristão de Oliveira Torres
1902-1908
Dioclécio Sertório Pereira da Silva
1908-1924
José Carlos Ferreira
1924-1926
Jacintho Godoy Gomes
1926-1932
José Luiz Guedes
1932-1937
Jacintho Godoy Gomes
1937-1951
Antônio Augusto Pereira Brochado
1951-1955
Leônidas Palmeiro Escobar
1955-1955
Celso Cezar Papaleo
1955-1957
Dionélio Tubino Machado
1957-1958
Raymundo Godinho
1959-1960
Luiz Pinto Ciulla
1961-1962
Fernando Luís Vianna Guedes
1962-1966
Avelino Ávila Costa
1967-1971
Ely Hayla Cheff
1971-1972
Avelino Ávila Costa
1973-1978
Hans Ingomar Hermann
1978-1983
Ellis Alindo D'arrigo Busnello
1984-1988
Fernando Boese
1988-1990
Régis Antônio Campos Cruz
1990-1991
Enio Arnt
1991-1995
Salvador Ferraro Filho
1995-1998
Roberto Gandolfi Lieberknecht
1998-1998
Régis Antônio Campos Cruz
1999-2002
Roberto Gandolfi Lieberknecht
2003-2006
Luiz Carlos IIlafont Coronel
2007-2010
Lúcio Borges Barcelos
2011-2011
Relação do diretores do Departamento de Coordenação dos Hospitais Estaduais
Nome
Período
Sami Abder Rahim Jbara El Jundi
2011-2011
Antônio Joaquim Cortes Fernandes
2011-2014
Denise Maria Jornada Braga
2015-2015
Luiz Carlos Pinto Sobrinho
2015 - atualmente
Atualidade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP)
Até hoje, o Hospital Psiquiátrico São Pedro é referência na assistência e ensino da psiquiatria no Estado. Local que serviu de estudo prático, formação docente e de tratamento de saúde para a comunidade. Como unidade de ensino, o Hospital teve e tem contribuição fundamental na solidificação da tradição psiquiátrica no Rio Grande do Sul.
Em 29 de junho de 2009, no aniversário de 125 anos do hospital, a então governadora Yeda Crusius recriou uma força-tarefa para analisar formas de recuperar o prédio histórico de 12 mil metros quadrados. Em 2007, a estimativa era de que seriam necessários R$ 30 milhões para a reforma.[14]
O HPSP possui 470 pacientes na área asilar e nos residenciais terapêuticos, e 130 leitos para internação. Além disso, mantém convênio com 36 entidades – sete escolas técnicas e 29 faculdades, contando ainda com oito vagas de residência médica em psiquiatria e quatro vagas em psiquiatria infantil,[15] oferecidas anualmente pela Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul. O hospital é referência para 88 municípios da região metropolitana (aproximadamente cinco milhões de pessoas).