Guarda Negra (Brasil)
A Guarda Negra da Redentora foi uma instituição que surgiu nos meses que se seguiram após a abolição da escravidão no Brasil, formada por ex-escravos que tinham como objetivo proteger a liberdade recém adquirida bem como o bem-estar da princesa Isabel, como um gesto de agradecimento pela libertação deles. HistóriaA existência do grupo é tido por historiadores como um episódio de características únicas na história do Brasil.[1] Segundo a pesquisadora Clícea Maria Augusto de Miranda, a Guarda Negra se revela uma grande interrogação para a historiografia uma vez que desafia os modelos interpretativos tradicionais sobre o escravismo, visto que a guarda era uma instituição formada majoritariamente por libertos, oriundos dos extratos mais subalternos da sociedade, direcionada para a proteção de D. Isabel, figura emblemática da realeza.[2] O embrião da sociedade se deu quando o jornal "Cidade do Rio" de José do Patrocínio publicou, em 6 de junho de 1888, um convite da “Liga dos Homens de Cor” e convidando a afiliação de recém-libertos. O mesmo periódico noticiou posteriormente que havia sido criada a “(...) associação que, com o título de Guarda Negra da Redentora, se dedicasse em corpo e alma e em todos os terrenos à defesa do reinado da excelsa senhora que os fez cidadãos.”[3] A instituição foi formada em 9 de julho de 1888 e dissolvida logo após a queda do império. Era composta por ex-escravos que foram libertados com a promulgação da Lei Áurea de 13 de maio de 1888. A guarda foi organizada pelo abolicionista José do Patrocínio.[2] Não possuía uma estrutura hierárquica ou fardas. Era uma irmandade de negros gratos pela abolição e dispostos a dar a vida pela princesa Isabel. Eles se reuniam na rua da Carioca e na rua Barão de Guaratiba, no Catete - entre outros endereços.[1] Há poucas informações bibliográficas em torno da formação e organização da Guarda Negra, sendo restrita à matérias jornalísticas da época e de republicanos que eram alvos de sua ação. De uma maneira geral são análises superficiais e esparsas.[2] Na época, a Guarda Negra chegou a ser comparada a um bando de capoeiras a serviço do governo imperial e também de sociedade secreta.[4] Teorias sobre a formação e objetivosO chefe-geral da guarda Clarindo de Almeida disse o seguinte sobre a mesma: "O nosso fim não é levantar o homem de cor contra o branco, mas restituir ao homem de cor o direito que lhe foi roubado de intervir nos negócios públicos."[1] Antônio da Silva Jardim considerava a Guarda Negra uma instituição ilegal que fora criada simplesmente para assegurar a integridade de D. Pedro II e de D. Isabel, garantindo-lhes o status quo. Para ele a conivência do império com a instituição era evidenciada pelo fato de que João Alfredo Correia de Oliveira, à época primeiro-ministro do Brasil, manifestava apoio a guarda. Além disso considerava como uma de suas diretrizes a divisão de raças.[5] Mesma impressão tinha seu colega político Medeiros e Albuquerque que tinha aversão a José do Patrocínio demonstrando certo preconceito racial ao mesmo de acordo com seus comentários. Para Medeiros e Albuquerque a instituição era uma ideia concebida pelo Chefe de Polícia Coelho Bastos para proteção de D. Isabel contra os republicanos. Segundo ele a polícia acionava a Guarda e "os incitava a perturbar os meetings republicanos dando-lhes sempre fuga quando eram apanhados."[6] O escritor Osvaldo Orico tinha outra visão da Guarda Negra. Para ele a formação se deu pela inspiração de seu líder José do Patrocínio, baseando no seu histórico de luta pela abolição da escravidão no Brasil.[7] Porém na sua visão da Guarda possuía um mecanismo ambíguo: ao mesmo tempo que a instituição lutava contra o crescimento do movimento republicano tecia-lhes argumentos para combater as instituições imperiais, aumentando a pressão dos adversários da monarquia.[8] Conforme o relato de testemunhas oculares da época os membros da guarda dissolviam comícios organizados por políticos republicanos, chegando ao ponto de alguns deles portarem revólveres para segurança pessoal.[9] FimA principal causa do fim da Guarda Negra foi a Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889. O regime recém-formado havia criminalizado a capoeira com a criação do Código Penal republicano de 1890 em seu artigo 402, e as elites vinculavam constantemente a Guarda à visão estereotipada em relação ao negro através da capoeira.[10] O novo regime perseguia os membros da guarda e cuja perseguição era liderada pelo chefe de polícia João Batista Sampaio Ferraz. Eles foram detidos e encaminhados a prisão de Santa Cruz para depois serem enviados para um presídio em Fernando de Noronha. O destino final dos membros da guarda é incerto. Existe a teoria de que muitos deles foram admitidos na marinha, que era reconhecidamente monarquista e essa admissão, aliada aos maus tratos, levaram ao episódio da história brasileira conhecida como Revolta da Chibata.[1] Diretrizes e EstatutoSegundo o publicado no periódico Cidade do Rio após a criação do grupo, as diretrizes e o estatuto da instituição eram:[11]
O jornal de José do Patrocício defendia constantemente a Guarda, publicando no dia 5 de janeiro de 1889 uma matéria em que declarava a intenção não-violenta do grupo: [2]
Ver tambémReferências
Bibliografia
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