Clube do Comércio de Porto Alegre

CC
Clube Desportivo
Clube do Comércio de Porto Alegre
Nome Clube do Comércio de Porto Alegre
Nomes Anteriores Club do Comércio
Informações
Localização Porto Alegre, Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul
Fundação 7 de junho de 1896 (128 anos)
Página oficial

O Clube do Comércio de Porto Alegre é um clube social da cidade brasileira de Porto Alegre. Fundado em 1896, é um dos clubes mais tradicionais da cidade. Sua sede foi tombada pela Prefeitura e está localizada na Rua dos Andradas, 1058, em frente à Praça da Alfândega, no Centro Histórico.[1]

Histórico

O Clube do Comércio foi fundado em 7 de junho de 1896, por iniciativa de 52 comerciantes, a maioria de origem alemã e com formação na Alemanha.[2] No momento de sua fundação o Clube incorporou o antigo e sofisticado Clube Comercial.[3] A ata da sessão preparatória para a fundação foi assinada por Emílio da Silva Tavares, então presidente do Clube Comercial. Seu primeiro presidente foi Vítor Barreto de Oliveira, e a primeira sede estava situada na Rua Sete de Setembro, onde hoje se ergue o Santander Cultural.[4] Em 1 de maio de 1902 em sua sede foi instalada a Academia Rio-Grandense de Letras.[5]

Desde o início o clube se tornou a passarela da alta sociedade local. O jornalista Carlos Augusto de Bissón o descreveu como "tradicionalíssimo" e "a mais prestigiada sociedade de Porto Alegre".[6] Era também um dos mais importantes pontos de encontro de influentes políticos e comerciantes e outras personalidades, e sede de grandes bailes e banquetes.[7] Em seus salões, finamente decorados com pinturas e douramentos,[8] eram realizados saraus literários,[9] concertos e exposições de arte.[10][11][12] Um artigo na revista Máscara de 1919 descreve o grande Baile da Paz:

Banquete em homenagem à Embaixada Italiana, 1918
Exposição de Eugênio Latour em 1919
"À porta do Clube, uma multidão estacionara, formando alas para a passagem dos automóveis de luxo, de que desembarcavam senhoras, senhoritas e cavalheiros elegantíssimos. A frente do Clube, iluminada com raro gosto, apresentava símbolos feéricos que se apagavam e reacendiam, em cores variadas, como batidos por uma rajada de vento. [...] Findo o concerto, as salas começaram a encher-se de criaturas lindas e elegantíssimas, senhoras e cavalheiros de linha irrepreensível. As figuras mais representativas da nossa aristocracia estavam presentes, ostentando um luxo estonteante, com os brilhos das joias, as nudezes discretas dos decotes e o magnetismo da galanteria".[13]

Em 7 de novembro de 1930 em seu recinto foi fundado o Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul, antecessor da FIERGS.[14] A construção do prédio do antigo Banco da Província, o atual Santander Cultural, obrigou os associados a procurarem novo local para uma sede própria. O novo edifício, na Rua dos Andradas (em frente à Praça da Alfândega), no coração da cidade, superou em altura todos os outros prédios de Porto Alegre. Na imprensa era dito que o monumento seria o espelho fiel da opulência, da grandiosidade, da evolução social e do progresso da capital do estado, e que embora a sede antiga fosse confortável, já não comportava a crescente expansão do quadro de sócios, e nem refletia os novos conceitos de modernidade.[15] Em 19 de abril de 1937 foi contratada a execução com a empresa Dahne, Conceição e Cia.,[16] e a pedra fundamental foi lançada em 23 de junho de 1938, sendo concluído e inaugurado com grandes festas em 16 de dezembro de 1940. O prédio, em estilo eclético, com forte predomínio da art déco, foi erguido com requintes de decoração e era chamado de Palácio Rosado.[4][17][18][19] O Clube do Comércio era o local preferido pela Revista do Globo para mostrar a sociabilidade da burguesia porto-alegrense. As reportagens da Revista do Globo sobre os bailes do Clube do Comércio falavam sobre o desfile da alta sociedade.[18]

Em 1943 foi adquirida uma sede de esporte e lazer com a incorporação do Clube Excursionista e Esportivo,[4] e no mesmo ano foi realizado na sede social, no Salão Rosado, o primeiro baile de debutantes do estado, intitulado Baile do Perfume, lançando uma moda que atrairia as donzelas da alta sociedade, e que perdura até hoje em outros clubes da cidade e do estado. Uma pequena multidão costumava se acotovelar diante da entrada para ver as debutantes chegarem. Entre as décadas de 1940 e 1950 o clube praticamente monopolizou a vida social da elite porto-alegrense.[20]

Uma programação artística e cultural continuava sendo desenvolvida, incluindo exposições de arte e antiguidades,[21][22] além de eventos beneficentes.[23][24] Destacados poetas, cronistas e romancistas tinham nos salões seu ponto de encontro.[25] Em 1955 em um dos seus salões ocorreu a primeira demonstração pública de televisão na cidade.[26] A partir da década de 1960 começaram a ser realizados shows com astros da música popular brasileira como Elis Regina, Vinícius de Moraes, Toquinho, Wanderléia e Erasmo Carlos, sempre com sucesso de público, bem como se realizavam festividades em homenagem a importantes personalidades. Nos salões também se reuniam políticos influentes, e muitos presidentes da República por ali passaram.[1] Entre as décadas de 1970 e 1980 manteve uma das principais galerias de arte da cidade,[27] dirigida por Fábio Coutinho.[28]

Atualmente a sede social conta com uma estrutura completa para realização de eventos de variada natureza, com garagem própria, diversos salões, biblioteca, restaurante e salas de jogos e de estar. A sede esportiva, localizada na Avenida Bastian, 178, conta com infra-estrutura de esportes e lazer, com quatro canchas de tênis externas e duas cobertas, duas piscinas infantis, uma piscina semi-olímpica, uma quadra de futsal, salão de beleza, academia de ginástica, sauna, restaurante, churrasqueiras e sistema de TV a cabo. Além dos equipamentos o clube mantém uma Escola de Tênis, um Escola de Futsal, e aulas de natação, hidroginástica, musculação, ginástica, yoga, samba e capoeira.

O prédio histórico

O Salão de Bailes.
Painel de cristal negro, mostrando aristocratas dançando, no Salão dos Cristais.

A sede social na Rua dos Andradas é um importante prédio histórico de Porto Alegre, sendo um dos mais ricos e bem preservados exemplares em estilo art déco da cidade, contando com alguns elementos neoclássicos.[20] A construção consiste de 13 pavimentos revestidos externamente em sirex rosa, sendo que apenas os primeiros quatro são usados pelo clube. O térreo é ocupado por pequenos estabelecimentos comerciais cobertos por uma marquise lisa, ladeando um portal em arco redondo com duas colunas coríntias de granito e uma porta em ferro trabalhado. No pavimento acima existem duas séries de pequenas janelas, sendo que as inferiores têm gradeados ornamentais e as superiores são de caixilhos em madeira.

Acima se ergue um pórtico com um par de grandes colunas coríntias que atravessam dois pavimentos, emoldurando dois grupos de janelas, as inferiores retangulares e as superiores em arco, com duas janelas superpostas similares de cada lado do pórtico. A seguir vem uma grande cornija decorada com pequenas mísulas, e então por seis pavimentos acima o esquema é de um bloco central com duas janelas duplas e uma abertura também dupla de cada lado em um bloco mais estreito, sendo que estas são portas que se abrem para sacadas com parapeito de balaustrada cega.

O bloco derradeiro consiste de dois pavimentos, com janelas duplas aos lados e dois grupos de janelas duplas no bloco central, com as superiores em arco, entre pilastras coríntias em destaque. Por fim, uma cornija lisa arremata o conjunto. Os interiores são ricos em decoração, destacando-se os seguintes espaços:

Vestíbulo, com um longo corredor com piso de mármore e lustres déco, conduzindo ao saguão principal, com uma escadaria à esquerda em mármore branco e preto com grandes vitrais na parede, um piso em desenho geométrico, um balcão de recepção e os elevadores, emoldurados em uma caixa de mármore preto.

Primeiro pavimento, com um saguão com piso de parquet decorado e móveis de couro dos anos 1940; a antiga Sala dos Bilhares Franceses, atualmente ocupada pelo Salão de Exposições, e a Sala da Diretoria, com mobiliário do século XIX.

Segundo pavimento, onde a Sala de Leitura e a Biblioteca possuem móveis Art déco, obras de arte e piso em mosaico de madeira. O Jardim de Inverno tem piso em ladrilhos hidráulicos.

Terceiro pavimento, com destaque para o antigo Dancing, chamado hoje de Salão dos Cristais, com uma interessante série de painéis em cristal negro gravado a ouro, importados da Europa, com cenas de aristocratas dançando, uma grande porta sob uma moldura circular e um forro com relevo estrelado, e o Salão de Bailes, com um forro em forma de cúpula elipsoidal nervurada, grandes lustres antigos, luminárias embutidas, espelhos nas paredes e um mezzanino, além de recantos semicirculares e uma chapelaria.[20]

O imóvel é tombado pela Prefeitura desde 1996.[20] Um programa de restauro foi iniciado em 2002,[29] com recursos do Programa Monumenta, e concluído em 2008.[1]

Ver também

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Ligações externas

Referências

  1. a b c "Clube do Comércio". Prefeitura de Porto Alegre
  2. Flores, Hilda Agnes Hubner. Porto Alegre: história e cultura. Martins Livreiro, 1987, p. 56
  3. Mello, Bruno Cesar Euphrasio de (2010). A CIDADE DE PORTO ALEGRE ENTRE 1820 E 1890 As transformações físicas da capital a partir das impressões dos viajantes estrangeiros. (DISSERTAÇÃO DE MESTRADO) (PDF). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Página 132. O autor da dissertação de mestrado usa como referência a obra "Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890", de Valter Antonio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco, publicada em Santa Maria, pela Editora Anaterra, em 2004.
  4. a b c "História". Clube do Comércio de Porto Alegre
  5. Mazeron, Gaston Hasslocher. "Aquiles Porto Alegre". In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 1945; XXV (101): 140
  6. Bissón, Carlos Augusto. Moinhos de Vento: histórias de um bairro de elite de Porto Alegre. Editora da Cidade, 2008, p. 55
  7. Monteiro, Charles. Porto Alegre: urbanização e modernidade: a construção social do espaço urbano. EdiPUCRS, 1995, pp. 37; 130
  8. "Club do Commercio". A Federação, 20/04/1935, p. 2
  9. Trusz, Alice Dubina. "Imprensa e humor no teatro: as conferências do Trio Alegre carioca em Porto Alegre (1913)". In: Rossini, Miriam de Souza; Machado Júnior, Cláudio de Sá; Santos, Nádia Maria Weber (orgs.). Representações & Visibilidades na História Cultural: imagens, imaginários, memórias. EdiPUCRS, 2015, p. 139
  10. "Theatros & Artistas". In: Mascara, 1919; II (26)
  11. "Leopoldo Gottuzzo - o sucesso da sua exposição". In: Mascara, 1919; II (31)
  12. "Eugenio Latour". In: Mascara, 1919; II (35)
  13. "O momento elegante". In: Mascara, 1919; II (25)
  14. Departamento de Relações Institucionais. Parlamentares gaúchos: A. J. Renner: perfil, discursos e artigos, 1931-1952. Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 2003, p. 39
  15. "A construção de imponente palácio para nova séde do Clube do Comercio". A Federação, 24/08/1937, p. 3
  16. "A construção da nova séde do Clube do Comercio". A Federação, 20/04/1937, p. 2
  17. «110 anos do Clube do Comércio destacados na tribuna». Câmara Municipal de Porto Alegre. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  18. a b Peck, Rafael da Silva (2010). A SOCIABILIDADE NAS SALAS DE CINEMA DA CINELÂNDIA PORTO-ALEGRENSE RETRATADA NA REVISTA DO GLOBO NA DÉCADA DE 40 (1940-1949). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Página 41.
  19. Diário Oficial de Porto Alegre de 30 de Agosto de 2006.
  20. a b c d "Projeto Monumenta busca imagens do Clube do Comércio". Prefeitura de Porto Alegre, 22/06/2007
  21. "Exposição de porcelanas". Diário de Notícias, 20/12/1959, p. 2
  22. Laudanna, Mayra. Maria Bonomi: da gravura à arte pública. EdUSP, 2007, p. 394
  23. "Reunião dançante n Clube do Comércio". Diário de Notícias, 23/05/1954, p. 6
  24. "Roteiro noturno". Diário de Notícias, 12/11/1964, p. 12
  25. Martins, Marisângela T. A. À esquerda de seu tempo: escritores e o Partido Comunista do Brasil (Porto Alegre – 1927-1957). Verona, 2014, s/pp.
  26. Ferraretto, Luiz Artur. Rádio e capitalismo no Rio Grande do Sul: as emissoras comerciais e suas estratégias de programação na segunda metade do século 20. Editora da ULBRA, 2007, p. 394
  27. Scarinci, Carlos. A gravura no Rio Grande do Sul, 1900-1980. Mercado Aberto, 1982, p. 188
  28. Ferron, Fabio Maleronka & Cohn, Sergio. "Fábio Coutinho". In: Ferron, Fabio Maleronka (coord.). Produção Cultural no Brasil, vol. 4. Editora Azougue, 2010, p. 23
  29. Vargas, Heliana Comin & Castilho, Ana Luisa Howard de. Intervenções em centros urbanos: objetivos, estratégias e resultados. Manole, 2015, s/pp.